Campanha da
Fraternidade 2015 e Reforma Política.
Por Hermes Rodrigues Nery
A
Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), com o texto-base da Campanha da
Fraternidade de 2015 — com o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu
vim para servir” (cf. Mc 10, 45) –, confirma que é hoje extensão do Foro de São
Paulo e, de modo especial, do PT, ao explicitar sua adesão e comprometimento
com a revolução bolivariana em curso na América Latina e com uma reforma
política plebiscitária que se volta contra a democracia representativa,
propondo a sovietização no Brasil. A CF-2015 propõe a “radicalização da
democracia”, corroendo-a em demagogia, pois a chamada “democracia direta”, como
defende, é o instrumento anárquico para
subverter a ordem jurídica e propiciar a implantação do socialismo em nosso
País. O alinhamento ideológico da CNBB à esquerda e ao
socialismo, como quer o Foro de São Paulo e o PT, é evidentíssimo e cada vez
mais escancarado. O que antes se suspeitava, agora está mais do que comprovado.
Os assessores da CNBB [intelectuais orgânicos, gramscianos], que tanto
influem os bispos, sabem que paróquias e dioceses estão reféns desse
“alinhamento” e de tais forças, e funcionam como tentáculos do grande polvo que
se tornou a CNBB, a serviço dos interesses políticos do Foro de São Paulo e do
PT.
Aos
poucos, a sã doutrina moral e social da Igreja é esvaziada de seus conteúdos e
substituída pela ideologia bolivariana, que quer implantar a “Pátria Grande”
socialista, projeto este que vem sendo trabalhado há décadas e agora parece ter
encontrado a conjuntura política favorável para isso, tendo em vista que
bolivarianos transitam e dão as cartas com desenvoltura até mesmo no Vaticano.
Aliás, o projeto da “Pátria Grande” já é mencionado no próprio Documento de
Aparecida (2007), e com a reforma política bolivariana em curso hoje no Brasil
(com a conivência, cumplicidade e apoio ostensivo da CNBB), prepara o País (na
tática da rã cozida lentamente) a aceitar a revolução comunista travestida de
democracia, com a retórica do apelo à “democracia direta”, para a subversão
total da ordem jurídica e política, com a ideologização da fé em detrimento da
doutrina religiosa. Com isso, os setores católicos à esquerda e muitos que desconhecem
o que está acontecendo, manipulados pela CNBB, deixam-se usar para tais fins
perversos, pois os assessores da conferência episcopal brasileira sabem da
capilaridade da Igreja e pouco se importam com os efeitos dessa reengenharia
social que ajudam a promover.
São
padres e bispos que querem o paraíso terrestre, aqui e agora, aceitam o
populismo, o imanentismo e até o panteísmo, em se tratando de buscar manter
seus confortos, nos postos em que estão, e, no campo das ideias, convergir
cristianismo e comunismo, mesmo sabendo que o Magistério da Igreja é categórico
em condenar o socialismo e o comunismo. Mas, para Frei Betto, por exemplo,”o
cristianismo é essencialmente comunista”. E então, a teologia da libertação
(mais viva hoje e com mais poder) chegou aonde não devia estar, e, no Vaticano,
bispos e cardeais estão encantados com a nova utopia da “Pátria Grande”
latino-americana. Tais prelados dão todo respaldo para reabilitar os “teólogos
da libertação”, para conseguir a revolução tão desejada por muitos desde os
anos do Vaticano II. Não é só a reforma política sovietizada que querem no
Brasil, mas em toda a Igreja. E a revolução no continente latino-americano é
hoje expressão da obsessão bolivariana, insuflada pela teologia da libertação,
para alcançar os propósitos de poder acalentados a tanto tempo.
Afinal,
desde 1985, com o primeiro encontro de Fidel Castro com os bispos cubanos
(depois da revolução de 1959), que o projeto bolivariano começou a ser gestado
concretamente para fazer da integração da América Latina o novo bloco regional
socialista, sonhado tanto por Fidel Castro. Mas o próprio Fidel sabia que isso
só seria possível instrumentalizando a Igreja, inoculando em seu seio, de modo
sutil e sofisticado, a subversão da doutrina, com a ideologização da fé. Feito
isso, usaria a estrutura física da instituição para dar suporte à nova utopia
do bolivarianismo, sem que os católicos se dessem conta do processo, lento
e gradual, de corrosão da sã doutrina pelos agentes da revolução, que
conseguiram alcançar, com astúcia, os altos escalões eclesiásticos. Desde
o início, o Brasil foi visto como a galinha dos ovos de ouro, pois é um país
continental, cujos recursos em muito ajudariam não só Cuba, mas toda a “Pátria
Grande” socialista. Mas para fazer a revolução por dentro seria preciso contar
com a “teologia da libertação”. Mesmo barrada por Ratzinger (especialmente
Boff, em 1984), Fidel não desistiu. Ele sabia que ela seria o “fermento na
massa” da revolução dentro da Igreja. Já em 2005, tentaram um “plano ousado” de
cardeais progressistas para eleger um papa latino-americano comprometido com o
projeto da “Pátria Grande”, mas foi o próprio Ratzinger quem ganhou e, ao menos
naquele momento, tentou por um dique à convulsão revolucionária. Mas o próprio
Andreas Englisch conta, em seu livro sobre Bento XVI, que não havia chegado a
hora da “grande revolução”. E o mesmo Englisch narra o quanto Ratzinger foi
boicotado desde o início. Ele próprio reconheceu em seu livro: “Existe,
definitivamente, um grupo anti-Ratzinger dentro do Vaticano”. O fato é que
Ratzinger havia condenado a teologia da libertação, mas Fidel Castro, no ano
seguinte à condenação de Boff, explicou pessoalmente a Pedro Casaldáliga:
“A teologia da libertação é mais importante que o marxismo para a revolução
latino-americana”.
“A democracia como método
revolucionário”
Ao
apoiar explicitamente a reforma política que favorerece o projeto totalitário
do PT no Brasil, com a constituinte exclusiva, a CNBB endossa assim o afã da
esquerda política pela “radicalização da democracia”, que Dilma Roussef
inclusive já quis impor com o Decreto 8243, rechaçado pela Câmara dos
Deputados. Bolivarianismo este que significa a implantação do socialismo, a
exemplo do que já aconteceu na Venezuela e na Bolívia, etc. No Brasil, as
Campanhas da Fraternidade são parte desta estratégia de doutrinação ideológica
marxista e revolucionária, que há anos vem instrumentalizando setores da Igreja
(via CNBB, Pastoral da Juventude, e outras pastorais e movimentos), ampliando
assim a infiltração esquerdista no seio da Igreja, cujas bandeiras ideológicas
e políticas de premissas socialistas contradizem com a sã doutrina moral e
social da Igreja. O caso da Venezuela foi bem explicado no programa Força, Foco e Fé, em que
Carla Andrade explicou que Hugo Chavez utilizou-se dos mesmos argumentos que a
CNBB defende na CF-2015, para “sequestrar os direitos civis e políticos dos
venezuelanos, passando de uma democracia representativa para passar a um estado
totalitário com a retórica da democracia participativa. Um golpe de estado sui
generis, instalado com aparência jurídica”.
A
democracia corrompida em demagogia é utilizada como “método revolucionário”,
como afirmou Álvaro Garcia Linera, vice-presidente da Bolívia e intelectual
marxista, na inauguração do XX encontro do Foro de São Paulo,
realizado em La Paz, entre 25 a 27 de agosto de 2014. Nos 24 anos de
existência do Foro de São Paulo, Linera conta que o sucesso para instalar
governos progressistas e revolucionários na América Latina foi justamente
aceitar a democracia como etapa prévia para um processo que desague na
acalentada revolução socialista, cujos insurgentes latino-americanos, há
décadas vem atuando de modo organizado e sistematicamente nesse sentido. Linera
ressalta aos participantes do XX encontro do Foro de São Paulo que é preciso
entender “a democracia como método revolucionário” e, para isso, é preciso
“radicalizar a democracia” — é o que propõe a CNBB no Documento 91, de 2010,
“Por uma Reforma do Estado com Participação Democrática”, chegando à chamada
“democracia direta e participativa”, pois só assim será possível o contexto
anárquico favorável à revolução socialista, com o método indicado por Linera.
Por isso, a reforma política no Brasil, apoiada na CF-2015, que querem tais
grupos é a que Dilma Roussef acenou com o Decreto
8243/2014, com a chamada Política Nacional de Participação Social.
Mas não foi possível viabilizar tal iniciativa nas instâncias decisórias do
Legislativo brasileiro, daí que as OnGs, as entidades, os movimentos, as redes
e os coletivos, junto com a CNBB, OAB e outros, defendem a reforma política
bolivariana de modo plebiscitário, com constituinte exclusiva, para efetivar
assim as condições políticas para a concretização da integração
latino-americana, com Cuba comunista no comando da “Pátria Grande” socialista.
E tudo isso com as bençãos da CNBB, do CELAM e até do Vaticano.
O fato
é que a Igreja Católica está em perigo, e perigo muito grande, com inimigos tão
ardilosos, agindo por dentro, e com tão grande poder. Urge que os
católicos entendam essa situação e se mobilizem em defesa da sã doutrina moral
e social da Igreja, não aceitando que a Esposa de Cristo seja refém de tais
forças. No Brasil, o primeiro passo é exigir que a CNBB retire o apoio a esta
equivocada reforma política bolivariana, como apresenta no texto-base da
Campanha da Fraternidade de 2015.
Fonte: Fratres in Unum.com
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