Por Eguinaldo Hélio
E, no entanto, não estou falando do Mein
Kampf. Estou me referindo a outro livro com conseqüências ainda piores – O
Manifesto Comunista. Ele foi síntese e semente das ideias e práticas mais
destruidoras do século XX. “Já o Manifesto Comunista é um texto denso,
explosivo, de imensa força. Com vigor impressionante, em suas quarenta ou
cinqüenta páginas estão contidas uma teoria geral da história, uma análise da
sociedade europeia e um programa de ação revolucionária” [2]
Em termos de contagem de cadáveres e
opressão social o opúsculo de Marx e Engels faz a obra de Hitler parecer um
conto de fadas para embalar crianças. De fato, as ideias ali contidas
transformaram o mundo, ou pelo menos uma parte dele, geográfica e
demograficamente falando, em um inferno muito maior do que a Alemanha nazista.
Com o pretexto de banir o mal
produzido pelo capitalismo, o marxismo e tudo o que dele derivou produziu e
continua produzindo uma quantidade infinitamente maior de opressão e mortes.
Transformou países em Gulags, cidadãos honestos em criminosos, discordantes em
vítimas. Sim, matou inúmeros opressores e preencheu o lugar deles com
opressores piores ainda. Em nome de uma falsa igualdade sacrificaram a
verdadeira liberdade. Impossível contar os cadáveres, os prisioneiros, os
oprimidos e a corrupção produzidos por aquela pequena publicação de 1848. Até
hoje aqueles que inspiraram suas ideias e atos no Manifesto lutam para
esconder os cadáveres embaixo do tapete da história em uma tentativa inútil de
inocentar culpados e vitimizar os autores. Não há como.
Li o Manifesto Comunista diversas
vezes e não se pode desvincular seu conteúdo da opressora e sangrenta história
do comunismo. No princípio era a pena contra a espada, até que a pena se
apossasse completamente da espada para então com ela calar todas as penas. Era
uma ideologia nascida com a ânsia do poder totalitário com o qual calaria todas
as ideologias. Temos nele o totalitarismo puro e ainda que teórico, defende o
totalitarismo na prática. Fala de justiça apenas para justificar a si mesmo
pelas injustiças que cometeria. Não foram as conseqüências do Manifesto
Comunista que produziram tantos males. Foram os pressupostos do mesmo que
produziram as conseqüências. Nada foi um acidente de percurso e sim o próprio
percurso, pré traçado e realizado com a precisão de uma micro-cirurgia.
As sementes do mal totalitário foram
todas plantadas pelo Manifesto. A ideia de “derrubada violenta da burguesia”[3], proposta por ele foi levada ao pé da letra
pelos marxistas, para quem qualquer opositor não passa de um burguês que
deveria ser morto. E qualquer ato que sirva para se chegar aos objetivos é
plenamente justificável. “A ética comunista (...) se dá o direito de todos os
meios de mentira e de violência para derrubar a velha ordem e fazer surgir a
nova”[4].
Dessa forma o bem e o mal tomaram
novas formas à partir do Manifesto Comunista. A ética cristã
representada pelos Dez Mandamentos perdeu todo seu efeito e no lugar o certo e
o errado passaram a ser definidos pelos seguidores de Marx de acordo com sua
utilidade ou não para a implantação do comunismo. Como expressou Edmundo
Wilson:
“Há em Marx uma discrepância
irredutível entre o bem que ele propõe à humanidade e a crueldade e o ódio que
ele inculca como meio de chegar ao bem – uma discrepância que, na história do
marxismo, deu origem a muitas confusões morais”.[5]
“Pode-se ter a impressão de que Marx
mantém bem separados o capitalista mau de um lado e o comunista bom do futuro
no outro; no entanto, para chegar a esse futuro, é necessário que o comunista
seja tão cruel e repressivo quanto o capitalista; ele também tem que violentar
aquela humanidade comum que o profeta prega. É uma grave deformação minimizar o
elemento sádico dos escritos de Marx”.[6]
Temos ainda que acrescentar o
testemunho do historiador Paul Johnson, onde a conexão entre o pensamento de
Marx e a violência que ele produziu é algo bastante evidente:
“não há nada no período de Stalin que
não estivesse prefigurado, de uma grande distância no tempo, pelo
comportamento de Marx (...) “Nós somos impiedosos e não queremos
nenhum centavo de vocês. Quando chegar a nossa vez, não vamos reprimir o nosso
terrorismo”, disse Marx, dirigindo-se o governo prussiano. “Muitas passagens
dão a impressão que foram realmente escritas em estado de cólera. No devido
tempo, Lenin, Stalin e Mao Tse-tung puseram em prática, numa imensa escala, a
violência que Marx trazia em seu íntimo e que transpira em sua obra”.[7]
Esta exposição é apenas o começo de
tudo aquilo que o Manifesto Comunista produziu em seus mais de cento e
cinqüenta anos de história. Na verdade, a julgar pelos seus frutos, ele devia
ser definitivamente proibido ou classificado entre os livros perigosos, como
fizeram com o Mein Kampf. Ainda que de forma sintética, como veremos em
outra ocasião, tudo já estava nele, desde a perseguição religiosa e a
destruição da família até os governos totalitários e a censura da imprensa.
Se tivermos em uma mão o Manifesto
e na outra, livros de história do comunismo, então, será impossível não
perceber porque ele merece o título de “o livro mais perigoso do mundo”.
[7] JOHNSON, Paul, Os
intelectuais. Rio de Janeiro: Imago, 1990, pp. 83, 84
Fonte: MSM
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