Autor
Steven Horwitz
Em um
mundo no qual as preocupações com o meio ambiente e os recursos naturais
dominam a discussão política e são, para pessoas como Al Gore, “uma missão de
geração [que fornece] um propósito moral” às nossas vidas, é fundamental
pensarmos com clareza sobre questões como essas. A economia pode contribuir
para essa discussão, fornecendo a sua perspectiva sobre palavras como
“escassez” e “recursos”, que são com freqüência contestadas ou mal
compreendidas.
Porém,
a forma como os economistas usam essas palavras é vulnerável à má compreensão.
Por exemplo, alguns ambientalistas acreditam que certos economistas negam a
existência da escassez quando argumentam que nós não estamos verdadeiramente
esgotando nossos recursos ou que a tecnologia pode solucionar qualquer problema
relacionado a essa questão. Os tipos de argumentos criticados pelos
ambientalistas estão mais ligados ao trabalho do falecido Julian Simon, em
particular em sem livro The Ultimate Resource 2 [O recurso
definitivo 2]. Entretanto, as críticas revelam uma profunda má compreensão das
visões de Simon e de outros economistas pró-mercado.
É
absolutamente verdadeiro que os recursos não-renováveis são limitados em termos
físicos. Da perspectiva do geólogo, não há mais do que uma certa quantidade de
petróleo a ser extraída.
Entretanto,
da perspectiva do economista, o que importa não é a quantidade física, mas a
eficiência com que um recurso satisfaz as necessidades humanas. Valorizamos o
petróleo porque desejamos energia. Se através de novas tecnologias pudermos
criar a mesma energia ou mais com menos petróleo, teremos sob certo aspecto
mais petróleo do que tínhamos anteriormente. A quantidade existente de petróleo
poderá então servir a uma quantidade maior de necessidades humanas. Além disso,
a queda dos preços da extração também pode nos levar a encontrar novos campos
ou à extração de recursos já conhecidos anteriormente, mas cujo alcance tinha
um custo muito alto.
Então,
os avanços tecnológicos realmente importam, não por abolirem a escassez, mas
porque nos possibilitam prolongar os recursos que temos para que se tornem
funcionalmente menos escassos do que eram antes.
Quando
falamos de avanços tecnológicos, na verdade queremos dizer formas novas e mais
eficientes de alcançarmos os fins para os quais os recursos antigos eram meios.
Uma nova tecnologia pode nos possibilitar o uso de um recurso já existente,
como o petróleo, de forma mais eficiente, mas também pode nos possibilitar
soluções novas para o mesmo problema. Por décadas, a voz humana e dados foram
transmitidos por cabos de cobre. Com o tempo, o preço do cobre subiu a um
patamar que incentivou os empreendedores a encontrar outra forma para o
fornecimento do mesmo serviço. Assim, eles desenvolveram um cabo de fibra
ótica, tendo a areia como base, que pode transportar uma quantidade de dados
milhares de vezes maior, por uma fração do custo do cobre. O desenvolvimento de
embalagens de bebidas – caixas de suco – tem uma história similar, e vale a
pena perceber que a diminuição de seu peso também reduziu o consumo de gasolina.
Quando
os economistas dizem que “nunca esgotaremos os nossos recursos”, o que
geralmente querem dizer é que ao nos depararmos com a crescente escassez de um
recurso, nós sempre encontraremos novas soluções para o problema que aquele
recurso solucionava originalmente. É importante perceber que o recurso
econômico real não era o cobre, mas “a capacidade de se transportar voz e
dados”. E esse recurso se tornou “menos escasso” com a substituição pela areia.
Isso ilustra a idéia de Simon de que o “recurso fundamental” é a criatividade
humana que encontra maneiras novas e melhores de utilizar os recursos físicos.
Embora
a tecnologia possa consertar coisas, ela não existe no vácuo. As soluções
tecnológicas emergem porque as instituições econômicas corretas estão a postos.
O mercado dá sinais que informam às pessoas que um recurso está ficando mais
escasso e fornece incentivos para que o problema seja solucionado. Mesmo alguns
críticos dos argumentos ambientalistas se esquecem desse ponto. O papel das
instituições fica mais claro quando analisamos questões em que a tecnologia não
impediu o esgotamento dos recursos, como no caso da pesca excessiva, ocorrida
em razão da ausência da propriedade privada e do aumento do preço dos peixes,
que criou a “tragédia dos comuns”. A tragédia ocorre quando ninguém tem
incentivo algum para poupar o recurso. E isso não é uma falha da tecnologia,
mas é uma falta de instituições apropriadas. Se os comuns fossem privatizados,
existiriam incentivos para o desenvolvimento de tecnologias para a conservação
dos recursos.
A preocupação central da economia
O que
é absurdo nas críticas aos economistas por não se importarem com a escassez dos
recursos naturais é que o problema da escassez – e como lidar com ela – está no
centro da disciplina. Toda a idéia dos livres mercados se baseia na alocação
mais eficiente de recursos para fazer a escassez recuar e na comunicação
eficiente quando um recurso se torna tão escasso que é preciso limitar seu uso
e encontrar substitutos. É isso que os preços de mercado determinados através
da troca de propriedade privada fazem. Também é por isso que muitos economistas
têm preocupações quanto às mudanças institucionais defendidas por muitos
ambientalistas. As limitações sobre a possibilidade de se possuir propriedades
minam exatamente os processos que resolveriam muitos dos problemas que eles
identificam.
Podemos
provar que a tecnologia sempre fornecerá uma alternativa quando um recurso se
tornar muito escasso? De maneira realista, não. Podemos citar vários argumentos
teóricos e históricos, mas não podemos dar 100% de certeza. Entretanto, as
evidências e a teoria predominantemente indicam que esgotamos os recursos
quando as instituições de mercado estão em seus lugares e as pessoas são mais
ou menos livres. Certamente os mercados não solucionam os problemas de forma
perfeita, mas as imperfeições não fazem as instituições alternativas serem
melhores. Elas poderão muito bem ser piores.
A
escassez é como a gravidade: é onipresente e grande parte da nossa vida é gasta
na luta para encontrarmos formas de vencê-la. A existência de elevadores e
aviões não é evidência de que a gravidade é apenas um mito. Eles são nossas
tentativas de desafiar exatamente essa realidade. Os elevadores melhoram nossas
vidas ao nos fornecer uma forma de resistirmos à gravidade e reduzirmos as
formas pelas quais ela pode frustrar nossos esforços.
As
instituições do mercado nos permitem resistir à escassez tanto quanto possível,
da mesma forma que os elevadores fazem com a gravidade, e, ao fazerem isso,
tornam consideravelmente mais fácil para os indivíduos atingirem seus
objetivos.
Alguns
críticos dos argumentos econômicos em favor dos mercados também sugerem que os
economistas fazem pouco da escassez quando afirmam que os mercados são “jogos”
de soma positiva. É verdade que os economistas compreendem que as trocas criam
riqueza para todas as partes, enquanto os críticos parecem acreditar que
quaisquer ganhos são compensados por perdas ou mesmo que a riqueza de alguns
causa a pobreza do resto. À primeira vista, alguém pode perceber porque essa
crítica pode ser válida: como o comércio cria riqueza a partir do nada? Será
que isso não parece sugerir que nós estamos negando a escassez?
De
jeito nenhum. A curto prazo, o comércio – seja ele entre duas pessoas ou um ato
de produção que comercialize insumos por produtos – melhora a vida das pessoas.
Isso não resulta na criação de mais matéria física, mas no rearranjo do que já
existia para fazer disso algo de mais valor para os seres humanos. Enquanto
cada um de nós pensar que obteremos vantagens a partir da realização de uma
troca, os benefícios mútuos não necessitarão da negação da escassez; pelo
contrário, o comércio é mais uma forma de se afastá-la.
Esse
benefício mútuo reforça a idéia de que o valor é um produto da mente humana e
não do mundo físico objetivo. Na verdade, nós nem podemos compreender o
conceito “recurso” sem reconhecer essa idéia. Durante a maior parte da história
humana, o petróleo foi um incômodo. As pessoas não queriam terras com petróleo,
porque ele poluía o solo. Entretanto, uma vez que as mentes humanas
compreenderam que ele poderia ser convertido em energia, o petróleo se tornou
um recurso, e à medida que começamos a buscar substitutos, como aconteceu com
os cabos de cobre, ele se tornará cada vez menos um recurso. A partir de uma
perspectiva econômica, o que faz algo ser um recurso e o que determina a sua
escassez é a interação entre a sua quantidade física e a percepção da mente
humana de que ele pode satisfazer as nossas necessidades.
A
longo prazo, os benefícios do comércio, quando combinados com as instituições
do mercado, criam a riqueza que as pessoas poderão poupar para financiar os
investimentos que gerarão produtos melhores e mais baratos para ser
comercializados. O crescimento econômico real, tangível, acontece não apenas
para os ricos, mas para todos. Mais uma vez, nós estendemos ainda mais os
recursos que temos.
Deixando
de lado a teoria, também seria difícil negar que vários séculos de mercados
mais ou menos livres produziram um aumento imenso nos padrões de vida dos mais
pobres no ocidente. O mesmo está começando a acontecer em outros lugares.
Argumentar que a riqueza dos ricos é a causa da pobreza dos pobres (o argumento
de que “alguns ganham à custa dos outros”) contraria os fatos históricos.
A
pobreza e a mortalidade infantil foram normais durante a história. O poder da
propriedade privada, do livre comércio e dos mercados para mudar essa norma foi
a maior força do progresso na história humana. A escassez é real e causa
grandes sofrimentos para os homens, e é por isso que nós precisamos de
instituições de mercado genuínas para continuarmos a reduzir os seus efeitos,
principalmente sobre aqueles que mais sofrem.
Fonte:
Ordem Livre
Clique aqui para ler o artigo original em
inglês.
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