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Magia Negra da Desinformação
Por Carlos
I. S. Azambuja
O texto abaixo é o
resumo de um dos capítulos do livro “Desinformação”, escrito pelo Tenente-General
Ion Mihai Pacepa – foi chefe do Serviço de Espionagem do regime comunista da
Romênia. Desertou para os EUA em julho de 1978, onde passou a escrever seus
livros, narrando importantes atividades do órgão por ele chefiado, e que
influenciaram diretamente alguns momentos históricos do Século XX -, e pelo
professor Ronald J. Rychlak - advogado, jurista, professor de Direito
Constitucional na Universidade de Mississipi, consultor permanente da Santa Sé
na ONU, e autor de diversos livros -. O livro foi editado no Brasil em novembro
de 2015 pela editora CEDET.
Faz muitos anos que escapei daquela sociedade mal
conhecida como império soviético e vim para os EUA, a terra dos meus sonhos de
juventude. Milhões de pessoas ao redor do mundo se tornaram cidadãos deste país
único. Soou um dos afortunados que o conseguiram. Ainda hoje me é difícil
encontrar palavras apropriadas para expressar minha gratidão ao governo
americano por ter generosamente me dado asilo político, a despeito do meu cargo
no topo da comunidade dos serviços de Inteligência soviéticos.
Em 1981 me casei com uma verdadeira patriota
americana, escritora magnífica e excelente lingüista. Mari Lou me ajudou a me
tornar um verdadeiro americano e passou os melhores anos de sua vida me
ajudando a dominar o inglês e a sobreviver, apesar das duas sentenças de morte
postas sobre minha cabeça e das recompensas multimilionárias pelo meu couro.
Também me ajudou, dia após dia, a construir uma nova vida sob uma nova
identidade de segurança, fornecida pela CIA. Não foi fácil para Mary Lou, já
que o homem que iria habitar esta nova pele não tinha nenhum passado verdadeiro
sobre o qual falar, ou amigos de outros tempos com os quais contar.
Após a CIA descobrir que o serviço de espionagem de
Muammar Gaddafi conseguira persuadir dois ex-funcionários da CIA – que
escaparam de ser presos, desertando para a Líbia – a fornecer informação
interna da agência sobre meu paradeiro em troca de 1 milhão de dólares, a CIA
me deu uma nova identidade e, mais uma vez, começamos nova vida do zero. Novo
nome, novo passado, nova cidade, nova casa, novos clubes, novos amigos.
O meu primeiro livro foi “Horizontes Vermelhos”. Em 1987, o deputado federal Frank Wolf e o falecido senador Jesse Helms levaram para o presidente Reagan a primeira cópia impressa do “Horizontes Vermelhos”, que o teria chamado de “minha bíblia para lidar com ditadores”.
No dia 11 de março de 1989, uma foto na revista
Time mostrou “Horizontes Vermelhos” na mesa do presidente George Herbert Walker
Bush.
A data de 28 de julho de 1989 foi o mais importante
ponto de referência da minha nova vida. Nesse dia me tornei cidadão americano.
Também nesse dia a CIA distinguiu-me como a única pessoa no mundo ocidental a
ter demolido sozinha todo um serviço de espionagem inimigo – o mesmo que eu
administrara. E recebi a seguinte carta, assinada pelo diretor de Operações da
CIA. Essa carta tornou-se o presente mais importante que recebi em toda a minha
vida:
“Querido
Tenente-General Ion Pacepa
Você deu uma
contribuição importante e única aos EUA, da qual você só pode se orgulhar.
Assim, tenho grande prazer, nesta ocasião importante e solene, de lhe desejar
felicidade e realizações neste país na condição de cidadão americano”.
Em 9 de novembro de 1989, enquanto eu estava
sentado diante da televisão vendo o Muro de Berlim ir abaixo, meus olhos se
encheram de lágrimas. Eu estava inacreditavelmente orgulhoso de ser um cidadão
dos EUA. O mundo inteiro estava expressando sua gratidão a este grande país por
seus 45 anos da vitoriosa Guerra Fria contra o marxismo e o império soviético.
No Natal de 1989, o tirano Nicolae Ceauscescu foi
executado ao fim de um julgamento no qual as acusações vieram quase que palavra
por palavra de “Horizontes Vermelhos”. Em 1 de janeiro de 1990, o novo jornal
romeno Adevarul (”A Verdade”) começou uma publicação seriada do meu
livro.
Na matéria principal, o jornal explicava que a
transmissão em programa seriado do livro pela rádio Europa
Livre desempenhara um papel incontestável na derrubada de Ceauscescu. De
acordo com um programa da rádio Romênia Internacional, “as ruas das
cidades romenas ficavam vazias” durante a transmissão seriada do meu livro.
“Horizontes Vermelhos” veio a ser publicado em 27
países e, em 2010, o Washington Post recomendou que fosse incluído na lista de
livros que deveriam ser lidos nas escolas, ao lado de “Testemunha”, de Withaker
Chambers¹.
Enfim, continuei escrevendo.
A Desinformação causou danos mundiais à reputação
dos EUA e agora está fincando raízes nesse e em outros países. Para combatermos
essa arma invisível, primeiro temos que reconhecê-la e o que ela é e decifrar
sua missão velada, uma vez que é costumeiramente apresentada em vestes civis
inócuas, assim como os terroristas que mataram 34 mil americanos no 11 de
setembro.
Este é o propósito do livro DESINFORMAÇÃO.
(*)David Whittaker
Chambers foi um escritor e editor norte-mericano. Após seus
primeiros anos como membro do Partido Comunista e da espionagem soviética,
renunciou ao comunismo, tornou-se um oponente franco, e testemunhou no processo
em que Alger Hiss foi condenado por perjúrio e espionagem. Ele descreveu
esses eventos em seu livro Testemunha, publicado em 1952.
Carlos I. S. Azambuja é
Historiador e Autor do livro “A Hidra Vermelha”.
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Por Victor Gaetan
A era soviética é um capítulo profundamente trágico
na história da Igreja Católica.
Embora o Cristianismo triunfou — a perspectiva do
Evangelho acerca da dignidade individual derrotou o materialismo e a luta de
classes de Marx — perdemos muito: milhares de cristãos devotos, inclusive
bispos assassinados e presos, propriedades da Igreja Católica confiscadas e
destruídas, gerações de católicos que não foram catequizados e a supressão dos
sacramentos.
Nenhum livro abrangente foi ainda escrito sobre a
visão e bravura da Igreja Católica contra o comunismo (embora o papel central
do Bendito João Paulo II tenha sido bem descrito em alguns).
Mas um livro recente dizendo-se capaz de oferecer
novas informações sobre essa parte da história em vez disso traz confusão e
exageros.
“Disinformation: Former Spy Chief Reveals Secret
Strategies for Undermining Freedom, Attacking Religion and Promoting Terrorism”
(Desinformação: Ex-Chefe de Espiões Revela Estratégias Secretas para Minar a Liberdade,
Atacar a Religião e Promover o Terrorismo), escrito pelo ex-tenente-geral
romeno Ion Mihai Pacepa e por Ronald Rychlak, professor de direito da
Universidade do Mississippi, é marcado por erros significativos que falsificam
tanto a história quanto os desafios contemporâneos que a Igreja Católica
enfrenta.
Uma estranheza acerca de “Desinformação” é sua
autoria. Os autores são especificados, mas só um faz a narração. Pacepa é uma
ex-autoridade comunista intensamente polêmica cuja deserção para os Estados
Unidos em 1978 ainda não é bem compreendida. Pacepa, de 84 anos, nunca aparece
em público, não responderá a perguntas por telefone e responde a emails apenas
por terceiros, um dos quais me disse: “Nem sei se ele existe!”
Seu coautor é Ronald Rychlak, um professor de
direito católico mais bem conhecido por seu livro “Hitler, the War and the
Pope ” (Hitler, a Guerra e o Papa), uma defesa bem pesquisada do histórico
do Papa Pio XII durante a 2ª Guerra Mundial. Em “Desinformação,” campanhas
esquerdistas para difamar o Papa Pio são apresentadas como um exemplo da
máquina de propaganda do Kremlin.
O que Rychlak contribui, extraído de sua obra
anterior sobre o Papa Pio, parece sólido; o que Pacepa acrescenta, extraído de
seu passado sórdido como capanga e estrategista stalinista por 27 anos na
Romênia, é na melhor das hipóteses questionável.
A História e Pacepa
Seis anos atrás, Pacepa revelou um relato
preocupante de que ele ajudou a KGB a se infiltrar nos Arquivos Secretos do
Vaticano para roubar documentos a fim de incriminar falsamente o Papa Pio XII.
No artigo “Moscow’s Assault on the Vatican” (O
Ataque de Moscou ao Vaticano), publicado em 2007, Pacepa afirmou estar
convencido de que o monsenhor Agostino Casaroli, diplomata lendário do Vaticano
— posteriormente cardeal e secretário de Estado sob o Papa João Paulo II —
permitiu que três agentes romenos, posando de padres, examinassem os arquivos
papais.
Sob análise, a história de Pacepa começou a se
desfazer, com dúvidas expressas por historiadores e especialistas do Vaticano.
Então a razão que Pacepa afirmou para ter
credibilidade junto ao Vaticano se desmoronou: Ele disse que havia criado um
“negócio de espiões” em 1959, trocando Augustin Pacha, arcebispo romeno preso,
por dois espiões apanhados na Alemanha Ocidental. Mas o arcebispo Ioan Robu de
Bucareste mostrou fotos da cripta do bispo de 1954, explicando que o homem
heroico já estava morto quando Pacepa afirmou tê-lo libertado.
Em “Desinformação,” Pacepa tenta de novo vender a
história da infiltração no Vaticano. O livro não acrescenta nenhuma evidência
nova para apoiar as alegações dele. Contudo, “Desinformação” acrescenta
combustível para um debate permanente acerca o próprio passado de Pacepa.
O Envolvimento de Casaroli
Uma das afirmações surpreendentes que Pacepa faz,
no artigo e no livro, é que, numa reunião face a face em Genebra, o monsenhor
Casaroli concordou “em princípio” dar à Romênia um empréstimo sem juros de 1
bilhão de dólares em troca da restauração de plenas relações diplomáticas com o
Vaticano — relações que foram rompidas de modo dramático em 1950, quando a
Romênia expulsou o núncio apostólico.
Ao lançar suspeitas sobre o caráter e a capacidade
do cardeal Casaroli discernir, Pacepa mina a integridade de toda a estratégia
do Vaticano entre 1963 e 1989 conhecida como “Ostpolitik.”
Essa política envolvia manter diálogo com governos
comunistas a fim de ajudar a Igreja Católica e seus membros perseguidos atrás
da Cortina de Ferro sem legitimar ditaduras. Em sua autobiografia, o cardeal
Casaroli descreveu esse esforço como “excepcionalmente difícil.”
O Vaticano estava convencido de que a repressão
comunista acabaria levando à queda da ideologia inteira. O cardeal Casaroli
comparou o comunismo a uma árvore imensa que parece grande e poderosa, mas que
por dentro está apodrecendo.
De acordo com o cardeal Achille Silvestrini, que
auxiliava o cardeal Casaroli, o emissário trabalhou diretamente para três papas
em tarefas específicas; ele não era um negociante embusteiro fazendo
negociações suspeitas com oportunistas comunistas de nível médio.
“O cardeal Casaroli começou em 1963, de um modo
muito organizado, como resultado de muita ponderação no nível mais elevado. É
impossível que ele tenha conversado sobre dinheiro ou um empréstimo com esse
homem [Pacepa] ou usado seu escritório para facilitar espiões,” o cardeal
Silvestrini disse ao Register.
De acordo com o monsenhor Gabriele Caccia, assessor
da Secretaria de Estado da Santa Sé, nunca se fez nenhum empréstimo para a
Romênia.
Os cardeais Giovanni Cheli e Luigi Poggi,
diplomatas do Vaticano, estavam envolvidos em negociações com a Romênia e o
bloco soviético. O cardeal Cheli chamou as alegações de Pacepa de “cenários
mentirosos,” enquanto o cardeal Poggi os declarou “produtos de uma mente e alma
perturbadas.”
O arcebispo Robu, que foi consagrado pelo cardeal
Casaroli, enfaticamente chama de falso o que Pacepa disse: “Saberíamos, estaria
em nossas memórias, se espiões romenos ganhassem acesso aos Arquivos do
Vaticano. Não aconteceu.”
Profundamente anti-russo
No geral, “Desinformação” é agressivamente
anti-russo. Pacepa não faz diferença entre a era soviética e a era
pós-comunista.
A descrição cáustica que Pacepa faz da Rússia e da
Igreja Ortodoxa hoje contradiz de modo direto a política do Vaticano. O
Vaticano vê a Rússia, junto com a Europa e a América Latina, como parte da
civilização ocidental — e um baluarte contra as tendências anticristãs.
O Papa Bento 16 estabeleceu plenas relações
diplomáticas com a Rússia e diálogo intenso com a Igreja Ortodoxa (que
representa 71% da população da Rússia), que está experimentando um
renascimento. As duas igrejas estão mais próximas hoje do que talvez em
qualquer tempo desde o Cisma Oriente-Ocidente de 1054.
Em “Desinformação,” Pacepa atribui tudo a operações
da KGB, desde conspirar para assassinar o presidente americano John F. Kennedy
até provocar o nascimento do extremismo islâmico. Em cada cenário, ele se
retrata como alguém que viu com os próprios olhos a história — quando sua
verdadeira patente e descrição de cargo nunca explicariam acesso a esses
eventos e decisões.
A Vizinhança que O Conhece
Larry Watts, historiador americano e especialista
em inteligência que assessorou o governo romeno pós-comunista acerca de como
impor controle sobre as agências de espionagem da Romênia (e fazê-las ficar em
conformidade com as normas da OTAN), publicou um estudo importante sobre o
relacionamento da Romênia com a União Soviética, “With Friends Like These: The
Soviet Bloc’s Clandestine War Against Romania” (Com Amigos Assim: A Guerra
Clandestina do Bloco Soviético contra a Romênia), em 2010, com base em
pesquisas extensas em arquivos da Alemanha Oriental, União Soviética e Romênia.
Watts conclui que Pacepa deve ter sido um espião da
KGB, em grande parte pelo modo como ele tentou abalar o relacionamento entre
EUA e Romênia quando ele desertou para os Estados Unidos em 1978, fazendo
negociações mediante o argumento de que a Romênia era um cavalo-de-troia dos
interesses soviéticos.
A hipótese de Watts acerca de Pacepa foi recebida
como uma bomba na Romênia, principalmente porque significa que ele é um
traidor: Um agente soviético trabalhando na Romênia, principalmente depois de
1958, estaria dirigindo eventos contra as preferências e interesses da Romênia.
Dois meses atrás, um simpósio importante num museu
de Bucareste foi realizado com o título “O Arquivo Pacepa.” O simpósio reuniu
intelectuais, historiadores, jornalistas e políticos que lidaram com assuntos
em torno de Pacepa, inclusive se ele era um agente da KGB ou não.
Um assunto foi a credibilidade de Pacepa,
considerando o papel dele como iniciador de crimes contra opositores
anticomunistas. De acordo com Dinu Zamfirescu, assessor científico do
presidente do Instituto de Investigação de Crimes Comunistas e autoridade da
CNSAS, Pacepa assinou ordens para incriminar falsamente e assassinar
anticomunistas exilados.
O documento oficial Plan de Masuri (Planos
Operacionais contra um Alvo), assinado por Pacepa, ordenava “intimidação frequente
e a aplicação de medidas físicas corretivas” contra funcionários da Rádio
Europa Livre. A CNSAS concluiu em 2006 que Pacepa era um agente da polícia
política comunista da Romênia.
Quando perguntado em 2007 pelo serviço noticioso
Zenit o que ele achava da história de Pacepa, o Pe. Peter Gumpel, relator do
caso da canonização do Papa Pio XX, explicou seu ceticismo, dizendo: “É
necessário levar em consideração que os espiões precisam justificar sua
existência e precisam dar valor a coisas que têm pouca ou nenhuma importância.”
Apesar da intenção de defender o Papa Pio XII, a
pose de Pacepa em “Desinformação” é audaciosa e insincera. Os leitores precisam
tomar cuidado.
Victor Gaetan, que
vive em Washington, é correspondente do National Catholic Register (Registro
Católico Nacional). Ele é colunista da revista Foreign Affairs (Assuntos
Estrangeiros). Em 2011 ele recebeu o prêmio máximo da Associação de Impressa
Católica dos EUA por uma série de artigos no Register sobre Cuba.
Tradução: Julio
Severo
consegue em pdb o livro?
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