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sábado, 10 de agosto de 2013

Trajetória do Barão de Mauá é destaque em curso da FEA sobre Pioneirismo



Por Cacilda Luna

A trajetória de um dos mais importantes, se não o mais importante empreendedor brasileiro do século 19 - o Barão de Mauá - foi destaque no primeiro dia do curso de Difusão "Pioneirismo no Brasil e a Construção do Século XXI", realizado na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, promovido pela FEAUSP entre os dias 30 e 31 de julho.

Além da exibição do filme "Mauá - O imperador e o Rei" (1999), dirigido por Sérgio Rezende, a diretora do Museu Histórico Nacional (RJ), Dra. Vera Lúcia Bottrel Tostes, enfocou os 200 anos do nascimento de Mauá (1813-1889), um gaúcho que viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro e foi responsável por várias iniciativas que contribuíram para o desenvolvimento econômico do país como a construção da primeira ferrovia brasileira, a introdução do telégrafo e da iluminação a gás.

Coordenado pelo Prof. Jacques Marcovitch, o curso faz parte do projeto "Pioneiros & Empreendedores", cujo objetivo é resgatar e difundir a memória dos grandes empreendedores brasileiros. "Temos de lembrar que pioneirismo e utopia se acompanham. A utopia é aquela visão de futuro aparentemente inalcançável e são pioneiros os que ajudam a nos aproximar desses horizontes distantes", ressaltou Marcovitch durante a abertura, que teve a participação do secretário estadual da Cultura, Marcelo Araújo, da diretora do Departamento de Patrimônio Histórico, Nádia Somekh, representando o secretário municipal de Cultura Juca Ferreira, da pró-reitora de Cultura e Extensão da USP, Maria Arminda do Nascimento Arruda, e do chefe do Departamento de Administração da FEA, Adalberto Fischmann, representando o diretor da Faculdade, Reinaldo Guerreiro.

O curso teve início com uma discussão sobre a memória empresarial nas instituições preservacionistas. Em sua exposição, Vera Lúcia Tostes discorreu sobre a vida e as iniciativas empreendedoras de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, sob um viés museológico. A diretora do Museu Histórico Nacional analisou o fato de a memória empresarial não ter tido o devido espaço e destaque nas instituições preservacionistas brasileiras ao longo do tempo. Segundo ela, os museus do país seguiram por muito tempo o modelo dos museus da Europa, que após a Revolução Francesa passaram a coletar e expor objetos tão somente de personagens ligadas ao círculo de poder da época.

"Logo após a Revolução, os objetos que pertenciam àquela nobreza, especialmente aos governantes da época, foram recolhidos e foram organizados e expostos de maneira a mostrar à população como viviam aquelas pessoas. Era uma mostra didática com um fim eminentemente político", ressalta Vera Lúcia. Mas um lado positivo, segundo ela, é que a partir daí a França decide que aqueles objetos não seriam mais objetos particulares, mas sim pertencentes ao patrimônio nacional, criando-se um sentido de patrimônio nacional.

No caso do Brasil, alguns objetos relacionados ao Barão de Mauá foram preservados devido à sua proximidade com a corte. "Quando esses objetos chegaram aos museus, não havia interesse em valorizar o empreendedorismo ou as iniciativas de um homem que foi tão importante na história brasileira do século 19", destacou Vera Lúcia Tostes. No seu entendimento, a questão de ver o cidadão como empresário é uma visão moderna nos museus, que foi introduzida a partir da década de 80 do século passado.

O Museu Histórico Nacional, de acordo com Vera Lúcia, possui em seus acervos parte dos objetos de uso pessoal do Barão de Mauá, que foram doados por seus descendentes, entre eles uma caixa de charutos, uma escrivaninha e uma cuia de chimarrão. "Temos no Museu alguns objetos de uso pessoal, que chegaram ao Museu mais recentemente, quando se fez uma modernização no enfoque conceitual, histórico, das exposições, ali colocando Mauá como um empreendedor do século 19". 

Mauá e Pedro II: relacionamento difícil

Mas a curiosidade no acervo fica por conta de peças que revelam detalhes da vida do empresário, como seu conturbado relacionamento com o imperador Pedro II. (há controvérsias, clique aqui) É o caso do carrinho de mão e da pá de prata que foram usados no lançamento da pedra fundamental da estrada de ferro Mauá. "Mauá teve, na melhor das intenções, mais um ato que foi extremamente prejudicial a ele, que foi dar ao imperador o privilégio de jogar a primeira pá de terra naquela pedra fundamental. O imperador entendeu que o ato o diminuía perante a corte ali reunida", ressaltou Tostes. "A partir daí, claramente começou o corte e uma dificuldade muito grande para Mauá continuar com seus empreendimentos, no que dependesse da parte do governo, do imperador Pedro II".

Um objeto importante que ressalta o caráter empreendedor de Mauá e que se encontra no Museu Histórico Nacional é a caixa de madeira contendo cabos de telégrafo, com a qual ele presenteou o imperador. "Uma das iniciativas de Mauá foi trazer os cabos para o telégrafo que uniria o Brasil à Europa. Ele podia ter a intenção de se favorecer, porque dependia de uma comunicação mais rápida e eficiente com a Europa, mas ele estava lançando o Brasil no que tinha de mais moderno em termos de comunicação da época. Ele tinha a visão de que aquilo que serviria a ele serviria ao país", afirmou a diretora do Museu.

"Outro aspecto interessante que você acompanha nesses objetos é que Mauá, apesar de não ter uma formação de engenharia, de tecnologia da época, ele tinha essa curiosidade, se cercando de pessoas que pudessem o orientar de como proceder naquilo", completa Tostes.

O segundo dia do curso "Pioneirismo no Brasil e a Construção do Século XXI" retratou as iniciativas de grandes empreendedores paulistas como Julio Mesquita, Jorge Street, Francesco Matarazzo e Roberto Simonsen. Em 2014, o projeto enfocará os empreendedores da região Norte-Nordeste e, em 2015, do Sul-Sudeste.

Fonte: FEA

No Brasil, o estado e a inveja são os principais inimigos do progresso e do empreendedor. Anon, SSXXI 


filme "Mauá - O imperador e o Rei"

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