Em Lisboa, no
Real Colégio de S. Antão. Ano 1669.
Et vos similes hominibus expectantibus
dominum suum
Por Padre
Vieira (1608 – 1697)
...Viu Ezequiel
um carro misterioso que se movia sobre quatro rodas vivas, e tinha por nome o
carro da glória de Deus. Tiravam por este carro quatro animais enigmáticos,
cada um com quatro rostos: de homem, de águia, de leão, de boi, com que olhavam
para as quatro partes do mundo. Em cima, sobre trono de safiras, aparecia um
homem todo abrasado em fogo ou vestido de labaredas: A lumbis desuper; et a
lumbis deorsum, quasi species ignis splendentis.
Que
representasse este carro a religião da Companhia de Jesus, muitos autores o
disseram. Chamava-se carro da glória de Deus, porque esta foi a empresa de
Santo Inácio: Ad majorem Dei gloriam. Assentava sobre quatro rodas, porque essa
é a diferença da Companhia. As outras religiões geralmente estribam em três
rodas, isto é, em três votos essenciais; mas a Companhia, em quatro. Em voto de
pobreza, em voto de castidade, em voto de obediência, como as demais, e em
quarto voto de obediência particular ao Sumo Pontífice.
Olhavam
os animais juntamente para as quatro partes do mundo, porque este é o fim e
instituto da Companhia: ir viver ou morrer em qualquer parte do mundo, onde se
espera maior serviço de Deus e proveito das almas.
Tinham
rosto de homem, de águia, de leão, de boi: de homem, pelo trato familiar com os
próximos; de águia, pela ciência com que ensinam e escrevem; de leão, pela fortaleza
com que resistem aos inimigos da fé; de boi, pelo trabalho com que cultivam a
seara de Cristo, passando tantas vezes do arado ao sacrifício.
No
povoado, homens; no campo, bois; no bosque, leões; nas nuvens, águias. E para
que a explicação não fique à cortesia dos ouvintes, onde a Escritura, falando
desses animais, diz: Animalia tua (Sl.67,11), leu Arias Montano: Viri
societatis tuae: os varões da vossa Companhia, Senhor. O homem abrasado em fogo
que se via no alto do carro, não tem necessidade de declaração: isso quer dizer
Inácio, o fogoso, o abrasado, o ardente...
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