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sábado, 7 de fevereiro de 2015

O estado e o conceito de “open bar”

Por João Cesar de Melo

 O anúncio de uma festa com bebida de graça empolga a maioria das pessoas. “É só pagar o ingresso. A bebida é de graça!”, exclamam. Pode-se beber o quanto quiser! Pode-se beber o que quiser! O resultado de todas as festas “open bar” é sempre o mesmo: Desperdício e mau atendimento.

Em situações como essa, naturalmente surge nas pessoas o desejo de aproveitar o máximo que puderem, o que as fazem beber muito mais do que beberiam numa situação normal. Se o valor do ingresso paga 10 cervejas num bar qualquer, numa festa com “tudo liberado” a pessoa se esforça em beber o dobro para aproveitar a oportunidade. Nesse ambiente, todos acabam fazendo o que nunca fariam caso tivessem que pagar por cada bebida que pedissem: descartam-nas antes do final e com frequência “esquecem” copos e latas pelos cantos, porque sabem que podem pedir mais e mais e mais…

Observa-se que estas festas têm dois momentos bem distintos: na primeira metade, pessoas se acotovelando no balcão para pegar bebidas; da segunda metade em diante o bar fica cada vez mais vazio, pois as pessoas vão ficando fartas e bêbadas − os atendentes fiquem sobrecarregados num momento e subcarregados noutro.

Outra característica é que o consumo desvairado, quando não acaba com a bebida antes do final, motiva alguns funcionários e participantes a levarem para casa o excedente, já que o entendimento geral é de que aquela bebida toda não tem dono, é de quem pegar primeiro. Consideremos também que cada pessoa, numa festa como essa, bebe mais ou menos que as outras e algumas de fato não bebem. Ou seja: todos pagam o mesmo valor por um serviço que não é consumido de forma igualitária por todos. Isso é justo?

A verdade: Toda “gratuidade” motiva o ser humano ao consumo irresponsável, que na maioria dos casos alimenta injustiças e leva á escassez; e é exatamente isso que o Estado impõem a todos, especialmente aos mais pobres.

Os impostos que pagamos são destinados a custear muitos serviços que não utilizamos, por exemplo, o de saúde e de educação estatais, no caso daqueles que optam pelos planos e escolas particulares; enquanto os mais pobres financiam muitos serviços e infraestruturas que não utilizam. Ricos e pobres ainda são obrigados a financiar o gigantesco aparato político-administrativo que nunca consegue cumprir a simples missão de ser coerente no uso do dinheiro arrecadado da sociedade.

No “open bar” imposto pelo Estado, percebemos todos os dias que, enquanto alguns serviços carecem de funcionários, noutros há excessos. Percebemos também e dolorosamente que funcionários e participantes nesta festa paga com dinheiro de todos, boa parte dos recursos são desperdiçados ou desviados pelos mais espertos. Além de todas as “gratuidades” oferecidas pelo Estado serem de péssima qualidade, o peso dos impostos empobrece a sociedade, o que impede a maioria das pessoas de recorrerem a serviços privados.

O socialismo não faz nada menos que impor o conceito de “open bar” à sociedade, em total desrespeito às necessidades, aos desejos e até ao merecimento específicos de cada indivíduo.

Para enxergarmos o que realmente representa o Estado, sempre é muito eficiente fazermos pequenas analogias com nossa vida particular. Diante da questão do papel do Estado como empregador, façamos algumas perguntas: Eu contrataria um funcionário que não pudesse demitir? Eu defenderia a ideia de que o condomínio onde moro deve contratar ascensoristas? Não e não, mas a maioria das pessoas aceita que o Estado contrate desnecessariamente milhares de pessoas e ainda lhes ofereça a tal “estabilidade do funcionalismo público”.

Aos que defendem que o governo deva promover a tal “justiça social” por meio dos impostos, proponho outras perguntas: Eu (Imaginando-me sendo um pobre assalariado) preferiria que meu empregador pagasse diretamente a mim o valor aos encargos sociais ou que esse dinheiro continue indo para o caixa do governo? Eu preferiria ter a liberdade de, com esse dinheiro a mais, escolher e pagar por um plano de saúde particular ou continuar confiando que esse valor será um dia (um dia!) bem utilizado pelo governo no sistema de saúde estatal? Eu preferiria decidir por mim mesmo sobre meu futuro ou continuaria crendo que vale a pena deixar o governo cuidar de minha aposentadoria?

Esta pergunta vai para os socialistas: Se querem distribuir renda, que tal distribuir a renda do próprio Estado entre os cidadãos mais pobres, para que cada um deles possa optar e pagar pelos serviços que deseja? Por que não se eleva o conceito de “justiça social” à máxima potência oferecendo ao trabalhador a possibilidade dele próprio saciar suas necessidades e desejos? Respondo: Porque, assim, não demoraria para a sociedade perceber que não há necessidade da existência do Estado − logo seria extinto, acabando também com a fonte de renda dos socialistas profissionais.

No Japão existe a “Autonomia Soberana”, um dispositivo legal no qual o trabalhador opta por receber o valor dos encargos sociais diretamente de seu empregador.

O ditado popular “não façamos com o outro aquilo que não desejamos para nós mesmos”, deve ser convertido a “não cobremos do Estado aquilo que não oferecemos aos outros”. Devemos entender, definitivamente, que quanto maior a “gratuidade” anunciada, maiores serão as chances do serviço ou produto oferecido serem ruins. Não devemos sonhar um país onde o Estado nos forneça tudo o que precisamos. Devemos cobrar com um país onde todos tenham condições de pagar por tudo o que precisa e deseja.

Quando o pobre também tiver que pagar matrícula e mensalidade da escola dos seus filhos, ele cobrará ensino e estruturas melhores.

Quando o pobre tiver que pagar pelo seu plano de saúde, ele cobrará atendimento e serviço melhores; e, com toda certeza, cuidará mais de sua própria saúde.

Quando a água e a energia residenciais forem cobradas em função de sua importância, não em função de sua suposta abundância, todos os consumidores se tornarão mais responsáveis − o consumo será muito mais racional.

A política de gratuidades como medida de democratização de serviços públicos é um absurdo que invariavelmente leva a desperdícios de recursos tanto na administração de cada um desses serviços, quanto no uso dos mesmos, gerando aumento sucessivos de impostos que, vale a pena repetir, sempre pesa mais sobre os mais pobres.

A ditado popularizado por Milton Friedman, “Não existe almoço grátis”, é uma das maiores verdades do mundo.

Existe apenas uma diferença entre o organizador de uma festa “open bar” e o Estado: O primeiro nos convida; o segundo nos obriga.

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