O
psicólogo americano Leon Festinger (1919-1989) desenvolveu, a partir de 1957, a
teoria da Dissonância Cognitiva para explicar a necessidade que as pessoas têm
de manter coerência entre os valores que professam e suas atitudes ou
comportamentos. Quando se constatam discrepâncias entre esses elementos, ocorre
a dissonância, acarretando níveis distintos de desconforto emocional ou
existencial, desequilíbrio dinâmico indispensável, no entanto, ao processo de
evolução intelectual imposto pela mudança constante do meio social.
Como
regra, os indivíduos evoluem, lentamente, com graus variados de ansiedade, como
mecanismo adaptativo às mudanças sociais. Muitos indivíduos, porém, inaptos
para conviver com o caráter dialético da vida, agarram-se às suas convicções e,
por insegurança psicológica, ignoram as evidências em que baseiam suas crenças,
bem como a lição de Nietzsche, segundo a qual o oposto da verdade não é a
mentira, mas a convicção.
Um
meio desastrado de defender o ego, insurgindo-se contra o nível básico da
lógica, de modo a assegurar o contexto de suas preferências adaptativas, ainda
que ao preço de uma percepção distorcida dos fatos. Isso se verifica em
quaisquer ambientes: familiar, laboral e social de toda natureza.
Tal
é o que sucede a parcela ponderável dos que defendem o retorno do PT, ao
ignorarem os inúmeros males que esse partido praticou contra o povo brasileiro,
numa escala sem precedentes na História do Mundo. Para efeito de explicar a que
segmento nos referimos, iniciemos por uma visão da pirâmide eleitoral do
Partido dos Trabalhadores que tem:
1
- Na base a grande massa das populações iletradas do País, algo em torno de
80%, compostos pelos brasileiros de menor escolaridade, entre analfabetos e
concluintes do ensino secundário. Essa massa inculta aceita, por ignorância,
sem tugir nem mugir, o papel de escravos da corte, louvando os algozes que lhes
subtraíram recursos que deveriam ser destinados para a construção do seu
bem-estar, numa masoquística prática coletiva da Síndrome de Estocolmo.
2
- Em seguida, vêm membros da classe média, integrada por profissionais liberais,
predominantemente, de desempenho modesto, e aposentados, dotados de
conhecimentos medianos, insuficientes para a formulação de uma avaliação
crítica consistente. Esses são os que mais padecem da dissonância cognitiva,
razão pela qual continuam adeptos do PT por não serem capazes de reconhecer os
enormes desvios de conduta que esse partido praticou quando esteve no poder.
3
- Logo acima, de número mais reduzido, os que têm sinecuras, que mamam nas
tetas do governo, inclusive professores universitários que substituem o
rendimento acadêmico por reiterada declaração de fidelidade ideológica, meio
apto a assegurar o reconhecimento de prestígio, não obstante suas notórias
fragilidades, como se pode depreender do baixo rendimento das universidades
públicas brasileiras, inteiramente adonadas pelos que se autoproclamam da
esquerda intelectual, figurante entre as mais atrasadas do Planeta.
4
- No topo da pirâmide, os políticos espertalhões, coronéis desse grande
latifúndio que tem como capo di tutti i capi o presidiário Luiz Ignácio Lula da
Silva, que, ao final do julgamento dos processos a que responde deverá disputar
com o ex-governador Sérgio Cabral a liderança no número de anos de condenação.
Essa
dissonância cognitiva que oblitera a percepção dos que defendem o fim da Lava
Jato, a soltura de Lula e sua eleição para a Presidência, só se tornou possível
graças ao aparelhamento gramsciano da Universidade Pública brasileira, como é
do conhecimento geral dos que pensam.
Ao
perceber a inutilidade do genocídio praticado por Lênin e Stalin na União
Soviética, como meio de forçar a aceitação do socialismo imposto pela Revolução
Comunista de 1917, Antônio Gramsci, filósofo italiano, desenvolveu poderosa
linha argumentativa, demonstrando a importância de fazer a cabeça dos
formadores de opinião, tornando-os absolutamente resistentes à evidência dos
fatos e aos traumas produzidos pelo que mais tarde viria a ser batizado como
dissonância cognitiva.
É
por isso que pessoas honestas e inteligentes que integram nosso universo
afetivo nos deixam boquiabertos, ao defenderem o indefensável retorno do PT ao
exercício de um poder que desonrou de um modo sem precedentes na geografia e no
tempo.
É
imperioso dever de solidariedade, de generosidade e de ética elementar tratar
estas pessoas, num momento de tanta fragilidade moral, de um modo gentil e
paciente, até porque este momento tenso da vida brasileira deverá chegar ao seu
clímax no próximo dia 28, quando, para felicidade geral da nação, veremos o PT
dar adeus às armas, com a vitória do slogan: PT nunca mais!
Joaci Góes é Articulista.
Originalmente publicado na Tribuna da Bahia em 18/10/18. O autor dedica o texto
a Gorgônio José de Araújo Neto, amigo de toda a vida. Fonte: http://www.alertatotal.net/2018/10/dissonancia-cognitiva.html
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