Por Ricardo Felício e Daniela Onça.
Nos anos
de 1970 foi amplamente divulgada, como pregação quase que religiosa, o medo da
desertificação. A seguir a este pré-teste, o ozônio e sua variabilidade
apareceram como um primeiro problema a atingir a escala mundial, como se
causado diretamente pelo Homem. Seguia-se, desta forma, uma agenda criada no
Clube de Roma, em 1962, onde se traçava o futuro da humanidade.
OS MITOS
SOBRE O OZÔNIO:
UM RESGATE
DAS ORIGENS DA DISCUSSÃO – I
Assim como
não existe vida como a conhecemos sem dióxido de carbono (CO2), não existe
ozônio natural (O3) sem luz solar. Estas são afirmações que não podem ser
refutadas. Desta forma, faz-se necessário entender o processo de formação do
ozônio, sua variação e o histórico que registrou a considerada “falácia
científica do século XX”, onde um fenômeno natural foi transformado em uma
emergência global.
O ozônio é
conhecido desde a Antiga Grécia, que não era compreendido como um gás, mas já
associavam a sua presença ao mau tempo. O prefixo “ozo” vem deste mesmo povo
que lhe atribuiu o significado de “com aroma ou cheiro forte e característico”;
algumas definições o descrevem como penetrante e desagradável. A literatura
registrou ao químico alemão Christian Friedrich Schönbein a descoberta desta
molécula, exatamente como os gregos a pressentiam: pelo cheiro acre, oxidante e
forte que aparecia durante as trovoadas, as quais, através de seus relâmpagos,
fazem a eletrossíntese das moléculas, utilizando o próprio oxigênio molecular
(O2) presente no ar (TOMASONI, 2011). Desta forma, ela necessita de energia
para a sua formação, e por ser uma substância altamente reativa, constitui-se
de uma das componentes variáveis da atmosfera da Terra, que se recicla o tempo
todo em processos naturais, dos quais o principal, a radiação solar, será
abordada neste artigo.
.
As
Primeiras Camadas da Atmosfera e a Formação do Ozônio
O
entendimento da formação do ozônio necessita da interpretação de alguns pontos
básicos e importantes da física e química da atmosfera. A constituição dos
gases atmosféricos apresenta-se praticamente estável até a altitude de 80km. Os
gases majoritários são nitrogênio, com 78,0% e oxigênio, com 21,0%. O argônio
elenca a terceira e baixa posição, com apenas 0,93%. Todos os outros são
chamados de traços, contidos em 0,07%. O gás oxigênio, com dois átomos em sua
formação, é chamado de oxigênio molecular. Atua como a matéria prima para a
formação do gás ozônio, que se tornará um estado transitório do oxigênio,
quando passar a possuir três átomos em sua formação. O tempo de vida do ozônio
na atmosfera é muito curto, devido a sua molécula ser altamente reativa. O
ozônio necessita de energia que consiga provocar uma instabilidade no estável
oxigênio molecular. A única fonte de energia é a proveniente do Sol, na
freqüência das ondas curtas, especialmente a radiação ultravioleta. Como a
atmosfera da Terra age de forma seletiva às energias externas ao sistema, as
freqüências do ultravioleta são as primeiras a serem barradas, começando a
ocorrer em alta altitude. Esta interação necessita de massa, ou seja, de
moléculas.
A
troposfera, a primeira camada da atmosfera, próxima da superfície da Terra,
comporta cerca de 90% de toda a massa. Além dela existe uma camada intermediária
chamada tropopausa e acima desta, a estratosfera, onde a pressão atmosférica
pode variar de 50mb, na parte mais baixa, a 10mb, na parte mais alta, sendo
extremamente tênue, pois a Pressão ao Nível Médio do Mar – PNMM é de 1013,25mb.
Porém, mesmo com uma densidade tênue, a massa atmosférica é suficiente para que
as interações com os comprimentos de onda curta eletromagnéticos da radiação
ultravioleta provenientes do Sol possam ocorrer em toda a extensão da
estratosfera. Como a densidade é maior na camada mais baixa da estratosfera,
teremos como resultante a maior concentração do gás ozônio. Quanto às
temperaturas, os maiores valores, entendidos como energia cinética, são
registrados na parte mais alta, pois estas moléculas interceptam os raios eletromagnéticos
de maior energia. Desta forma, a estratosfera apresenta um perfil altamente
estável, pois é quente na parte de cima, geralmente apresentando zero grau
Celsius e fria na parte de baixo, com cerca de –56,0ºC, valores médios
verificados em uma atmosfera considerada padrão pela Organização Meteorológica
Mundial.
Durante o
processo de interceptação da radiação, ocorre a fotólise ou fotodissociação,
onde as moléculas são rompidas, formando alguns radicais ou átomos livres. No
processo, a energia ultravioleta é absorvida para romper a estabilidade
molecular, resultando em uma emissão de radiação de ondas longas, na banda do
infravermelho, que por sua vez aquece consideravelmente a camada. Desta forma,
deve-se entender que todas as moléculas que atingirem a estratosfera ou
qualquer camada superior serão fotodissociadas pela radiação incidente de alta
energia. Assim, os dois gases majoritários, nitrogênio e depois o oxigênio,
estão muito mais sujeitos a estes processos. Como a quantidade de oxigênio e a
radiação UV C são muito grandes, a formação do ozônio é estimada em cerca de
vários milhões de toneladas por segundo, pois só assim conseguiria contribuir
significativamente para aquecer e estabilizar a estratosfera.
Assim, o
ozônio é um gás que se forma quando o segundo gás majoritário da atmosfera, o
gás oxigênio interage com a radiação ultravioleta da banda C – UV C, altamente
nociva aos seres vivos. Nestes termos, esta radiação fatal não chega à
superfície por causa do oxigênio molecular. Desta interação surge o oxigênio
atômico (O‟), altamente instável, mas necessário para ser o precursor da
formação do ozônio. A seguir, em sua curta existência, o ozônio interage também
com a radiação ultravioleta, mas por sua propriedade química, a freqüência da interação
ocorre na banda B – UV B, em uma altitude pelo menos 10km mais alta que a
altitude de sua formação. Desta forma, o controle da incidência de radiação
ultravioleta B sobre a superfície terrestre é dosada pela concentração de
ozônio na estratosfera, que se apresenta altamente volátil, pois as chances de
uma molécula de ozônio encontrar outra são muito altas e quando isto ocorre,
surgem três moléculas de gás oxigênio novamente, retornando à estabilidade e
liberando mais calor na estratosfera. O processo de câmbio entre estes gases é
expressivamente rápido. Como a concentração de gases é maior na base da
estratosfera, a concentração de ozônio (O3) também o será e assim, toda esta
parte da base da estratosfera é conhecida como ozonosfera, por conter a maior
parte da concentração de nuvens ozônicas que se formam e desaparecem com
incrível rapidez. Assim, não existe a tal “camada de ozônio”, mas sim este
setor de maior probabilidade de se observar a sua formação. Notemos que a
radiação ultravioleta A – UV A, não possui a mesma interação com as moléculas
de O2 que as radiações UV C ou UV B apresentam, participando então mais do
processo de espalhamento, o que não é suficiente para bloquear boa parte do seu
fluxo, que acaba incidindo na superfície da Terra (leia mais aqui).
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