Enquanto isso, em Miami, na Flórida!
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Fidel Castro e os traços da cultura política totalitária
Escrito por
Casimiro De Pina
No dia 25 de Novembro
de 2016, Fidel Castro morreu, após um longo reinado de terror e miséria imposto
pela (sua) Cuba “revolucionária”.
Esteve no poder
durante décadas, desde a gesta comunista de 1959, um festival de fracassos
socioeconómicos, propaganda descarada, falso progressismo e dogmatismo
ideológico sem fim, para consumo dos seus asseclas e demais idiotas úteis.
Fidel foi um
ditador implacável e, mau grado o lamento cínico das carpideiras do regime, um
psicopata sem escrúpulos, responsável, refira-se, pela morte de mais de 100 mil
pessoas.
Foi talvez o
pior ditador que a América Latina conheceu em toda a sua martirizada história.
Além do mais,
foi um chefe militar perigoso.Basta recordarmos a famosa “crise dos mísseis” de
1962, que esteve, num curto espaço de tempo, cedendo às manobras de Nikita
Khrushchev, a um passo de lançar o mundo no holocausto nuclear, com
consequências imprevisíveis.
Exportou, com
primor, tácticas de guerrilha e ajudou a implantar ferozes tiranias políticas
em África e um pouco por toda a América Latina.
Foi na verdade
um génio perverso, arquitectando, qual Maquiavel enfurecido, revoltas e
sedições armadas, arruinando, decerto, nações inteiras com o rolo compressor da
sua famigerada ideologia totalitária. Só a OLAS, instância que comandava a
vasta guerrilha na América Latina, matou milhares de pessoas.
Fidel Castro
declarou então, com a raiva típica dos revolucionários, inspirada, quem sabe,
em Eugène Sorel: “Faremos um Vietname em cada país da América Latina”. Dito e
feito.
A OLAS foi fundada
em 1966, após a Tricontinental de Havana, sob proposta de Salvador Allende, o
qual, em pouco tempo, arruinou o Chile com o seu socialismo rapace e de caserna
(sobre estoutra figura patética do comunismo internacional, ver Casimiro de
Pina, Sociedade Civil, Estado de Direito, Economia e Governo Representativo –
Repensando a Tradição Liberal-Conservadora no Séc. XXI, Chiado Editora, Lisboa,
2016, pp. 666-668, maxime).
Após a queda do
Muro de Berlim e a implosão da URSS, o torcionário de Havana haveria de criar,
com Lula da Silva e frei Betto, o Foro de São Paulo (reunindo partidos
políticos de esquerda, organizações terroristas, ONGs comunistas, traficantes
de droga, FARC, MIR chileno, etc., etc. – ver, em síntese,
https://www.youtube.com/watch?v=NzOSNKtHOek,
http://olavodecarvalho.org/semana/070115dc.html e
http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/conheca-o-foro-de-sao-paulo-o-maior-inimigo-do-brasil/),
cujo objectivo era, basicamente, “Recuperar na América Latina aquilo que foi
perdido no Leste europeu”.
Os “analistas”
políticos cabo-verdianos, diligentes como são, nunca falam desse poderoso
esquema de poder e dominação continental. Preferem, oops, as balelas do
costume.
As
pseudoalvoradas castristas sempre se cobriram, todavia, com o manto tenebroso
da opressão, sob o ferrete de um partido hegemónico, intolerante e incapaz de
conviver com a oposição livre e civilizada.
A autêntica
Revolução, como salientou, com subtileza, o insuspeito Edgar Morin, aconteceu
em Miami e não em Havana!
E não é por
acaso que os cubanos, aos milhares, fogem para a pátria livre de George
Washington, onde as oportunidades existem e a condição humana, longe de ser um
slogan vazio, é valorizada. E protegida.
Racionalmente,
não há como glorificar um tirano dessa estirpe. Jamais. O seu legado é, no
mínimo, horrível e indefensável.
Cuba, na sua
decadência formidável, é hoje a marca registada de Fidel, o grotesco.
Os dissidentes
são fuzilados, os críticos reiteradamente amordaçados, os intelectuais e poetas
condenados ao exílio (lembremo-nos, por ex., de um G. Cabrera Infante) e a
população, tão meiga e cheia de alma e musicalidade, lançada no abismo
imerecido do atraso, no meio de abusos/atropelos de toda a espécie, que ferem,
aliás, o mais elementar sentimento de dignidade humana.
República da
Arbitrariedade e do Medo, eis a herança dessa gente que lê pela cartilha de
Marx, instituindo um sistema bárbaro de controlo das consciências através do
Comité de Defensa de la Revolución.
Cuba, durante o
triste reinado de Fidel, foi transformada num prostíbulo (para gáudio dos
turistas…) e na pátria dos “balseros”, os renegados de uma utopia assassina e
sem futuro, enquanto os homens da Nomenklatura, senhores de um poder absoluto,
vivem no luxo requintado, quase obsceno, circulando, tranquilamente, em carros
de alta cilindrada e consumindo produtos ocidentais que as camadas mais pobres
não podem ver, diga-se, nem nos melhores sonhos.
Os porcos
elitistas de George Orwell, já se sabe, são mais iguais do que os outros.
O próprio Fidel
Castro, apesar da imagem de frugalidade que ostentava, para consumo, é certo,
da legião de néscios embevecidos, possuía uma ilha privada e adorava lagostas,
whiskies e outros produtos caros.
Sempre viveu
como um nababo.
É essa figura
macabra, deveras monstruosa, daninha e orgulhosamente terrorista –
transformando uma nação pacífica na encarnação do inferno de Dante –, que
recebe, entre nós, marchas de solidariedade e elogios rasgados do “comandante”
Pedro Pires e de escritores como Mário Lúcio Sousa e Filinto Correia e Silva,
mais uma prova cabal do arcaísmo insuperável da nossa cultura política,
pintando o tirano-mor das Caraíbas com as cores lindas e românticas da velha
utopia comunista. Nada mudou, no essencial.
O poeta francês
Louis Aragon também declarava, sem qualquer hesitação ou sentimento de remorso,
no altar da propaganda comunista, o seguinte: “Os olhos azuis da revolução
brilham com uma crueldade necessária”.
Ou seja, toda a
brutalidade é justificável, porque há um “paraíso” sublime, prometido pelo
santo Karl Marx no Manifesto de 1848, à nossa espera numa esquina qualquer do
futuro!
Há, por isso,
crimes lógicos, acima do julgamento dos homens. O assassino é um herói.
Filinto chega a
justificar a tirania castrista com as célebres “conquistas sociais”. É um mito
frágil. Pura falsidade, e propaganda comunista larvar.
Quando Fidel
Castro entrou triunfalmente em Havana, em Janeiro de 1959, Cuba era o país com
o melhor índice de saúde e educação em toda a América Latina, à frente,
inclusive, de alguns países europeus.
In illo
tempore, a economia cubana suplantava a brasileira.
A “revolução”
comunista só fez uma coisa admirável: teve a habilidade, após décadas de experimentação,
de fazer regredir essas conquistas, estando Cuba, nos dias que correm, muito
atrás de alguns países daquele hemisfério.
O aparelho
produtivo de Cuba foi destruído pela política socialista.
Mas o país
especializou-se, entretanto, na exportação de…mentiras, a mais próspera
indústria da ilha-cárcere.
Eis a imensa
glória de Fidel.
“A mente comunista não funciona segundo
os cânones da psicologia usual, mas segue uma lógica própria onde se misturam,
em doses indistinguíveis, a habilidade dialética, o auto-engano histérico e a
mendacidade psicopática.” Olavo de Carvalho
Casimiro de Pina é jurista e autor do
livro 'Ensaios Jurídicos: Entre a Validade-Fundamento e os Desafios
Metodológicos'.
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