Por Walter Block
Esta
tenebrosa dinâmica tem de ser revertida caso queiramos melhorar nosso bem-estar
Se a
mídia nos informa que "a abertura da fábrica XYZ criou 1.000 novos
empregos", nós aplaudimos. Quando a empresa ABC fecha suas portas e 500
empregos somem, ficamos tristes. Se algum político surgir prometendo fornecer
subsídios para salvar a ABC terá praticamente garantido um amplo apoio público
por seu esforço de preservar empregos.
Mas o
fato é que empregos, por si sós, não representam nada. Empregos, por si sós,
não garantem bem-estar e riqueza para uma população. Empregos só são
importantes se a mão-de-obra estiver produzindo bens e serviços que sejam
genuinamente demandados pela população consumidora.
Suponha
um emprego no qual o sujeito deve cavar buracos apenas para enchê-los
novamente. Trata-se de um serviço que não é demandado por nenhum consumidor.
Tal emprego cria riqueza e aumenta o bem-estar da sociedade? Ele cria produtos
genuinamente demandados pela população? Ele sequer deveria existir? Mais ainda:
deveria ele ser mantido com o dinheiro de impostos?
Na União
Soviética, cujo regime afirmava ter pleno emprego e se gabava de dar um emprego
para cada trabalhador, muitos trabalhos eram tão improdutivos quanto esse.
Por isso,
o que realmente interessa para uma economia é a produção, e não o
emprego. A produção é o fim supremo, e empregos nada mais são do que meios para
se alcançar esse fim.
Vale
repetir: o objetivo de uma economia não é criar empregos. O
objetivo de uma economia é produzir bens e serviços que o público consumidor
deseja adquirir. Empregos serão uma consequência positiva desta produção
demandada.
Consequentemente
— e este é um ponto crucial —, criar empregos artificiais para produzir bens e
serviços que não são demandados é uma política que irá afetar a produção
daqueles bens e serviços realmente demandados.
Imagine
que uma família suíça, os Robinson, fosse abandonada em uma ilha deserta. Eles
precisam de empregos? Não, eles precisam de comida, roupas, abrigo e proteção
contra animais selvagens. Cada emprego artificialmente criado na ilha
representaria uma redução na limitada e preciosa mão-de-obra disponível, o que
implicaria a produção de menos bens e serviços cruciais. Por isso, o trabalho é
algo que deve ser racionado — e não criado artificialmente — de uma maneira tal
que o mercado possa produzir a maior quantidade de produtos possíveis utilizando
a limitada oferta de mão-de-obra, de bens de capital e de recursos naturais
disponíveis.
Aquilo
que vale para uma ilha deserta é igualmente válido para a nossa sociedade. A
oferta de mão-de-obra é, por definição, limitada. Não há um número infinito de
pessoas. Consequentemente, não devemos permitir que seja o governo quem crie
empregos. Quando o governo cria empregos (com os recursos extraídos da
sociedade) outros bens e serviços genuinamente demandados pela população deixam
de ser produzidos.
Por isso,
devemos reservar a preciosa mão-de-obra para aquelas tarefas importantes que
ainda não foram feitas.
Alternativamente,
imagine um mundo no qual pizzas, tênis de corrida, computadores, carros,
televisores e tudo o mais que quiséssemos caísse continuamente dos céus como
maná. Será que iríamos realmente "querer empregos" em tal
Utopia? Claro que não, pois iríamos querer nos dedicar a outras tarefas — ler,
tomar banho de sol etc. —, as quais iríamos empreender pelo seu prazer
intrínseco.
Portanto,
em vez de glorificar empregos por si próprios, deveríamos nos perguntar por que
empregos são tão importantes. A resposta é: porque vivemos em um mundo de
escassez econômica e devemos trabalhar e produzir para podermos viver e
prosperar. É por isso que deveríamos louvar apenas quando vemos que um
determinado emprego irá produzir coisas que as pessoas realmente valorizam —
isto é, estão dispostas a comprar com seu próprio e suado dinheiro.
E isso é
algo que só pode ser feito pelo livre mercado, e não por burocratas e políticos.
A destruição de empregos
Tendo
entendido isso, falemos agora sobre o desemprego.
Como
interpretar a situação daquelas pessoas que querem trabalhar e produzir bens e
serviços genuinamente demandados pelos consumidores, mas que não conseguem
encontrar um emprego?
Como é
possível que algo escasso e limitado como a mão-de-obra não seja plenamente
usado para satisfazer desejos e necessidades (os quais, por definição, são
ilimitados)?
Em outras
palavras, dado que nossos desejos e necessidades são ilimitados, e dado que os
meios para se produzi-los são escassos e finitos, por que então não há pleno
emprego?
Em
praticamente todos esses casos, intervenções estatais são a causa da falta de empregos.
Eis as
principais:
Salário mínimo
A
imposição de um salário mínimo é uma política na qual o governo proíbe que os
empregadores paguem um salário menor que um piso estipulado por políticos. Na
prática, trata-se de um controle de preços.
Para explicar
por que isso é prejudicial, podemos pegar emprestada uma analogia da biologia:
existem certos animais que são fracos em comparação a outros. Por exemplo, o
porco-espinho é indefeso, exceto pelos seus espinhos; o veado é vulnerável,
exceto pela sua velocidade.
Nas
ciências econômicas também existem pessoas que são relativamente fracas. Os
deficientes, os adolescentes, as minorias, os destreinados, os pouco
qualificados, os pouco produtivos — todos estes são agentes econômicos fracos.
Porém, assim como os animais fracos na biologia, eles têm uma vantagem
compensadora: a capacidade de trabalhar por salários mais baixos.
No
entanto, se o governo entra em cena e estipula um valor mínimo para seu
salário, essa vantagem lhes é confiscada. Na prática, é como se os degraus mais
baixos de uma escada fossem cortados. É como se o porco-espinho tivesse seus
espinhos cortados.
Considere
um jovem, sem instrução e sem habilidades, cuja produtividade seja de $ 600 por
mês no mercado. O que aconteceria se a legislatura aprovasse uma lei requerendo
que a ele sejam pagos $ 950 por mês? O empregador que o contratar perderia $
350 por mês.
Ou então
considere um homem e uma mulher, cada um com uma produtividade de $ 2.000 por
mês. E suponha que, por causa de discriminação, ou qualquer outra coisa, o
homem receba $ 2.000 por mês e a mulher, $ 1.500. É como se a mulher tivesse um
pequeno sinal na testa com os dizeres "Dê-me o emprego e ganhe um extra de
$ 500 por mês".
Isso faz
dela uma funcionária desejável, mesmo para um patrão machista. Mas quando uma
lei demandando pagamento igualitário estipula que ela deve receber o mesmo
salário do homem, o empregador irá poder satisfazer suas tendências
discriminatórias e não contratá-la, sem qualquer custo para ele.
Em todos
esses casos, o resultado é o desemprego, o que cria desespero, solidão,
isolamento e dependência.
Encargos sociais e trabalhistas
Além do
salário, o empregador tem de também de arcar com vários outros tributos e taxas
que incidem sobre a folha de pagamento. São os encargos sociais e trabalhistas.
[N. do
E.: no Brasil, empregar alguém traz um custo extra de 103% do salário só com impostos e outros encargos sociais e trabalhistas. Coisas como INSS,
FGTS, PIS/PASEP, salário-educação, Sistema S, 13º salário, adicional de
remuneração, adicional de férias, ausência remunerada, férias, licenças,
repouso remunerado, rescisão contratual, vale-transporte, indenização por tempo
de serviço e outros benefícios fazem com que, além do salário, o empregador
tenha de pagar o equivalente a outro salário só com estes custos].
Encargos
sociais e trabalhistas representam um custo de produção. Quanto maiores forem
os encargos, maiores serão os custos de produção (e sem que a produtividade
tenha aumentado).
A lógica
é a mesma do salário mínimo, só que ainda mais abrangente, pois se aplica a
todas as faixas salariais. Logo, elevar artificialmente o salário mínimo e os
encargos sociais e trabalhistas significa elevar o custo de produção sem que a
produtividade tenha aumentado.
Maiores
custos de produção implicam menores lucros. Menores lucros implicam menos
investimentos. Menos investimentos implicam menos emprego.
Logo,
estes impostos patronais impõem pesados custos financeiros e administrativos
sobre a iniciativa privada, aumentando drasticamente os custos marginais de se
contratar novos empregados.
Valor Comparável
E se o
governo tivesse a brilhante idéia de que enfermeiras e cirurgiões devem receber
o mesmo salário porque suas ocupações têm um valor "intrinsecamente"
igual?
O governo
mandaria que os salários das enfermeiras fossem elevados ao mesmo patamar, o
que causaria desemprego para as mulheres.
Condições de Trabalho
Leis que
obrigam os empregadores a providenciarem certos tipos de condições de trabalho
também criam desemprego. Por exemplo, a exigência de copos de vidro
individuais, água quente, e banheiros modernos em zonas de trabalho rurais
representam custos de produção artificialmente elevados.
Isso é
economicamente equivalente às leis salariais porque, do ponto de vista de
empregador, condições de trabalho são quase que indistinguíveis dos salários
monetários. E se o governo o força a pagar mais, ele vai ter que contratar
menos pessoas.
Sindicatos
Quando o
governo força a iniciativa privada a contratar somente trabalhadores
sindicalizados, ele está discriminando os trabalhadores não-sindicalizados,
fazendo com que eles fiquem em severa desvantagem ou permanentemente
desempregados.
Sindicatos
existem primordialmente para afastar a concorrência. Eles são um cartel
protegido pelo estado, como qualquer outro.
Sindicatos
também proíbem reduções salariais em épocas de recessão econômica. Só pode
haver redução por meio de acordos coletivos e dissídios coletivos. Mesmo que o
trabalhador aceite uma redução, ele é proibido disso.
Todas
essas imposições são feitas com a justificativa de "proteger os
trabalhadores", mas logram apenas expulsar os mais fracos e menos
qualificados do mercado de trabalho. Afinal, se o custo da mão-de-obra não
diminuiu o suficiente perante uma queda na demanda empresarial por
trabalhadores, o que inevitavelmente irá ocorrer é que o desemprego
inevitavelmente aumentará.
Proteção ao Emprego
Leis de
proteção ao emprego, que declaram que ninguém pode ser despedido sem o devido
processo, supostamente devem proteger os empregados. Entretanto, se o governo
diz ao empregador que ele deve manter o empregado não importa o que ocorra, ele
provavelmente nem sequer irá contratar o empregado.
Essa lei,
que tem a intenção de ajudar os trabalhadores, contraditoriamente os impede de
arrumar emprego.
[N. do
E.: no Brasil, isso equivale ao aviso prévio. O aviso prévio faz com que muitas
empresas demitam os funcionários sem necessidade. Por exemplo, se uma
empresa está passando por uma fase difícil e não tem certeza de que poderá
manter o funcionário por mais de um mês, será mais racional demitir para não
correr o risco de mantê-lo por mais tempo e, consequentemente, não poder honrar
suas obrigações trabalhistas depois.
O aviso
prévio também trava as empresas, que podem se ver obrigadas a demitir um
funcionário produtivo, mas que ainda está no período de experiência, e ao mesmo
tempo manter um funcionário improdutivo, mas que já cumpriu o período de carência.
Tudo isso só para não pagar o aviso prévio. Esse custo da improdutividade será
descontado de todos os funcionários.]
Seguro Desemprego
O seguro
desemprego e outras benesses governamentais causam desemprego, pois subsidiam a
ociosidade.
Quando um
tipo de comportamento é subsidiado — nesse caso, a pessoa é paga para não
trabalhar —, aumenta-se a quantidade dele.
Licenças ocupacionais
Regulamentações
e licenças também causam desemprego. A maioria das pessoas sabe que médicos e
advogados precisam ter licenças. Mas poucos sabem que vários outros empregos
bem menos especializados também carecem de autorização governamental.
Quando o
governo aprova uma lei dizendo que certos trabalhos não podem ser empreendidos
sem uma licença, ele erige uma legítima barreira para a entrada. Por que
deveria ser ilegal para alguém tentar a sorte como sommelier? O mercado
vai suprir todas as informações que o consumidor precisa.
Quando o
governo concede o status de legítima para uma profissão e aprova uma lei contra
competidores, ele cria desemprego. Por exemplo, quem faz lobby pelas leis que
impedem qualquer pessoa de virar sommelier? Ora, essa mesma indústria — não
para proteger o consumidor contra maus vinhos, mas para protegerem a si
próprios contra a concorrência.
[N. do E.: o site do
Ministério do Trabalho informa que existem nada menos que 68 profissões regulamentadas no Brasil, mas é bem
provável que esse número esteja defasado. Em quase todos os casos, a
regulamentação impõe a contratação de profissional regulamentado por certas
empresas e proíbe o exercício da profissão por pessoas não-regulamentadas.]
Ambulantes
Leis contra vendedores
ambulantes impedem pessoas de vender comidas e produtos para pessoas que querem
comprá-los.
Em grandes cidades, os
mais vociferantes apoiadores das leis anti-ambulantes são os grandes
restaurantes e as lojas de departamento.
Trabalho Infantil
Há muitos trabalhos que
requerem pouco treinamento — cortar gramas e lavar carros, por exemplo — e que
são perfeitos para pessoas jovens que querem ganhar algum dinheiro.
Em acréscimo aos
ganhos, trabalhar também ensina aos jovens o que é ter um emprego, como
administrar o dinheiro, como poupar e, talvez até mesmo, como investir.
Mas na maioria dos
lugares, o governo discrimina os adolescentes e os impede de participar do
sistema de livre iniciativa. Crianças não podem nem ter um carrinho de limonada
na esquina.
Expansão do crédito
A expansão do crédito
comandada pelo Banco Central — que manipula os juros — e pelo governo (que
determina os juros dos bancos estatais) causa os ciclos econômicos, o que
aumenta o desemprego.
A inflação monetária
criada pela expansão do crédito não apenas aumenta os preços, como também
provação uma alocação errônea da mão-de-obra e de toda a produção. Essa ilusão
monetária faz com que recursos escassos (mão-de-obra, bens de capital e
matéria-prima) sejam direcionados para áreas nas quais não há uma genuína
demanda.
Durante a fase de
crescimento (boom) do ciclo econômico, a iniciativa privada contrata novos
trabalhadores, muitos dos quais saem de outras linhas de trabalho, atraídos que
estão pelos salários mais altos. Essa má alocação de recursos irá durar somente
enquanto a expansão do crédito continuar. Assim que ela for interrompida (e ela
será, caso contrário a carestia ficará fora de controle) a realidade será
restabelecida e começará o processo de correção (também chamado de
"recessão").
Os trabalhadores são
então demitidos e deslocados. (Veja um artigo inteiro e detalhado sobre isso, aplicado ao Brasil).
O livre mercado
O livre mercado, é
claro, não significa Utopia. Vivemos em um mundo de inteligências e habilidades
diferenciadas, de mudanças de preferências dos consumidores, e de informações
imperfeitas, as quais podem levar a desempregos temporários gerados pelo mercado
— o que Mises denominou de "desemprego cataláxico", isto é, o
desemprego devido à decisão voluntária do desempregado (quando ele prefere não
aceitar um emprego oferecido a ele porque prefere o lazer ou porque crê que ao
esperar ele pode obter um emprego que ele considera mais satisfatório do que os
disponíveis no momento).
Algumas pessoas
escolhem o desemprego simplesmente por estarem esperando por um emprego que
pague mais.
Porém, como uma
sociedade, podemos assegurar que todos os que querem trabalhar tenham a chance
de fazê-lo. Para tanto, devemos repelir as leis do salário mínimo, os encargos
sociais e trabalhistas, os impostos patronais, as regras do valor comparável,
as leis das condições de trabalho, a afiliação compulsória aos sindicatos, a
proteção ao emprego, o seguro-desemprego, as benesses governamentais, as
regulamentações e licenças ocupacionais, as leis anti-ambulantes, as leis do
trabalho infantil, e a criação de dinheiro pelo governo.
O caminho para a
criação dos empregos que realmente importam — que produzem bens e serviços
genuinamente demandados — é o livre mercado.
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