Por
Russel Kirk
Não sendo nem uma religião nem uma ideologia, o conjunto de opiniões designado como conservadorismo não possui nem uma Escritura Sagrada nem um Das Kapital que lhe forneça um dogma. Na medida em que seja possível determinar o que os conservadores crêem, os primeiros princípios do pensamento conservador provêm daquilo que professaram os principais escritores e homens públicos conservadores ao longo dos últimos dois séculos. Sendo assim, depois de algumas observações introdutórias a respeito deste tema geral, eu irei arrolar dez destes princípios conservadores.
Não sendo nem uma religião nem uma ideologia, o conjunto de opiniões designado como conservadorismo não possui nem uma Escritura Sagrada nem um Das Kapital que lhe forneça um dogma. Na medida em que seja possível determinar o que os conservadores crêem, os primeiros princípios do pensamento conservador provêm daquilo que professaram os principais escritores e homens públicos conservadores ao longo dos últimos dois séculos. Sendo assim, depois de algumas observações introdutórias a respeito deste tema geral, eu irei arrolar dez destes princípios conservadores.
Talvez seja mais
apropriado, a maior parte das vezes, usar a palavra “conservador”
principalmente como adjetivo. Já que não existe um Modelo Conservador, sendo o
conservadorismo, na verdade, a negação da ideologia: trata-se de um estado da
mente, de um tipo de caráter, de uma maneira de olhar para ordem social civil.
A atitude que nós
chamamos de conservadorismo é sustentada por um conjunto de sentimentos, mais
do que por um sistema de dogmas ideológicos. É quase verdade que um conservador
pode ser definido como sendo a pessoa que se acha conservadora. O movimento ou
o conjunto de opiniões conservadoras pode comportar uma diversidade
considerável de visões a respeito de um número considerável de temas, não
havendo nenhuma Lei do Teste (Test Act)1 ou Trinta e Nove Artigos (Thirty-Nine
Articles)2 do credo conservador.
Em suma, uma
pessoa conservadora é simplesmente uma pessoa que considera as coisas
permanentes mais satisfatórias do que o “caos e a noite primitiva”3. (Mesmo
assim, os conservadores sabem, como Burke, que a saudável “mudança é o meio de
nossa preservação”). A continuidade da experiência de um povo, diz o
conservador, oferece uma direção muito melhor para a política do que os planos
abstratos dos filósofos de botequim. Mas é claro que a convicção conservadora é
muito mais do que esta simples atitude genérica.
Não é possível
redigir um catálogo completo das convicções conservadoras; no entanto, ofereço
aqui, de forma sumária, dez princípios gerais; tudo indica que se possa afirmar
com segurança que a maioria dos conservadores subscreveria a maior parte destas
máximas. Nas várias edições do meu livro The Conservative Mind, fiz uma lista
de alguns cânones do pensamento conservador – a lista foi sendo levemente
modificada de uma edição para a outra edição; em minha antologia The Portable
Conservative Reader, ofereço algumas variações sobre este assunto. Agora, lhes
apresento uma resenha dos pontos de vista conservadores que difere um pouco dos
cânones que se encontram nestes meus dois livros. Por fim, as diferentes
maneiras através das quais as opiniões conservadoras podem se expressar são, em
si mesmas, uma prova de que o conservadorismo não é uma ideologia rígida. Os
princípios específicos enfatizados pelos conservadores, em um dado período,
variam de acordo com as circunstâncias e as necessidades daquela época. Os dez
artigos de convicções abaixo refletem as ênfases dos conservadores americanos
da atualidade.
1 Test Act - Lei inglesa de 1673 que exigia dos
titulares de cargos civis e militares professarem a fé da Igreja Anglicana
através de uma fórmula de juramento (N. do T.).
2 Declaração oficial da doutrina da Igreja Anglicana
(N. do T.).
3 A frase "Chaos and
old Night" provém do poema épico de John Milton Paradise Lost (Book I;
line 544). Milton usa esta
frase para se referir à “matéria” a partir da qual Deus ordenou e criou o mundo
(N. do T.).
Primeiro - Um conservador crê que existe
uma ordem moral duradoura.
Esta ordem é feita
para o homem, e o homem é feito para ela: a natureza humana é uma constante e
as verdades morais são permanentes.
Esta palavra ordem
quer dizer harmonia. Há dois aspectos ou tipos de ordem: a ordem interior da
alma e a ordem exterior do estado. Vinte e cinco séculos atrás, Platão ensinou
esta doutrina, mas hoje em dia até as pessoas instruídas acham difícil de compreendê-la.
O problema da ordem tem sido uma das principais preocupações dos conservadores
desde que a palavra conservador se tornou um termo político.
O nosso mundo do
século XX experimentou as terríveis conseqüências do colapso na crença em uma
ordem moral. Assim como as atrocidades e os desastres da Grécia do V século
a.C., a ruína das grandes nações, em nosso século, nos mostra o poço dentro do
qual caem as sociedades que fazem confusão entre o interesse pessoal, ou
engenhosos controles sociais, e as soluções satisfatórias da ordem moral
tradicional.
Foi dito pelos
intelectuais progressistas que os conservadores acreditam que todas as questões
sociais, no fundo, são uma questão de moral pessoal. Se entendida corretamente
esta afirmação é bastante verdadeira. Uma sociedade onde homens e mulheres são
governados pela crença em uma ordem moral duradoura, por um forte sentido de
certo e errado, por convicções pessoais sobre a justiça e a honra, será uma boa
sociedade – não importa que mecanismo político se possa usar; enquanto se uma
sociedade for composta de homens e mulheres moralmente à deriva, ignorantes das
normas, e voltados primariamente para a gratificação de seus apetites, ela será
sempre uma má sociedade – não importa o número de seus eleitores e não importa
o quanto seja progressista sua constituição formal.
Segundo - O conservador adere ao costume,
à convenção e à continuidade.
É o costume
tradicional que permite que as pessoas vivam juntas pacificamente; os
destruidores dos costumes demolem mais do que o que eles conhecem ou desejam. É
através da convenção – uma palavra bastante mal empregada em nossos dias – que
nós conseguimos evitar as eternas discussões sobre direitos e deveres: o
Direito é fundamentalmente um conjunto de convenções. Continuidade é uma
forma de atar uma geração com a outra; isto é tão importante para a sociedade
com o é para o indivíduo; sem isto a vida seria sem sentido. Revolucionários
bem sucedidos conseguem apagar os antigos costumes, ridicularizar as velhas
convenções e quebrar a continuidade das instituições sociais – motivo pelo
qual, nos últimos tempos, eles têm descoberto a necessidade de estabelecer
novos costumes, convenções e continuidade; mas este processo é lento e
doloroso; e a nova ordem social que eventualmente emerge pode ser muito
inferior à antiga ordem que os radicais derrubaram um seu zelo pelo Paraíso
Terrestre.
Os conservadores
são defensores do costume, da convenção e da continuidade porque preferem o
diabo conhecido ao diabo que não conhecem. Eles crêem que ordem, justiça e
liberdade são produtos artificiais de uma longa experiência social, o resultado
de séculos de tentativas, reflexão e sacrifício. Por isto, o organismo social é
uma espécie de corporação espiritual, comparável à Igreja; pode até ser chamado
de comunidade de almas. A sociedade humana não é uma máquina, para ser tratada
mecanicamente. A continuidade, a seiva vital de uma sociedade não pode ser
interronpida. A necessidade de uma mudança prudente, recordada por Burke, está
na mente de um conservador. Mas a mudança necessária, redargúem os
conservadores, deve ser gradual e descriminativa, nunca se desvencilhando de
uma só vez dos antigos cuidados.
Terceiro - Os conservadores acreditam no
que se poderia chamar de princípio do preestabelecimento.
Os conservadores
percebem que as pessoas atuais são anões nos ombros de gigantes, capazes de ver
mais longe do que seus ancestrais apenas por causa da grande estatura dos
que nos precederam no tempo. Por isto os conservadores com freqüência
enfatizam a importância do preestabelecimento – ou seja, as coisas
estabelecidas por costume imemorial, de cujo contrário não há memória de homem
que se recorde. Há direitos cuja principal ratificação é a própria antiguidade
– inclusive, com freqüência, direitos de propriedade. Da mesma forma a nossa
moral é, em grande parte, preestabelecida. Os conservadores argumentam que seja
improvável que nós modernos façamos alguma grande descoberta em termos de
moral, de política ou de bom gosto. É perigoso avaliar cada tema eventual tendo
como base o julgamento pessoal e a racionalidade pessoal. O indivíduo é tolo,
mas a espécie é sábia, declarou Burke. Na política nós agimos bem se
observarmos o precedente, o preestabelecido e até o preconceito, porque a
grande e misteriosa incorporação da raça humana adquiriu uma sabedoria
prescritiva muito maior do que a mesquinha racionalidade privada de uma pessoa.
Quarto - Os conservadores são guiados
pelo princípio da prudência.
Burke concorda com
Platão que entre os estadistas a prudência é a primeira das virtudes. Toda
medida política deveria ser medida a partir das prováveis conseqüências de
longo prazo, não apenas pela vantagem temporária e pela popularidade. Os
progressistas e os radicais, dizem os conservadores, são imprudentes: porque
eles se lançam aos seus objetivos sem dar muita importância ao risco de novos
abusos, piores do que os males que esperam varrer. Com diz John Randolph of
Roanoke, a Providência se move devagar, mas o demônio está sempre com pressa.
Sendo a sociedade humana complexa, os remédios não podem ser simples, se
desejam ser eficazes. O conservador afirma que só agirá depois de uma reflexão
adequada, tendo pesado as conseqüências. Reformas repentinas e incisivas são
tão perigosas quanto as cirurgias repentinas e incisivas.
Quinto - Os conservadores prestam atenção
no princípio da variedade.
Eles gostam do
crescente emaranhado de instituições sociais e dos modos de vida tradicionais,
e isto os diferencia da uniformidade estreita e do igualitarismo entorpecente
dos sistemas radicais. Em qualquer civilização, para que seja preservada uma
diversidade sadia, devem sobreviver ordens e classes, diferenças em condições
matérias e várias formas de desigualdade. As únicas formas verdadeiras de
igualdade são a igualdade do Juízo Final e a igualdade diante do tribunal de
justiça; todas as outras tentativas de nivelamento irão conduzir, na melhor das
hipóteses, à estagnação social. Uma sociedade precisa de liderança honesta e
capaz; e se as diferenças naturais e institucionais forem abolidas, algum
tirano ou algum bando de oligarcas desprezíveis irá rapidamente criar novas
formas de desigualdade.
Sexto - Os conservadores são refreados
pelo princípio da imperfectibilidade.
A natureza humana
sofre irremediavelmente de certas falhas graves, bem conhecidas pelos
conservadores. Sendo o homem imperfeito, nenhuma ordem social perfeita poderá
jamais ser criada. Por causa da inquietação humana, a humanidade tornar-se-ia
rebelde sob qualquer dominação utópica e se desmantelaria, mais uma vez, em
violento desencontro – ou então morreria de tédio. Buscar a utopia é terminar
num desastre, dizem os conservadores: nós não somos capazes de coisas
perfeitas. Tudo o que podemos esperar razoavelmente é uma sociedade que seja
sofrivelmente ordenada, justa e livre, na qual alguns males, desajustes e
desprazeres continuarão a se esconder. Dando a devida atenção à prudente
reforma, podemos preservar e aperfeiçoar esta ordem sofrível. Mas se os
baluartes tradicionais de instituição e moralidade de uma nação forem
negligenciados, se dá largas ao impulso anárquico que está no ser humano:
“afoga-se o ritual da inocência”4. Os ideólogos que prometem a perfeição do
homem e da sociedade transformaram boa parte do século XX em um inferno
terrestre.
4 William Buttler Yeats,
The Second Coming (N. do T.).
Sétimo - Conservadores estão convencidos
que liberdade e propriedade estão intimamente ligadas.
Separe a
propriedade do domínio privado e Leviatã se tornará o mestre de tudo. Sobre o
fundamento da propriedade privada, construíram-se grandes civilizações. Quanto
mais se espalhar o domínio da propriedade privada, tanto mais a nação será
estável e produtiva. Os conservadores defendem que o nivelamento econômico não
é progresso econômico. Aquisição e gasto não são as finalidades principais da
existência humana; mas deve-se desejar uma sólida base econômica para a pessoa,
a família e o estado. Sir Henry Maine, em sua Village Communities, defende
vigorosamente a causa da propriedade privada, como diferente da propriedade
pública: “Ninguém pode ao mesmo tempo atacar a propriedade privada e dizer que
aprecia a civilização. A história destas duas realidades não pode ser
desintrincada”. Pois a instituição da propriedade privada tem sido um
instrumento poderoso, ensinando a responsabilidade a homens e mulheres, dando
motivos para a integridade, apoiando a cultura geral e elevando a humanidade
acima do nível do mero trabalho pesado, proporcionando tempo livre para pensar
e liberdade para agir. Ser capaz de guardar o fruto do próprio trabalho; ser
capaz de ver o próprio trabalho transformado em algo de duradouro; ser capaz de
deixar em herança a sua propriedade para sua posteridade; ser capaz de se
erguer da condição natural da oprimente pobreza para a segurança de uma
realização estável; ter algo que é realmente propriedade pessoal – estas são
vantagens difíceis de refutar. O conservador reconhece que a posse de propriedade
estabelece certos deveres do possuidor; ele reconhece com alegria estas
obrigações morais e legais.
Oitavo - Os conservadores promovem
comunidades voluntárias, assim como se opõem ao coletivismo involuntário.
Embora os
americanos tenham se apegado vigorosamente aos direitos privados e de
privacidade, também têm sido um povo conhecido por seu bem sucedido espírito
comunitário. Na verdadeira comunidade, as decisões que afetam de forma mais
direta as vidas dos cidadãos são tomadas no âmbito local e de forma voluntária.
Algumas destas função são desempenhadas por organismos políticos locais, outras
por associações privadas: enquanto permanecem no âmbito local e são
caracterizadas pelo comum acordo das pessoas envolvidas, elas constituem
comunidades saudáveis. Mas quando as funções, quer por deficiência, quer por
usurpação, passam para uma autoridade central, a comunidade se encontra em
sério perigo. Se existe algo de benéfico ou prudente em uma democracia moderna,
isto se dá através da volição cooperativa. Se, então, em nome de uma democracia
abstrata, as funções da comunidade são transferidas para uma coordenação
política distante, o governo verdadeiro, através do consentimento dos
governados, cede lugar para um processo de padronização hostil à liberdade e à
dignidade humanas.
Uma nação não é
mais forte do que as numerosas pequenas comunidades pelas quais é
composta.
Uma administração
central, ou um grupo seleto de administradores e servidores públicos, por mais
bem intencionado e bem treinado que seja, não pode produzir justiça,
prosperidade e tranqüilidade para uma massa de homens e mulheres privada de
suas responsabilidades de outrora. Esta experiência já foi feita; e foi
desastrosa. É a realização de nossos deveres em comunidade que nos ensina a prudência,
a eficiência e a caridade.
Nono - Conservador percebe a
necessidade de uma prudente contenção do poder e das paixões humanas.
Politicamente
falando, poder é a capacidade de se fazer aquilo que se queira, a despeito da
aspiração dos próprios companheiros. Um estado em que um indivíduo ou um
pequeno grupo é capaz de dominar as aspirações de seus companheiros sem
controles é um despotismo, quer seja monárquico, aristocrático ou
democrático. Quando cada pessoa pretende ser um poder em si mesmo, então a
sociedade se transforma numa anarquia. A anarquia nunca dura muito tempo, já
que, sendo intolerável para todos e contrária ao fato irrefutável de que
algumas pessoas são mais fortes e espertas do que seus próximos. À anarquia
sucede a tirania ou a oligarquia, nas quais o poder é monopolizado por
pouquíssimos.
O conservado se
esforça por limitar e balancear o poder político para que não surjam nem a
anarquia, nem a tirania. No entanto, em todas as épocas, homens e mulheres
foram tentados a derrubar os limites colocados sobre o poder, a favor de um
capricho temporário. É uma característica do radical que ele pense o poder como
uma força para o bem – desde que o poder caia em suas mãos. Em nome da
liberdade, os revolucionários franceses e russos aboliram os limites
tradicionais ao poder; mas o poder não pode ser abolido; e ele sempre acha um
jeito de terminar nas mãos de alguém. O poder que os revolucionários pensavam
ser opressor nas mãos do antigo regime, tornou-se muitas vezes mais tirânico
nas mãos dos novos mestres do estado.
Sabendo que a
natureza humana é uma mistura do bem e do mal, o conservador não coloca sua
confiança na mera benevolência. Restrições constitucionais, freios e
contrapesos políticos (checks and balances), correta coerção das leis, a rede
tradicional e intricada de contenções sobre a vontade e o apetite – tudo isto o
conservador aprova como instrumento de liberdade e de ordem. Um governo
justo mantém uma tensão saudável entre as reivindicações da autoridade e as
reivindicações da liberdade.
Décimo - O pensador conservador
compreende que a estabilidade e a mudança devem ser reconhecidas e
reconciliadas em uma sociedade robusta.
O conservado não
se opõe ao aprimoramento da sociedade, embora ele tenha suas dúvidas sobre a
existência de qualquer força parecida com um místico Progresso, com P
maiúsculo, em ação no mundo. Quando uma sociedade progride em alguns aspectos,
geralmente ela está decaindo em outros. O conservador sabe que qualquer
sociedade sadia é influenciada por duas forças, que Samuel Taylor Coleridge
chamou de Conservação e Progressão (Permanence and Progression). A Conservação
de uma sociedade é formada pelos interesses e convicções duradouros que nos dão
estabilidade e continuidade; sem esta a Conservação as fontes do grande abismo
se dissolvem, a sociedade resvala para a anarquia. A Progressão de uma
sociedade é aquele espírito e conjunto de talentos que nos instiga a realizar
uma prudente reforma e aperfeiçoamento; sem esta Progressão, um povo fica
estagnado. Por isto o conservador inteligente se esforça por reconciliar as
reivindicações da Conservação e as reivindicações da Progressão. Ele pensa que
o progressista e o radical, cegos aos justos reclamos da Conservação,
colocariam em perigo a herança que nos foi legada, num esforço de nos apressar
na direção de um duvidoso Paraíso Terrestre. O conservador, em suma, é a favor
de um razoável e moderado progresso; ele se opõe ao culto do Progresso, cujos
devotos crêem que tudo o que é novo é necessariamente superior a tudo o que é
velho.
O conservador
raciocina que a mudança é essencial para um corpo social da mesma forma que o é
para o corpo humano. Um corpo que deixou de se renovar, começou a morrer. Mas
se este corpo deve ser vigoroso, a mudança deve acontecer de uma forma
harmoniosa, adequando-se à forma e à natureza do corpo; do contrário a mudança
produz um crescimento monstruoso, um câncer que devora o seu hospedeiro. O
conservado cuida para que numa sociedade nada nunca seja completamente velho e
que nada nunca seja completamente novo. Esta é a forma de conservar uma nação,
da mesma forma que é o meio de conservar um organismo vivo. Quanta mudança seja
necessária em uma sociedade, e que tipo de mudança, depende das circunstâncias
de uma época e de uma nação.
Assim, este são os
dez princípios que tiveram grande destaque durante os dois séculos do
pensamento conservador moderno. Outros princípios de igual importância poderiam
ter sido discutidos aqui: a compreensão conservadora de justiça, por exemplo,
ou a visão conservadora de educação. Mas estes temas, com o tempo que passa, eu
deverei deixar para a sua investigação pessoal.
Eric Voegelin
costumava dizer que a grande linha de demarcação na política moderna não é a
divisão entre progressistas de um lado e totalitários do outro. Não, de um lado
da linha estão todos os homens e mulheres que imaginam que a ordem temporal é a
única ordem e que as necessidades materiais são as únicas necessidades e que
eles podem fazer o que quiserem do patrimônio da humanidade. No outro lado da
linha estão todas as pessoas que reconhecem uma ordem moral duradoura no
universo, uma natureza humana constante e deveres transcendentes para com a
ordem espiritual e a ordem temporal.
Tradução de Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior
Cavaleiro do
Templo
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