Por Henry Louis Mencken
O homem médio
Costuma-se jogar na cara dos marxistas, com a sua concepção materialista
da História, que eles subestimam certas qualidades espirituais do homem que não
dependem de quanto ele ganhe ou deixe de ganhar.
O argumento é o de que essas qualidades colorem as aspirações e
atividades do homem civilizado tanto quanto são coloridas pela sua condição
material, tornando assim impossível simplesmente reduzir o homem a uma máquina
econômica.
Como exemplos, os antimarxistas citam o patriotismo, a piedade, o senso
estético e a vontade de conhecer Deus. Infelizmente, os exemplos são mal
escolhidos. Milhões de homens não ligam para o patriotismo, a piedade ou o
senso estético, e não têm o menor interesse ativo em conhecer Deus.
Por que os antimarxistas não citam uma qualidade espiritual que seja
verdadeiramente universal? Pois aqui vai uma. Refiro-me à covardia. De uma
forma ou de outra, ela é visível em todo ser humano; serve também para separar
o homem de todos os outros animais superiores. A covardia, acredito, está na
base de todo sistema de castas e na formação de todas as sociedades
organizadas, inclusive as mais democráticas.
Para escapar de ir à guerra ele próprio, o camponês dava de mão beijada
certos privilégios aos guerreiros e destes privilégios brotou toda a estrutura
da civilização.
Vamos recuar mais ainda no tempo. Foi a propriedade que levantou a lebre
de que uns poucos homens relativamente corajosos foram capazes de acumular mais
posses do que hordas de covardes - e, como se fosse pouco, de mantê-las depois
de acumuladas.
Fonte: O LIVRO DOS INSULTOS DE H. L. MENCKEN ("Sábio de
Baltimore")
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