por Thomas Sowell,
Alguns anos atrás, uma pessoa disse que, de acordo
com as leis da aerodinâmica, um abelhão não pode voar. Mas os abelhões,
alheios às leis da aerodinâmica, vão em frente, contrariam os dizeres dos
especialistas, e voam assim mesmo.
Algo semelhante ocorre entre as pessoas.
Enormes e tediosos estudos acadêmicos, bem como melancólicos e sombrios
editoriais de determinados jornais, são produzidos às pencas lamentando o fato
de que a maioria das pessoas pobres e negras não consegue ascender socialmente,
e que isso seria uma fragorosa demonstração de discriminação.
O curioso é que, em vários países ao redor do
mundo, inclusive naqueles países chamados de terceiro mundo, vários imigrantes
extremamente pobres, principalmente oriundos da Ásia, não apenas conseguem
prosperar mesmo sendo de uma cultura totalmente distinta, como também conseguem
enriquecer sem jamais recorrer a favores especiais e a políticas de ação
afirmativa.
Normalmente, estes imigrantes asiáticos chegam a um
novo país praticamente sem nenhum dinheiro, sem nenhum conhecimento do novo
idioma e sem nenhuma afinidade cultural. Eles frequentemente começam
trabalhando em empregos de baixa remuneração. Mas trabalham muito.
A norma é trabalharem em mais de um emprego. Trabalham tanto que
conseguem poupar e, após alguns anos, utilizam esta poupança para empreender.
Muitos abrem um pequeno comércio, no qual continuam trabalhando longas horas e
ainda continuam poupando, de modo que se tornam capazes de mandar seus filhos
para a escola e para a faculdade. Seus filhos, por sua vez, sabem que
seus pais não apenas esperam, como também exigem, que eles sejam igualmente
disciplinados, bons alunos e trabalhadores.
Vários intelectuais já tentaram explicar por que os
imigrantes asiáticos são tão bem-sucedidos tanto em termos educacionais quanto
em termos econômicos. Frequentemente chega-se à conclusão de que eles
possuem algumas características especiais. Isso pode ser verdade, mas seu
sucesso também pode ser atribuído a algo que eles não têm:
"líderes" e autoproclamados porta-vozes lhes dizendo diariamente que
são incapazes de prosperar por conta própria, que o sistema está contra eles,
que eles não têm chance de ascender socialmente caso não sigam os slogans
repetidos mecanicamente por estes líderes e sociólogos, e que por isso devem se
juntar sob o rótulo de "vítimas do sistema" e exigir políticas
especiais e tratamento diferenciado.
Vá a qualquer país, seja ele rico ou em
desenvolvimento, e pesquise sobre a existência de "líderes" e de
grupos de interesse voltados para a promoção de políticas de ação afirmativa
para os asiáticos. Você não encontrará. Você não encontrará
sociólogos dizendo que os imigrantes asiáticos, por serem minoria e por estarem
culturalmente deslocados, estão em desvantagem e que por isso o governo deve
criar leis de cotas para ajudá-los a ascender socialmente.
Infelizmente, é exatamente esta linha de
raciocínio, só que em relação aos negros, que vem sendo diariamente propagada
por acadêmicos e sociólogos irresponsáveis. Eles são a versão humana das
leis da aerodinâmica, que dizem precipitadamente que determinadas pessoas não
podem ascender e prosperar a menos que haja um empurrão do governo.
Aquelas alegações morais que foram feitas no
passado por gerações de genuínos líderes negros — alegações que acabaram por
tocar a consciência de várias nações e que viraram a maré em prol dos direitos
civis para todos — hoje foram desvalorizadas e apequenadas por uma geração de
intelectuais, sociólogos e autoproclamados "líderes" de movimentos
raciais que tratam os negros como seres abertamente incapazes de prosperar sem
a ajuda destes pretensos humanistas, os quais agem abertamente de acordo com
uma agenda política de escusos interesses próprios.
O que é perfeitamente perceptível é que, ao longo
das gerações, as pessoas que dizem falar em prol do "movimento negro"
sofreram uma mutação de caráter: se antes possuíam uma alma nobre, hoje não
passam de charlatães descarados. Após a implantação definitiva de
políticas de ação afirmativa nos EUA, esses charlatães perceberam que era muito
fácil ganhar dinheiro, poder e fama ao redor do mundo ao simplesmente se
dedicarem à promoção de ações e políticas raciais que são totalmente
contraproducentes aos interesses das pessoas que eles próprios dizem liderar e
defender.
No passado, vários outros grupos de imigrantes
também representavam minorias que tinham tudo para ser consideradas oprimidas e
discriminadas, pois chegavam a outros países quase sem nenhum dinheiro, com
pouquíssima educação e com total desconhecimento da cultura local, mas que não
obstante ascenderam por conta própria, muito provavelmente porque não foram
"privatizadas" por líderes raciais. Imigrantes e outras
minorias que nunca tiveram "porta-vozes" e "líderes"
raramente dependeram de subsídios do governo e quase sempre apresentaram altos
níveis educacionais obtidos com o esforço próprio.
Grupos que ascenderam da pobreza à prosperidade
raramente o fizeram por meio de líderes étnicos ou raciais. Ao passo que
é fácil citar os nomes de vários líderes do "movimento negro" ao
redor do mundo, tanto atuais quanto os do passado, quantos são os lideres
étnicos que defendem os interesses dos asiáticos ou dos judeus em países em que
eles são a minoria?
Ninguém pode negar que há anti-semitismo e que já
houve discriminação aos asiáticos. Sempre houve. Mas eles nunca
seguiram "líderes" cujas mensagens e atitudes serviram apenas para
mantê-los presos à condição de bovinos.
Essa postura de dizer aos seus
"seguidores" que eles são mais atrasados, tanto econômica quanto
educacionalmente, por causa de outros grupos "opressores" — e que,
portanto, eles devem odiar estas outras pessoas — tem paralelos na história
recente. Essa foi a mesma motivação utilizada pelos movimentos
anti-semita no Leste Europeu no período entre-guerras, pelos movimentos
anti-Ibo na Nigéria na década de 1960, e pelos movimentos anti-Tamil, que
fizeram com que o Sri Lanka, outrora uma nação pacífica e famosa por sua
harmonia intergrupal, se rebaixasse, por influência de intelectuais, à
violência étnica e depois se degenerasse em uma guerra civil que durou décadas
e produziu indescritíveis atrocidades.
Será tão difícil entender, mesmo com todos os
exemplos históricos, que o progresso não pode ser alcançado por meio de líderes
raciais ou étnicos? Tais líderes possuem incentivos em demasia para
promover atitudes e políticas polarizadoras que são contraproducentes para as
minorias que eles juram defender e desastrosas para o país. Eles se
utilizam das minorias para proveito próprio, atribuindo a elas incapacidades
crônicas que supostamente só podem ser resolvidas por políticas que eles irão
criar. Eles são os verdadeiros racistas.
Thomas Sowell, um dos mais influentes economistas
americanos, é membro sênior da Hoover Institution da Universidade de Stanford.
Seu website: www.tsowell.com.
Tradução de Leandro Roque
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