A única vítima do crime sem vítima é
você que não cometeu crime algum.
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Segunda-feira, 11h. João dirige numa rodovia com os faróis apagados. Chega a hora do almoço, e ele para numa churrascaria de beira de estrada. João segura os talheres com cabo de madeira e se esbalda nas carnes mal passadas. Tem batata-frita também. João adora batata-frita com bastante sal. Ele pega o saleiro em cima da mesa, e capricha. Bem alimentado, segue viagem até a cidade, onde para no banco para pagar uma conta. A fila está grande, e enquanto aguarda sua vez, ele pega o celular e liga para a namorada Maria.
Combinam um
restaurante japonês mais tarde. À noite,
João pede um Uber e vai buscar Maria para o programa combinado. Clientes
antigos do japa, João e Maria não têm dificuldades para comer de palitinho. Nem
o arroz escapa da habilidade de seus hashis de madeira. Passa das 22h, quando
saem de lá e vão para a casa de João, esticar o programa. Antes, passam numa
loja de conveniência e compram umas cervejas. E assim acaba o dia de João, um
criminoso.
Pode não
parecer, mas praticamente tudo o que João fez no seu dia era contra a lei, ou
ao menos algum parlamentar tentou tornar contra a lei: incluindo a carne nas egunda-feira, o saleiro na mesa, o hashi de madeira e a cerveja na loja de
conveniência (se fosse no mercado, poderia). Mas se achar os crimes de João é
uma tarefa difícil para pessoas comuns, mais difícil ainda é encontrar as vítimas
dos crimes de João. Não existem vítimas. No máximo, ele mesmo, que pode ficar
hipertenso pelo excesso de sal na batata-frita. Mas isso, obviamente, é um
problema que João precisa resolver sem a ajuda do poder público. No mais,
crimes sem vítimas não são crimes, ou pelo menos não deveriam ser.
É através
desses pequenos crimes inventados que o governo vai regulando e tomando conta
da vida das pessoas, em aspectos que não lhe dizem respeito, mas alegando
sempre as melhores intenções. Um exemplo disso foi a lei que proibiu o uso de
telefone celular em agências bancárias de Salvador, em 2010. Seis anos se
passaram, e o único efeito prático foi atrapalhar a vida de quem tem coisas
para resolver enquanto espera ser atendido no banco. Pode parecer incrível, mas
assaltantes não costumam ser exímios cumpridores de leis. Não há nenhum indício
de que a criminalidade tenha caído por conta da proibição, e se você digitar
“saidinha bancária Salvador” no Google, vai se deparar com inúmeras notícias
publicadas depois que a lei já estava vigente.
Segundo uma
reportagem do site Spotniks, há 71 mil leis em vigor hoje no país, apenas em
âmbitos estaduais e federal. É impossível estar ciente de todas as leis
existentes no país, e, neste exato momento, você pode estar cometendo uma
infração sem saber. Afinal, além das 71 mil, há ainda as leis municipais. E na
Câmara Municipal de Salvador, cada cabeça é um mundo (da Lua).
Certa feita um
parlamentar se orgulhava de ter proposto 300 leis num espaço de nove meses. “Se
são bons ou ruins, eu não sei. Só sei que tenho 300 projetos apresentados”,
gabou-se, numa entrevista. Um outro vereador orgulha-se de ter proposto a
obrigatoriedade de etiquetas em braile em peças de vestuário vendidas na
cidade. E um terceiro teve a genial idéia de obrigar concessionárias de
veículos a dar mudas de plantas de brinde a todos os clientes que comprassem um
carro.
As motivações
são as mais nobres possíveis: inclusão, meio ambiente, saúde, segurança... Mas
tanto controle estatal na vida das pessoas e das empresas trazem muito mais
transtornos do que bons resultados para a sociedade. O governo não é babá de
adulto. Crimes sem vítimas são crimes inventados.
*Priscila Chammas A autora é jornalista
Fonte: PSFBI - Políticos Socialistas
Fazendo os Brasileiros de Idiotas
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