Por Felipe Pimenta
A figura do intelectual tem sido dominante no Ocidente desde o século
XVIII, sendo que o século XX foi a época de ouro desse tipo de pensador. O
livro de Paul Johnson ajuda o leitor a identificar quem é o intelectual e o
perigo que ele representa a logo prazo para a sociedade.
Durante sua vida, o intelectual tende a ser idolatrado pelas massas e por
um círculo de intelectuais menores. Poucos identificam em suas ideias elementos
destrutivos de médio e longo prazo- e o que é pior, poucos sabem do
comportamento destrutivo do intelectual em relação a seus familiares e amigos
mais próximos.
Paul Johnson diz que as principais características do intelectual são
duas: ter opinião sobre todos os fatos da vida (inclusive sobre ciências que
ele desconhece) e um amor pela humanidade (no geral) ao mesmo tempo em que
sente um enorme desprezo pelo ser humano real em particular.
Começando seu estudo dos intelectuais por Rousseau, Johnson identifica no
filósofo francês o protótipo de todo intelectual que viria a ser dominante na
Europa e nos Estados Unidos. Rousseau nos deixou um legado de ideias perigosas
e foi uma verdadeira inspiração para todo governante totalitário desde então.
Com ele iniciam-se várias das atitudes que irão repetir-se nos outros casos
analisados no livro: a separação entre a teoria e o mundo real; uma atitude
tirânica em relação aos amigos mais próximos e, por último, um comportamento
abominável com as (inúmeras) mulheres com as quais se relacionou. Quase todos
os intelectuais dessa obra de Paul Johnson desprezam suas mulheres ou amantes.
Rousseau certamente é o intelectual mais desprezível narrado no livro,
principalmente porque em longo prazo suas ideias foram uma das que mais
prevaleceram no Ocidente. Claro que a sua vida horrível também conta, mas foram
suas opiniões e seus livros (escritos de maneira romântica e agradável) que
provaram ser o seu pior legado.
Jean Paul Sartre é o intelectual mais parecido com Rousseau em todo o
livro. Pessoalmente foi um tirano com sua mulher (Simone de Beauvoir), e um
covarde em termos políticos durante a Segunda Guerra (os alemães o achavam
inofensivo). Como filósofo fez aquilo que Johnson acredita ser o destino de
todo intelectual francês: o de propagar e exagerar ideias alemãs. Foi
idolatrado e considerado a referência para toda uma geração de jovens franceses
dos anos 1950 e 1960. O autor do livro lembra que todas as lideranças do futuro
Khmer Vermelho estudaram em Paris àquela época e estavam profundamente
influenciados pelas ideias francesas quando começaram o genocídio da população
do Camboja. Como as outras figuras do livro, Sartre tinha uma enorme capacidade
de envolver-se em confusões e brigas contras seus amigos ou rivais na área da
filosofia ou literatura. Esse capítulo do livro é importante porque faz um
contraste entre Sartre e Albert Camus. O primeiro estava mais preocupado com as
ideias e não com o ser humano; o segundo não queria e não permitiria jamais que
o ser humano fosse sacrificado em nome de qualquer ideia ou sistema político.
Johnson considera Bertolt Bretch o mais insignificante de todos os
intelectuais narrados no livro por sua falta de talento e por sua covardia
moral. Na questão da vida e da obra de Karl Marx, Johnson vê o triunfo da
poesia sobre a ciência, uma vez que ele crê que Marx era um falsificador
anticientífico de dados que ele obteve do museu britânico. Fazendo uma curiosa
e importante análise da obra poética de Marx (que existe e pouca gente
conhece), o que podemos ver é uma personalidade apocalíptica que julgava que
algo em que acreditava necessariamente iria acontecer por algum evento trágico
e “milagroso”. É exatamente aquilo que Eric Voegelin denomina de “fé
metastática”. Johnson descreve a vida particular de Marx como um burguês (até
seu apologista Francis Wheen reconhece isso) que nunca trabalhou e jamais pagou
salário à sua empregada (que ele engravidou e não reconheceu seu filho). Como
os outros intelectuais, Marx nunca teve vontade de estudar e compreender a vida
prática- no caso os trabalhadores das fábricas...( )... De todos os intelectuais descritos nessa obra, Marx é o
mais poderoso e importante.
Quanto a Bertrand Russell, sua obra filosófica é grandiosa, mas suas
ideias políticas extremamente contraditórias. A sentença que podemos aplicar a
ele são as de Wittgenstein: “sua obra sobre filosofia da matemática e sobre
lógica devem ser ensinadas; quanto às suas opiniões sobre moral e política,
elas devem ser jogadas no lixo”.
No final do livro existe um pequeno estudo sobre Noam Chomsky, que hoje
em dia é o grande intelectual vivo em nível mundial. Chomsky escreveu um livro
que Johnson acredita ser uma das grandes obras da filosofia do século XX, que
tem o nome de Syntactic Structures. Nesse livro, diz Johnson, existe a
ideia de que a mente humana não é uma tabula rasa como acreditavam
todos os filósofos do empirismo britânico. Chomsky acredita na existência das
ideias inatas como na tradição continental. Ora, para Chomsky a existência das
ideias inatas são uma barreira contra qualquer tipo de propaganda organizada em
nível estatal. Isso evita uma programação da mente através de sistemas
propostos por intelectuais a serviço do Estado. Se a mente fosse uma tabula
rasa, esse tipo de programação se tornaria possível e até desejável. Qual
é o erro de Chomsky segundo Paul Johnson? Foi simplesmente o de acreditar que
as ações do exército americano no século XX promoviam algum tipo de
doutrinação, quando na verdade os Estados Unidos ajudaram a destruir governos e
ditaduras que faziam exatamente aquilo que Chomsky mais abominava.
O que fica de ensinamento para o leitor a respeito dos intelectuais é que
devemos manter distância de qualquer um que ofereça soluções a respeito de
todos os males da sociedade. O intelectual típico julga entender sobre qualquer
assunto ou qualquer ciência. Quase sempre tem um círculo de admiradores
fanáticos que estão dispostos a sacrificar sua inteligência pelas ideias do
“guru”. O intelectual tende a ter uma vida pessoal obscura e a ser extremamente
intolerante contra qualquer um que ouse contrariá-lo. O conselho de Paul
Johnson é simples: fujam dos intelectuais!
Fonte: Filosofia, História e Política
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