Frases
subversivas ou libertárias (105)
Seja bem vindo, amigo!
Seja bem-vindo, amigo! Seja você também mais um subversivo! Não se entregue e nem se integre às mentiras do governo e nem da mídia! Seja livre, siga o seu instinto de liberdade! Laissez faire! Amém!
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segunda-feira, 31 de julho de 2017
Marx errou completamente, e errou feio!
A teoria
da mais-valia é uma aberração, pois o trabalho produzido pelo trabalhador é
apenas outro produto qualquer. O trabalhador pode vender o seu “produto laboral”,
ou mão de obra, diretamente para o consumidor na forma de trabalho. Porém,
quando isso ocorre, o “produto derivado” resultante dessa operação (o trabalho
laboral mais os materiais agregados previamente comprados) pertence
exclusivamente ao consumidor. Portanto, deste que o trabalhador receba pelo
produto laboral vendido, de acordo com o contrato firmado entre ambos, não há
exploração. Marx errou, e errou feio! Anon, SSXXI
sábado, 29 de julho de 2017
Artigos de David Stockman
É sempre bom ler o que David Stockman
tem para nos contar. Afinal, ele já esteve dentro da Casa Branca e foi um dos homens
do presidente, na era Ronald Reagan. Aqui
Dicas
de artigos do Subversivo do Século XXI
quarta-feira, 26 de julho de 2017
O Planeta dos Homens-Macacos Socialistas
Escrito por Leão Alves
A bizarra tentativa
comunista de produzir homens-macacos reflete a falta de limites do comunismo e
seus vínculos históricos como o racismo, a eugenia e a desumanização.
No artigo ‘Scientific
Ethics and Stalin’s Ape-Man Superwarriors’ do mestre em Antropologia
Evolucionária, Eric M. Johnson, publicado na revista “Scientific American”,
este registra que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)
financiou na década de ’20 do século passado uma pesquisa visando à geração de
híbridos de humanos e macacos. Híbridos são seres resultantes da mistura de
espécies diferentes como, p. ex., o burro, que resulta do cruzamento entre
jumento e égua.
A pesquisa esteve a
cargo do especialista russo em procriação animal, Ilya Ivanov, um cientista de
prestígio mundial. Em 1901, ainda na época da Rússia czarista, Ivanov havia
criado o primeiro centro especializado em inseminação artificial no mundo. Foi
também o primeiro cientista a produzir híbridos através de inseminação
artificial.
Após encerrar sua
formação acadêmica, em 1896, na área de fisiologia, tornou-se pesquisador do
Instituto Pasteur, da França. Também trabalhou com Ivan Pavlov, prêmio Nobel de
Medicina.
As técnicas de inseminação artificial
desenvolvidas por Ivanov eram voltadas especialmente para animais de pecuária.
Entre os tipos de híbridos produzidos artificialmente por ele havia zebroides,
resultantes da mistura de zebra com outras espécies de equinos.
Já em 1924, Ivanov
comentou em uma conferência na Áustria sobre a possibilidade de gerar híbridos
entre humanos e macacos.
A idéia de manipular
biologicamente o ser humano não era algo novo para o comunismo nem um fato
isolado desta ou daquela face com a qual se apresenta, mas parte essencial do
evolucionismo e materialismo marxista.
Em “Literatura e
Revolução”, escrito por volta de 1922, por Léon Trotsky, este afirma que:
“O Homo sapiens,
atualmente congelado, tratará a si mesmo com objetos dos métodos mais complexos
da seleção artificial e tratamentos psicofísicos. (…) O gênero humano, que
deixou de arrastar-se diante de Deus, do Czar e do Capital deverá capitular
ante as leis obscuras da herança e da cega seleção sexual? O homem livre
tratará de alcançar um equilíbrio melhor no funcionamento de seus órgãos e um
desenvolvimento mais harmonioso de seus tecidos (…). Por conseqüência, não há
dúvida de que a falta de harmonia anatômica e fisiológica, a extremada
desproporção no desenvolvimento de seus órgãos ou o emprego de seus tecidos dão
a seu instinto vital um temor mórbido, histérico, da morte (…). Por isso,
elevar-se-á ao nível mais alto e criará um tipo biológico e social superior, um
super-homem, se desejares. (…) O homem [comunista] se fará incomparavelmente
mais forte, mais sábio e mais sutil. Seu corpo será mais harmonioso, seus
movimentos mais rítmicos, sua voz mais melodiosa. O homem médio alcançará o
nível de um Aristóteles, de um Goethe, de um Marx. E acima destas alturas,
novos cumes se elevarão”.
Antes dele, Joseph
Stálin, em “Anarquismo ou Socialismo?”, de 1907, afirmara que,
“Na vida social mudam
(…), primeiro, as condições externas, mudam primeiro as condições materiais, e
depois, em consonância com isso, mudam também o modo de pensar dos homens, seus
usos e costumes, sua concepção do mundo.
“Por isso diz Marx:
“‘Não é a consciência
dos homens que determina seu ser, mas, pelo contrário, seu ser social é que
determina sua consciência’”.
De Karl Marx a Pol Pot,
racismo e eugenia sempre foram parte da ideologia comunista. O atual apoio
comunista ao abortismo, ao verwoerdismo e à Desmestiçagem na América Latina não
são, assim, um desvio casual ou mais um diversionismo.
Voltando aos
homens-macacos, Ivanov conseguiu, em 1924, autorização do Instituto Pasteur
para o projeto, além de livre acesso a um centro de chimpanzés na Guiné, na
África, à época uma colônia francesa.
As despesas foram
bancadas pela URSS. Ivanov recebeu da Comissão Financeira Soviética a quantia
de U$ 10.000,00 e, depois, o aval da Academia Soviética de Ciências.
Ivanov chegou à Guiné
Francesa em março de 1926. Ele pretendia inseminar chimpanzés com esperma
humano. A dificuldade de encontrar fêmeas em idade fértil e a hostilidade da
equipe local limitaram as tentativas a três. Com as verbas e o tempo acabando,
o cientista comunista teve uma idéia mais revolucionária ainda: inseminar
mulheres africanas com esperma de chimpanzés… sem o conhecimento delas. Estava
a ponto de realizar a experiência, mas o governador geral da Guiné proibiu.
Ivanov, então, voltou à Europa.
A tentativa de
inseminar mulheres africanas sem o consentimento das mesmas causou grande
revolta na Academia Soviética de Ciências, mas não por qualquer questão de
escrúpulo – esta ‘coisa’ conservadora –, mas pelo fato de que “poderia minar a
confiança entre africanos e pesquisadores e médicos europeus e tornar
problemáticas quaisquer outras expedições de cientistas russos para a África”.
Assim, embora Ivanov
tivesse fracassado na África, na Geórgia os comunistas continuaram as
experiências com supostas voluntárias. Mas nada de nascer o homem-macaco.
Fracassado e
marginalizado, mas não derrotado, Ivanov soube da existência de uma senhora
cubana que criava chimpanzés em Havana. Não, desta vez Fidel não teve nada a
ver com a história – nesta época Cuba ainda era dos cubanos.
Ivanov enviou a ela uma
carta solicitando um chimpanzé macho. Como não tinha recursos para a nova
tentativa, solicitou ajuda à Associação Americana para o Progresso do Ateísmo.
O presidente desta organização tinha o gracioso hábito de aparecer para suas
apresentações ao lado de um chimpanzé vestido. O presidente não manteve sigilo
e, assim, o que os comunistas andaram fazendo com as mulheres e os macacos
chegou à imprensa dos EUA.
Aqui a história
tornou-se mais bizarra ainda. Não as feministas, mas os cavaleiros encapuzados
da organização racista branca Ku Klux Klan ameaçaram a senhora cubana exigindo
que ela não colaborasse com o racista soviético. Ivanov ficou sem o macaco.
Derrotado, foi
condenado por seu fracasso e prejuízo aos cofres públicos a cinco anos de
prisão, o que foi mudado, em 1931, para exílio no Cazaquistão, onde morreu no
ano seguinte.
Mas, afinal, qual o
interesse comunista em gerar os “humanzés”? As hipóteses são muitas e uma das
mais difundidas diz que Stálin pretendia criar um exército de super-guerreiros:
“Eu quero um novo e invencível ser humano, insensível à dor, resistente e
indiferente à qualidade da comida que consumir” – teria dito, segundo jornais
de Moscou.
Alexander Etkind, PhD,
da Universidade de Cambridge, nascido na URSS e especialista em história da
Rússia, cita três possibilidades para o projeto comunista: “em primeiro lugar,
a hibridização entre homens e macacos, caso tivesse sucesso, seria um apoio à
propaganda ateísta dos bolcheviques [os comunistas que governavam a URSS]; em
segundo lugar, independentemente do sucesso da hibridação, Ivanov iria pegar e
trazer os macacos para a Rússia, os quais eram necessários para os programas de
rejuvenescimento que estavam na moda entre a elite bolchevique; e em terceiro,
a hibridação, se fosse bem sucedida, abriria o caminho para o Novo Homem
Socialista cuja ‘construção por meios científicos’ era o propósito oficial dos
bolcheviques”.
Relatos como este podem
surpreender a muitos e com a sistemática doutrinação comunista atual,
especialmente na mídia, no meio universitário e pelo governo federal petista
muitos recusarão a acreditar ou depreciarão a importância do fato. Não faltam
registros, porém, que demonstram que os vínculos do comunismo com a eugenia e
com o racismo, inclusive o nazista, não são recentes nem casuais – e isto deve
ser lembrado, particularmente em temas como direitos humanos, reprodução e
discriminação racial.
Leão Alves é médico e
secretário-geral do Movimento Nação Mestiça.
terça-feira, 25 de julho de 2017
A maioria dos partidos brasileiros beija a bunda de Marx...
E todos cristãos que votam nesses partidos
são mais traidores que Judas Iscariotes.
Veja o que o socialismo está fazendo com o Brasil
Biblioteca Subversiva: Dicas de livros
DISCOTECA SUBVERSIVA: As 200 músicas mais expressivas do final século XX
Veja mais frases libertárias
Ambientalismo e Desenvolvimento Sustentável: Falácias & Mentiras
Toda crise que o Brasil está passando, incluindo
os milhares de desempregos, os milhares de assassinatos e aumento exacerbado da
criminalidade, o aumento dos impostos, as quedas das vendas no comércio, além da inflação, e de todas
as corrupções, é culpa direta do socialismo que já contaminou a nossa economia,
a nossa moral cristã e as nossas vidas.
Veja o que o socialismo está fazendo com o Brasil
Biblioteca Subversiva: Dicas de livros
DISCOTECA SUBVERSIVA: As 200 músicas mais expressivas do final século XX
Veja mais frases libertárias
Ambientalismo e Desenvolvimento Sustentável: Falácias & Mentiras
segunda-feira, 24 de julho de 2017
Um produto de consumo é a soma de dois fatores de produção
Para
que se faça qualquer produto para o consumo são necessários dois fatores de
produção, são eles: a) O primeiro fator é o “produto laboral”, ou trabalho,
executado por homens e ferramentas auxiliares, e pelas máquinas, ou por ambos
simultaneamente. b) O outro fator é formado pelos “produtos materiais”, que são
as matérias-primas, ou por qualquer outra matéria previamente transformada.
Anon, SSXXI
Frases
subversivas ou libertárias (104)
quinta-feira, 20 de julho de 2017
Little Steven antes de ser mafioso e viver em Lilyhammer
Lilyhammer, a cidadezinha socialista norueguesa dos politicamente
corretos, se depara com um mafioso que está cagando e andando para as suas
regras. Em Lilyhammer, não se pode mijar nem mesmo no mato. Lá, há sempre uma
polícia bisbilhotando a sua vida, e se passando por sua sombra. Mas a corrupção corre solta! (Dica
subversiva Netflix)
Little Steven (ou Steven Van Zandt) e Bruce Springsteen
Veja o que o socialismo está fazendo com o Brasil
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DISCOTECA SUBVERSIVA: As 200 músicas mais expressivas do final século XX
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Ambientalismo e Desenvolvimento Sustentável: Falácias & Mentiras
terça-feira, 18 de julho de 2017
O Homem: A Ferramenta Divina
Frases
subversivas ou libertárias (103)
sexta-feira, 14 de julho de 2017
Milton Friedman, o vencedor do prêmio Nobel de economia e que vez do Chile o país mais rico da América do sul.
Veja este vídeo e saiba por que as ideias socialistas estão emperrando o desenvolvimento econômico do Brasil
Milton
Friedman - O que há de errado com o estado de bem-estar social ? (legendado)
Veja mais frases libertárias
segunda-feira, 10 de julho de 2017
O Livro Politicamente Incorreto da Esquerda e do Socialismo – Autor: Kevin Williamson
O socialismo já apanhou tanto da história,
que inventariar os seus podres pode parecer chute em cachorro morto. O problema
é que o fantasma do cachorro está vivo. E morde. O autor americano Kevin D.
Williamson resolveu fazer a autópsia da utopia que mobilizou as melhores
intenções no século XX – o sonho da igualdade que, para as almas boas e os
corações solidários, representou praticamente o casamento da política com a
poesia. Williamson mostra pacientemente com quantos pecados mortais se constrói
uma utopia paradisíaca...
Biblioteca Subversiva: Dicas de livros
E o que fazer para conquistar e manter
esse controle em nome do bem-estar da coletividade? Tudo, inclusive atropelar a
coletividade. Entre os diversos casos de desabastecimento e penúria “propiciados”
por planejamentos socialistas, o autor conta uma passagem ocorrida na Coreia do
Norte, uma das joias do comunismo mundial:
Um
cidadão faminto decide protestar em frente à residência oficial do ditador Kim
Jong-il, gritando: “Não temos comida! Não temos eletricidade! Não temos água!
Não temos nada!”
Imediatamente
é arrastado para uma masmorra e amarrado a uma cadeira, com uma arma apontada
contra sua cabeça. O policial dispara, mas o tiro era de festim. O susto é para
que o sujeito nunca mais repita o que fez, diz a polícia. O risioneiro
responde: “Não temos comida!
Não
temos eletricidade! Não temos bala! Não temos nada!”
Ria com moderação e divirta-se se for
capaz – porque o que dá para rir, dá para chorar. . (Uma parte do prefácio deste livro escrita por Guilherme Fiuza).
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este livro, valorize a obra e o autor.
Biblioteca Subversiva: Dicas de livros
quinta-feira, 6 de julho de 2017
O Materialismo Dialético: A religião obnóxia dos socialistas
Conversei com comunistas brasileiros
e soviéticos a respeito do problema religioso na União Soviética. A conclusão
dos fatos é que religião e marxismo são duas coisa antípodas, duas concepções filosóficas
que se repelem e não podem coexistir na mesma consciência. Aquele que aceita um
sistema doutrinário de sentido essencialmente materialista como é o caso do
marxismo, na verdade não tem e nem pode ter necessidade de nenhuma crença
religiosa, porque dentro da sua concepção materialista do universo e da vida,
não há lugar para problemas de índole puramente espiritual. A única “religião” de
um marxista é o próprio materialismo dialético. E se a igreja continua a
sobreviver precariamente na Rússia hodierna, pelo menos quanto à sua presença
física, isto acontece apenas porque essa igreja afundou-se na ignomínia e
escolheu o caminho da capitulação obnóxia, diante do despotismo do Estado, que
a transformou num mero instrumento de opressão e violência contra os “recalcitrantes”
que vieram do regime anterior com uma educação religiosa mais ou menos
definida. Só por esta razão e com este fim, existem igrejas ainda abertas na
Rússia.
Texto extraído do livro “A sombra do
Kremlin, escrito por Orlando Loureiro (Compre
este livro, valorize a obra e o autor.)
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quarta-feira, 5 de julho de 2017
Os crimes de Stalin: A trajetória assassina do Czar Vermelho - Nigel Cawthorne
Logo
em seguida, parte de uma entrevista relacionada ao domínio soviético de Stálin
sobre outros povos
Entrevista:
Médico romeno conta como era viver num país socialista
MP
– Como o comunismo é visto hoje pelos seus compatriotas?
Eu me
pergunto sempre, disse o médico romeno Mihai Sorin Dorobanțu que hoje vive no
Brasil: “Quais são as pessoas que curtem a esquerda e, em espécie, o
comunismo?” Geralmente os fracassados, aqueles que nunca iriam conseguir chegar
onde sonhavam sem a ajuda de uma corrente politica que precisa de acólitos. Tem
gente que trabalha, estuda e ganha uma fortuna no meu pais. Esses geralmente,
nem querem saber de politica, na verdade não tem tempo para isso. Assim como
tem gente que, não importa em que sistema eles viveriam, sempre vão se constituir
no lixo da sociedade: alcoólatras sonhadores, preguiçosos, ladrões, bandidos.
Toda essa a ultima categoria é o grosso do que se chama de “turma proletária*”
mas não tem nada a ver com proletariado. É, na verdade, o esgoto da sociedade,
a sujeira que fede de qualquer jeito à pobreza, ao medo e a covardia. Graças a
Deus, hoje o Exercito Vermelho está longe do meu pais, então essa gentalha está
fraca. Mas eles esperam, lá, na sombra, assim como esperaram nos anos 40 para
se apoderar do pais. Quem acha que o comunismo não existe mais, se engana, ele
está presente nos botecos, nas áreas de prostituição, nas drogas, na preguiça e
nas esmolas da sociedade. Ele vai ressuscitar sem dúvidas, porque essa gosma
tira seu poder principalmente da indiferença e da ignorância da sociedade.
Leia:
entrevista completa aqui
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sábado, 1 de julho de 2017
Dois gaúchos de coragem
Um gaúcho de coragem
Dyonélio, após a
evidência dos gulags, passou a escrever sobre a antiga Grécia. Era homem
íntegro e generoso, mas mal informado. Foi o mesmo movimento espiritual de
Faraco, que refugiou-se em Urartu, na Armênia. Josué Guimarães foi
caixeiro-viajante a serviço de Pequim e Moscou. Até as pedras da Rua da Praia
sabiam que estes senhores eram comunistas, mas ai de quem o dissesse em
público. Seria execrado como delator e expulso do rol dos vivos.
Desde os anos 30, Moscou aprendeu como conquistar intelectuais no Ocidente: bastava oferecer-lhes viagens e mordomias, com a nonchalance de quem joga milho às galinhas. A longa linhagem de intelectuais vendidos alberga desde pinheiros natos a expressões mais altas, tipo Kazantzakis, Aragon, Neruda, Brecht, Lukács, Sartre, Simone, Jorge Amado, Graciliano Ramos e vou ficando por aqui, que a lista seria infinda. O stalinismo, dogma já superado na Europa, ainda vige na América Latina.
Uma estranha patologia contaminou o final de século em Porto Alegre. Por todas as partes do mundo, as sociedades derrubavam mitos, monumentos, símbolos de tiranias passadas. Parece que a peste se entranhou de tal forma na universidade e nas instituições culturais da capital gaúcha que, enquanto a humanidade avançava - para a frente, como é normal - a intelectuália do Portinho virava as costas para o futuro e fica acariciando um baú repleto de coisas mortas.
Tiveram no entanto prestígio os escritores que teceram loas ao comunismo. Os que mais teceram loas foram exatamente os que tiveram chance de conhecer a União Soviética de perto. O caso mais emblemático terá sido o de Antônio Pinheiro Machado Netto, que só via uma hipótese da queda do muro de Berlim: a adesão da Alemanha Ocidental ao regime comunista.
Antônio Pinheiro Machado Netto e o Muro de Berlim - Em 1985, apenas quatro anos antes da queda do Muro, quando a Alemanha Oriental aderiu ao capitalismo, Machado Netto publicou Berlim: Muro da Vergonha ou Muro da Paz?, edição da L&PM, com terna homenagem em suas primeiras páginas a Luiz Carlos Prestes, esta alma penada que perdeu a noção da época em que vivia, e morreu encaracolado em um stalinismo obtuso, primário e criminoso.
Tendo visitado por duas vezes a URSS, a convite do Comitê dos Partidários da Paz na União Soviética, e uma terceira vez a Tchecoeslováquia, pela Assembléia pela Paz e pela Vida, e sentindo-se na obrigação de pagar suas mordomias em alguma moeda — desde que não dólares — nosso turista apressado entoa loas ao muro que durante três décadas constituiu o mais sinistro e desumano marco erigido pelo comunismo russo. Pincemos, cá e lá, alguns trechos desta cretina defesa do totalitarismo.
Hoje não se pode mais falar em reunificação da Alemanha, pura e simplesmente, com fundamento tão somente na língua e história comuns. (...) Não se pode, todavia, afastar a hipótese de, num futuro mais ou menos remoto, vir a ocorrer a unificação (como aconteceu no Vietnã). Esta hipótese, porém, só pode ser considerada se na chamada Alemanha Federal — RFA — passar a existir também um regime socialista.
Uma das maiores bobagens veiculadas no Brasil sobre o Muro de Berlim é que ele foi erguido para evitar as fugas de alemães da RDA para a parte oeste de Berlim. Esta asneira é veiculada até por pessoas que gozam de alguma credibilidade no Brasil, e por órgãos de comunicação, que se apresentam como veículos fiéis à verdade.
Todos os epítetos lançados contra o muro — afronta à liberdade, vergonha, etc., etc. — escondem apenas o ressentimento e a frustração dos fazedores de guerra que, naquela linha de fronteira, viam o começo da terceira guerra mundial por que tanto sonham, e para cujo deflagrar tudo fazem, com vistas a salvar o capitalismo da crise irreversível em que está mergulhado.
É natural que na RDA e nos demais países socialistas a tendência seja a diminuição do índice de criminalidade, de vez que as infrações penais que têm origem na miséria, numa vida difícil e atormentada, com dificuldades econômicas e financeiras, tendem a desaparecer por completo nos países socialistas, e muito particularmente na RDA.
Mas, decorridas quatro décadas, essa mesma Alemanha Ocidental — eis a grande verdade — não resolveu problemas vitais do povo alemão que vive na região ocidental. Mais do que isso. Hoje a República Federal da Alemanha — RFA -, como todo mundo capitalista, é um país atormentado por uma crise de vastas proporções, crise política, econômica, social e moral.
A realidade alemã ocidental hoje reflete a crise que avassala o sistema capitalista. Na RFA a situação social também vem se agravando. Progressivamente aumenta a pobreza.
Os sindicatos da RFA estão prevendo que até 1990 cerca de 100 mil pessoas perderão seus empregos, atualmente, por força da automação. Afora, evidentemente, o desemprego resultante da crise do capitalismo que existe na RFA e em todo o ocidente capitalista, e que vai continuar.
Os meios de comunicação de massa do Ocidente já “decretaram” que nos países socialistas não há liberdade para os cidadãos e que, especialmente, inexiste liberdade de imprensa. Também “decretaram” que os direitos humanos não são respeitados no mundo socialista.
Daqui cinco anos, na RDA, não haverá mais desconforto habitacional — todas as famílias terão sua casa.
Acho que chega. Este senhor, defensor dos restos podres do stalinismo, foi Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
A paranoia parece ser genética. Um outro Pinheiro Machado, o Luiz Carlos, durante décadas, pretendeu submeter os genes às leis da dialética, defendendo as experiências fajutas de Lyssenko, pupilo de Stalin que por seu dogmatismo quase arrasou com a agricultura russa, tornando-a dependente, até hoje, de grãos do Ocidente. Luiz Carlos teve certa sorte: não teve editores que publicassem suas asneiras. O mesmo não aconteceu com Antônio.
Josué Guimarães e a fortaleza assediada - Um outro escritor gaúcho, viajante e venal, foi Josué Guimarães, morto em 1986. As Muralhas de Jericó, publicado postumamente em 2001, são relatos de sua viagem à União Soviética e China comunista em março-abril de 1952, como correspondente especial do jornal Última Hora, do Rio de Janeiro. O livro foi escrito em junho daquele ano e só publicado doze anos após a queda do muro de Berlim e dez anos após o desmoronamento da União Soviética.
Na apresentação do livro, Maria Luiza Ritzel Remédios afirma que o autor-narrador parece sentir-se como o Josué da Bíblia que, no comando dos israelitas, penetrou a citadela inexpugnável, pois ele está a alcançar a União Soviética até então separada do mundo ocidental. E aqui já vai um equívoco da prefaciadora. Os anos 50 constituíram talvez o auge da influência de Stalin no Ocidente. Escreve Josué:
Este livro tem a pretensão de derrubar as muralhas que separam, praticamente, o Ocidente do Oriente, fazendo deste mundo um só. Para tanto faltam engenho e arte. Porém, se não tiver a força e a magia das trombetas do Profeta, se não for capaz de destruir as muralhas simbólicas que hoje têm o nome de Cortina de Ferro, que pelo menos sirva para tirar desse muro de indiferença uma única pedra. Só isto justificaria a veleidade de publicá-lo. Pois a fresta assim aberta daria para que duas mãos se apertassem, fraternalmente, iniciando uma era de compreensão e vontade, únicos sentimentos que ainda poderão devolver a Paz aos homens.
No fundo, Josué quer absolver Stalin dos crimes tremendos de que, já na época, era acusado. Ao falar da Muralha da China, Josué a define como “um símbolo de defesa de um povo que, até hoje, não encontrou segurança e que sabe que nenhuma barreira material será capaz de deter a ambição de outros povos, o desejo de destruição de outras gentes. Talvez seja a Muralha, nos dias de hoje, um símbolo muito vivo para os chineses. (...) está a ensinar-lhes que só uma coisa poderá deter uma agressão: é a união de todos, o trabalho de sol a sol e um sentimento de igualdade que lhes dê força e independência”.
Em 52, Mao estava plenamente empenhado na formidável tarefa de matar chineses. Mas nada disso interessa a Josué. Em seu turismo, o autor tem a ventura de ver o Grande Timoneiro na Praça Vermelha:
Mao Tse-tung já chegou. Daqui se avista o presidente cercado de seus auxiliares e do general Chu Têh (...) Sou capaz de distinguir o seu famoso sorriso daqui de onde estou. Ambos já tiveram a cabeça a prêmio, na sede de vingança do exilado de Formosa. Pela de Mao Tse-tung, que, antes de mais nada, é um intelectual dos mais puros, foi oferecida a quantia de 250 mil dólares.
O intelectual dos mais puros matou 65 milhões de compatriotas seus. Em Moscou, então, tudo é lindo.
O nível cultural do povo soviético talvez seja hoje um dos mais elevados do mundo. Tive grande preocupação em observar este aspecto. (...) Uma tarde, a delegação brasileira, ao deixar o Hotel Nacional, teve a atenção de todos despertada para uma aglomeração à porta de uma livraria que nós havíamos visto várias vezes. Homens e mulheres disputavam a primazia na porta e muitos outros saíam de lá de dentro empunhando um livro qualquer. Fomos nos informar do que havia. E o espanto foi tanto, para nós, brasileiros, que ninguém comentou o sucedido depois, ruminando lá as suas incompreensões e engolindo seco seu espanto. Tratava-se, simplesmente, de mais uma edição de um livro sobre filosofia, disputado de tal maneira que me lembrou episódio igual, numa banca de São Paulo, no dia em que saiu uma edição nova da revista Grande Hotel, uma cretiníssima coleção de histórias de amores mal correspondidos de mistura com a vida secreta de Hollywood e conselhos sobre a melhor maneira de encontrar um marido.
E seriam intelectuais os que tanto esforço faziam para comprar um pesado livro sobre filosofia? A resposta é negativa e verdadeira. Talvez seja difícil para nossa mentalidade compreender o interesse do operário de uma fábrica qualquer por um assunto sério, de cultura. Ou o desejo da moça que dirige um trem elétrico subterrâneo – naquele esplêndido Metrô de Moscou – em comprar um livro que trata de problemas transcendentais, fora das coisas diárias ou das estórias de casamentos frustrados. Mas para eles isso é uma coisa natural e não representa nenhum esnobismo ou atitude.
Nenhuma palavrinha sobre as prisões de intelectuais e dissidentes, que há muito vinham sendo enviados para os gulags. Este é o tom sempre baboso do livro. Tudo é grandioso, eficaz, inteligente, tudo é esperança no futuro e no homem novo, nas observações de Josué. Nenhuma palavrinha sobre a sufocação da literatura por Zdanov. Nenhuma menção ao desastre na agricultura provocado por Lyssenko.
Se na época os crimes de Mao eram pouco conhecidos, sobre os crimes de Stalin o autor não podia alegar desconhecimento. Pois três anos antes de sua viagem, havia estourado em Paris a chamada affaire Kravchenko, depois da qual não mais era permissível a uma pessoa informada ignorar o que ocorria na União Soviética.
Em 1949, Victor Kravchenko, alto funcionário soviético, denunciou em Paris os crimes de Stalin. Tendo trocado a URSS pelos Estados Unidos, relatou esta opção em Eu escolhi a liberdade, livro em que denunciava a miséria generalizada e os gulags do regime stalinista. O livro foi traduzido ao francês em 1947 e teve um sucesso fulminante. A revista Les Lettres Françaises publicou três artigos difamando Kravchenko, apresentando-o como um pequeno funcionário russo recrutado pelos serviços secretos americanos. Kravchenko processou a revista, no que foi considerado, na época, o julgamento do século. No banco dos réus estava nada menos que a Revolução Comunista.
Em seu testemunho, Kravchenko trouxe ao tribunal Margaret Buber-Neumann, mulher do dirigente comunista alemão Heinz Neumann, como também o ex-guerrilheiro antifranquista El Campesino, ambos aprisionados por Stalin em campos de concentração. Kravchenko, que perdeu toda sua fortuna produzindo provas no processo, teve ganho de causa. Recebeu da revista francesa, como indenização por danos e perdas ... um franco simbólico.
A história de Kravchenko é fascinante, envolve diversos países, desde a finada União Soviética até Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha. Seu livro rendeu-lhe boa fortuna. Levado à falência com os custos do processo, foi morar no Peru, onde investiu em minas de ouro e de novo enriqueceu. Acabou suicidando-se em um hotel em Nova York. A partir de seu processo, ninguém mais podia negar o universo concentracionário soviético. 1949 é a data limite para um homem que se pretenda honesto abandonar o marxismo.
Três anos depois, Josué Guimarães, jornalista e correspondente internacional – profissional bem informado por definição - ainda louvava a União Soviética de Stalin.
Há um detalhe curioso em As Muralhas de Jericó. Tendo sido escrito em 1952, permaneceu inédito por meio século, só tendo sido publicado postumamente em 2001. Ora, de 52 para cá, muita água correu sob o moinho da História. Em 1956, Nikita Kruschov denunciou, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, os crimes de Stalin.
Não era a CIA, muito menos a imprensa capitalista ocidental que os denunciava, mas o mais alto dirigente soviético. Kravchenko era um dissidente, mas Kruschov era o secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Se a affaire Kravchenko, apesar da farta abundância de provas, deixara alguma dúvida em comunistas mais testarudos, a partir do XX Congresso nenhuma dúvida mais era permissível.
Em 89 caiu o Muro e em 91 desmoronou o império tão amado por Josué. Seria mais que oportuno, para a imagem póstuma do escritor, que seu depoimento permanecesse inédito. Mas pelo jeito a viúva acreditou nas potocas do marido.
Sérgio Faraco, gaúcho e covarde - Outro gaúcho covarde é Sérgio Faraco. Em Lágrimas na Chuva, publicado em 2002, relata período de pouco mais de ano vivido pelo autor em Moscou, em 1963 e 64.
"Depois de uma série de conflitos com chefetes políticos ligados aos partidos brasileiro e soviético" – diz-nos o editor na orelha – "Faraco foi internado em regime de reclusão, sob pesada bateria de medicamentos, numa clínica de reeducação. Era este, na época, um procedimento de rotina em relação àqueles que se rebelavam contra o ultra-esquerdismo do Partido".
Ora, quais foram os gestos de rebeldia do heróico mártir gaúcho?
Pelo que lemos em sua memória, foram basicamente duas atitudes: mantinha relações com uma russinha e insistia em escutar Wagner a todo volume em seu dormitório. Fora isso, em uma viagem à Armênia, demonstrou insólita coragem ao perguntar a um mandalete local como podiam avançar na automação do que quer que fosse, se as moradias não dispunham de vasos sanitários e as necessidades eram feitas nos quintais, em latrinas. A tradutora nem sabia o que era latrina.
Ou seja, os armênios não haviam chegado sequer ao conceito de latrina. Em função disto, o rebelde escritor foi enviado a uma clínica de reeducação, onde dispunha de quarto individual, com chuveiro e vaso sanitário (um progresso em relação à Armênia) e mais uma enfermeira que vinha pegar-lhe a mãozinha quando deprimido.
Gulag classe A, com direito a cafuné. Pra dissidente algum botar defeito. Do alto desta omissão, quarenta anos nos contemplam. Quatro décadas antes, Faraco havia sentido na carne o preço a ser pago, na União Soviética, por pequenas molecagens. Escritor, não lhe terá sido difícil imaginar o quanto custava qualquer discordância com a linha do Partido. Em idade provecta, a tardia madalena alegretense demonstra sua coragem denunciando, em 2002, fato ocorrido nos 60.
Seu depoimento, se feito na época de seu retorno, seria de extraordinário valor para sua geração. Seria o relato insuspeito de um militante comunista que, em sua viagem iniciática ao paraíso soviético, fora tratado como doente mental apenas por escapadelas a uma disciplina absurda, típica de seminários católicos. Seria oportuníssimo, logo após 64.
Erico Verissimo pergunta a Faraco se não pensava escrever sobre sua estada na União Soviética. "Respondi que, de fato, tinha essa intenção, embora minha experiência não fosse edificante. Ele ficou pensativo, depois disse que, se era assim, talvez fosse ainda menos edificante narrá-la, enquanto vivíamos, no Brasil,sob uma ditadura militar. Ele tinha razão" – diz Faraco.
Ora, os militares lutavam para que o Brasil não virasse o imenso gulag que o futuro escritor então testemunhara. Em função de um regime que jamais o pôs na prisão, mesmo sendo comunista, Faraco silencia sobre o regime comunista que o internou em um hospital psiquiátrico, mesmo sendo comunista.
Escritor, Faraco intuiu o que Erico há muito já intuíra. Se dissesse uma só palavrinha contra a Santa Madre Rússia, adeus editoras, adeus honras literárias, adeus imprensa amiga, adeus resenhas e teses universitárias. O gaúcho de Alegrete, que não teve sequer a hombridade de despedir-se da humilde moscovita que o aquecera nos seus dias cinzas às margens do Volga, baixa a crista.
Mas seu livro tem um grande mérito: nos revela a cumplicidade com a tirania do mais celebrado escritor gaúcho, tido como campeão da liberdade. Não por acaso, a universidade e imprensa gaúchas idolatram Erico. Covardes e omissos foram também todos os demais escritores gaúchos que, sem pertencerem ao Partido, silenciaram sobre os crimes do comunismo. Mário Quintana, por exemplo, refugiava-se em uma frase cômoda: "eu não entendo de problemas sociais". Moacyr Scliar foi premiado pela ditadura de Fidel Castro. Ou seja, estava cotadíssimo para a Academia Brasileira de Letras. E filho de Verissimo, Verissiminho é. Luis Fernando, o rebento, até hoje apóia toda ditadura, desde que de esquerda.
Falar em comunistas gaúchos e não citar Luís Carlos Prestes é ignorar o embuste maior que Porto Alegre já produziu. Embalado pelas proezas de uma coluna absurda, que se tornou famosa por suas "gloriosas" retiradas, ao refugiar-se nas margens do Prata acabou sendo contaminado pela mosca azul do poder. Treinado em Moscou, veio a mando do Kremlin fazer a "revolução" no Brasil. Deu no que deu: uma intentona ridícula e sangrenta, liderada por desvairados que de Brasil pouco ou nada conheciam. Preso e derrotado, acabou morando vários anos em Moscou. Cego e teimoso, em todo esse tempo não conseguiu ver o que Loureiro constatou em apenas dois meses. Morreu em odor de stalinismo. E ainda hoje há quem queira erguer-lhe monumentos.
Apenas dois gaúchos, em todos os cem anos do século passado, ousaram escrever contra a barbárie. Um foi o jornalista Orlando Loureiro, que publicou A Sombra do Kremlin, editora Globo, 1954, dez anos antes da viagem do alegretense deslumbrado. O outro é este que assina este prefácio.
Orlando Loureiro, gaúcho e corajoso - O depoimento de Orlando Loureiro, cria de Santa Cruz do Sul, foi editado pela Globo e suas reflexões são decorrentes de uma viagem à ex-União Soviética, nos meses de dezembro de 1952 e janeiro de 1953, ou seja, antes da morte do Paizinho dos Povos. E na mesma época em que Josué Guimarães girava bolsinha entre Moscou e Pequim.
A viagem foi logo após um Congresso dos Povos pela Paz, em Viena, uma dessas reuniões em que os fiéis discípulos de Stalin pregavam a guerra. Neste encontro, entre outras cortesãs internacionais, rodavam a baiana Sartre, Jorge Amado, Pablo Neruda, Louis Aragon. De Viena, Loureiro é selecionado para ir a Moscou. Tem como companheira de comitiva, entre outras personalidades, Maria Della Costa, o que explica em boa parte sua carreira no Brasil. Ela viu de perto a tirania e silenciou. Palmas para a atriz. O mesmo não ocorreu com Loureiro. Jornalista, o autor não precisou de lupa para ver que havia uma só imprensa no mundo soviético:
Na URSS nunca existem duas opiniões a respeito de um mesmo fato ou acontecimento, porque o direito de pensar e opinar é prerrogativa apenas das elites dirigentes. O governo pensa prodigiosamente por 200 milhões de cabeças, obedientes e sub-missas dentro das fronteiras da contraditória democracia do proletariado. (...) As rotativas dessa poderosa usina geradora do pensamento comunista rodam ininterruptamente, dia e noite, para alimentar uma das mais fantásticas organizações de propaganda mundial de que se tem notícia. Essa verdadeira enxurrada de literatura marxista inunda os pontos mais remotos da terra e representa a persistente contribuição de Moscou aos seus fiéis, para as tarefas de catequese e proselitismo do proletariado universal. São milhares de toneladas de papel e tinta despejadas mensalmente na garganta anônima das grandes capitais do mundo, numa batalha obsedante pela arregimentação dos rebanhos humanos extraviados na voragem dos conflitos sociais e econômicos do nosso tempo.
Jorge Amado, "ruidoso camelô do marxismo", como diz Loureiro, participa desta comitiva e sabe disto muito bem. Em uma visita à União dos Escritores Soviéticos, diz a Loureiro: "Na Rússia Soviética todo o trabalho intelectual é regiamente pago. As tiragens são geralmente elevadas e os escritores recebem grandes somas em direitos autorais. Há poetas que podem viver como milionários."
Amado sabe o que quer. Loureiro prefere contar o que vê:
A União dos Escritores funciona como um Vaticano para a moderna literatura soviética. O julgamento das obras a serem lançadas obedece a um critério estreito e sectário de crítica literária. Esta função é exercida por um conselho reunido em assembléia, que discute os novos livros e sobre eles firma a opinião oficial da sociedade. A exegese não se restringe aos aspectos literários ou artísticos da obra julgada, senão que abrange com particular severidade o seu conteúdo filosófico, que deve estar em harmonia com os conceitos da "realidade socialista" e guardar absoluta fidelidade aos princípios ideológicos da doutrina marxista. Se o livro apresentar méritos do ponto de vista dessa moral convencionada, se resistir ao crivo desse teste de eliminatória, então passará por um rigoroso trabalho de equipe dentro dos órgãos técnicos da União, podendo vir a transformar-se num legítimo best-seller, com tiragens astronômicas de 2 a 3 milhões de exemplares. E o seu modesto e obscuro autor poderá ser um nouveau riche da literatura e será festejado e exal¬tado e terminará ganhando o cobiçado Prêmio Stalin.
O que explica a fortuna dos Amados e Nerudas da vida, ambos detentores do Prêmio Stalin, suas inúmeras traduções e tiragens milionárias, às custas da opressão, massacre e assassinato de milhões de seres humanos.
Loureiro morreu em 2004, aos 85 anos, praticamente ignorado pelos gaúchos, enquanto os escritores comunistas e venais eram caitituados pela imprensa e universidade. O relato de viagens de Loureiro, um dos raros brasileiros a intuir a essência do regime soviético – outro foi Osvaldo Peralva, em O Retrato (1962) - escassamente mereceu uma segunda edição. Agora, mais de meio século depois, recebe a terceira.
Biblioteca Subversiva: Dicas de livros
Escrito
por Janer Cristaldo
A História é um
lago que seca. Ao descerem, suas águas trazem à tona monstros insuspeitos.
Todos os escritores gaúchos foram cúmplices da peste marxista. Não apenas os
comunistas, como Faraco, Dyonélio Machado, Ciro Martins, Josué Guimarães, Ary
Saldanha, Lila Ripoll, Laci Osório, Ivan Pedro de Martins, Edith Hervé, Isaac
Axelrud, Otto Alcides Ohlweiler, Juvenal Jacinto de Souza, Antônio Pinheiro
Machado Netto, que por ofício tinham de prestar culto à União Soviética.
Desde os anos 30, Moscou aprendeu como conquistar intelectuais no Ocidente: bastava oferecer-lhes viagens e mordomias, com a nonchalance de quem joga milho às galinhas. A longa linhagem de intelectuais vendidos alberga desde pinheiros natos a expressões mais altas, tipo Kazantzakis, Aragon, Neruda, Brecht, Lukács, Sartre, Simone, Jorge Amado, Graciliano Ramos e vou ficando por aqui, que a lista seria infinda. O stalinismo, dogma já superado na Europa, ainda vige na América Latina.
Uma estranha patologia contaminou o final de século em Porto Alegre. Por todas as partes do mundo, as sociedades derrubavam mitos, monumentos, símbolos de tiranias passadas. Parece que a peste se entranhou de tal forma na universidade e nas instituições culturais da capital gaúcha que, enquanto a humanidade avançava - para a frente, como é normal - a intelectuália do Portinho virava as costas para o futuro e fica acariciando um baú repleto de coisas mortas.
Tiveram no entanto prestígio os escritores que teceram loas ao comunismo. Os que mais teceram loas foram exatamente os que tiveram chance de conhecer a União Soviética de perto. O caso mais emblemático terá sido o de Antônio Pinheiro Machado Netto, que só via uma hipótese da queda do muro de Berlim: a adesão da Alemanha Ocidental ao regime comunista.
Antônio Pinheiro Machado Netto e o Muro de Berlim - Em 1985, apenas quatro anos antes da queda do Muro, quando a Alemanha Oriental aderiu ao capitalismo, Machado Netto publicou Berlim: Muro da Vergonha ou Muro da Paz?, edição da L&PM, com terna homenagem em suas primeiras páginas a Luiz Carlos Prestes, esta alma penada que perdeu a noção da época em que vivia, e morreu encaracolado em um stalinismo obtuso, primário e criminoso.
Tendo visitado por duas vezes a URSS, a convite do Comitê dos Partidários da Paz na União Soviética, e uma terceira vez a Tchecoeslováquia, pela Assembléia pela Paz e pela Vida, e sentindo-se na obrigação de pagar suas mordomias em alguma moeda — desde que não dólares — nosso turista apressado entoa loas ao muro que durante três décadas constituiu o mais sinistro e desumano marco erigido pelo comunismo russo. Pincemos, cá e lá, alguns trechos desta cretina defesa do totalitarismo.
Hoje não se pode mais falar em reunificação da Alemanha, pura e simplesmente, com fundamento tão somente na língua e história comuns. (...) Não se pode, todavia, afastar a hipótese de, num futuro mais ou menos remoto, vir a ocorrer a unificação (como aconteceu no Vietnã). Esta hipótese, porém, só pode ser considerada se na chamada Alemanha Federal — RFA — passar a existir também um regime socialista.
Uma das maiores bobagens veiculadas no Brasil sobre o Muro de Berlim é que ele foi erguido para evitar as fugas de alemães da RDA para a parte oeste de Berlim. Esta asneira é veiculada até por pessoas que gozam de alguma credibilidade no Brasil, e por órgãos de comunicação, que se apresentam como veículos fiéis à verdade.
Todos os epítetos lançados contra o muro — afronta à liberdade, vergonha, etc., etc. — escondem apenas o ressentimento e a frustração dos fazedores de guerra que, naquela linha de fronteira, viam o começo da terceira guerra mundial por que tanto sonham, e para cujo deflagrar tudo fazem, com vistas a salvar o capitalismo da crise irreversível em que está mergulhado.
É natural que na RDA e nos demais países socialistas a tendência seja a diminuição do índice de criminalidade, de vez que as infrações penais que têm origem na miséria, numa vida difícil e atormentada, com dificuldades econômicas e financeiras, tendem a desaparecer por completo nos países socialistas, e muito particularmente na RDA.
Mas, decorridas quatro décadas, essa mesma Alemanha Ocidental — eis a grande verdade — não resolveu problemas vitais do povo alemão que vive na região ocidental. Mais do que isso. Hoje a República Federal da Alemanha — RFA -, como todo mundo capitalista, é um país atormentado por uma crise de vastas proporções, crise política, econômica, social e moral.
A realidade alemã ocidental hoje reflete a crise que avassala o sistema capitalista. Na RFA a situação social também vem se agravando. Progressivamente aumenta a pobreza.
Os sindicatos da RFA estão prevendo que até 1990 cerca de 100 mil pessoas perderão seus empregos, atualmente, por força da automação. Afora, evidentemente, o desemprego resultante da crise do capitalismo que existe na RFA e em todo o ocidente capitalista, e que vai continuar.
Os meios de comunicação de massa do Ocidente já “decretaram” que nos países socialistas não há liberdade para os cidadãos e que, especialmente, inexiste liberdade de imprensa. Também “decretaram” que os direitos humanos não são respeitados no mundo socialista.
Daqui cinco anos, na RDA, não haverá mais desconforto habitacional — todas as famílias terão sua casa.
Acho que chega. Este senhor, defensor dos restos podres do stalinismo, foi Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.
A paranoia parece ser genética. Um outro Pinheiro Machado, o Luiz Carlos, durante décadas, pretendeu submeter os genes às leis da dialética, defendendo as experiências fajutas de Lyssenko, pupilo de Stalin que por seu dogmatismo quase arrasou com a agricultura russa, tornando-a dependente, até hoje, de grãos do Ocidente. Luiz Carlos teve certa sorte: não teve editores que publicassem suas asneiras. O mesmo não aconteceu com Antônio.
Josué Guimarães e a fortaleza assediada - Um outro escritor gaúcho, viajante e venal, foi Josué Guimarães, morto em 1986. As Muralhas de Jericó, publicado postumamente em 2001, são relatos de sua viagem à União Soviética e China comunista em março-abril de 1952, como correspondente especial do jornal Última Hora, do Rio de Janeiro. O livro foi escrito em junho daquele ano e só publicado doze anos após a queda do muro de Berlim e dez anos após o desmoronamento da União Soviética.
Na apresentação do livro, Maria Luiza Ritzel Remédios afirma que o autor-narrador parece sentir-se como o Josué da Bíblia que, no comando dos israelitas, penetrou a citadela inexpugnável, pois ele está a alcançar a União Soviética até então separada do mundo ocidental. E aqui já vai um equívoco da prefaciadora. Os anos 50 constituíram talvez o auge da influência de Stalin no Ocidente. Escreve Josué:
Este livro tem a pretensão de derrubar as muralhas que separam, praticamente, o Ocidente do Oriente, fazendo deste mundo um só. Para tanto faltam engenho e arte. Porém, se não tiver a força e a magia das trombetas do Profeta, se não for capaz de destruir as muralhas simbólicas que hoje têm o nome de Cortina de Ferro, que pelo menos sirva para tirar desse muro de indiferença uma única pedra. Só isto justificaria a veleidade de publicá-lo. Pois a fresta assim aberta daria para que duas mãos se apertassem, fraternalmente, iniciando uma era de compreensão e vontade, únicos sentimentos que ainda poderão devolver a Paz aos homens.
No fundo, Josué quer absolver Stalin dos crimes tremendos de que, já na época, era acusado. Ao falar da Muralha da China, Josué a define como “um símbolo de defesa de um povo que, até hoje, não encontrou segurança e que sabe que nenhuma barreira material será capaz de deter a ambição de outros povos, o desejo de destruição de outras gentes. Talvez seja a Muralha, nos dias de hoje, um símbolo muito vivo para os chineses. (...) está a ensinar-lhes que só uma coisa poderá deter uma agressão: é a união de todos, o trabalho de sol a sol e um sentimento de igualdade que lhes dê força e independência”.
Em 52, Mao estava plenamente empenhado na formidável tarefa de matar chineses. Mas nada disso interessa a Josué. Em seu turismo, o autor tem a ventura de ver o Grande Timoneiro na Praça Vermelha:
Mao Tse-tung já chegou. Daqui se avista o presidente cercado de seus auxiliares e do general Chu Têh (...) Sou capaz de distinguir o seu famoso sorriso daqui de onde estou. Ambos já tiveram a cabeça a prêmio, na sede de vingança do exilado de Formosa. Pela de Mao Tse-tung, que, antes de mais nada, é um intelectual dos mais puros, foi oferecida a quantia de 250 mil dólares.
O intelectual dos mais puros matou 65 milhões de compatriotas seus. Em Moscou, então, tudo é lindo.
O nível cultural do povo soviético talvez seja hoje um dos mais elevados do mundo. Tive grande preocupação em observar este aspecto. (...) Uma tarde, a delegação brasileira, ao deixar o Hotel Nacional, teve a atenção de todos despertada para uma aglomeração à porta de uma livraria que nós havíamos visto várias vezes. Homens e mulheres disputavam a primazia na porta e muitos outros saíam de lá de dentro empunhando um livro qualquer. Fomos nos informar do que havia. E o espanto foi tanto, para nós, brasileiros, que ninguém comentou o sucedido depois, ruminando lá as suas incompreensões e engolindo seco seu espanto. Tratava-se, simplesmente, de mais uma edição de um livro sobre filosofia, disputado de tal maneira que me lembrou episódio igual, numa banca de São Paulo, no dia em que saiu uma edição nova da revista Grande Hotel, uma cretiníssima coleção de histórias de amores mal correspondidos de mistura com a vida secreta de Hollywood e conselhos sobre a melhor maneira de encontrar um marido.
E seriam intelectuais os que tanto esforço faziam para comprar um pesado livro sobre filosofia? A resposta é negativa e verdadeira. Talvez seja difícil para nossa mentalidade compreender o interesse do operário de uma fábrica qualquer por um assunto sério, de cultura. Ou o desejo da moça que dirige um trem elétrico subterrâneo – naquele esplêndido Metrô de Moscou – em comprar um livro que trata de problemas transcendentais, fora das coisas diárias ou das estórias de casamentos frustrados. Mas para eles isso é uma coisa natural e não representa nenhum esnobismo ou atitude.
Nenhuma palavrinha sobre as prisões de intelectuais e dissidentes, que há muito vinham sendo enviados para os gulags. Este é o tom sempre baboso do livro. Tudo é grandioso, eficaz, inteligente, tudo é esperança no futuro e no homem novo, nas observações de Josué. Nenhuma palavrinha sobre a sufocação da literatura por Zdanov. Nenhuma menção ao desastre na agricultura provocado por Lyssenko.
Se na época os crimes de Mao eram pouco conhecidos, sobre os crimes de Stalin o autor não podia alegar desconhecimento. Pois três anos antes de sua viagem, havia estourado em Paris a chamada affaire Kravchenko, depois da qual não mais era permissível a uma pessoa informada ignorar o que ocorria na União Soviética.
Em 1949, Victor Kravchenko, alto funcionário soviético, denunciou em Paris os crimes de Stalin. Tendo trocado a URSS pelos Estados Unidos, relatou esta opção em Eu escolhi a liberdade, livro em que denunciava a miséria generalizada e os gulags do regime stalinista. O livro foi traduzido ao francês em 1947 e teve um sucesso fulminante. A revista Les Lettres Françaises publicou três artigos difamando Kravchenko, apresentando-o como um pequeno funcionário russo recrutado pelos serviços secretos americanos. Kravchenko processou a revista, no que foi considerado, na época, o julgamento do século. No banco dos réus estava nada menos que a Revolução Comunista.
Em seu testemunho, Kravchenko trouxe ao tribunal Margaret Buber-Neumann, mulher do dirigente comunista alemão Heinz Neumann, como também o ex-guerrilheiro antifranquista El Campesino, ambos aprisionados por Stalin em campos de concentração. Kravchenko, que perdeu toda sua fortuna produzindo provas no processo, teve ganho de causa. Recebeu da revista francesa, como indenização por danos e perdas ... um franco simbólico.
A história de Kravchenko é fascinante, envolve diversos países, desde a finada União Soviética até Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha. Seu livro rendeu-lhe boa fortuna. Levado à falência com os custos do processo, foi morar no Peru, onde investiu em minas de ouro e de novo enriqueceu. Acabou suicidando-se em um hotel em Nova York. A partir de seu processo, ninguém mais podia negar o universo concentracionário soviético. 1949 é a data limite para um homem que se pretenda honesto abandonar o marxismo.
Três anos depois, Josué Guimarães, jornalista e correspondente internacional – profissional bem informado por definição - ainda louvava a União Soviética de Stalin.
Há um detalhe curioso em As Muralhas de Jericó. Tendo sido escrito em 1952, permaneceu inédito por meio século, só tendo sido publicado postumamente em 2001. Ora, de 52 para cá, muita água correu sob o moinho da História. Em 1956, Nikita Kruschov denunciou, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, os crimes de Stalin.
Não era a CIA, muito menos a imprensa capitalista ocidental que os denunciava, mas o mais alto dirigente soviético. Kravchenko era um dissidente, mas Kruschov era o secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Se a affaire Kravchenko, apesar da farta abundância de provas, deixara alguma dúvida em comunistas mais testarudos, a partir do XX Congresso nenhuma dúvida mais era permissível.
Em 89 caiu o Muro e em 91 desmoronou o império tão amado por Josué. Seria mais que oportuno, para a imagem póstuma do escritor, que seu depoimento permanecesse inédito. Mas pelo jeito a viúva acreditou nas potocas do marido.
Sérgio Faraco, gaúcho e covarde - Outro gaúcho covarde é Sérgio Faraco. Em Lágrimas na Chuva, publicado em 2002, relata período de pouco mais de ano vivido pelo autor em Moscou, em 1963 e 64.
"Depois de uma série de conflitos com chefetes políticos ligados aos partidos brasileiro e soviético" – diz-nos o editor na orelha – "Faraco foi internado em regime de reclusão, sob pesada bateria de medicamentos, numa clínica de reeducação. Era este, na época, um procedimento de rotina em relação àqueles que se rebelavam contra o ultra-esquerdismo do Partido".
Ora, quais foram os gestos de rebeldia do heróico mártir gaúcho?
Pelo que lemos em sua memória, foram basicamente duas atitudes: mantinha relações com uma russinha e insistia em escutar Wagner a todo volume em seu dormitório. Fora isso, em uma viagem à Armênia, demonstrou insólita coragem ao perguntar a um mandalete local como podiam avançar na automação do que quer que fosse, se as moradias não dispunham de vasos sanitários e as necessidades eram feitas nos quintais, em latrinas. A tradutora nem sabia o que era latrina.
Ou seja, os armênios não haviam chegado sequer ao conceito de latrina. Em função disto, o rebelde escritor foi enviado a uma clínica de reeducação, onde dispunha de quarto individual, com chuveiro e vaso sanitário (um progresso em relação à Armênia) e mais uma enfermeira que vinha pegar-lhe a mãozinha quando deprimido.
Gulag classe A, com direito a cafuné. Pra dissidente algum botar defeito. Do alto desta omissão, quarenta anos nos contemplam. Quatro décadas antes, Faraco havia sentido na carne o preço a ser pago, na União Soviética, por pequenas molecagens. Escritor, não lhe terá sido difícil imaginar o quanto custava qualquer discordância com a linha do Partido. Em idade provecta, a tardia madalena alegretense demonstra sua coragem denunciando, em 2002, fato ocorrido nos 60.
Seu depoimento, se feito na época de seu retorno, seria de extraordinário valor para sua geração. Seria o relato insuspeito de um militante comunista que, em sua viagem iniciática ao paraíso soviético, fora tratado como doente mental apenas por escapadelas a uma disciplina absurda, típica de seminários católicos. Seria oportuníssimo, logo após 64.
Erico Verissimo pergunta a Faraco se não pensava escrever sobre sua estada na União Soviética. "Respondi que, de fato, tinha essa intenção, embora minha experiência não fosse edificante. Ele ficou pensativo, depois disse que, se era assim, talvez fosse ainda menos edificante narrá-la, enquanto vivíamos, no Brasil,sob uma ditadura militar. Ele tinha razão" – diz Faraco.
Ora, os militares lutavam para que o Brasil não virasse o imenso gulag que o futuro escritor então testemunhara. Em função de um regime que jamais o pôs na prisão, mesmo sendo comunista, Faraco silencia sobre o regime comunista que o internou em um hospital psiquiátrico, mesmo sendo comunista.
Escritor, Faraco intuiu o que Erico há muito já intuíra. Se dissesse uma só palavrinha contra a Santa Madre Rússia, adeus editoras, adeus honras literárias, adeus imprensa amiga, adeus resenhas e teses universitárias. O gaúcho de Alegrete, que não teve sequer a hombridade de despedir-se da humilde moscovita que o aquecera nos seus dias cinzas às margens do Volga, baixa a crista.
Mas seu livro tem um grande mérito: nos revela a cumplicidade com a tirania do mais celebrado escritor gaúcho, tido como campeão da liberdade. Não por acaso, a universidade e imprensa gaúchas idolatram Erico. Covardes e omissos foram também todos os demais escritores gaúchos que, sem pertencerem ao Partido, silenciaram sobre os crimes do comunismo. Mário Quintana, por exemplo, refugiava-se em uma frase cômoda: "eu não entendo de problemas sociais". Moacyr Scliar foi premiado pela ditadura de Fidel Castro. Ou seja, estava cotadíssimo para a Academia Brasileira de Letras. E filho de Verissimo, Verissiminho é. Luis Fernando, o rebento, até hoje apóia toda ditadura, desde que de esquerda.
Falar em comunistas gaúchos e não citar Luís Carlos Prestes é ignorar o embuste maior que Porto Alegre já produziu. Embalado pelas proezas de uma coluna absurda, que se tornou famosa por suas "gloriosas" retiradas, ao refugiar-se nas margens do Prata acabou sendo contaminado pela mosca azul do poder. Treinado em Moscou, veio a mando do Kremlin fazer a "revolução" no Brasil. Deu no que deu: uma intentona ridícula e sangrenta, liderada por desvairados que de Brasil pouco ou nada conheciam. Preso e derrotado, acabou morando vários anos em Moscou. Cego e teimoso, em todo esse tempo não conseguiu ver o que Loureiro constatou em apenas dois meses. Morreu em odor de stalinismo. E ainda hoje há quem queira erguer-lhe monumentos.
Apenas dois gaúchos, em todos os cem anos do século passado, ousaram escrever contra a barbárie. Um foi o jornalista Orlando Loureiro, que publicou A Sombra do Kremlin, editora Globo, 1954, dez anos antes da viagem do alegretense deslumbrado. O outro é este que assina este prefácio.
Orlando Loureiro, gaúcho e corajoso - O depoimento de Orlando Loureiro, cria de Santa Cruz do Sul, foi editado pela Globo e suas reflexões são decorrentes de uma viagem à ex-União Soviética, nos meses de dezembro de 1952 e janeiro de 1953, ou seja, antes da morte do Paizinho dos Povos. E na mesma época em que Josué Guimarães girava bolsinha entre Moscou e Pequim.
A viagem foi logo após um Congresso dos Povos pela Paz, em Viena, uma dessas reuniões em que os fiéis discípulos de Stalin pregavam a guerra. Neste encontro, entre outras cortesãs internacionais, rodavam a baiana Sartre, Jorge Amado, Pablo Neruda, Louis Aragon. De Viena, Loureiro é selecionado para ir a Moscou. Tem como companheira de comitiva, entre outras personalidades, Maria Della Costa, o que explica em boa parte sua carreira no Brasil. Ela viu de perto a tirania e silenciou. Palmas para a atriz. O mesmo não ocorreu com Loureiro. Jornalista, o autor não precisou de lupa para ver que havia uma só imprensa no mundo soviético:
Na URSS nunca existem duas opiniões a respeito de um mesmo fato ou acontecimento, porque o direito de pensar e opinar é prerrogativa apenas das elites dirigentes. O governo pensa prodigiosamente por 200 milhões de cabeças, obedientes e sub-missas dentro das fronteiras da contraditória democracia do proletariado. (...) As rotativas dessa poderosa usina geradora do pensamento comunista rodam ininterruptamente, dia e noite, para alimentar uma das mais fantásticas organizações de propaganda mundial de que se tem notícia. Essa verdadeira enxurrada de literatura marxista inunda os pontos mais remotos da terra e representa a persistente contribuição de Moscou aos seus fiéis, para as tarefas de catequese e proselitismo do proletariado universal. São milhares de toneladas de papel e tinta despejadas mensalmente na garganta anônima das grandes capitais do mundo, numa batalha obsedante pela arregimentação dos rebanhos humanos extraviados na voragem dos conflitos sociais e econômicos do nosso tempo.
Jorge Amado, "ruidoso camelô do marxismo", como diz Loureiro, participa desta comitiva e sabe disto muito bem. Em uma visita à União dos Escritores Soviéticos, diz a Loureiro: "Na Rússia Soviética todo o trabalho intelectual é regiamente pago. As tiragens são geralmente elevadas e os escritores recebem grandes somas em direitos autorais. Há poetas que podem viver como milionários."
Amado sabe o que quer. Loureiro prefere contar o que vê:
A União dos Escritores funciona como um Vaticano para a moderna literatura soviética. O julgamento das obras a serem lançadas obedece a um critério estreito e sectário de crítica literária. Esta função é exercida por um conselho reunido em assembléia, que discute os novos livros e sobre eles firma a opinião oficial da sociedade. A exegese não se restringe aos aspectos literários ou artísticos da obra julgada, senão que abrange com particular severidade o seu conteúdo filosófico, que deve estar em harmonia com os conceitos da "realidade socialista" e guardar absoluta fidelidade aos princípios ideológicos da doutrina marxista. Se o livro apresentar méritos do ponto de vista dessa moral convencionada, se resistir ao crivo desse teste de eliminatória, então passará por um rigoroso trabalho de equipe dentro dos órgãos técnicos da União, podendo vir a transformar-se num legítimo best-seller, com tiragens astronômicas de 2 a 3 milhões de exemplares. E o seu modesto e obscuro autor poderá ser um nouveau riche da literatura e será festejado e exal¬tado e terminará ganhando o cobiçado Prêmio Stalin.
O que explica a fortuna dos Amados e Nerudas da vida, ambos detentores do Prêmio Stalin, suas inúmeras traduções e tiragens milionárias, às custas da opressão, massacre e assassinato de milhões de seres humanos.
Loureiro morreu em 2004, aos 85 anos, praticamente ignorado pelos gaúchos, enquanto os escritores comunistas e venais eram caitituados pela imprensa e universidade. O relato de viagens de Loureiro, um dos raros brasileiros a intuir a essência do regime soviético – outro foi Osvaldo Peralva, em O Retrato (1962) - escassamente mereceu uma segunda edição. Agora, mais de meio século depois, recebe a terceira.
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