De acordo com um artigo no site American Dream, intitulado "Al Gore, Agenda 21and Population Control [Al Gore, Agenda 21 e o Controle Populacional],
há gente demais habitando o planeta Terra, e isso está gerando impactos
negativos sobre todos nós. A solução? Reduzir a população. É
o que eles próprios defendem abertamente, como será mostrado mais abaixo.
Em primeiro, o que é Agenda 21? A própria ONU define
Agenda 21 da seguinte maneira:
Agenda 21 é um abrangente plano de ação a ser empreendido globalmente,
nacionalmente e localmente por organizações pertencentes ao Sistema das Nações
Unidas, pelos Governos e pelos Grandes Grupos em toda e qualquer área em que o
ser humano impacta o ambiente.
Se tal objetivo globalista ainda parece muito abstrato, veja o que disse
o Fundo de População das Nações Unidas em seu "Relatório sobre a Situação
da População Mundial 2009" intitulado Enfrentando um Mundo em Transição: Mulheres, População e Clima:
Cada nascimento resulta não só nas emissões atribuíveis àquela pessoa ao
longo de sua vida, mas também nas emissões de todos os seus descendentes.
Assim, a economia de emissões decorrente de nascimentos pretendidos ou
planejados se multiplica com o tempo. [...] Nenhum ser humano é genuinamente "neutro
em carbono", principalmente quando todos os gases de efeito estufa são
levados em conta na equação. Portanto, todas as pessoas são parte do problema,
logo todos precisam participar da solução de um modo ou de outro. [...]
Programas de planejamento familiar de qualidade são do interesse de todos os
países no que se refere às preocupações sobre gases de efeito estufa, bem como
às preocupações de bem-estar mais amplas.
O The New
York Times concorda. Em um artigo intitulado "The Earth is Full" [A Terra Está
Lotada], de 2008, o colunista Thomas Friedman diz que "O crescimento
populacional e o aquecimento global pressionam os preços dos alimentos, o que
gera instabilidade política, o que leva ao encarecimento do petróleo, o que
leva a novos aumentos dos preços dos alimentos, e assim reiniciando o círculo
vicioso."
Já um professor de biologia da Universidade de Austin, Texas, chamado
Eric R. Pianka, em um artigo intitulado "What Nobody Wants
to Hear, but Everyone Needs to Know" [O que Ninguém Quer
Ouvir, Mas Todos Precisam Saber], escreveu que "Não desejo nenhum mal
ao ser humano. No entanto, estou convencido de que o mundo, incluindo
toda a humanidade, estaria muito melhor sem vários de nós."
O principal problema, só para começar, é que não há absolutamente
nenhuma relação entre um grande número populacional, desastres ambientais e
pobreza. Os entusiastas das políticas de controle populacional devem
considerar a República Democrática do Congo e suas míseras 29 pessoas por
quilômetro quadrado como sendo o ideal ao passo que Hong
Kong e suas 2.510 pessoas por quilômetro quadrado devem ser um
pesadelo.
No entanto, os cidadãos de Hong Kong usufruem uma renda per capita de US$
52.000, ao passo que os cidadãos da República Democrática do Congo,
um dos países mais pobres do mundo, sofrem com uma renda per capita de US$ 648. E isso não é uma
anomalia. Alguns dos países mais pobres do mundo são aqueles que têm as
menores densidades populacionais.
O fato é que o Planeta Terra está repleto de espaço livre, e a
esmagadora maioria está desabitada. Se colocássemos toda a população da
terra nos Estados Unidos, teríamos uma densidade de 662 pessoas por quilômetros
quadrado. Tal densidade é bem menor do que a vigente nas principais
cidades americanas. Se toda a população americana vivesse no estado do
Texas, cada família formada por quatro pessoas usufruiria mais de 2,1 acres de
terra (8.500 metros quadrados). Igualmente, se toda a população da terra
se movesse para os estados do Texas, Califórnia, Colorado e Pensilvânia ,
cada família de quatro pessoas usufruiria um pouco mais de 2 acres.
[No Brasil, apenas 0,2% do território está ocupado por
cidades e infraestrutura. E se toda a população mundial fosse para o
estado do Amazonas, a densidade populacional seria equivalente à da cidade de
Curitiba].
É óbvio que ninguém está sugerindo que toda a população do planeta seja
colocada nos EUA, e nem que toda a população dos EUA seja colocada no
Texas. Cito essas figuras apenas para colocar as coisas em perspectiva.
Vejamos outras evidências sobre densidade populacional. Antes do
colapso a União Soviética, a Alemanha Ocidental tinha uma densidade
populacional maior do que a da Alemanha Oriental. O mesmo vale para a
Coréia do Sul em relação à Coréia do Norte; para Taiwan, Hong Kong e Cingapura
em relação à China; para os Estados Unidos em relação à União Soviética; e para
o Japão em relação à Índia. No entanto, embora fossem mais povoados,
Alemanha Ocidental, Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Cingapura, Estados Unidos
e Japão vivenciaram um crescimento econômico muito mais alto, um padrão de vida
muito superior, e um acesso a recursos naturais de qualidade de forma muito
mais plena e acessível do que a população daqueles países de menor densidade
populacional.
Aliás, Hong Kong praticamente não tem um setor agrícola, mas sua
população come muito bem.
É de se imaginar por que ainda há pessoas que dão ouvidos a catastrofistas
que sempre se mostraram consistentemente errados em suas previsões — e não
erraram por pouco, mas fragorosamente.
O professor Paul Ehrlich, biólogo da Universidade de Stanford, em seu
best-seller de 1968, The Population Bomb [A Bomba Populacional]
previu que haveria uma enorme escassez de comida nos EUA e que "já na
década de 1970 ... centenas de milhões de pessoas irão morrer de fome neste
país". Ehrlich previu que, entre 1980 e 1989, 65 milhões de
americanos literalmente morreriam de fome, e que, até 1999, a população
americana encolheria 22,6 milhões de habitantes.
Sua previsão para a Inglaterra era ainda mais desesperadora: "Se eu
fosse um apostador, apostaria uma quantia substancial de dinheiro que a
Inglaterra deixará de existir até o ano 2000".
o primeiro Dia da Terra, celebrado em 1970, Ehrlich alertou:
"Dentro de dez anos, todas as mais importantes vidas animais nos oceanos
estarão extintas. Grandes áreas costeiras terão de ser evacuadas por
causa do fedor de peixe morto". Apesar de todo este notável
currículo, Ehrlich continua até hoje sendo um dos favoritos da mídia e do mundo
acadêmico.
Em grande medida, a pobreza nos países subdesenvolvidos pode ser
diretamente atribuída ao fato de que seus líderes seguiram os conselhos de
"especialistas" ocidentais. O economista sueco e Prêmio Nobel
Gunnar Myrdal disse,
em 1956, que "Os conselheiros para assuntos especiais dos países
subdesenvolvidos, que se dedicaram a estudar e entender os problemas desses
países ... todos recomendam o planejamento centralizado como a condição
precípua para o progresso".
Em 1957, o economista Paul A. Baran, da Universidade de Stanford, aconselhou
que "A implantação de uma economia socialista planejada é uma condição
essencial — na verdade, indispensável — para se alcançar o progresso econômico
e social nos países subdesenvolvidos."
Para coroar essa série de maus conselhos, os países subdesenvolvidos
enviaram seus melhores alunos para estudar economia em Berkely, Harvard, Yale e
na London School of Economics, onde aprenderam tolices socialistas sobre
crescimento econômico. Na melhor das hipóteses, as teorias ensinadas não
passavam de um emaranhado de lugares comuns.
Por exemplo, o economista e Prêmio Nobel Paul Samuelson os ensinou que
os países subdesenvolvidos "não conseguem emergir sua cabeça de debaixo
d'água porque sua produção é tão baixa que eles não conseguem poupar nada para
formar capital". Um raciocínio totalmente circular. Já o
economista Ranger Nurkse é ainda mais profundo: segundo ele, a causa básica do
subdesenvolvimento dos países pobres é "o círculo vicioso da
pobreza". Ou seja, um país é pobre porque ele é pobre.
Desnecessário dizer que tais constatações profundas são, por si mesmas,
absurdas. Se elas tivessem a mais mínima validade, toda a humanidade
ainda estaria até hoje morando nas cavernas — afinal, dado que toda a
humanidade já foi miserável em uma época, dado que a pobreza é algo da qual não
se escapa, é impossível ter havido enriquecimento. Por essa lógica, podemos
concluir que estamos vivendo uma mera fantasia de riqueza. Continuamos,
na realidade, tão pobres quanto na época em que vivíamos nas cavernas.
Os entusiastas do controle populacional têm uma visão malthusiana do
mundo, a qual vê o ritmo do crescimento populacional superando o ritmo da
criação de meios para que as pessoas se sustentem. No entanto, a própria
genialidade da humanidade já mostrou que os malthusianos estavam completamente
equivocados. O homem consegue hoje cultivar volumes cada vez maiores de
alimentos em espaços de terra cada vez menores. Igualmente, a energia
utilizada para produzir comida, em termos de dólares por PIB, está em contínuo
declínio. Estamos conseguindo mais com menos, e isso se aplica à maioria
dos outros insumos utilizados na produção de bens e serviços.
Pense na seguinte questão: por que a humanidade de hoje usufrui
telefones celulares, computadores e aviões, mas não usufruía na época de Luis
XIV? Todos os recursos físicos necessários para a fabricação de
celulares, computadores e aviões já existiam àquela época. Aliás, já
existiam quando o homem das cavernas habitava a terra.
Há apenas uma explicação do motivo de usufruirmos essas benesses hoje
mas não em épocas passadas: o aumento do conhecimento e da criatividade humana,
bem como a especialização, a divisão do trabalho e o comércio — tudo isso em
conjunto com a liberdade individual e a propriedade privada. Foi isso o
que levou à industrialização e à melhoria do nosso padrão de vida.
Em outras palavras, os seres humanos são recursos imensamente valiosos.
Aqueles que se preocupam com um fictício superpovoamento do planeta
tendem a ver os seres humanos como nada mais do que meros consumidores de
recursos. A lógica é simples: os recursos são finitos; os seres humanos
consomem recursos. Logo, menos seres humanos significa mais recursos
disponíveis. Esse é o cerne de todas as ideias contrárias à expansão
populacional.
Porém, embora as premissas desse silogismo sejam verdadeiras, elas são
calamitosamente incompletas, fazendo com que a conclusão seja igualmente (e
perigosamente) incorreta.
Em primeiro lugar, os seres humanos não são apenas consumidores.
Cada consumidor é também um produtor. Por exemplo, eu só consigo almoçar
(consumir) porque produzi (trabalhei) e alguém me remunerou por isso. E
foi justamente essa nossa contínua produção o que aprimorou sobremaneira o
nosso padrão de vida desde o nosso surgimento até a época atual. Todos os
luxos que usufruímos, todas as grandes invenções que melhoraram nossas vidas,
todas as modernas conveniências que nos atendem, e todos os tipos de lazer que
nos fazem relaxar foram produzidas por uma mente humana.
Logo, a conclusão óbvia é que, quanto mais mentes existirem, mais
inovações surgirão para melhorar nossas vidas. Uma simples reductio
ad absudum revela a óbvia verdade de que a cura para o câncer tem mais
chances de ser descoberta em uma sociedade com um bilhão de pessoas do que em
uma com apenas um punhado de indivíduos.
Ainda mais importante é o fato de que essas inovações resultam em uma
multiplicação de recursos, de modo que o silogismo sofre uma importante
alteração: os recursos são finitos; os seres humanos consomem recursos; os
seres humanos produzem recursos; logo, se os seres humanos produzirem mais
recursos do que consomem, um aumento populacional será benéfico para a nossa
espécie.
Que nós produzimos mais do que consumimos é um fato autoevidente: basta
olharmos para o padrão de vida que usufruímos hoje e compará-lo àquele que
tínhamos há 50, 100 ou 1.000 anos. À medida que a população aumentou,
aumentou também a nossa prosperidade, e a redução no sofrimento humano foi
impressionante.
Aquilo que hoje é rotulado como "consequência do excesso de gente
no planeta" é o mero resultado de políticas governamentais socialistas que
reduziram a capacidade das pessoas de se educaram, se alimentarem, se vestirem,
e se abrigarem das intempéries. Pode observar: todos os países
subdesenvolvidos sofrem com tarifas protecionistas que restringem as
importações, moeda fraca (que gera inflação de preços e impede a obtenção de
produtos importados de maior qualidade), regulamentações sobre as práticas
agrícolas, políticas de controles de preços para alimentos, burocracias que
atrapalham o livre empreendedorismo e, principalmente, falta de segurança e
brutais violações dos direitos humanos, o que faz com que os mais capazes e
mais produtivos emigrem e deixem para trás justamente os menos produtivos.
A verdadeira lição anti-pobreza para os países pobres é que o caminho
mais promissor e seguro para se sair da pobreza e gerar mais riqueza é a
liberdade individual, o livre comércio, uma moeda forte, o respeito à
propriedade privada e, acima de tudo, um governo limitado.
Walter Williams é professor honorário de
economia da George Mason University e autor de sete
livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais
americanos.
Tradução de Leandro Roque
Fonte: Mises Brasil
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