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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O conservador que não conservava

Por Anon,

Olá! Meu caro conservador?! Ao longo destes anos, eu aprendi muito sobre o que é ou aquilo que venha a ser um conservador. E veja bem! “Eu era um cara “moderninho” e, achava que sabia de tudo, era metido a revolucionário, achava que tudo aquilo que já passou era ultrapassado e careta, que os velhos eram cafonas e retrógados, aceitava qualquer idéia nova sem refutá-la mesmo sabendo que ela não passava de uma bolinha de sabão. Porém, infelizmente, eu não estava inteiramente só neste grande barco, muitos fizeram como eu fiz e, assim, inevitavelmente, o mundo mudou e ruiu!

Eu assumo os meus erros, sei que naquela época fui um grande tolo e até confesso que, inocentemente, na maior das boas intenções, estive do lado de lá e afiliado num destes partidos socialistas. Minha avó bem que dizia: macaco velho não põe a mão em cumbuca! Porém, não querendo simplesmente me justificar, eu era jovem ainda, fazia parte de um mundo inocente e achava que as mudanças iriam trazer certas vantagens para as “classes” mais desprivilegiadas. Só não entendo por que a oposição se calou e entregou as ovelhas, eu entre elas, para os lobos gramscistas? Na escola, e nas aulas de história, eu aprendia que os USA era azul, que a URSS era vermelha e que ambos haviam derrotado o poderoso Adolf Hitler e a sua terrível máquina de guerra: a Alemanha Nazista. O meu herói e de muitas outras crianças mal informadas era, acredite, Josef Vissarionovitch Stalin, tínhamos orgulho de saber o seu nome de cor! Bem, tudo isso pode ter sido por culpa do imediatismo e até mesmo pela inocência filosófica dos nossos militares que fizeram vista grossa e trocaram a nossa ideologia pelo comércio de batatas com a Rússia. Portanto, por parte deles, eu não aceito desculpas; pois entregaram o ouro para os bandidos e ainda pagaram o frete! Submeter todo um povo à ignorância somente para obter os seus próprios fins temporários, deveria ser no mínimo, um crime inafiançável. Fora isso, e além do mais, eu pensava que a liberdade já estava conquistada! Viu só? Como eu era tolo?!

Sabe meu caro amigo conservador?! Eu sempre digo que, há pelo menos uns vinte anos, o mundo perdeu o seu chão e as pessoas estão à deriva. Não irei dizer que a Velha Ordem acabou, pois atualmente, não existe uma Nova Ordem, mas sim uma nova desordem em busca da inalcançável perfeição social. Digamos que a mentira prevaleceu temporariamente, e assim, como mentira tem perna curta, curta? Desde 1985? Deve ser as pernas do quase imensurável gigante Micromégas, permita-me usar o mesmo veneno critico contra o manjado veneno de Voltaire que critica a velha e boa Europa de sua época fazendo o uso de figuras fictícias e oriundas de longínquos mundos externos e espantosamente perfeitos. Eu e você sabemos que não existem revoluções, até porque para que haja uma simples evolução não se deve pular a seqüência de cada degrau que nos leva ao topo; não se inventa uma moto sem antes se inventar uma bicicleta, e nem por isso a bicicleta perde a sua importância devido à invenção da motocicleta.

Lembro quando você me disse que a monarquia foi e seria a melhor forma de governo. Tive que rir, mas redimo-me e até peço sinceras desculpas! Como pude duvidar de alguém que sempre esteve alheio a todo e qualquer tipo de ideologia? Como pude duvidar de você meu caro amigo? Você, que nunca trocou o seu solo firme por um chão ilusório e pantanoso?! Você sempre me dizia: Mais vale um pássaro na mão que dois voando; e que mesmo para fazer uma mudança, deve-se saber aonde ir, como e quando, e mesmo assim, a nova casa e o novo lugar têm que ser e ter evidentes vantagens sobre a casa velha. Pois bem, os seus conselhos, eu não os segui; cai nas ladainhas das teorias vis, troquei o livre arbítrio pelo determinismo. E foi trocando tudo que era sólido e real pelo insólito e irrisório que eu e a humanidade acabamos embarcando numa canoa social furada e vimos ao longe a nossa liberdade se esvaindo paulatinamente enquanto afundávamos no profundo oceano dos controles sociais.

Descobri tardiamente o que uma mosca sente após ter quebrado o seu pacto de liberdade e caído estupidamente na elaborada teia arquitetada astuciosamente pela paciente e dissimulada aranha. O caminho errado pode estar numa simples escolha de um livro; e assim, enquanto a sua alma conservadora, livremente, respirava Burke; a minha visão e até mesmo o meu sexto sentido foram turvados pelas literaturas hegelianas, este tal de Hegel já era comunista até nas fotos! É de dar medo! Aprendi muito com isso! Saber o que se lê, saber o que se come, saber com quem e por onde se caminha, seguir os mandamentos dos conservadores e os exemplos anteriores, seguir os conselhos dos mais velhos cuja as mão estão calejadas e a almas lapidadas pelo ergo e pelos sofrimentos inerentes à vida. Seguir os infindáveis exemplos dos antepassados que durante séculos e séculos somaram os seus conhecimentos em prol da sempre, sempre e sempre liberdade. Pois este é um estado em que somente conseguiremos nos aproximar do seu estágio mais elevado através de constantes e intermináveis lutas; temos que enfrentar e vencer um dragão todos santos dias!

Às vezes, eu tentava fazer uma ligação entre você, meu caro conservador, e a igreja. Notei que você havia se afastado das missas e das quermesses, Estaria a Santa Sé em dívida com os seus preceitos? Estaria a casa “sagrada” jogando com dois times antagônicos e esperando qual seria o resultado? Esquerda ou direita? Confesso que eu via muitos padres com batinas vermelhas dando uma de Robin Hood! Fiquei sabendo de muitos freis distribuindo foices e martelos entre as comunidades campesinas. Mas tudo bem! O chão de um conservador é bem mais firme que o suscetível solo de qualquer igreja! E se alguém almeja e consegue o poder com base na mentira, os conservadores poderão destroná-lo, apenas desconhecendo-o. Mas também devemos reconhecer que, independente de religião, há ainda no seio da igreja muitos bons padres conservadores fãs incondicionais do de São Tomás de Aquino, embora em sua obra intitulada Suma Teológica haja resquícios pelo seu apreço a certas ideias que poderiam ser consideradas um esboço primitivo daquilo que viria a ser a marca da besta do século XXI, com foice, martelo e tudo mais. Uma questão de Método? Como era mesmo o que estava escrito? Roubar por necessidade, pode? Ah, deixa para lá!

Outra de sua história que eu não poderia esquecer foi quando você com seu instinto natural futurístico, previsão mesmo! Retirou a sua poupança do banco, isso, dias antes do governo ter confiscado o dinheiro de quase todo mundo. E você bradou! – Aquilo foi apenas prudência! E este é apenas mais um dom daqueles que sabem ler os sinais: as evidencias e as tendências. Aprendi muito desde então, aprendi sobre a verdadeira economia baseada no padrão ouro; e que a partir do abandono deste sistema monetário (estalão-ouro) e da adoção de um novo sistema de curso-forçado em que o estado e os bancos começaram a falsificar dinheiro (papel-moeda) a rodo, sem nenhum lastro, foi daí que a humanidade começou a caminhar para a verdadeira era da incerteza. O Estado foi fortalecendo e se estruturando sobre uma base falaciosa da economia keynesiana, tudo isto em detrimento da liberdade do indivíduo que se tornou um contínuo refém da servidão moderna.

Isto é mais uma prova de que nem tudo que vem depois é necessariamente melhor daquilo que era antes. Principalmente se não tiver uma base sólida, bem alicerçada no individuo ou naquele que ergue, no trabalho ou naquilo que se planta e na colheita ou no fruto do trabalho. Toda esta trindade moral nada mais é que: a propriedade privada, e que sem ela não poderia haver ética e muito menos uma civilização. A desigualdade existe, porém ela é salutar! Tentar nivelá-la é algo parecido, ou o mesmo que transformar todos os homens em frangos de granja. A maior prova de nossa compaixão não é através da esmola, mas sim através da oportunidade estendida para aquele que nos procura. Devemos ajudar os náufragos somente, ou até no momento deles se recomporem. Temos que recuperar o orgulho de comer somente o fruto advindo do suor do nosso próprio rosto. Com exceção do maná, nenhum alimento cai do céu! Vamos á luta do dia a dia, mas sem os companheiros! Porque estes tipos de companheiros são sócios indesejáveis e acabam vivendo à custa daqueles que trabalham...

O meu amigo conservador não está mais entre nós. Entretanto, como sempre, ele deixou mais uma de suas frases, jargão que dizia mais ou menos assim: “O conservador que não conserva é o mesmo que um refrigerador que não refrigera; todo alimento acondicionado nele juntamente com o esforço que se tem para produzi-lo deterioram e vão para o lixo”. Quanto a mim, bem! Aprendi que nenhuma teoria ideológia é mágica e que a realidade é algo muito diferente do mundo teórico surreal! E assim, continuo sendo um conservador que não conservava, pois ainda não havia aprendido que: “quem não conserva acaba por perder tudo aquilo que tem”. Anon, SSXXI

Para o triunfo do mal só é preciso que homens bons não façam nada. Edmund Burke 1729 — 1797

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