Frases
subversivas ou libertárias (77)
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As origens racistas do salário mínimo
Que o salário mínimo
destrói empregos é evidente para qualquer um que queira entender isso. O
salário se fixa, no mercado, em função do valor da contribuição do trabalhador.
Quando se impõe um salário mínimo, todos os trabalhadores cuja contribuição
fique abaixo desse valor ficarão fora do mercado. O Haiti caiu sob a
ocupação dos Estados Unidos em julho de 1915. Quando se aplicou a primeira lei
do salário mínimo por lá, 98% dos trabalhadores do país se tornaram
ilegais. As leis de salário mínimo tornam ilegais os possíveis acordos
trabalhistas abaixo do piso fixado, com o qual não se concretiza certos
projetos empresariais: perdem então as duas partes e perdemos todos.
Também está claro que há
muitas pessoas (certamente, não é o caso do Haiti) as quais não são
afetadas por estas regulações, e que os grupos ou setores prejudicados não
estão disseminados igualmente em toda a sociedade. A grosso modo, afetam sobre
tudo os jovens, que não contam ainda com a formação adequada, os imigrantes e
os grupos que, pelas circunstâncias que sejam, possuem um menor capital humano.
Progresso, raça e
salário mínimo
Os pioneiros na
implantação do salário mínimo são os EUA. Sua impulsionadora foi a
esquerda da época, o movimento progressista, que inspirou alguns dos
presidentes mais significativos do começo do século XX, como Theodore Roosevelt,
Woodrow
Wilson e Franklin D. Roosevelt. O progressismo
define a ideologia e a atitude vital daqueles que se maravilharam diante da
notável melhora da sociedade nas décadas finais do século XIX e as primeiras do
XX, tão capitalista, e tentaram sujeitá-la para conseguir novos objetivos.
Acreditavam que a técnica e as ciências, aplicadas convenientemente, lhes
permitiriam ser agentes do progresso. Uma fé que os converteria em semideuses.
Só precisavam afundar o antigo ou tradicional e outorga-lhes poderes de
demiurgo.
Encaixem o progressismo
com a convicção, ou a fé, de que há raças humanas distintas, e o resultado é a
eugenia. Se podemos melhorar a sociedade por meio da ciência, se a natureza
seleciona naturalmente os melhores, como vamos deixar de lado a genética para
melhorar a raça? Que os progressistas eram racistas e defensores da eugenia não
é nenhum segredo. Já citei Woodrow Wilson. John Maynard Keynes e os fabianos (H.
G. Wells, George Bernard Shaw…) estão entre os mais
conhecidos.
O salário mínimo era um
instrumento ideal para a eugenia. E os economistas progressistas se deram conta
disso muito rapidamente. Thomas C. Leonard explica isso no Journal of
Economic Perspectives. Estes progressistas consideravam que havia uma
parte da sociedade (os “parasitas”, as “raças de salários baixos”, os “resíduos
industriais”, os “impregáveis”) que tinha que ser expulsa do mercado de
trabalho. Essa era a função social do salário mínimo. Não só para com as raças.
O casal Webb (Sidney e Beatrice),
criador do movimento fabiano na Grã-Bretanha, apontou sua preocupação em livrar
a sociedade dos “criminosos e incorrigivelmente preguiçosos (…) os
moralmente deficientes (…) e os que são incapazes de produzir seu sustento por
nenhum meio“.
Entre os economistas
progressistas americanos partidários da eugenia estão nomes como os de Irving
Fisher, Frank Fetter e Frank Taussing. Também os de Edward A. Ross, que alcunhou o conceito suicídio
racial para falar da imigração, Simon
Patten e Arnold White.
Segundo explica Leonard,
“os economistas progressistas, como seus críticos neoclássicos, acreditavam
que impor salários mínimos fortaleceria a perda de empregos“. “Não
obstante“, acrescenta, “os economistas progressistas acreditavam assim
mesmo que essa perda de emprego induzida pelo salário mínimo era um bem social,
pois fazia um serviço eugênico sobre a força laboral“. Os Webb viam
nesse desemprego “não uma marca de um mal social, mas uma de saúde social“.
Não pode haver “nada mais catastrófico para a comunidade que lhes permitir
competir, sem restrições, como empregados“, sustentam. Uma lei de salário
mínimo dissuadiria os imigrantes e expulsaria os “impregáveis“.
Royal
Meeker, que trabalhou como secretário do Trabalho de Wilson,
defendia um salário mínimo que privasse “os desafortunados” de um “emprego”
em lugar de favorecê-los, pois neste caso se correria o risco de que se
reproduzissem, de que criassem “mais do seu tipo“, seres aos quais A. B. Wolfe chamava “um peso para a
sociedade” e contra quem também pedia um salário mínimo. John
R. Commons reconhecia: “A competência não tem respeito pelas
raças superiores“. Assim é o mercado.
Também existiam outros
inimigos do livre mercado, não necessariamente economistas. Samuel
Gompers, o líder histórico da Federação Americana do Trabalho,
advertiu que “os caucasianos“, os brancos, não vão permitir que seu
nível de vida seja “destruído pelos negros, os chineses, os japoneses ou por
quaisquer outros“; por isso tinha que se impedir qualquer acordo laboral
abaixo de determinado limite.
Leonard explica em outro
artigo como a regulação trabalhista buscava igualmente restringir o acesso ao
trabalho pelas mulheres, “mães da raça” no mundo da eugenia. Os exemplos
podem se multiplicar, que é o que Harry G. Hutchinson tem apontado mais recentemente.
“Apartheid” e mais
além
As origens do apartheid
estão na regulação trabalhista imposta pelos trabalhadores brancos pobres, em
sua maioria africânderes. Seus primeiros êxitos foram
a Lei do Status Quo (1911), que impunha cotas aos negros por setores e
empresas, e nas leis que impunham licenças de trabalho, que limitavam a
liberdade de contratação. Nenhuma regulação trabalhista parecia suficiente, até
que encontraram um instrumento ideal para o objetivo. Os sindicatos brancos
assinalaram:
Na ausência de um salário
mínimo regulado, os empregadores encontravam benefícios em substituir os
europeus com alta qualificação, e geralmente mais caros, pelos não brancos
menos eficientes, mas mais baratos.
A Comissão de Economia e Salários da África do
Sul (1925) se dedicava ao já velho problema de expulsar os negros do mercado de
trabalho, para reservar as oportunidades de emprego aos brancos. “O método“,
afirmava, “seria fixar uma faixa [salarial] mínima por ocupação ou trabalho
tão alta que seja impossível que se contrate qualquer nativo“. Relembra o
economista Walter E. Williams em Race and Economics, onde também traz uma
recorte do jornal The New York Times de 1972:
Os sindicatos brancos de direita da construção
civil tem se queixado perante o governo da África do Sul de que as leis que
reservam empregos qualificados para os brancos estão defasadas, e deveriam se
abandonadas em favor de leis de salário igual por trabalho igual. (…) Os
sindicados conservadores da construção civil deixaram claro que sua motivação
não é a preocupação com os trabalhadores negros, e sim sua insatisfação porque
a reserva legal de emprego tem se deteriorado tanto pelas exceções
governamentais que tem deixado de ser uma proteção para os trabalhadores
brancos.
Essas ideias são difíceis de morrer. A velha
eficácia eugênica do salário mínimo aquece os corações dos progressistas de
hoje. No ano de 2006, o New York Times publicou um artigo escrito por Michael
Dukakis e Daniel J. B. Mitchell. Dukakis protagonizou
uma das derrotas mais comentadas das eleições presidenciais
americanas. Foi em 1988, contra George
H. W. Bush. Dukakis é um dos membros mais esquerdistas do Partido
Democrata, Mitchell é professor emérito da University of California, Los
Angeles (UCLA), e em seu artigo insistem que “milhões de imigrantes ilegais
trabalham por salários mínimos e inclusive menores que o mínimo em postos de
trabalho que não estão perto de cumprir com normas de saúde e segurança“. É
preciso expulsá-los, e o instrumento ideal é o salário mínimo. Os leitores, os
cidadãos do país, trabalharão em empregos que sejam arriscados, sujos ou
penosos na medida em que se pagem salários e tenham condições de trabalho
decentes.
Mais recentemente, em 2013, um empresário da
Califórnia de nome Ron Unz propôs uma iniciativa legislativa popular que
aumentaria o salário mínimo de 8 dólares por hora para 12 dólares em 2016. O
objetivo desta medida é frear a imigração. E a lógica, exposta dois anos antes
em um artigo do The American Conservative, é
implacável:
A réplica habitual contra os aumentos dos
salários mínimos é que “se perderão empregos”. Mas na América de hoje uma parte
enorme dos empregos que possuem salários mínimos, ou estão próximos deles,
pertencem aos imigrantes, em grande parte ilegais. Eliminar esses empregos é um
objetivo central do plano; é uma característica, não uma falha.
O que é um erro é separar o salário mínimo de
suas origens racistas.
Sobre o autor deste artigo: José Carlos
Rodríguez é jornalista e membro do Instituto Juan de Mariana. Trabalha como
colunista no site Libertad Digital e colaborador da La Gaceta de Los Negocios.
Atua como analista financeiro.
Artigo
traduzido do espanhol por Adriel Santana.
Artigo original.
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