Por Ludwig
von Mises
O
governo consegue parte dos fundos necessários para seu próprio financiamento
através da inflação, isto é, aumentando a quantidade de dinheiro em circulação
e a quantidade de saldos bancários acessíveis por meio de cheques (ou, para
dizer de outro modo, pela diminuição dos depósitos compulsórios).
A
conseqüência inevitável da inflação é o surgimento de uma tendência geral de
aumento em todos os preços. Se o governo tivesse obtido todo o dinheiro
necessário para suas operações através da taxação dos cidadãos, o aumento dessa
demanda por parte do governo seria contrabalanceado por uma queda da demanda
por parte dos contribuintes, que agora têm menos dinheiro. A expansão dos
gastos do governo seria neutralizada no mercado por uma restrição do consumo
dos contribuintes. Mas havendo inflação, a demanda adicional gerada pelos
gastos do governo se junta à demanda não diminuída por parte do público - e,
assim, os preços sobem.
O que os burocratas
têm em mente quando falam em "combater" a inflação não é evitar
a inflação, mas suprimir suas inevitáveis conseqüências através do
controle de preços. Mas esse é um empreendimento infrutífero. A tentativa de se
fixar os preços em um nível menor do que o determinado pelas livres e desimpedidas
forças do mercado resulta em negócios nada lucrativos para alguns produtores -
aqueles que estariam operando aos custos mais altos. E isso força-os a
interromper a produção.
A inflação, em
conjunto com o controle de preços, provoca escassez...
Os economistas
sabem muito bem que há apenas um meio disponível para impedir mais aumentos nos
preços de todas as commodities: acabar completamente com a inflação.
Se o governo
obtiver todo o seu financiamento unicamente através da taxação e, assim, parar
de aumentar a quantidade de dinheiro em circulação e parar de tomar emprestado
dos bancos comerciais, os preços gerais permanecerão inalterados, e não haverá
necessidade de termos controles ditatoriais de preços.
Mas o governo não
tem qualquer motivo para querer parar com a inflação. Não é eleitoralmente
popular para um governo coletar toda a quantia necessária para seus gastos
unicamente através da taxação. É preferível iludir o público recorrendo ao
aparentemente não oneroso método de aumentar a quantidade de moeda e crédito.
Mas, não obstante, qualquer que seja o método de financiamento adotado - seja
taxação, empréstimos ou inflação -, os gastos governamentais vão
inevitavelmente incidir por completo sobre o público.
Tanto com a
inflação, como com a taxação ou com empréstimos, são os cidadãos que irão pagar
a conta final. A marca característica da inflação, quando utilizada como um
método de complementar os cofres do Tesouro, é que ela distribui o ônus da
maneira mais injusta possível, sobrecarregando aqueles que são menos capazes de
arcar com suas conseqüências - a saber, os mais pobres.
Um truque semântico
Para evitar levar a
culpa pelas conseqüências nefastas da inflação, o governo e seus seguidores
recorrem a um truque semântico. Eles tentam mudar o significado dos termos.
Eles chamam de "inflação" aquilo que é justamente a conseqüência
inevitável da inflação: o aumento dos preços. Eles ficam ansiosos para relegar
ao esquecimento o fato de que esse aumento dos preços é produzido justamente
pelo aumento da quantidade de dinheiro e de substitutos monetários na economia.
E eles nunca mencionam esse aumento.
Eles culpam as
empresas e os empresários por esse aumento do custo de vida. Esse é o caso
clássico do ladrão gritando "pega ladrão!". O governo, que é quem
produziu a inflação ao multiplicar a oferta monetária, incrimina os produtores
e os mercadores, e se jacta de ser o grande paladino dos preços baixos.
Enquanto o governo
está ocupado molestando vendedores e consumidores com uma enxurrada de decretos
e regulamentações, cujo único efeito é a escassez, o Tesouro e o Banco Central
seguem com a inflação.
Ludwig von Mises foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de
pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor
prolífico. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica,
história, epistemologia, governo e filosofia política. Suas contribuições
à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa
de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à
teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente
é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico.
Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de
uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de
"praxeologia".
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