Por João Cesar de Melo
O anúncio de uma festa com bebida de graça empolga a
maioria das pessoas. “É só pagar o ingresso. A bebida é de graça!”, exclamam.
Pode-se beber o quanto quiser! Pode-se beber o que quiser! O resultado de todas
as festas “open bar” é sempre o mesmo: Desperdício e mau atendimento.
Em situações como
essa, naturalmente surge nas pessoas o desejo de aproveitar o máximo que
puderem, o que as fazem beber muito mais do que beberiam numa situação normal.
Se o valor do ingresso paga 10 cervejas num bar qualquer, numa festa com “tudo
liberado” a pessoa se esforça em beber o dobro para aproveitar a oportunidade.
Nesse ambiente, todos acabam fazendo o que nunca fariam caso tivessem que pagar
por cada bebida que pedissem: descartam-nas antes do final e com frequência
“esquecem” copos e latas pelos cantos, porque sabem que podem pedir mais e mais
e mais…
Observa-se que
estas festas têm dois momentos bem distintos: na primeira metade, pessoas se
acotovelando no balcão para pegar bebidas; da segunda metade em diante o bar
fica cada vez mais vazio, pois as pessoas vão ficando fartas e bêbadas − os
atendentes fiquem sobrecarregados num momento e subcarregados noutro.
Outra
característica é que o consumo desvairado, quando não acaba com a bebida antes
do final, motiva alguns funcionários e participantes a levarem para casa o
excedente, já que o entendimento geral é de que aquela bebida toda não tem
dono, é de quem pegar primeiro. Consideremos também que cada pessoa, numa festa
como essa, bebe mais ou menos que as outras e algumas de fato não bebem. Ou
seja: todos pagam o mesmo valor por um serviço que não é consumido de forma
igualitária por todos. Isso é justo?
A verdade: Toda
“gratuidade” motiva o ser humano ao consumo irresponsável, que na maioria dos
casos alimenta injustiças e leva á escassez; e é exatamente isso que o Estado
impõem a todos, especialmente aos mais pobres.
Os impostos que
pagamos são destinados a custear muitos serviços que não utilizamos, por
exemplo, o de saúde e de educação estatais, no caso daqueles que optam pelos
planos e escolas particulares; enquanto os mais pobres financiam muitos
serviços e infraestruturas que não utilizam. Ricos e pobres ainda são obrigados
a financiar o gigantesco aparato político-administrativo que nunca consegue
cumprir a simples missão de ser coerente no uso do dinheiro arrecadado da
sociedade.
No “open bar”
imposto pelo Estado, percebemos todos os dias que, enquanto alguns serviços
carecem de funcionários, noutros há excessos. Percebemos também e dolorosamente
que funcionários e participantes nesta festa paga com dinheiro de todos, boa
parte dos recursos são desperdiçados ou desviados pelos mais espertos. Além de
todas as “gratuidades” oferecidas pelo Estado serem de péssima qualidade, o
peso dos impostos empobrece a sociedade, o que impede a maioria das pessoas de
recorrerem a serviços privados.
O socialismo não
faz nada menos que impor o conceito de “open bar” à sociedade, em total
desrespeito às necessidades, aos desejos e até ao merecimento específicos de
cada indivíduo.
Para enxergarmos o
que realmente representa o Estado, sempre é muito eficiente fazermos pequenas
analogias com nossa vida particular. Diante da questão do papel do Estado como
empregador, façamos algumas perguntas: Eu contrataria um funcionário que não
pudesse demitir? Eu defenderia a ideia de que o condomínio onde moro deve
contratar ascensoristas? Não e não, mas a maioria das pessoas aceita que o
Estado contrate desnecessariamente milhares de pessoas e ainda lhes ofereça a
tal “estabilidade do funcionalismo público”.
Aos que defendem
que o governo deva promover a tal “justiça social” por meio dos impostos, proponho
outras perguntas: Eu (Imaginando-me sendo um pobre assalariado) preferiria que
meu empregador pagasse diretamente a mim o valor aos encargos sociais ou que
esse dinheiro continue indo para o caixa do governo? Eu preferiria ter a
liberdade de, com esse dinheiro a mais, escolher e pagar por um plano de saúde
particular ou continuar confiando que esse valor será um dia (um dia!) bem
utilizado pelo governo no sistema de saúde estatal? Eu preferiria decidir por
mim mesmo sobre meu futuro ou continuaria crendo que vale a pena deixar o
governo cuidar de minha aposentadoria?
Esta pergunta vai
para os socialistas: Se querem distribuir renda, que tal distribuir a renda do
próprio Estado entre os cidadãos mais pobres, para que cada um deles possa
optar e pagar pelos serviços que deseja? Por que não se eleva o conceito de
“justiça social” à máxima potência oferecendo ao trabalhador a possibilidade
dele próprio saciar suas necessidades e desejos? Respondo: Porque, assim, não
demoraria para a sociedade perceber que não há necessidade da existência do
Estado − logo seria extinto, acabando também com a fonte de renda dos
socialistas profissionais.
No Japão existe a
“Autonomia Soberana”, um dispositivo legal no qual o trabalhador opta por
receber o valor dos encargos sociais diretamente de seu empregador.
O ditado popular
“não façamos com o outro aquilo que não desejamos para nós mesmos”, deve ser
convertido a “não cobremos do Estado aquilo que não oferecemos aos outros”.
Devemos entender, definitivamente, que quanto maior a “gratuidade” anunciada,
maiores serão as chances do serviço ou produto oferecido serem ruins. Não
devemos sonhar um país onde o Estado nos forneça tudo o que precisamos. Devemos
cobrar com um país onde todos tenham condições de pagar por tudo o que precisa
e deseja.
Quando o pobre
também tiver que pagar matrícula e mensalidade da escola dos seus filhos, ele
cobrará ensino e estruturas melhores.
Quando o pobre
tiver que pagar pelo seu plano de saúde, ele cobrará atendimento e serviço
melhores; e, com toda certeza, cuidará mais de sua própria saúde.
Quando a água e a
energia residenciais forem cobradas em função de sua importância, não em função
de sua suposta abundância, todos os consumidores se tornarão mais responsáveis
− o consumo será muito mais racional.
A política de
gratuidades como medida de democratização de serviços públicos é um absurdo que
invariavelmente leva a desperdícios de recursos tanto na administração de cada
um desses serviços, quanto no uso dos mesmos, gerando aumento sucessivos de
impostos que, vale a pena repetir, sempre pesa mais sobre os mais pobres.
A ditado
popularizado por Milton Friedman, “Não existe almoço grátis”, é uma das maiores
verdades do mundo.
Existe apenas uma
diferença entre o organizador de uma festa “open bar” e o Estado: O primeiro
nos convida; o segundo nos obriga.
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