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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Dissecando o anarco-socialismo

Por Mike P.

O anarco-socialismo, como o socialismo em geral, é difícil de definir. Por dizer isso, provavelmente receberei oposição de autodenominados anarquistas, socialistas e comunistas que afirmarão que o assunto do qual escrevo não é o sistema que defendem. Isso é provavelmente inevitável dado que existem um número de definições para o anarco-socialismo e um número maior de subseitas. Para o propósito desse ensaio, vou concentrar-me no sistema social defendido por Noam Chomsky e seus seguidores e discutido em detalhe no Anarchist FAQ. Começarei pelos princípios centrais, prosseguindo para a análise das implicações lógicas e morais que deles advêm. Primeiro, examinarei as motivações por trás do sistema, explicar a teoria, e então prosseguir para a análise dos problemas necessários que delas derivam. Terminarei propondo exemplos históricos dos resultados do anarco-socialismo durante a Guerra Civil Espanhola para demonstrar que os comportamentos previstos pela minha análise correspondem à realidade.

Teoria

O anarco-socialismo tem praticamente a mesma motivação que o socialismo marxista clássico e o socialismo do estado de bem-estar: o igualitarismo. Com frequência, autodenominados anarco-socialistas expressam um desejo de destruir a ordem social existente. Um desprezo profundo pela chamada “cultura burguesa” é quase sempre parte disso. Tipicamente, o capitalismo e a propriedade privada são culpados por todos os males sociais.

A teoria por trás do anarco-socialismo possui dois princípios fundamentais. O primeiro é que toda a hierarquia é uma forma de opressão, e o segundo é que a propriedade privada é uma forma de hierarquia. A propriedade privada, na visão anarco-socialista, é inquestionavelmente a pior forma de opressão. Ela necessariamente cria uma hierarquia, pelo menos em termos de relações a partes específicas da propriedade. Se uma pessoa é dona de algo, então outra pessoa é necessariamente privada dessa coisa. Isso é intolerável. Assim, a propriedade é tanto hierárquica quanto anti-igualitária. Outra afirmação é que o estado-nação moderno é criado especificamente para proteger a propriedade privada das classes exploradoras. Nessa visão, o estado como existe hoje é uma instituição pró-propriedade privada em vez de uma instituição que sistematicamente ataca a propriedade privada. Na verdade, os anarco-socialistas declaram que, sem o estado, a propriedade privada não poderia existir. Os anarco-socialistas também promovem o conceito de “escravidão salarial” a qual se iguala a trabalhar para um chefe no sistema capitalista com escravidão, porque a única outra opção além do trabalho é a inanição.

O tipo de sociedade que os anarco-socialistas defendem usualmente envolve alguma forma de propriedade coletiva e o chamado “controle democrático” dos meios de produção. Na prática, isso significaria fazendas comunais e fábricas administradas por chamados “conselhos de trabalhadores”. É frequentemente difícil ver como esse sistema difere do marxismo clássico. A única diferença substancial é que os anarco-socialistas afirmam que essa forma de organização social ocorrerá natural e espontaneamente quando o estado ruir, e o estado irá necessariamente ruir quando o capitalismo ruir. Os marxistas pelo menos reconhecem que um grupo de pessoas agindo como um estado é necessário forçar as pessoas a aceitar esses tipos de arranjo de propriedade comunal.

Esse sistema apresenta muitos problemas. Eu diria que essa ideologia é tão repleta de erros e inconsistências que acreditar nela é quase um crime intelectual. Enquanto os proponentes afirmam que ela é anti-autoritária, anarquista, igualitária, o anarco-socialismo é, na verdade, um dos sistemas mais tirânicos e controladores imagináveis. As pessoas que o promovem tendem a possuir personalidades controladoras e tirânicas, igualmente. Se você já teve uma conversa ou debate com uma pessoa que defende esse estilo de anarquismo, você saberá do que estou falando. Não é por acaso que os anarco-socialistas frequentemente aplaudem comunistas assassinos como Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara ou se associam a bandidos como Hugo Chavez. Tampouco é acidente que enquanto dizem que são contra o estado na teoria, os anarco-socialistas tendem a apoiá-lo na realidade. Os anarco-socialistas irão normalmente protestar e causar revoltas quando se fala da possibilidade de cortes a qualquer programa estatal. Noam Chomsky disse abertamente que as pessoas deveriam apoiar e até mesmo dar força ao estado porque é a única arma que “a classe trabalhadora” tem para se defender das “tiranias privadas”, como as grandes corporações.

Propriedade e Agressão

Em qualquer sociedade, as pessoas têm de tomar decisões sobre como os recursos serão utilizados. As pessoas que fazem isso são, em efeito, os proprietários desses recursos. Para que as pessoas sobrevivam, alguns recursos naturais devem tornar-se propriedade humana de uma forma ou outra. Qualquer ação que utiliza propriedade ou nega a alguém o uso de propriedade é, em si mesma, uma reinvindicação de propriedade. Para negar direitos de propriedade, um indivíduo deve necessariamente declará-los. Se um grupo de pessoas que se denomina “a comunidade” ou “sociedade” ou o “conselho de trabalhadores” pode fazer isso, por que não poderia outrem? Se os direitos de propriedade são negados até que a negação sobre sua disposição for ratificada pela sociedade, quem decidiu que assim deveria ser? A decisão de estruturar a sociedade dessa forma deve logicamente vir anteriormente a qualquer decisão da sociedade como um todo. Alguém ou algum grupo em algum ponto deve tomar uma decisão que não será ratificada pela sociedade. Então, a fim de criar uma sociedade na qual aos indivíduos é negado o direito de tomar decisões sobre o uso de qualquer unidade de propriedade sem primeiro assegurar o consentimento da sociedade, um individuo ou grupo de indivíduos teria de tomar decisões que não são unicamente contraditórias aos seus princípios, mas que eles forçosamente proibiram a outros tomarem.

Enquanto eu não sei o que Chomsky ou quaisquer outros ideólogos anarco-socialistas diriam sobre o princípio da não-agressão, eles certamente definiriam agressão diferentemente do que todas as outras pessoas. Eles mudaram radicalmente as concepções de propriedade e agressão. Os anarco-socialistas afirma que a apropriação, posse e defesa da propriedade privada pelos apropriadores originais, produtores e proprietários – assim como o uso da propriedade para lucrar – deve ser definido como agressão contra a “comunidade” ou a “sociedade” como um todo. Portanto, o confisco e uso da propriedade privada e produtos produzidos por não moradores, não-produtores e não-proprietários deve ser um ato de defesa. Isso inverte a ordem natural de tal forma que a desapropriação de moradores, produtores e proprietários não é um ato de agressão, mas sim um imperativo moral. A defesa da propriedade por parte de um proprietário então se torna um roubo à sociedade.

Não é somente uma clara inversão da ordem social natural, é inconsistente do ponto de vista dos próprios anarco-socialistas. Eles são contrários ao que consideram reivindicações arbitrárias de propriedade-posse endossadas por nada além da força. Mesmo assim, eles recriariam essa exata situação em uma escala ainda maior. Eles afirmam que todos os títulos de propriedade atuais são necessariamente baseados em atos de violência em algum ponto do passado. Toda a propriedade é baseada na violência, portanto é arbitrária e ilegítima. Mesmo assim, eles recriariam essa exata situação em uma escala maior.Eles reivindicam o direito “dos trabalhadores” de desapropriar todos os detentores de seus títulos de propriedade e redistribuir toda a propriedade. Mas como se pode determinar qual trabalhador ou grupo de trabalhadores pode clamar posse de uma determinada parte da propriedade? Como poderia tal determinação ser outra coisa senão arbitrária? E como tal reivindicação poderia ser aplicada sem o uso da força? Uma vez mais, nós vemos que para criar sua sociedade ideal, os anarco-socialistas teriam de agir contrariamente aos princípios que defendem. Eles teriam que fazer reivindicações arbitrárias à propriedade, endossando-as por meio da força. Se o fato de que a distribuição de propriedade atual é o resultado da violência é um problema moral grave, a solução não pode gerar ainda outra etapa de redistribuição violenta.

Qualquer tentativa de criação de uma sociedade anarco-socialista resultaria, necessariamente, em violência em massa seguida por colapso total. Primeiro, todas as propriedades previamente habitadas ou de apropriadas seriam confiscadas e usadas por não-moradores ou não-produtores. Isso provavelmente seria muito violento. Segundo, nenhuma nova propriedade seria habitada e colocada para uso produtivo porque estaria sujeita à mesma predação. Não haveria vantagem nenhuma em ser produtivo. Não haveria vantagem alguma em trabalhar em vez de roubar. Os valores anarco-socialistas resumir-se-iam em tornar o roubo e não o trabalho como um imperativo moral para todos. Não somente anularia qualquer incentivo aos indivíduos para produzir para si, dado que tal produção, de fato, seria vista como imoral e geraria violência. Tão logo os bens produzidos anteriormente fossem consumidos, o sistema teria de se ajustar ou todo mundo morreria de fome.

O estado com outro nome

As teorias anarco-socialistas não oferecem uma definição adequada do estado ou possuem uma boa concepção do estatismo. Elas tendem a evitar completamente a questão, por boas razões. O que é o estado? O estado é um grupo de pessoas que agem como os tomadores de decisão supremos e possui o monopólio “legal” da iniciação da força numa determinada área. O que é “legítimo” é, obviamente, definido assim pelas pessoas que reivindicam ser a personificação do estado. O estatismo é um tipo de comportamento humano. É o comportamento de controlar as pessoas de um determinado território com a força e ameaças, clamando um direito moral a fazê-lo. Os ideais anarco-socialistas requerem um grupo de pessoas comportando-se exatamente como o estado para que seja implementado. Normalmente, eles chamam seu estado de “a comunidade” ou “o conselho dos trabalhadores”, mas isso é justamente outro estado. Oposição ao estado atual não é a mesma coisa que uma rejeição do comportamento estatista.

Uma sociedade sem pessoas dispondo de propriedade privada é impossível. Os anarco-socialistas, como todos os socialistas, devem curvar-se à realidade e admitir isso. Para lidar com esse fato, eles inventaram as categorias de propriedades de “exploração” e “não exploração”. Mas é claro, se passar a existir uma distinção categórica entre esses dois tipos de propriedade, deve aplicar-se a todos na sociedade e deve ser posta em prática, caso contrário, não terá sentido. Quem decidirá o que se constitui em propriedade de “exploração” ou não? Qualquer um pode decidir? Se assim for, o que acontece se as pessoas discordarem? Qual sistema será usado para escolher? E quem decide isso? A ideologia deles tropeça em problemas teóricos totalmente. Se existirão tais tipos de regras sobre quem deve ter direito a que, quanto e qual o tipo, deverá existir uma pessoa ou grupo de pessoas que decidem e aplicam tais regras. Em outras palavras, dever haver um estado. A sociedade não pode mais ser chamada anarquista ou igualitária. Existirá necessariamente a desigualdade de poder entre as pessoas que tomam e aplicam tais decisões e outrem.

O controle democrático dos meios de produção também necessita de um grupo agindo como um estado. Quem irá administrar as eleições para o “conselho dos trabalhadores” e fazer cumprir os resultados? E o que dizer das pessoas derrotadas quando chegar a hora de votar sobre o que produzir? Pode-se ainda considerá-los como coproprietários dos meios de produção? E o que dizer das pessoas que agem em oposição às decisões democráticas do coletivo, começando a usar a propriedade da forma que melhor lhes convier? O que acontecerá com eles, e quem decidirá? E como foi decidido que seria dessa forma? E o que dizer das pessoas que querem estabelecer contratos voluntários para trabalhar para outrem? O que dizer das pessoas que só querem trabalhar e ir para casa? Serão permitidos de fazê-lo? Ou serão forçados a tomar parte nos conselhos (comitês) e comunas e respeitar os decretos daqueles no poder? Qualquer tipo de democracia necessariamente gera conflito e desigualdades de poder entre maiorias e minorias. Quanto mais áreas da vida social são controladas pela democracia, mais tirânica a sociedade se tornará.

Autoridade versus Direitos Individuais

Se a troca voluntária de trabalho por dinheiro for proibida, é permitida às pessoas a posse sobre seus próprios corpos na sociedade anarco-socialista? Parece que, logicamente, o anarco-socialista, como todos os outros sistemas de propriedade coletiva, deve inevitavelmente negar a autopropriedade aos indivíduos. Se o grupo tem posse coletiva, o grupo deve ser proprietário do poder laboral de cada indivíduo também. O grupo não pode permitir ao individuo vender seu trabalho ou pessoalmente lucrar com ele de nenhuma forma. Tal fato constituir-se-ia em roubo dos legais proprietários de tudo. O grupo, mais especificamente o grupo de pessoas que afirmam agir em nome do grupo (o estado), deve usar a violência e ameaças de violência para fazer cumprir a posse do trabalho individual pelo grupo. Isso é escravidão (de fato), não a escravidão imaginária da comercialização voluntária de trabalho por dinheiro (também conhecida como trabalhar por um salário), levando, necessariamente, à pior forma de tirania. Na prática, tal sociedade provavelmente acabaria ficando não muito diferente do que foi a União Soviética.

Se a propriedade privada é definida como hierárquica e, portanto, imoral, então para ser consistente, os anarco-socialistas não podem permitir a sua existência. Eles devem forçar todos a serem parte de seus coletivos. Fazer o contrário seria aceitar completamente a instituição da propriedade privada e respeitar o direito individual de escolha. Mas isso é precisamente o que aqueles que promovem o individualismo, a propriedade privada e o livre mercado defendem. Se os anarco-socialistas permitirem aos indivíduos possuir capital, lucrar ou vender seu trabalho por dinheiro em qualquer lugar da Terra, eles estarão traindo seus próprios princípios. Dizer que você pode ter uma sociedade capitalista aqui, em sua propriedade, e em nossa propriedade ter uma comuna anarco-socialista é aceitar não somente a existência, mas a moralidade da propriedade privada. Qual então é o objetivo de ser um anarco-socialista? Para um anarco-socialista dizer que ele não iniciará a força contra os proprietários seria desistir da disputa. O anarco-socialismo é necessariamente uma ideologia totalitária. A abolição da propriedade privada não pode ser uma medida tomada em partes.

Pessoas que respeitam outras pessoas reconhecem o direito dos outros indivíduos a serem donos de propriedades e tomarem decisões sobre como os recursos que possuem, incluindo sua própria força de trabalho, são utilizados. Eles também respeitam o direito dos outros a viver de forma comunal se assim escolherem, fazendo-o dentro de sua própria propriedade. Os coletivistas totalitários são exatamente o contrário. As pessoas que afirmam agir em nome das sociedades coletivistas devem elevar-se acima de todo mundo e se autoconceder o direito exclusivo a controlar a propriedade. Eles devem também se conceder o direito exclusivo a policiar seus compatriotas e usar a violência e o terror para manter seu controle. Qualquer pessoa ou grupo que negasse o direito de todas as outras pessoas ou grupos possuírem propriedades, comercializar e trabalhar para benefício próprio deve ser necessariamente tirânico, hierárquico e violento. A escolha está realmente entre propriedade e tirania. Não existe forma pela qual todos os indivíduos podem ser policiados para assegurar que ninguém está usando a propriedade de formas proibitivas, trocando ou vendendo por lucro sem um grupo de autoritários fervorosos sobre controle total da sociedade. Mesmo com tal regime totalitário, é praticamente impossível cumprir seu objetivo, como foi demonstrado pelo surgimento inevitável dos mercados negros na União Soviética.

Os anarco-socialistas podem contestar que a força usada para manter o coletivismo não é iniciada, pois as pessoas irão voluntariamente escolher ser parte desse sistema comunal, aceitando suas leis. O problema é que dizer isso implica que os indivíduos tem o direito de escolher se querem ou não fazer parte desse sistema em primeiro momento. Os anarco-socialistas não podem possivelmente reconhecer tal direito. Na verdade, os anarco-socialistas não são incomodados pela iniciação da força ou a violação dos direitos dos indivíduos. Eles não podem manter tal postura e ainda assim manter seus princípios. Alguns argumentam: uma vez que as pessoas forem reeducadas a defenderem valores diferentes, a violência não será necessária para manter o anarco-socialismo. As pessoas não quererão fazer nada além de trabalhar para o aperfeiçoamento de seus compatriotas na sua utopia imaginária. Ou assim dizem. Mas por que eles assumem que seu sistema de valores é tão superior que eles tem o direito de impor sua reeducação sobre a humanidade? Não é nada mais do que uma repetição cansativa do argumento do “novo homem socialista” que os socialistas de todas as estirpes alegam quando são confrontados com o fato de que existem outras pessoas no mundo que não desejam viver como lhes agradaria.

Se você duvida da natureza fundamentalmente tirânica e controladora daqueles que promovem essa ideologia, verifique o Anarchist FAQ. Esse é o documento oficial do anarco-socialismo em suas próprias palavras. Note o volume completo de ideias e crenças “corretas” que são requeridas daqueles que seguem essa ideologia. Assim como os marxistas ortodoxos, a divergência dos valores do partido não é tolerada. Não pode ser se a propriedade privada e, portanto, a hierarquia devem ser rejeitadas como males morais absolutos.

A História e a Vida Real

Enquanto não existem exemplos atuais de uma sociedade anarco-socialista em funcionamentos, existem alguns negócios privados, tais como o Red and Black Cafe em Portland, Oregon, que afirmam ser administrados por coletivos anarco-socialistas. Muitas mercearias e fazendas orgânicas são administradas e frequentadas por intelectuais da classe média alta que idolatram essa ideologia e gostam de brincar de fazer parte de uma comuna anarquista. Isso é pura auto ilusão. Na realidade, essas organizações são negócios privados dentro de propriedades privadas que instituíram algum tipo de esquema de divisão de lucros entre os funcionários. Eles são ainda fundamentalmente negócios capitalistas. Os meios de produção são privados e devem lucrar, ou pelo menos sem lucro e sem perda, de maneira a se manter. Há mais no anarco-socialismo do que o mero compartilhamento de lucro entre funcionários.

O exemplo mais famoso de tentativa de criar uma sociedade anarco-socialista ocorreu durante a Guerra Civil Espanhola. Durante a guerra, as chamadas milícias “anarquistas” conhecidas como CNT e FAI assumiram o controle das regiões da Catalunha e Aragão na Espanha. Quando a milícia CNT assumiu o controle das áreas urbanas, inicialmente, permitiram aos trabalhadores assumir o controle das fábricas onde eles tinham previamente sido “escravizados”. Na verdade, eles permitiram “a administração dos trabalhadores” no início. Contudo, eles logo descobriram para seu horror que os trabalhadores há pouco “libertados” tenderiam a se comportar como seres humanos reais em vez de “anarquistas” de classe conscientes. Eles trataram as fábricas como propriedade privada e as operaram buscando lucro. Como o economista Bryan Caplan explica no seu ensaio  The Anarcho-Statists of Spain (“Os anarco-estatistas da Espanha”)

Após serem informados de que os trabalhadores agora eram proprietários dos meios de produção, os trabalhadores entendiam com frequência a sentença de forma literal. Qual a razão de ser proprietário dos meios de produção se você não puder enriquecer através do seu uso? Mas, obviamente, se alguns trabalhadores enriquecerem, não é provável que doem voluntariamente seus lucros para outros membros de sua classe. Depois de muita reflexão, isso parece elementar, mas somente a experiência prática foi capaz de revelar isso aos reformadores econômicos da Revolução Espanhola. A experiência pratica gradualmente revelou uma verdade básica da economia que teria sido detectada tranquilamente por meio de uma reflexão teórica: se os trabalhadores tomarem o controle de uma fábrica, eles a administrarão em benefício próprio. Uma firma administrada por trabalhadores é essencialmente idêntica à firma capitalista na qual os trabalhadores também acabam sendo os acionistas. Uma vez que perceberam isso, mesmo que vagamente, os anarquistas espanhóis tinham de abraçar o capitalismo como o corolário do controle dos trabalhadores, ou então denunciar o controle dos trabalhadores como o corolário do capitalismo. Na maior parte, eles escolheram a segunda alternativa.

E, nas palavras do líder da milícia CNT, Ricardo Sanz:

As coisas não estão indo tão bem quando estavam nos primeiros dias do movimento [revolucionário] (…) os trabalhadores não mais pensam em trabalhar por longas horas para ajudar o front. Eles somente pensam em trabalhar o menos possível, e receber o maior salário possível.

Como poderíamos esperar dada a análise acima, os “anarquistas” julgaram essa situação intolerável. Reagindo a isso, eles começaram a instituir uma centralização estritamente controlada da indústria. De acordo com Burnett Bolloten, autor de The Spanish Civil War: Revolution and Counterrevolution:

Os anarco-sindicalistas, contrários ao senso comum, estavam com planos próprios para o controle e racionalização da produção a nível nacional. Originalmente contrários ao controle ou nacionalização estatal, eles defendiam a centralização – ou socialização, como chamavam – sob a administração sindical de cadeias inteiras de produção A socialização eliminaria os perigos do controle governamental, colocando a produção na mão dos sindicatos. Essa era a concepção libertária de socialização, sem a intervenção estatal, que deveria eliminar as perdas originadas da concorrência e duplicação, tornando possível o planejamento industrial tanto para necessidades civis como militares, pondo fim ao crescimento de ações egoístas entre os trabalhadores de coletivos mais prósperos, usando seus lucros para melhorar o padrão de vida em empresas menos favorecidas.

Então, enquanto afirmavam não estar implementando o controle estatal de produção, a distinção era puramente semântica. Eles comportavam-se exatamente como um estado em essência e chamavam de outra forma, da mesma forma como a análise acima preveria.

Nas áreas rurais, as milícias não estavam dispostas a correr os mesmos riscos que tinham na cidade. Eles tentaram instituir um coletivismo agrícola total de forma imediata. Como Bolloten explica:

Embora regras rígidas não tenham sido observadas no estabelecimento do comunismo libertário, o procedimento era mais ou menos o mesmo em todos os lugares. Um comitê da CNT-FAI era estabelecido em cada localidade onde o novo regime era instituído. Esse comitê não exercia somente poderes legislativos e executivos, mas também era responsável pela justiça. Um dos primeiros atos foi abolir o comércio privado e coletivizar a terra dos ricos, e frequentemente a dos pobres também, assim como fazendas, maquinários, rebanhos e o transporte. Exceto em casos raros, barbeiros, padeiros, carpinteiros, calçadistas, doutores, dentistas, professores, ferreiros, e alfaiates também entraram no sistema coletivo. Estoques de alimentos e roupas e outras necessidades foram concentrados em um depósito comunal sobre o controle do comitê local, e as igrejas, se não fossem queimadas, seria convertidas em um depósito, sala de jantar, café, oficinas, garagem ou celeiros. Em muitas comunidades, a moeda para uso interno foi abolida (…)

Bryan Caplan prossegue:

Muitas pessoas fugiram por temer por suas vidas. Suas terras foram tomadas quase imediatamente. Acima de tudo, quem além de um “fascista” fugiria? A expropriação de terra de alguém muito assustado pelo novo regime para mesmo esperar para ver o que seria de suas novas vidas provido o núcleo para os coletivos.

 E de acordo com um jornal favorável à CNT:

Nós, milicianos, devemos despertar nessas pessoas o espírito que foi atenuado pela tirania política. Nós devemos direcioná-los no caminho da verdadeira vida, e para isso não é suficiente estar presente na vila; nós devemos proceder com a conversão ideológica dessas pessoas.

Novamente, nós vemos as milícias comportando-se como um estado comunista totalitário. Nós vemos os líderes da milícia exibindo exatamente o tipo de mentalidade controladora e tirânica que esperaríamos dada a nossa prévia análise.

Quando analisamos os eventos da Guerra Civil Espanhola – a qual é tratada com distinção pelos anarco-socialistas como um triunfo e a melhor realização de seu programa até hoje – nós vemos que, apesar de seus ideais supostamente superiores, esses chamados “anarquistas” acabaram criando um tipo de estado autoritário, totalitário, militarista, hierárquico e burocrático. Eles mantiveram tal estado por meio de atos de violência e terror. Longe de ser contra-intuitivo, isso é justamente o que esperaríamos mediante a análise dos princípios para quais estavam trabalhando.

Nós podemos então concluir tanto da teoria quanto da história que uma sociedade anarco-socialista seria impossível de ser alcançada na realidade sem a tirania e a violência em massa. O coletivismo total e a abolição da propriedade privada necessariamente requer o comportamento estatista, não importando qual rótulo que os indivíduos que o promovem usam para se autodescrever.

Tradução de Matheus Pacini. Revisão de Adriel Santana (Artigo Original)

Publicado em 29 de outubro de 2013 | por Mike P.


Fonte: Portal Libertarianismo 

Um louco imagina um sistema utópico qualquer, outro louco o coloca em prática com o aval de uma massa inconsequente e milhões de pessoas morrem ou perdem a liberdade por causa disso. Anon, SSXXI

O Anarco-socialismo é mais uma utopia comunista, é mais uma via nefasta para a escravização do indivíduo. Anon, SSXXI
 

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