Por Paulo
Briguet
É inconcebível que uma pessoa
intelectualmente honesta leia o livro de Reinaldo Arenas e continue defendendo
o regime cubano. A quantidade de sofrimento a que esse homem foi submetido por
Fidel Castro e sua revolução desafia os limites da expressão verbal. Foi
preciso que um escritor de talento sofresse na pele a brutalidade do socialismo
cubano para traduzi-la de maneira adequada. Arenas escreve “com o coração nas
mãos”.
O título “Antes que anoiteça” faz
referência ao período em que o escritor cubano, fugitivo da polícia de Fidel,
escondeu-se nos bosques de um local chamado Parque Lênin. Durante o dia,
escondido nas copas das árvores, ele escrevia seus poemas e memórias. À noite,
era impossível escrever, por causa da escuridão.
Arenas deixou Cuba durante o chamado
“Êxodo de Mariel”, em 1980, quando mais de 100 mil pessoas trocaram o paraíso
socialista pelo exílio nos Estados Unidos. Mariel é esse mesmo lugar em que o
PT está financiando a construção de um porto para a ditadura cubana, com o
dinheiro dos brasileiros.
Em A Brincadeira, Kundera conta a
história de um jovem que resolve escrever um bilhete irônico para a namorada
nos seguintes termos: “O otimismo é o ópio do gênero humano! O espírito sadio
fede a imbecilidade. Viva Trotsky! Ludvik”. A intenção de Ludvik era apenas
impressionar a moça, mas a brincadeira se torna sua desgraça. Considerado
inimigo do regime socialista, ele perde a vaga na universidade e é obrigado a
trabalhar em uma mina de carvão (da mesma forma que Arenas seria obrigado a
trabalhar em um canavial).
O professor José Monir Nasser dizia
que o socialismo é o império da inveja e da delação. Os livros de Kundera e
Arenas retratam perfeitamente essa atmosfera de medo e desconfiança, em que o
suposto amigo pode ser um informante do governo. Se as coisas no Brasil
continuarem seguindo o mesmo rumo, em breve poderemos ser destruídos por uma
brincadeira ou precisaremos escrever nossas opiniões escondidos antes que
anoiteça. Aliás, já anoiteceu. Eles estão – e continuam – no poder.
Fonte: Gazeta do Povo
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