Não está sendo
bem vista, pela Funai, Igreja Católica, antropólogos e indigenistas, a tomada
de quatro policiais federais como reféns pelos índios macuxis na aldeia
Flechal, na reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. Quando os índios,
insuflados por ONGs e missionários estrangeiros, fazem reféns - até mesmo da
Funai - para exigir demarcação de terras, a própria Funai faz que nem viu e
fica tudo por isso mesmo. Pois a intenção dos indigenistas é isolar os índios
da civilização, mantê-los presos em gaiolas atemporais, para contemplação dos
pósteros.
Agora é
diferente. Os macuxis são contra a demarcação contínua da reserva indígena
Raposa/Serra do Sol, de 1,69 milhão de hectares, o que eliminaria o contato com
os brancos que lá vivem e trabalham, que têm o prazo de um ano para entregar
suas terras e sair da área. Os índios sabem que perderão escolas, eletricidade,
assistência médica e farmacêutica e todas as demais vantagens que o contato com
a civilização propicia. Preferem a demarcação por ilhas, o que permitiria a
permanência do branco civilizador.
Está finalmente
surgindo no país uma consciência entre índios mais pragmáticos de que
afastar-se do branco não é bom. Para desespero e perplexidade da Funai, que
prefere manter as populações indígenas na era da Pedra Lascada. Por trás disso
tudo, ou melhor, embaixo disso tudo, pode estar a maior jazida de ouro do
mundo, além de outros minerais como diamantes, cassiterita, nióbio, tântalo e
titânio, este último matéria prima estratégica para usinas nucleares, indústria
bélica e informática.
A demarcação
contínua eliminará do mapa uma faixa com cerca de 100 mil hectares de terra
produtiva que circunda a reserva e faz fronteira com Guiana Inglesa, ao Norte
do Estado. Esta faixa produz 70% das 160 mil toneladas de arroz
industrializadas por ano em Roraima e vendido para o Amazonas, Pará e Rondônia,
o que contribui com cerca de 10 % do PIB estadual. A Funai, agora com o apoio
da Presidência da República, quer destruir este trabalho todo. Prefere fornecer
aos índios uma proteção paternalista, desde que se mantenham afastados do
universo não-índio.
Acontece que os
índios já experimentaram o bem-estar da civilização branca. E não querem mais
apito.
Quinta-feira, abril 28, 2005
Fonte: Cristaldoblogspot: Janer Cristaldo Ferreira Moreira
(Santana do Livramento, 2 de abril de 1947 — São Paulo, 27 de outubro de 2014)
foi um escritor, ensaísta e contista brasileiro. Bacharel em direito, graduado
em filosofia, trabalhou como tradutor, e articulista de jornais onlines e sites
do Brasil.
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