Por Ruan Arias
Nos países mais
desenvolvidos do mundo, nos mais modernos e nas democracias mais sólidas, o
voto político é facultativo.
Entre os 10 países
mais ricos do planeta, em todos, menos no Brasil, ir às urnas deixou de se
obrigatório ou nunca foi.
Hoje o voto facultativo
está vigente em 205 países do mundo e só em 24 deles (13 na América Latina)
continua sendo obrigatório.
Seria preciso
deduzir disso que esses países, começando pelo Brasil, não são nem modernos nem
contam ainda com uma democracia consolidada? Talvez não, mas segundo vários
analistas políticos, se fosse realizada a tão anunciada e nunca realizada
reforma política, deveria começar por admitir o voto facultativo, já que uma
das características de uma democracia real e não apenas virtual é a proteção dos
maiores espaços de liberdade dos cidadãos.
É possível que um
direito se converta em um dever? Que alguém possa ser castigado com sanções em
uma democracia por não querer exercer um direito?
O direito do voto
a todos os cidadãos foi uma das maiores conquistas das democracias liberais
O direito do voto
a todos os cidadãos, homens ou mulheres, ilustrados ou analfabetos, foi uma das
maiores conquistas das democracias liberais. Todos, sem distinção de sexo ou
posição social, têm o direito de poder participar na vida política através do
voto que permite eleger os representantes da vida pública.
Isso não
significa, no entanto, que deva ser obrigatório nem que deva receber algum
castigo quem deixar de usar este direito. Sobretudo porque não foi provado que
o voto obrigatório melhore as democracias do mundo nem que aumente nelas a
participação cidadã nas eleições.
A maior ou menor
participação depende sobretudo do interesse ou desinteresse que os cidadãos
demonstrem em cada eleição. Inclusive o voto chamado “antipolítica” (como, por
exemplo, o nulo ou em branco), não significa um voto contra a democracia ou
contra a legítima Constituição do
país. Pode indicar, simplesmente, uma forma de descontentamento com o modo de
governar dos políticos eleitos democraticamente, ou simplesmente a vontade de
abrir espaço a novas formas de democracia mais modernas e mais adaptadas aos
novos instrumentos de comunicação global que a tecnologia oferece hoje.
Manifestar-se
contra a obrigatoriedade do voto tampouco significa que quem está contra esta
obrigatoriedade vá deixar de votar, mas simplesmente que prefere, para
benefício da democracia, que cada um seja livre de participar ou não.
Há quatro anos, o
Datafolha mostrou que 64% dos brasileiros achavam que o voto deveria ser
facultativo
Se o Brasil,
sétima potência econômica do mundo, com uma democracia reconhecida por todos,
onde existe a separação dos três poderes, continua entre os 24 países que ainda
obrigam a votar, significa, no mínimo, uma clara anomalia democrática.
A última vez que a
pesquisa Datafolha, há quatro anos, publicou os índices de brasileiros que
prefeririam que o voto fosse facultativo, ficou claro que a grande maioria
(64%) achava que o voto não fosse obrigatório. E entre esses 64% figuravam
sobretudo os mais instruídos e os jovens.
Não seria
suficiente esse índice, que certamente hoje seria ainda maior, para que se
incluísse na reforma política a liberdade de votar?
Como se fosse
pouco, outra pesquisa indicou que 30% dos eleitores já tinha esquecido o nome
do candidato votado 20 dias depois de ir às urnas. Será esse o fruto da
obrigatoriedade do voto?
Como escreveu
Nicolás Ocarazán:
“O voto
obrigatório é uma maneira desesperada de tentar que os apáticos votem. Mas se a
política é incapaz de seduzi-los pela via das ideias, para que obrigá-los a
participar em um sistema incapaz de ser representativo e participativo?”.
A resistência dos
políticos brasileiros ao voto facultativo, ao contrário da grande maioria dos
países do mundo, poderia levar a pensar que mais que da defesa de um direito
trata-se de interesses inconfessáveis que pouco tem a ver com a defesa dos
valores da verdadeira democracia.
Fonte: Republiqueta da Desgraça
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