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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
Cuba, O Inferno No Paraíso
Por Juremir Machado Silva
Na crônica da semana passada, tentei, pela milésima vez, aderir ao
Comunismo.
Usei todos os chavões que conhecia, para justificar o projeto cubano.
Não deu certo.
Depois de 11 dias na ilha de Fidel Castro, entreguei, de novo, os pontos.
O problema do socialismo é, sempre, o real. Está certo que as utopias
são virtuais; o lugar, não. Mas, tanto problema com a realidade
inviabiliza qualquer adesão.
Volto chocado: Cuba é uma favela no paraíso caribenho.
Não fiquei trancado no mundo cinco estrelas do hotel Habana Libre.
Fui para a rua. Vi, ouvi e me estarreci. Em 42 anos, Fidel construiu o
inferno ao alcance de todos.
Em Cuba, até, os médicos são miseráveis. Ninguém pode queixar-se de
discriminação. É, ainda, pior.
Os cubanos gostam de uma fórmula cristalina: 'Cuba tem 11 milhões de
habitantes e 5 milhões de policiais'. Um policial pode ganhar, até,
quatro vezes maisdo que um médico, cujo salário anda em torno de 15
dólares, mensais.
José, professor de História e Marcela, sua companheira, moram num
cortiço, no Centro de Havana, com mais dez pessoas (em outros, chega a
trinta). Não há mais água encanada. Calorosos e necessitados de tudo,
querem ser ouvidos.
José tem o dom da síntese: 'Cuba é uma prisão, um cárcere especial.
Aqui, já se nasce prisioneiro. E a pena é perpétua. Não podemos
viajar e somos vigiados, em permanência. Tenho uma vida tripla: nas
aulas, minto para os alunos. Faço a apologia da revolução. Fora, sei
que vivo um pesadelo. Alívio é arranjar dólares com turistas'.
José e Marcela, Ariel e Julia, Paco e Adelaida, entre tantos com quem
falamos, pedem tudo: sabão, roupas, livros, dinheiro, papel higiênico,
absorventes. Como não podem entrar, sozinhos, nos hotéis de luxo que
dominam Havana, quando convidados por turistas, não perdem tempo:
enchem os bolsos de envelopes de açúcar.
O sistema de livreta, pelo qual os cubanos recebem do governo uma
espécie de cesta básica, garante comida, para uma semana. Depois, cada
um que se vire. Carne éum produto impensável.
José e Marcela, ainda assim, quiseram mostrar a casa e servir um
almoço de domingo: arroz, feijão e alguns pedaços de fígado de boi.
Uma festa.
Culpa do embargo norte-americano? Resultado da queda do Leste
Europeu? José não vacila: 'Para quem tem dólares, não há embargo. A
crise do Leste trouxe um agravamento da situação econômica. Mas, se
Cuba é uma ditadura, isso nada tem a ver com o bloqueio'.
Cuba tem quatro classes sociais: os altos funcionários do Estado,
confortavelmente instalados em Miramar; os militares e os policiais;
os empregados de hotel (que recebem gorjetas em dólar); e o povo.
'Para ter um emprego num hotel, é preciso ser filho de papai, ser
protegido de um grande, ter influência', explica Ricardo, engenheiro
que virou mecânico e gostaria de ser mensageiro nos hotéis luxuosos de
redes internacionais.
Certa noite, numa roda de novos amigos, brinco que quando visito um
país problemático, o regime cai, logo depois da minha saída. Respondem
em uníssono: 'Vamos te expulsar daqui agora mesmo'.
Pergunto: por que não se rebelam, não protestam, não matam Fidel?
Explicam que foram educados para o medo, vivem num Estado totalitário,
não têm um líder de oposição e não saberiam atacar com pedras, à moda
palestina.
Prometem, no embalo das piadas, substituir todas as fotos de Che
Guevara espalhadas pela ilha, por uma minha, se eu assassinar Fidel
para eles.
Quero explicações, definições, mais luz. Resumem: 'Cuba é uma
ditadura'. Peço demonstrações. 'Aqui, não existem eleições. A
democracia participativa, direta, popular, é um fachada para a
manipulação. Não temos campanhas eleitorais, só temos um partido, um
jornal, dois canais de televisão, de propaganda, e, se fizéssemos um
discurso, em praça pública para criticar o governo, seríamos presos,
na hora'.
Ricardo Alarcón aparece, na televisão, para dizer que o sistema
eleitoral de Cuba é o mais democrático do mundo. Os telespectadores
riem: 'É o braço direito da ditadura. O partido indica o candidato a
delegado de um distrito; cabe aos moradores do lugar confirmá-lo; a
partir daí, o povo não interfere em mais nada. Os delegados confirmam
os deputados; estes, o Conselho de Estado; que consagra Fidel'.
Mas, e a educação e a saúde para todos? Ariel explica: 'Temos
alfabetização e profissionalização, para todos; não, educação. Somos
formados, para ler a versão oficial; não, para a liberdade. A educação
só existe, para a consciência crítica, à qual não temos direito. O
sistema de saúde é bom e garante que vivamos mais tempo para a
submissão'.
José mostra-me as prostitutas, dá os preços e diz que ninguém as
condena:'Estão ajudando as famílias a sobreviver'. Por uma de 15
anos, estudante e bonita, 80 dólares.
-Quatro velhas negras olham uma televisão em preto e branco, cuja
imagem não se fixa. Tentam ver 'Força de um Desejo'.
Uma delas justifica: 'Só temos a macumba (santería) e as novelas, como
alento. Fidel já nos tirou tudo. Tomara que nos deixe as novelas
brasileiras'.
Antes da partida, José exige que eu me comprometa a ter coragem de, ao
chegar ao Brasil, contar a verdade que me ensinaram: em Cuba só há
'rumvoltados'.
E, ainda, existem brasileiros que defendem isso e querem e desejam
isso, para o Brasil!
Continuem votando nessa praga de PT!!!!!
Fonte: Blog do horaciocb
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