Por Cacilda Luna
A trajetória de um dos mais importantes, se não o
mais importante empreendedor brasileiro do século 19 - o Barão de Mauá - foi
destaque no primeiro dia do curso de Difusão "Pioneirismo no Brasil e a
Construção do Século XXI", realizado na Biblioteca Brasiliana Guita e José
Mindlin, promovido pela FEAUSP entre os dias 30 e 31 de julho.
Além da exibição do filme "Mauá - O imperador
e o Rei" (1999), dirigido por Sérgio Rezende, a diretora do Museu
Histórico Nacional (RJ), Dra. Vera Lúcia Bottrel Tostes, enfocou os 200 anos do
nascimento de Mauá (1813-1889), um gaúcho que viveu a maior parte de sua vida
no Rio de Janeiro e foi responsável por várias iniciativas que contribuíram
para o desenvolvimento econômico do país como a construção da primeira ferrovia
brasileira, a introdução do telégrafo e da iluminação a gás.
Coordenado pelo Prof. Jacques Marcovitch, o curso
faz parte do projeto "Pioneiros & Empreendedores", cujo objetivo
é resgatar e difundir a memória dos grandes empreendedores brasileiros.
"Temos de lembrar que pioneirismo e utopia se acompanham. A utopia é
aquela visão de futuro aparentemente inalcançável e são pioneiros os que ajudam
a nos aproximar desses horizontes distantes", ressaltou Marcovitch durante
a abertura, que teve a participação do secretário estadual da Cultura, Marcelo
Araújo, da diretora do Departamento de Patrimônio Histórico, Nádia Somekh,
representando o secretário municipal de Cultura Juca Ferreira, da pró-reitora
de Cultura e Extensão da USP, Maria Arminda do Nascimento Arruda, e do chefe do
Departamento de Administração da FEA, Adalberto Fischmann, representando o
diretor da Faculdade, Reinaldo Guerreiro.
O curso teve início com uma discussão sobre a
memória empresarial nas instituições preservacionistas. Em sua exposição, Vera
Lúcia Tostes discorreu sobre a vida e as iniciativas empreendedoras de Irineu
Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, sob um viés museológico. A diretora do
Museu Histórico Nacional analisou o fato de a memória empresarial não ter tido
o devido espaço e destaque nas instituições preservacionistas brasileiras ao
longo do tempo. Segundo ela, os museus do país seguiram por muito tempo o
modelo dos museus da Europa, que após a Revolução Francesa passaram a coletar e
expor objetos tão somente de personagens ligadas ao círculo de poder da época.
"Logo após a Revolução, os objetos que
pertenciam àquela nobreza, especialmente aos governantes da época, foram
recolhidos e foram organizados e expostos de maneira a mostrar à população como
viviam aquelas pessoas. Era uma mostra didática com um fim eminentemente
político", ressalta Vera Lúcia. Mas um lado positivo, segundo ela, é que a
partir daí a França decide que aqueles objetos não seriam mais objetos
particulares, mas sim pertencentes ao patrimônio nacional, criando-se um
sentido de patrimônio nacional.
No caso do Brasil, alguns objetos relacionados ao
Barão de Mauá foram preservados devido à sua proximidade com a corte.
"Quando esses objetos chegaram aos museus, não havia interesse em valorizar
o empreendedorismo ou as iniciativas de um homem que foi tão importante na
história brasileira do século 19", destacou Vera Lúcia Tostes. No seu
entendimento, a questão de ver o cidadão como empresário é uma visão moderna
nos museus, que foi introduzida a partir da década de 80 do século passado.
O Museu Histórico Nacional, de acordo com Vera
Lúcia, possui em seus acervos parte dos objetos de uso pessoal do Barão de
Mauá, que foram doados por seus descendentes, entre eles uma caixa de charutos,
uma escrivaninha e uma cuia de chimarrão. "Temos no Museu alguns objetos
de uso pessoal, que chegaram ao Museu mais recentemente, quando se fez uma
modernização no enfoque conceitual, histórico, das exposições, ali colocando
Mauá como um empreendedor do século 19".
Mauá e Pedro II: relacionamento
difícil
Mas a curiosidade no acervo fica por conta de peças
que revelam detalhes da vida do empresário, como seu conturbado relacionamento
com o imperador Pedro II. (há controvérsias, clique aqui) É o caso do carrinho de mão e da pá de prata que
foram usados no lançamento da pedra fundamental da estrada de ferro Mauá.
"Mauá teve, na melhor das intenções, mais um ato que foi extremamente
prejudicial a ele, que foi dar ao imperador o privilégio de jogar a primeira pá
de terra naquela pedra fundamental. O imperador entendeu que o ato o diminuía
perante a corte ali reunida", ressaltou Tostes. "A partir daí,
claramente começou o corte e uma dificuldade muito grande para Mauá continuar
com seus empreendimentos, no que dependesse da parte do governo, do imperador
Pedro II".
Um objeto importante que ressalta o caráter
empreendedor de Mauá e que se encontra no Museu Histórico Nacional é a caixa de
madeira contendo cabos de telégrafo, com a qual ele presenteou o imperador.
"Uma das iniciativas de Mauá foi trazer os cabos para o telégrafo que
uniria o Brasil à Europa. Ele podia ter a intenção de se favorecer, porque
dependia de uma comunicação mais rápida e eficiente com a Europa, mas ele
estava lançando o Brasil no que tinha de mais moderno em termos de comunicação da
época. Ele tinha a visão de que aquilo que serviria a ele serviria ao
país", afirmou a diretora do Museu.
"Outro aspecto interessante que você acompanha
nesses objetos é que Mauá, apesar de não ter uma formação de engenharia, de
tecnologia da época, ele tinha essa curiosidade, se cercando de pessoas que
pudessem o orientar de como proceder naquilo", completa Tostes.
O segundo dia do curso "Pioneirismo no Brasil
e a Construção do Século XXI" retratou as iniciativas de grandes
empreendedores paulistas como Julio Mesquita, Jorge Street, Francesco Matarazzo
e Roberto Simonsen. Em 2014, o projeto enfocará os empreendedores da região
Norte-Nordeste e, em 2015, do Sul-Sudeste.
No Brasil, o estado e a inveja são os principais inimigos do progresso e do empreendedor. Anon, SSXXI
filme "Mauá - O imperador e o Rei"
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