Por Lew Rockwell e Ron Paul
Recentemente aconteceu algo em
Buffalo, Nova York, que contradiz a propaganda daqueles que apóiam o
"controle de armas" — isto é, o controle de cidadãos cumpridores da
lei que desejam apenas ter uma arma para se proteger dos vários elementos
nefastos deste mundo. Um cidadão de fato usou uma arma, uma espingarda, para
defender sua casa e sua família de invasores armados. E, de acordo com a
manchete, ele já havia sido vítima de outras invasões domiciliares.Não, sua arma não lhe foi tomada e usada contra ele — essa seria a conseqüência inevitável de se possuir uma arma, dizem os defensores do desarmamento. Não, sua arma também não foi roubada. Não, ele não teve tempo de esperar pela polícia, não obstante esta tivesse chegado minutos depois, tendo também atirado nos invasores, ferindo um deles. Sim, ele foi capaz de pegar sua arma a tempo. Sim, ele apontou, mirou e acertou os alvos maléficos. De acordo com a propaganda desarmamentista, as pessoas raramente — quase nunca — usam armas para a auto-defesa.
O
desarmamento é uma daquelas idéias que, na superfície, parecem fazer sentido;
uma idéia que as pessoas sensatas inicialmente estão inclinadas a aceitar; uma
idéia que parece oferecer uma solução fácil para um problema difícil. E esse é
o problema com o controle de armas. Não passa de uma auto-ilusão, um pensamento
baseado no desejo; é simplista, ingênuo e até mesmo infantil. É um pensamento
tipicamente esquerdista: achar que problemas sociais podem ser resolvidos
colocando-se palavras num papel e transformando-as em estatutos federais e
estaduais.
Sempre
que você ouvir que esse ou aquele tipo de arma foi banido, lembre-se que
palavras escritas num papel jamais mudaram a natureza humana. Existem pessoas
ruins lá fora que irão se aproveitar das pessoas boas. Elas não serão impedidas
por palavras em um papel, seja onde for. As pessoas boas, por outro lado,
desejosas de obedecer a lei, serão. E é por isso que assaltantes, estupradores
e assassinos sabem que em paraísos desarmamentistas — isto é, qualquer lugar em
que saibam que as potenciais vítimas estão desarmadas — os cidadãos estão
totalmente indefesos contra eles.
Nos
EUA, em particular, acontece um fenômeno interessante. Sempre que o congresso
ameaça aprovar novas regulamentações anti-armas, o povo americano responde
comprando e estocando a maior quantidade de armas possível.
Em
1989, o congresso aprovou restrições sobre as chamadas "armas de
ataque" (assault weapons), tais como a Colt AR-15,
a H&K G36E,
a TEC-9, todos os
AK-47s, e as Uzis. Esse
fato provocou uma explosão na venda de armas. Após uma breve folga da máquina
legislativa, surgiu a Brady Bill em 1993, um projeto de lei que impunha a
checagem do histórico do comprador. Os políticos alegaram estar apenas atrás
dos criminosos. Mas o principal efeito da lei foi o de convencer as pessoas de
que o governo federal estava mesmo era determinado em desarmar o público.
Os
políticos, é claro, sempre dizem que estão atrás apenas dos criminosos, e não
de caçadores e de pessoas que apenas desejam a auto-proteção. Mas, por
definição, os criminosos não ligam muito para regulações. Restrições legais
sobre a venda de armas só servem para fazer com que as pessoas que
escrupulosamente seguem a lei não consigam se defender daqueles que não a
seguem.
Esse
ponto pode ser demasiado complicado para os políticos entenderem, mas as
pessoas comuns entendem. Após a aprovação da Brady Bill houve mais uma explosão
na venda de armas, com a população aumentando seus estoques, antecipando-se a
mais regulamentações futuras.
As
percepções da população provaram-se certeiras. Sem perder tempo, os federais
baniram a fabricação doméstica de armas de estilo militar e de pentes com
capacidade para mais de 10 projéteis. O resultado foi o maior tiro pela culatra
da história das regulamentações. O limitado número de "armas de
ataque" ainda em circulação passou a ser vendido pelo dobro do preço
pré-banimento. E como era necessário ter mais balas para poder se igualar ao
poder de fogo antigo, os fabricantes de munições passaram a desfrutar de lucros
recordes, de acordo com dados reunidos pelo Wall Street Journal.
E,
por fim, o que levou o mercado à velocidade total de operação foi a ameaça de
que os fabricantes de armas seriam levados à falência por conta de ações
judiciais. As pessoas viram o que os tribunais fizeram com as empresas de
tabaco e o que aconteceu com os preços do cigarro como conseqüência. Ao
contrário dos cigarros, armas não são perecíveis, e assim as pessoas perceberam
que poderiam - aliás, deveriam - começar a estocar o mais rápido possível,
antes que os juízes fizessem com os fabricantes de armas o mesmo que fizeram
com os fabricantes de cigarro.
Fanáticos
anti-armas viram toda essa estocagem como uma catástrofe, uma vez que sua meta
era o desarmamento completo da população. Mas eles estavam em um dilema.
Costurar o processo legislativo para implantar o desarmamento completo toma
mais tempo do que os períodos de espera e as barreiras regulatórias já
aprovadas e transformadas em lei. As
janelas de liberdade existentes permitiram às pessoas desafiar as intenções dos
desarmamentistas enquanto ainda havia tempo.
A
estocagem que passou a ocorrer em todo o país provavelmente animou até mesmo as
pessoas que não tinham interesse em ter uma arma. Isso porque uma posse de
armas amplamente difundida por toda a sociedade confere aquilo que os
economistas chamam de "externalidades positivas" sobre as pessoas que
não planejam ter armas. Por exemplo, mesmo que você não possua uma arma, ainda
assim você se beneficiará da percepção de que você ainda pode vir a ter uma,
uma percepção que só vai durar enquanto a realidade da posse difusa de armas
continuar existindo. O temor de que as pessoas estejam dispostas a reagir é o
que mantém os criminosos acuados.
Uma
literatura maciça e detalhada já comprovou, seguidamente, que quanto mais armas
uma comunidade possui, menor é a criminalidade que essa comunidade tem de
aturar. Os dados são tão devastadores que nenhuma pessoa sensata poderia
negá-los. (A "planilha de fatos das armas de fogo"
deveria estar na lista de favoritos de cada ser pensante). Por que, então, o
lobby desarmamentista continua a dizer que as restrições às armas são a chave
para diminuir a criminalidade?
Um
livro altamente elogiado pelos desarmamentistas — o Arming America: The Origins of a National Gun Culture,
escrito por Michael A. Bellesiles, professor da Emory University — foi
inteiramente desacreditado por ser baseado em fatos fajutos — para não dizer
fraudulentos —, e o autor foi forçado a se demitir de seu posto. Bellesiles
tentou contestar a sabedoria convencional e argumentou que no período colonial
os americanos tinham poucas armas e muitas delas não funcionavam. (Joe
Stromberg já refeutou devidamente tal asserção).
Ele
parecia não estar ciente de que a Revolução Americana foi originada por uma
tentativa de desarmamentistas britânicos de confiscar armas americanas em
Concord. Na batalha de Lexington e Concord, esses
americanos supostamente mal armados de alguma forma conseguiram infligir 273
baixas no mais bem treinado exército do mundo, os Redcoats.
Um
bom antídoto para o livro de Bellesiles é o livro Guns and Violence, escrito por Joyce Lee
Malcolm, professor de história do Bentley College. Malcolm argumenta que na
Inglaterra a taxa de crimes violentos vinha declinando por séculos à medida que
mais armas iam se tornando disponíveis. Foi só começarem a aprovar leis
anti-armas e a taxa começou a subir.
Já
um estudo do economista John R. Lott, Jr. — Ph.D. e autor dos livros Mais Armas, Menos Crimes e O Preconceito Contra as Armas — mostra
que em 1985 apenas oito estados tinham leis que permitiam às pessoas andarem
armadas livremente — as leis permitiam que uma pessoa automaticamente
conseguisse uma licença, desde que ela tivesse seu histórico aprovado e completasse
um curso de treinamento. Atualmente existem quarenta estados que apresentam
alguma versão dessas leis. O exame que Lott fez dos dados mostrou que "de 1977
a 1999, os estados que adotaram leis que permitiam o
porte livre de armas apresentaram uma queda de 60% nos ataques contra
indivíduos e uma queda de 78% nas mortes em conseqüência de tais ataques".
Já é
hora de a orientação ideológica desses confiscadores de armas ser examinada
mais minuciosamente. Observe que a teoria deles sobre a posse de armas não
aparece isolada; ela é parte de um pacote maior, um pacote de crenças políticas
sobre o papel do governo na sociedade. Quase sem exceções, eles defendem toda a
agenda estatista típica do politicamente correto. O que eles querem não é uma
sociedade desarmada, mas uma sociedade onde o governo tem o monopólio da posse
de armas.
O
que nos leva ao dia 11 de setembro de 2001. Nesse dia, descobrimos que todo o
aparato de $400 bilhões do governo federal dos EUA não foi capaz de proteger os
americanos contra um catastrófico ataque terrorista, ao passo que uns poucos
revólveres nas cabines de comando dos aviões — medida essa que há muito havia
sido desencorajada pela polícia federal americana — poderiam ter salvado o dia.
E, apesar disso, a idéia de que pilotos tenham permissão para estar armados
contra invasores ainda é controversa, após quase 7 anos e duas guerras
sangrentas que já mataram muitos milhares.
O
propósito principal da Segunda Emenda é fornecer a todos os cidadãos os meios
para se defenderem contra a tirania governamental. No século XX, muitos
governos por todo o mundo mataram milhões de seus próprios cidadãos, que
estavam desarmados espontânea ou compulsoriamente. Isso ocorreu na União
Soviética, na Alemanha Nazista, na China Comunista, na China Nacionalista, no
Camboja, na Coréia do Norte, em Cuba e em vários outros lugares.
Nesse
quesito, devemos ser muito gratos ao que restou do livre mercado de armas, que
tornou possível às pessoas responderem à ameaça de regulamentação de armas
comprando e estocando. Se realmente valorizamos a liberdade e a segurança,
precisamos não de mais restrições sobre a propriedade privada, mas da revogação
das restrições existentes. E com os recentes eventos no Iraque, já deveria
estar claro que o congresso precisa aprovar restrições muito severas é na
liberdade de burocratas e políticos belicistas adquirirem e usarem armas.
O
perigo para a existência de uma sociedade livre não está nas armas em posse dos
cidadãos, mas em um governo que é livre para agir, especialmente um que está
mais bem armado do que o povo. Uma sociedade armada é uma sociedade autônoma e
independente, assim como um povo desarmado está vulnerável a poderes
arbitrários de todo tipo.
Cidadãos
armados resultam em menos crime e mais segurança, e ainda faz com que o governo
seja constantemente lembrado de que seus burocratas não são os únicos com
poderes.
E é
exatamente por isso que a matança horrível e sem sentido ocorrida em abril de
2007 na Universidade de Virginia Tech serviu para reforçar esse sentimento
inquietante ao qual muitos americanos se acostumaram após o 11 de setembro: o
sentimento de que o governo não pode protegê-los. Não importa quantas leis
sejam aprovadas, não importa quantos policiais ou agentes federais sejam
colocados nas ruas, um indivíduo ou um grupo de indivíduos decididos ainda
podem causar grandes danos. Talvez o único bem que ainda pode advir dessa
matança terrível é um reforço na compreensão de que nós como indivíduos é que
somos responsáveis por nossa segurança e pela segurança das nossas famílias.
Apesar
de o estado da Virginia de fato permitir que indivíduos possam portar armas
ocultas caso eles tenham antes obtido uma licença, os campi universitários do
estado estão especificamente excluídos dessa lei. A Virginia Tech, assim como
todas as outras faculdades da Virginia, são zonas livres de armas, ao menos
para civis. E como pudemos ver, não importou quantas armas a polícia tinha.
Apenas os indivíduos presentes na cena poderiam ter impedido ou ao menos
diminuído a tragédia. A proibição de armas no campus fez com que os estudantes
da Virginia Tech ficassem menos seguros, e não mais.
Você
se sentiria seguro se pusessem um aviso na frente da sua casa dizendo:
"Essa casa é uma zona livre de armas, seus moradores NÃO possuem arma de
fogo"? Cidadãos cumpridores da lei poderiam ficar satisfeitos com tal
aviso, mas para criminosos ele seria um convite irresistível. Aliás, por que
será que ninguém entra atirando nas reuniões da National Rifle Association?
Também
de acordo com John Lott, antes de 1995 era permitido a professores levar armas
para as universidades em vários estados e "a erupção de tiroteios
estudantis nas escolas começou em outubro de 1997, na cidade de Pearl,
Mississipi, após a proibição".
Já
dá pra ouvir a gritaria: "E se um professor for psicótico e decidir atirar
nos seus alunos?" Ora, se um professor for emocionalmente instável não há
absolutamente nada que o impeça de levar uma arma para a universidade e cometer
este ato covarde e patético hoje.
Ademais,
se tivéssemos um livre mercado para a educação, aqueles pais que não confiassem
em professores armados mandariam seus filhos para escolas livres de armas e
aqueles que sentissem que uma escola com professores armados pudesse fornecer
um ambiente mais seguro iriam recompensar com seu dinheiro as escolas que
oferecessem esse serviço. O treinamento e a avaliação dos professores poderiam
ser feitos por instituições do setor privado.
É
válido também mencionar que Israel e Tailândia têm sido citados como exemplos
de como armas nas escolas podem salvar vidas.
A
tragédia da Virgina Tech pode não necessariamente levar a mais controles e
regulamentações sobre a venda de armas, mas provavelmente irá levar a mais controle
sobre as pessoas. Graças à mídia e a muitos funcionários do governo, as
pessoas ficaram acostumadas a ver o estado como seu protetor e como a solução
para todos os problemas. Sempre que algo terrível acontece, principalmente
quando se torna notícia nacional, as pessoas reflexivamente exigem que o
governo faça alguma coisa. Esse impulso quase sempre leva a leis ruins e
à perda de mais liberdade. Isso está em completo desacordo com as melhores
tradições individualistas, como a auto-confiança e a austeridade.
Será
que realmente queremos viver em um mundo repleto de postos policiais, câmeras
de vigilância e detectores de metal? Será que realmente acreditamos que o
governo pode fornecer segurança total? Será que queremos involuntariamente
encarcerar todo indivíduo descontente, perturbado ou alienado que tenha
fantasias sobre violência? Ou será que podemos aceitar que a liberdade é mais
importante do que a ilusão de uma segurança fornecida pelo estado?
É
bem possível que o Congresso ainda venha a usar esse evento terrível para
tentar implementar mais programas obrigatórios de saúde mental. O estado-babá
terapêutico só sabe estimular os indivíduos a se enxergarem como vítimas, e a
rejeitar qualquer responsabilidade pessoal por seus atos. Certamente existem
doenças mentais legítimas, mas é função de médicos e da família, não do governo,
diagnosticar e tratar tais doenças.
A
liberdade não é definida pela segurança. A liberdade é definida pela capacidade
que os cidadãos têm de viver sem interferência governamental. O governo não
pode criar um mundo sem risco, e nem nós iríamos querer viver em ambiente tão
fictício. Apenas uma sociedade totalitária poderia alegar a segurança absoluta
como um ideal válido, porque isso iria requerer um controle total do estado
sobre a vida de seus cidadãos. A liberdade só tem sentido se ainda acreditamos
nela quando coisas terríveis acontecem e um falso manto de segurança
governamental nos acena.
Lew Rockwell é o presidente do Ludwig
von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e
autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State.
Ron Paul é médico e ex-congressista
republicano do Texas. Foi candidato à nomeação para as eleições presidenciais
de 2012. Seu website: http://www.ronpaulcurriculum.com/
Fonte:
Mais um artigo (de 12 de abril de 2011) sequestrado subversivamente do IMB
Veja
mais sobre este assunto: O bem das armas contra a criminalidade (dos assassinose estupradores)
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