por Edwin Dolan
Mar Aral - Um dos maiores
desastres ambientais já causados pelo comunismo.
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Uma contundente manifestação do argumento
ambientalista contra o capitalismo pode ser encontrada na Declaração Ecossocialista de Belém, que é resultado de uma conferência realizada em
Paris, em 2007. Esse documento especifica a seguinte cadeia de causa e efeito:
o capitalismo requer lucro, o lucro requer crescimento econômico e crescimento
econômico significa destruição ambiental. Aqui estão alguns trechos:
A humanidade enfrenta hoje uma escolha difícil: eco-socialismo ou
barbárie... Não precisamos de mais provas da barbárie do capitalismo, o sistema
parasita que explora igualmente a humanidade e a natureza. Seu único motor é a
busca pelo lucro e, portanto, a necessidade de crescimento constante... A
necessidade que o capitalismo tem de buscar o crescimento existe em todos os
níveis, desde uma microempresa até o sistema como um todo. A fome insaciável
das corporações é facilitada pela expansão imperialista em busca de cada vez
mais acesso aos recursos naturais... O sistema econômico capitalista não tolera
limites ao crescimento; a sua necessidade constante de expansão subverte todos
os limites que podem ser impostos... pois estabelecer limites ao crescimento
significaria estabelecer limites à acumulação de capital — uma opção
inaceitável para um sistema predicado na seguinte regra: crescer ou morrer!
Para ser bem franco, há um ponto de veracidade nesta
crítica. De fato, há pessoas que dizem
ser absolutamente aceitável prospectar e explorar petróleo sem a mais mínima
consideração para com o ambiente ao redor.
Tal postura é um prato cheio para a crítica eco-socialista. Claramente, nem o capitalismo e nem o
socialismo possui um monopólio sobre o pecado ambiental ou sobre a virtude
ambiental. Chegar a um julgamento
ponderado sobre os impactos econômicos relativos desses sistemas requer duas
perguntas:
1) Qual sistema tem sido, na prática, mais ambientalmente
destrutivo: o capitalismo ou socialismo?
2) Qual sistema, o capitalismo ou o socialismo, é mais receptivo
às eventuais mudanças que precisam ser feitas para se alcançar uma proclamada
sustentabilidade ambiental de longo prazo?
Para qualquer indivíduo minimamente
interessado no assunto, e que já se deu ao trabalho de pesquisar, é algo
incontroverso que a mais proeminente experiência socialista do mundo, a União
Soviética, foi a que gerou os mais sérios problemas ambientais. Em 1972,
muitos destes problemas já haviam sido detalhados por Marshall Goldman em seu
livro The Spoils of
Progress: Environmental Pollution in the Soviet Union.
A perestroika do
início da década de 1990 e o consequente colapso da União Soviética tornaram o
acesso à informação mais fácil para autores como Murray Feshbach e Alfred
Friendly, Jr., que forneceram um estudo aprofundado a respeito do
"ecocídio" ocorrido na URSS em seu livro Ecocide in the
USSR: Health And Nature Under Siege. Abaixo, uma
lista de alguns dos problemas mais proeminentes apresentados nesta e em outras
fontes:
A poluição do Lago Baikal, o mais
antigo, o mais profundo e o até então mais limpo corpo de água doce do
mundo. A poluição foi causada por fábricas de papel e por outras
indústrias soviéticas que despejavam resíduos não-tratados no lago.
- O
quase desaparecimento do outrora vasto mar de Aral, que secou devido ao
desvio de sua água para irrigação, deixando para trás um deserto de sal
envenenado por agroquímicos.
- O
desastre nuclear de Chernobyl em 1986, o pior do mundo, causado não apenas
por erros de operação, mas também por um projeto negligente que não
especificou nenhum recipiente de contenção em caso de acidente. O
acidente nuclear que até então era considerado o pior do mundo àquela
época também havia ocorrido na União Soviética: a explosão de um tanque de
armazenamento de resíduos sólidos no complexo de armas nucleares de Mayak,
em 1957, o que dispersou de 50 a 100 toneladas de resíduos altamente
radioativos, contaminando um imenso território a leste dos Urais.
- Desastrosos
incêndios em regiões de turfas nos arredores de Moscou, um legado de
projetos soviéticos mal planejados e mal implantados que tinham o objetivo
de drenar os pântanos locais.
- Enormes
emissões de gases poluentes em decorrência de uma forte dependência de
carvão e de uma matriz energética muito menos eficiente do que as das
economias capitalistas.
- Elevados
níveis de poluição do ar nas grandes cidades, causados por fábricas
próximas a áreas povoadas e que operavam com um mínimo, ou nenhum,
controle de poluição.
- Práticas
agrícolas e florestais destrutivas, levando a uma erosão generalizada e à
destruição de habitats.
Já a China, a outra grande economia
socialista do mundo, também tem a sua longa lista de pecados ambientais. Em
grande parte devido ao uso intensivo de carvão, o país assumiu recentemente a
liderança mundial nas emissões de gases causadores de efeito estufa, apesar de
ter uma economia cujo tamanho absoluto é metade da economia dos Estados Unidos.
Em termos de qualidade do ar, a China tem 16 das 20 cidades mais poluídas
do mundo. A poluição da água é um desastre nacional generalizado. A
liderança chinesa na produção de metais raros foi alcançada em grande parte
devido à mineração ilegal, o que causou uma intensa poluição gerada por metais
pesados e um consequente desastre na saúde pública local. Uma crescente
porcentagem de poluentes, do mercúrio à fuligem, que estão sendo observados na
costa oeste dos Estados Unidos tem suas origens na China.
Para dar um crédito aos
eco-socialistas, documentos como a Declaração de Belém fazem ao menos algumas
críticas tímidas àquilo que eles chamam de socialismo "produtivista"
— isto é, o socialismo voltado para a produção de bens. Ao inventarem
este conceito, os eco-socialistas definitivamente estão em busca de algum
objetivo, embora talvez não exatamente aquele que eles imaginam.
O adjetivo "produtivista",
quando aplicado à economia, parece querer caracterizar uma economia que se
concentra na maximização da produção sem levar em consideração os custos dos
insumos. Quando digo "custos dos insumos", refiro-me àquilo que
os economistas chamam de 'custo de oportunidade', ou seja, custos mensurados em
termos do valor de todos os usos alternativos que poderiam ser dados a estes
mesmos recursos. O custo de oportunidade da produção industrial inclui tanto os
custos do esgotamento de recursos não-renováveis (a perda de oportunidades de
se usar os mesmos recursos para outros propósitos no futuro) quanto os custos
externos (por exemplo, as oportunidades perdidas de se usar ou usufruir bens
danificados pela poluição).
O fato é que as empresas buscam o
lucro, e elas tendem a ir atrás de toda e qualquer oportunidades de lucro.
Aplaudimos quando empresários aumentam seus lucros ao melhorarem seus produtos
ou quando reduzem seus custos de produção e, consequentemente, seus preços.
No entanto, os lucros também podem ser elevados por meio de lobby junto
ao governo com o intuito de restringir as atividades dos concorrentes, ou por
meio de lobby para a aprovação de leis que permitem a uma empresa transferir
parte de seus custos de produção a terceiros, como ocorre nos casos de empresas
que conseguem autorização governamental para poluir lagos, rios e até mesmo o
ar. Ayn Rand tinha uma definição precisa para os lucros oriundos destas
medidas: espoliação. Poluidores são espoliadores.
Voltemos então para a crítica
eco-socialista. O que se está realmente criticando não é o capitalismo em
si, mas sim o "produtivismo". Logo, a pergunta que devemos
fazer é: qual sistema, capitalismo ou socialismo, é mais suscetível a tentações
produtivistas? Creio não haver dúvidas de que a resposta é o socialismo, muito
embora o arranjo corporativista acima descrito também mereça ser acusado.
A primeira razão pela qual o
socialismo é mais propenso a desenvolver tendências produtivistas prejudiciais
ao ambiente é que os incentivos econômicos não funcionam sob uma economia
socialista. Em uma sociedade genuinamente capitalista, em que há respeito
à propriedade privada, não apenas as empresas poluidoras têm de pagar por
eventuais danos à propriedade privada de terceiros, como também as
externalidades são plenamente incorporadas aos preços de mercado. Se o
preço da gasolina na bomba refletir integralmente os custos de oportunidade da
poluição e o esgotamento de recursos, então os motoristas, independentemente da
sensibilidade ambiental de cada um deles, serão forçados a pensar sobre a
possibilidade de dirigir menos ou até mesmo de comprar um veículo mais
eficiente.
O mesmo princípio se aplica a
usuários de energia industrial, sejam eles fabricantes de plásticos,
agricultores, ou usinas nucleares. Não é meu intuito subestimar a
dificuldade de estipular leis que protejam devidamente os direitos de
propriedade. Porém, quando se usa o sistema de preços para combater a
poluição, a medida parece funcionar. Por exemplo, durante a década de
1990 e início de 2000, um sistema de licenças negociáveis foi implantado nos
EUA com o intuito derrubar as emissões de dióxido de enxofre de usinas de
energia à base carvão. O resultado foi a redução pela metade na
intensidade de chuva ácida na costa leste do país.
Já sob o socialismo, os incentivos
econômicos para se combater a poluição não funcionam. Sim, estou bem a
par de que há uma construção teórica chamada de "socialismo de
mercado". Sob este sistema hipotético,
defendido por escritores do século XX como Oskar Lange e Abba Lerner, os
gerentes das empresas de propriedade coletiva orientariam sua produção não
segundo os reais preços de mercado, definidos pela oferta e demanda, mas sim de
acordo com "preços-sombra",
que são estipulados pelos planejadores do governo a um nível que supostamente é
igual ao custo de oportunidade.
Em teoria, não haveria nenhum motivo
para que os preços-sombra não pudessem incluir ajustes apropriados para os
impactos ambientais. Não é o escopo deste artigo recapitular todo o
debate sobre o socialismo de mercado aqui. O conceito já foi amplamente
considerado impraticável e, até onde se sabe, não possui defensores
vivos. [O IMB possui um
livro a respeito deste tema]. Creio que Ludwig von Mises já
finalizou a questão ao afirmar que um sistema de mercado real está para o
socialismo de mercado assim como uma ferrovia real está para um menino
brincando com trenzinhos. Logo, deixemos o imaginativo cenário do
socialismo de mercado de lado e olhemos para o socialismo no mundo real.
Na União Soviética, como explicou
Marshall Goldman, tanto a lei quanto a ideologia previam um nível de proteção
ambiental. Ao menos em algum pequeno grau, essa proteção foi sustentada
por sanções econômicas contra os poluidores. O problema, no entanto, era
que os gestores das indústrias não apenas eram insensíveis a incentivos
econômicos para a proteção do meio ambiente, como também eram insensíveis a
todo e qualquer tipo de incentivo econômico. O sistema soviético não
apenas incentivava a depredação ambiental, como também era esbanjador e gerava
desperdícios em todos os sentidos possíveis. Ele desperdiçava trabalho,
capital, energia, recursos naturais, cimento, aço, carvão, tratores,
fertilizantes, madeira, água — desperdiçava tudo. Por quê? Porque não
havia busca pelo lucro.
O segundo motivo pelo qual o
socialismo tende a ser mais "produtivista" do que um genuíno
capitalismo está relacionado às atitudes sociais que surgem quando não há
direitos de propriedade. Onde há direitos de propriedade bem definido,
sempre haverá um proprietário que resistirá à transgressão, seja ela feita por
pessoas a pé ou por produtos químicos nocivos jogados no ar. Sim, é
verdade que o sistema judiciário não funciona perfeitamente. Muitas
vezes, os proprietários não conseguem proteger adequadamente os seus
direitos. Mas os direitos existem. Se não estão sendo impingidos,
isso é culpa do estado, que detém o monopólio do sistema judiciário.
Adicionalmente, quando a noção de propriedade privada se torna
generalizada, ocorrendo até mesmo sobre minúsculos pedaços de terra, o respeito
aos direitos de propriedade de terceiros também se torna difuso — embora,
infelizmente, não de forma universal.
O terceiro motivo que faz o
socialismo ser mais produtivista do que o capitalismo advém da economia
política. E isso ocorre de uma forma curiosa: mesmo quando a propriedade
privada acaba fornecendo uma base de poder político para vários grupos de
interesse, a situação tende a se equilibrar. Por exemplo, quando os
sindicatos dos mineradores dos Apalaches e os proprietários das minas de carvão
se juntaram para fazer lobby contra as restrições sobre emissões de dióxido de
enxofre, o que prejudicava o ambiente, os produtores de carvão de baixo teor de
enxofre dos estados do oeste americano também pressionaram no sentido oposto,
chegando-se assim a algum equilíbrio.
Além disso, entidades ambientais
podem utilizar os mecanismos de propriedade privada para proteger habitats
críticos. Veja ótimos exemplos práticos aqui e aqui. Por fim, a
propriedade privada dos meios de comunicação pode sustentar uma voz
independente para mídias alternativas, que podem então divulgar suas causas
ambientais. Até os eco-socialistas desfrutam da proteção da propriedade
privada em seus sites e suas conferências.
Já em um sistema socialista, os
produtores detêm o total controle das alavancas do poder político.
Afinal, na condição de empresas estatais, eles não são apenas meros
lobistas; eles são parte integrante da estrutura do governo. Por exemplo,
Marshall Goldman observou que houve protestos na União Soviética quando as
fábricas de papel começaram a lançar seus resíduos no lago Baikal. No
entanto, os próprios manifestantes eram membros do governo, e normalmente era
uma instituição do governo que brigava com outra — por exemplo, o Instituto
Limnológico da Academia de Ciências entrava em conflito com o Ministério da
Madeira, Papel e Carpintaria.
Todo o sistema de incentivos da
economia soviética, desde o Politburo até o gerente de uma fábrica local,
estava focado em apenas uma coisa: alcançar as inatingíveis metas de produção
do Plano Quinquenal. O ambiente sempre era a vítima.
Por fim, vale enfatizar que a
propriedade privada é uma condição necessária para a proteção do ambiente, mas
não é uma condição suficiente. A lamentável história ambiental da Rússia
pós-soviética é um exemplo característico. A Rússia, em teoria, já não
mais é socialista, mas sim uma economia corporativista, na qual o estado está
em conluio com as grandes empresas. Há propriedade privada, mas a
economia não é genuinamente de livre mercado. Essa variante mercantilista
que substituiu o socialismo não é menos "produtivista" que o próprio
socialismo. A sociedade civil e as instituições são fracas. Ao
contrário do que ocorria no socialismo, hoje não são mais os participantes de
piqueniques casuais os responsáveis pela derrubada de árvores e destruição das
mudas do cinturão verde de Moscou, mas sim os oligarcas multimilionários que,
com a autorização do governo, se apropriam de faixas inteiras de habitats
protegidos para construir suas suntuosas casas de campo (as dachas).
O petróleo comanda, e se faz vista
grossa para os derramamentos que ocorrem em terra ou no mar. A British
Petroleum, que foi fustigada pela imprensa ocidental em decorrência do episódio do Golfo do México,
está se preparando para explorar petróleo entre os icebergs à deriva ao longo
da costa norte da Rússia. Os tigres siberianos são alvos constantes de
tiros disparados do helicóptero de algum oligarca ou ministro do governo que
decidiu praticar "esporte" no fim de semana.
Quer realmente proteger o
ambiente? Uma genuína economia de mercado — na qual os direitos de
propriedade são respeitados, os transgressores são devidamente punidos, o
governo não determina vencedores e perdedores e há um sistema de preços livres
estimulando a alocação de recursos do modo mais eficiente possível — é um
arranjo incomparável e até hoje insuperável.
Edwin Dolan é economista e Ph.D. pela
Universidade de Yale. De 1990 a 2001,
lecionou em Moscou, onde ele e sua mulher fundaram o American Institute of
Business and Economics (AIBEc), um programa de MBA independente e sem fins
lucrativos. Desde 2001, ele já lecionou
em várias universidades da Europa, como Budapeste, Praga e Riga. É autor do livro TANSTAAFL, the Economic
Strategy for Environmental Crisis.
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