Por Rodrigo Gurgel - maio 31,
2014
A prova do que afirmo encontra-se não apenas na história
das revoluções — vejam o Purgatório congelado no tempo em que Cuba se
transformou, sobrevivendo graças à submissão de um povo sem esperança e sem
armas e à propaganda esquerdista mundial, ou os milhões de crimes perpetrados
pelo comunismo soviético —, mas também no presente, no cotidiano da sociedade
brasileira, sequestrada, em grande parte, pelo pior tipo de populismo que já
conhecemos, superior, em método e recursos, aos refinamentos do getulismo.
Esta semana, mais uma vez, o governo ensaiou uma
tentativa de golpe. O alarme foi dado pelo editorial do Estadão, “Mudança de regime por decreto”,
e rapidamente se espalhou pelas redes sociais e blogs, transformando-se em um
fenômeno viral.
De fato, enquanto os políticos de oposição dormem,
refestelados em seus altos salários e mordomias, parcela da sociedade vigia,
atenta, os ensaios para se criar uma ditadura. As reações foram múltiplas:
Reinaldo Azevedo pontificou: “A ‘democracia direta’de Dilma é
ditadura indireta do PT”. Alexandre Borges deu uma breve mas
incisiva aula de história em “Todo poder aos sovietes
petistas”. Felipe Moura Brasil denunciou a lentidão dos tucanos,
sempre envergonhados ou sempre pactuando silenciosamente com o governo, no post
“Ronaldo Caiado sai na frente de Aécio: ‘É golpe do PT!’”. No artigo “Um tumor inserido por decreto”,
Fábio Blanco sangrou ainda mais a manobra traiçoeira. E Milton Simon Pires não
deixou por menos: mostrou, em “Brasil 8243”,
como o PT pretende destruir as instituições do país.
O mais didático e irônico, contudo, foi Erick Vizolli, no
sempre ótimo Liberzone. No artigo “Afinal, o que é esse tal
Decreto 8.243?”, Vizolli mostra que o sistema representativo,
apesar de todos os seus defeitos, ainda é a única forma de nos protegermos de
um Estado controlado por grupos que não têm compromisso com a democracia ou a
liberdade, mas apenas com suas próprias ideologias.
Todos esses articulistas me recordaram as reflexões de
Roger Scruton em The Uses of Pessimism and the Danger of False Hope
(As vantagens do pessimismo, Editora Quetzal, Lisboa). No
Capítulo 6, “A Falácia do Planeamento”, Scruton faz uma brilhante analogia
entre a estrutura da União Europeia e a forma como Lenin aboliu, na Revolução
Russa, “todas as instituições através das quais o partido e seus membros
pudessem ser responsabilizados pelo que fizeram”, permitindo que um erro se
sucedesse a outro, sempre maior, sempre mais criminoso.
Scruton reflete como se tivesse acabado de ler o decreto
de Dilma Roussef: “Quando os poderes de Governo estiverem adequadamente
repartidos e quando os que detêm a soberania puderem ser expulsos por uma
votação, os erros podem encontrar o seu remédio. Porém suponhamos que as
instituições de Governo estão montadas de tal maneira que toda a concentração
de poder é irreversível, de modo que os poderes adquiridos pelo centro nunca
podem ser recuperados. E suponhamos que aqueles que mandam no centro são
nomeados, não podem ser afastados a pedido do povo, encontram-se em segredo e
guardam poucas ou nenhumas atas das suas decisões. Acha que, nessas
circunstâncias, existem condições em que possam ser retificados erros ou mesmo
convincentemente confessados?”.
Todos os infinitos casos de corrupção; todas as
manifestações de ódio coletivo que têm tomado as ruas; o longo e incansável
trabalho de controle ideológico feito pelo Ministério da Educação, censurando,
de forma velada, o conteúdo de milhões de livros didáticos distribuídos país
afora; todas as tentativas de manter sob vigilância a mídia e a Internet; o evidente
controle do Executivo sobre parcela do Congresso e do Supremo Tribunal Federal
— tudo contribui para transformar o Decreto 8.243 na cereja do bolo.
Se ainda podemos ter alguma esperança, ela reside no fato
de que eles sempre acabam destruindo uns aos outros. “Doze vozes gritavam
cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que
sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para
um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas
já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco” — conta
George Orwell no final de A Revolução dos Bichos.
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