por Richard Costa
O que existe agora é um número de indivíduos, de
maior ou menor nome, que se declaram conservadores, mas que não praticam o
conservadorismo. Não são reacionários, mas meramente reativos. Não se definem
por um pensamento conservador maduro, digno, discreto, e sim por uma oposição
estridente às modas e celebridades das correntes contrárias. Considerando que
não há entre eles um indivíduo que tenha as qualidades inquestionáveis de um
líder, é até ridículo falar de oposição. Não há oposição, só há pirraça
de comentadores de internet e pensadores marginais.
Acompanhando esses indivíduos nos últimos cinco
anos, sendo um deles, cada vez mais ficou nítido o quanto é superficial o ser
conservador. Na verdade, não é mais questão de ser, mas de parecer
conservador, de fazer pose, de comentar as notícias e os eventos com
sarcasmo, adquirir a reputação de conservador, e se fazer ouvir com ecos. Até
vá, nada mais natural que a vaidade humana, e entre os esquerdistas chega a ser
muito pior.
Mas para essa geração, ser conservador de verdade —
cultivar a família, a propriedade, a independência, a dignidade, a discrição, a
desconfiança de qualquer ideologia… — é o de menos. Ninguém quer ser o
conservador pai-de-família burguês, honesto, trabalhador, generoso, justo. Isso
é tudo muito piegas, não tem o glamour de um conservador de internet com
milhares de seguidores que comenta toda notícia, que debate e fala mal dos
esquerdistas. Não nos faltam conservadores radicais, revolucionários,
provocadores… E nada mais são que brinquedos nas mãos de uma ideologia
ilegítima.
Quando se percebe isso, todo o ecossistema
conservador se revela uma fauna tão asquerosa quanto à da esquerda. Os
conservadores têm seus ídolos e bezerros de ouro, tendem a frenesis ideológicos
e acessos agudos de sectarismo e vulgaridade, não querem pensar por si, não
querem questionar o que outros conservadores pensam, querem apenas seguir um
mestre e todos os seus caprichos pessoais, dóceis como um cardume. Não há,
portanto, uma diferença essencial entre um esquerdista e um direitista.
Em ambos os casos, não se definem por um pensamento
próprio, independente, ativo, mas por um pensamento sempre reativo, sempre em
resposta a uma notícia, a um comentário, a uma declaração da corrente
contrária. Não passa um dia sem que fiquem batendo boca. Qualquer homem que se
preze sabe que seus adversários determinam que tipo de homem ele é. Então, ou
não compreendem isso, ou compreendem e têm orgulho de ser equivalentes daqueles
que atacam. É muito simples: quem discute com imbecil é seu igual.
Há alguns meses, um arcebispo belga, André-Joseph
Léonard, foi interrompido por manifestantes feministas durante um debate, que
lhe borrifaram com água enquanto diziam obscenidades. Ele não reagiu de modo
algum, nem ao menos olhou para as desgraçadas. Não há atitude mais digna diante
de qualquer delírio ideológico.
Opinião e discussão são vícios, e qualquer cretino
sabe usar Facebook ou Twitter para bater boca, para disseminar opiniões polêmicas,
para reagir a algo de que não gosta. Esses indivíduos não são pundits,
não são luminares — são meramente estatísticas.
Se aqueles que se consideram conservadores querem
realmente ser dignos do título, devem parar com os comentários sarcásticos e as
provocações gratuitas, porque esse é o domínio dos seus adversários, da
escória. Se forem de fato conservadores, devem prezar mais a discrição e a
dignidade. Mesmo para quem gosta de ler um texto ou comentário breve de algum
deles, o sarcasmo constante se torna previsível, irritante, inútil. A
incapacidade de mudar de assunto, como notou Churchill, é um dos sinais do
fanatismo. Que sejam radicais o quanto quiserem, mas não sejam repetitivos e
chatos, aprendam a mudar de assunto, aprendam a falar de literatura, de cinema,
de música, de qualquer coisa que não seja política e ideologia.
Há um ensaio de Baudelaire no qual aconselha seus
companheiros de ofício literário que parem de reclamar da baixeza do gosto
popular, e que em vez disso desenvolvam uma força superior num sentido
contrário. O mesmo deve valer para qualquer indivíduo pensante e de bom gosto
que não se deixa definir por aquilo a que se opõe.
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