Que dia maravilhoso! Hoje é dia de eleição! Todo mundo esta
muito feliz! Feliz? Um mês antes, até próximo ao dia do dia fatídico, a mídia
exibe em todos os seus intervalos comerciais as propagandas de todos os
candidatos, de todos os partidos; de todos os partidos? Opa! Espere um pouco!
Há alguma coisita errada aí! Se eu fosse um cara de esquerda poderia nadar de
braçada perante tantos partidos
vermelhos que existem
nesta nação verde e amarela, verde e amarela?! Existem partidos de: extrema-esquerda,
de esquerda, de centro-esquerda e até de sutil-esquerda, até etc de esquerda. O
símbolo de qualquer um destes partidos poderia ser o Saci-Pererê, pois tem um
gorro vermelho na cabeça, anda saltitando com a sua única perna, provavemente,
esquerda, e gosta de iludir e roubar os outros. (não estou acusando ninguém,
isto apenas faz parte do nosso folclore)
Voltando às propagandas que não exibem somente as mesmices de
candidatos, tipo, escapam da porca e pegam no cachaço, seres arrepiantes por
sinal e da santa cruz, livre-nos ó Pai!
de tamanhas abjeções! Não é necessário aduzir como a mídia cupincha do poder
(ganhando bem que mal tem?) tem o maior prazer de demonstrar para o cidadão o
seu dever ao voto obrigatório, dever? Obrigatório? Democracia? Esperem!
Desculpem-me! A minha humilde mente latino-americana não esta conseguindo
concatenar esta dessemelhança cognoscível! Ajuda-me aqui Sr Bigodudo,
rei dos reis, imperador da academia real das letras, chefe supremo da democracia
e de todos os vassalos legisladores nacionais! Por favor, me ajude a processar
as escolas estaduais que me ensinaram tudo errado! Que democracia é o poder do
povo, liberdade ainda que... blá, blá, blá!
E o terror midiático continua forçando e atemorizando os seus
eleitores: ai daquele que não for votar no dia tal, do mês tal, do ano tal, da
zona tal, da seção tal, na urna tal! Você está solicitado a comparecer! O voto
é obrigatório! Não tem argumento! Estamos naquela democracia e isto já basta “a
priori” por si só! Depois das ameaças vêm as bonanças que tentam convencer o
manipulável pau mandado, o politicamente correto, “nada com nada” e aí o
laboratório midiático- social não tem vergonha de destilar suas mais preciosas
pérolas patrióticas: Exerça o seu dever patriótico, a pátria está em perigo!
Salve-a! Não custa nada! É só uma horinha do seu tempão! Faça pela pátria
aquilo que ela nuca fez para você! Vote para um amanha melhor! Vota tu! Vote
ele! Votemos nós! Votai vós! Votem eles! Tudo no imperativo afirmativo. É
primordial que todos saibam quem manda neste curral.
E a mídia-creche, digo isso com base no que já dizia Noam Chomsky:
a mídia trata todo mundo como se tivesse menos de doze anos, continua
desencorajando aqueles que não querem ir votar, ela continua com as suas dicas
exigentes, ou melhor, com o seu dicalismo bovinante; exige que o sufragista
leve um documento com uma foto original e recente, desconfiança total do estado
no pobre eleitor. Nota-se, aqui, que o estado além de obrigar o votante a
comparecer às urnas ainda desconfia determinantemente dele. Pois para o estado,
o cidadão não merece confiança, ele é fraudulento, corrupto, ladrão,
oportunista etc. Portanto, o estado cai no velho jargão de Lenin: “Acuse os
adversários do que você faz, chame-os do que você é!”
Já o eleitor tem a obrigação de confiar cegamente no estado e no
seu sistema de urnas eletrônicas, como se suas maquininhas computadorizadas
fossem de credibilidade absoluta e isentas de serem facilmente manipuladas. Por
que o estado brasileiro desconfia tanto assim de seu cidadão? Se uma
porcentagem dos dirigentes nacionais vem ou deriva de alguma forma do povo
brasileiro, por que o cidadão em geral tem que acreditar piamente no Estado
Nacional? Se não há como a desconfiança possa ser unilateral, então ela terá
que ser assiduamente recíproca. Se o estado policial não se cansa de fazer leis
e mais leis coercitivas; fazendo do seu cidadão um refém terminal, altamente
patrulhado e uma vítima inerme das mais esdrúxulas normas legislativas. Por que
este, menosprezado, individuo tem que ir às urnas para escolher estes pomposos
legisladores? Pois certamente, estes tipos de legisladores não estão
trabalhando para aquilo que seria, no mínimo, salutar ás vidas dos seus
eleitores, começando pela esquecida e longínqua liberdade de todos, esquecida
em alguma curva metafísica temporal do pretérito, ou mesmo à espera de um
milagre para que possa ser inferida, pelo menos uma vez, numa estação futura.
Pois, queiram ou não queiram as comparações, entre o passado e o presente,
sempre ocorrem, e muitas boas línguas já estão dizendo, mesmo que timidamente,
que na época da Ditadura Militar havia muito mais liberdade que atualmente,
prosa pela qual, acredito em gênero, número e grau.
Por favor! Responda-me! Há ainda neste rincão retumbante
cercado de ismos positivo-iluminista por toda parte algum conservador que honra as botas e o seu bacamarte
de carregar pela boca? Pois eu gostaria de fazer-lhe uma segunda pergunta?
Senhor, não seria o voto obrigatório uma repugnante vingança da esquerda contra
os supostos ou quase extintos conservadores? Afinal de contas, um típico e leal
conservador atualmente não tem nenhum partido e, muito menos, não tem nenhum
candidato de direita tradicional para representá-lo nestas memoráveis eleições
de uma banda só. Seria esta a intenção macabra daqueles que matêm o voto
obrigatório? Uma requintada vingança contra os conservadores? No dia da
eleição, o conservador bem que poderia ficar quase tranquilo naquilo que sobrou
do seu ranchinho, o seu grande rancho foi tomado parte pelos sem-terras e parte
pelo IBAMA com suas leis ambientalistas,
pela FUNAI, e qualquer outra sigla FDP, socializante. Mas não! O sistema tem
que forçar o nosso bom herói conservador a ir votar, mesmo que seja nulo ou
branco como um lastimável e único protesto! Ora! Que seja isto, ou terá que
pagar multa, ou ainda pior, terá que se justificar, terá que submeter-se diante
dos seus piores inimigos!
Outra coisa que eu fico indignado, é que na internet a maioria
dos internautas é ou diz ser anarquista. Neste mundo virtual você encontra todo
tipo possível e impossível de anarquistas, dentro das correntes do anarquismo,
temos o anarquismo social e o anarquismo individualista, daí estas correntes
subdividem em diversos tentáculos e, conseqüentemente, em inimagináveis
sub-tentáculos que causariam inveja a qualquer hidra superdotada. E assim, há
anarquistas para todos os gostos e desgostos possíveis, e cito alguns exemplos:
Anarcossindicalismo, anarcopacifismo anarcocomunismo ou anarcosocialismo,
anarcofeminismo, anarcomachismo, anarcocapitalismo,
anarcoprimitivismo, anarconaturalismo, anarco-ambientalismo, e o não-arquismo e
etc. E a minha indignação, fica por conta de que no dia da eleição, muitos
desses supostos anarquista vão votar caladinhos, sem ao menos dar um pio! Honra
as suas causas, pô! Até parece que vocês nunca leram a
desobediência civil de Thoreau! Mandem
o governo ir à merda! Ironizem as suas aberrações!
A quem o atual sistema eleitoral quer enganar? As eleições
tornaram-se um jogo de cassino muito caro, rola muita grana, sendo que, no
final das contas, tudo será pago pelos contribuintes. Os candidatos são seres
viciados no poder e estão dispostos a quase tudo para conquistar o seu prêmio.
O eleitor é apenas uma fichinha das apostas; ele é apenas uma figura
representativa e momentânea desta transação. Agora, quem paga para mover as
fichas e movimentar as apostas são pessoas muito reservadas e poderosas, que
além de pagarem as campanhas eleitorais, são elas que darão as cartas em todos
os segmentos da “nação”, principalmente no setor Money (econômico). E assim,
com exceção das fichinhas, todos saem ganhando: o político ganha o “poder”, as
corporações e os lobistas ganham privilégios que podem ser econômico, político
ou todos os poderes juntos. E aí está mais um motivo para não votar! Ou, usando
de bom senso, abolir o voto obrigatório incondicionalmente.
O voto obrigatório seria, numa simples comparação por raciocínio
analógico, a mesma coisa que obrigar um consumidor A ir comprar num
supermercado X, um determinado produto Y; sendo que A não quer comprar nada, ou
que, se querendo comprar, ele gostaria de comprar no supermercado Z o produto
W. Convenhamos que A até se subordine, dá o braço para torcer, e vai,
coercitivamente, no supermercado X, portanto chegando lá ele não encontra o
produto W que ele gostaria de comprar. Então, o estado, ou a força coerciva, já
sabendo a preferência ou não de A por W, e que W não esta em X pra que obrigar
A ir no X? Este é o mesmo caso do nosso amigo conservador ou dos anarquistas. O
primeiro não encontra o produto que deseja; e o segundo não quer comprar
absolutamente nada que venha do estado.
Além do mais, se este país tem como meta e ainda respeita o
direito à propriedade privada; deveria, em primeiríssimo lugar, defender aquilo
que para os libertários seria a primeira propriedade de um indivíduo, isto é, o
seu próprio corpo e de todos os direitos naturais intrínsecos advindos desta
propriedade privada, assim como: a) O direto de ir e vir ou de não ir e não vir
conforme a sua vontade. b) O direito de se expressar ou de não se expressar,
desde que esteja dentro da sua propriedade ou em comum acordo com a propriedade
alheia. c) O direito de escolher ou de não escolher, quando (tempo) e onde
(lugar) lhe prover, ou de acordo com os seus desejos. Qualquer um destes
artigos, já seria argumento suficiente para que o voto obrigatório fosse
suprimido. Participar ou não de um evento é um direito pelo qual todos deveriam
ter. Até mesmo para que este evento tivesse uma validação, tanto legal como
moral. Por tanto se você é contra o voto obrigatório, faça um boicote, não vá
às urnas e não vote! Anon, SSXXI
O poder da escravidão não está na força do senhor, mas sim na
fraqueza e submissão do servo. Anon, SSXXI
O grande problema da humanidade nunca foi a religião com sua fé
e nem os ateus com sua descrença; mas sim o Estado com o seu poder de
manipular, de dividir, de escravizar e destruir a ambos. Anon, SSXXI
Foto de Henry David Thoreau mostrando a língua para o Estado.
Anon, SSXXI