Ex-Diretor do
Center for Entrepreneurial Stewardship do Acton Institute
Pessoas de todos os
tipos de formação e profissões sejam teólogos, ministros, políticos ou
assistentes sociais, concordam que uma das maiores obrigações é ajudar aos
pobres. Muitas vezes, no entanto, o debate é proposto como se houvesse dois
lados: o dos que querem ajudar aos pobres e o dos que não querem fazê-lo. Essa,
certamente, é uma classificação falsa.
O verdadeiro debate
sobre o Estado previdenciário e as medidas de reforma do sistema previdenciário
estão centradas na pergunta: “Como podemos ajudar aos pobres?”, ou, mais
especificamente, “Quem deve cuidar dos pobres?”
Há várias opções.
Aqueles que advogam um maior papel da previdência estatal recorrem
frequentemente a um tipo de abordagem que chamam de “desafio estatal”. O
Estado, para eles, deve continuar a expandir sua influência sobre a sociedade.
O governo não existe meramente para garantir os contratos ou os direitos dos cidadãos,
dele deve buscar melhorar a sociedade. Nessa concepção, o governo deve
arrecadar dinheiro por meio de impostos, tomar decisões visando àqueles que
devem receber apoio financeiro, distribuir recursos, e promover vários
programas sociais. Ao cuidar dos pobres, contudo, a abordagem do “desafio
estatal” tende a promover a mediocridade no trabalho, reprime a iniciativa
pessoal, suprime a responsabilidade pessoal e a caridade privada, e não conhece
limites. Ao final torna-se um sistema que não é auto-sustentável.
No extremo oposto
do espectro político estão aqueles que advogam a postura do “sem Estado”.
Acreditam num papel extremamente limitado do Estado, e creem que o
livre-mercado irá fornecer tudo aquilo que a sociedade precisa. Nessa
concepção, o governo deveria trabalhar para manter os mercados abertos, mas não
deveria fazer muito mais do que isso. O problema dessa abordagem, entretanto, é
que alguns irão sucumbir na gestão dos serviços realizada exclusivamente pelo
mercado.
Contudo, há uma
alternativa. Na teologia católica, o princípio é conhecido como
subsidiariedade. Na teologia Protestante Reformada é chamada de esfera de
soberania, um termo usado pelo teólogo e político holandês Abraham Kuyper.
basicamente a idéia é de que é moralmente perigoso tomar a autoridade e
responsabilidade que pertencem ao indivíduo e atribuí-las a um grupo. Além
disso, é moralmente errado tomar a autoridade e responsabilidade que pertence a
um pequeno grupo e atribuí-las a um grupo maior.
Ao aplicar esse
conceito no cuidado para com os pobres, podemos dizer que a menor unidade
possível deve ser responsável por ir de encontro às necessidades dos pobres.
Isso está muito distante das abordagens “estatizantes”, que atribuem a
responsabilidade para com os pobres ao Estado, sem levar em conta os
grupamentos menores que devem estar dando auxílio. Mas essa também não é a
interpretação das abordagens dos “sem Estado”, que não permitiriam que o Estado
tivesse qualquer papel nesse caso.
Permitam-me expor
esse problema em termos práticos. Se sou um pobre, a quem deverei pedir
auxílio? Poderia argumentar que o primeiro responsável por mim sou eu mesmo. A
teologia cristã nos ensina que, apesar de nossa natureza decaída, continuamos a
ser criaturas feitas à imagem de Deus. Não obstante nossas falhas, temos a
capacidade de raciocinar e de colaborar de modo criativo na obra da Criação.
Mas se, por um ou
mais motivos, sou incapaz de ir de encontro às minhas necessiddades, então
deverei buscar o Estado? Tanto o Princípio da Subsidiariedade quanto o da
Esfera de Soberania sugerem que o menor grupo possível deve cuidar de
satisfazer minhas necessidades. Portanto, na maior parte das vezes, essa
responsabilidade deverá repousar sobre minha família. O bem-estar, se entendido
de modo apropriado, começa aí. Se meu irmão fosse pobre, não penso que seria
uma responsabilidade do Estado cuidar dele e que eu mesmo não tivesse nenhuma
responsabilidade.
Caso minha família
fosse incapaz de preencher minhas necessidades, o próximo círculo menor seriam
os meus amigos, ou minha igreja. Muitas igrejas, no entanto, abandonaram a
responsabilidade de cuidar dos mais pobres. Em 1996, em meio ao debate sobre
reforma previdenciária nos Estados Unidos, um repórter perguntou a um membro do
clero qual seria a reação dele diante dos que pediam uma menor intervenção
estatal e uma maior participação das igrejas na assistência aos pobres. Sua
resposta foi: “Por que devemos fazer o trabalho do governo?” Esse foi um
comentário triste, porém revelador!
Finalmente, se
todos os outros grupos e organizações falham, então o Estado deve promover
algum tipo de rede de segurança para aqueles que não são assistidos por
ninguém. Em tempos de crise, pode ser necessário que o governo tenha um papel
mais ativo, mas os políticos deve sempre lembrar que mesmo nesses casos, o
papel do governo é temporário. A pergunta não é “o que o governo pode fazer?”.
A pergunta mais apropriada é “ O que o governo deve fazer?”. A resposta pode
ser a de que o governo não deve fazer o que nós mesmo podemos, nem aquilo que
nossas famílias podem, nossas igrejas e nossas comunidades são capazes.
Quando o Princípio
da Subsidiariedade ou a Esfera de Soberania estão esquecidos numa sociedade,
nós mesmos falhamos em assumir responsabilidades. Falhamos em ver as responsabilidade
que temos dentro de nossas famílias, igrejas e comunidades. A igreja falha na
necessidade de dar de comer ao faminto e de vestir o que está nu. Como
resultado, somos muito menos do que Deus pretendia ao nos criar.
Fonte: Acton Institute
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