A pergunta é constante: qual emenda constitucional eu defenderia para pôr em prática a agenda misesiana? Você defenderia uma lei que proibisse impostos de serem aumentados acima de um certo nível? Uma lei impondo o livre comércio? Uma lei garantindo a liberdade de contratos?
No
entanto, a resposta seria uma outra pergunta: por que deveríamos crer que novas
leis e emendas funcionariam? O problema com leis e emendas é que elas
pressupõem, paradoxalmente, um governo grande e poderoso o suficiente para
implantá-las e fiscalizá-las. Mais ainda: um governo que está mais interessado
no bem dos indivíduos do que em seu próprio bem. Afinal, leis e emendas
nada mais são do que um mandato para o governo intervir, e não uma restrição
sobre sua capacidade de intervir. Por que acreditar que "desta vez
vai funcionar para o bem"?
Não
necessitamos que o governo faça mais coisas, mas sim menos, cada vez menos, até
o ponto em que a genuína liberdade possa triunfar. A única coisa positiva
que um governo pode fazer é definhar permanentemente até finalmente deixar que
a sociedade prospere, cresça e se desenvolva por conta própria.
Ou
seja, um governo não deve e nem pode impor a liberdade; ao contrário, ele deve
apenas permitir que a liberdade continue existindo, cresça e se torne cada vez
mais robusta perante todas as tentativas de transgressão e usurpação
despóticas. Tal ideia, prevalecente no passado, encontra-se hoje
totalmente perdida, e, como resultado, todos estão completamente confusos
quanto ao papel do estado, o qual passou a ser visto por muitos como possuidor
do toque de Midas, a única entidade capaz de impor e garantir a liberdade e o
bem-estar de todos.
Esquecida,
portanto, ficou a ideia de que a liberdade não deve ser imposta, mas sim apenas
ter sua ocorrência permitida, sendo desenvolvida naturalmente desde o âmago da
sociedade.
O
fato é que, hoje, as pessoas nutrem um profundo temor quanto às consequências
de apenas deixar as coisas correrem por si sós — laissez faire, na
antiga frase francesa. A esquerda diz que, sob a genuína liberdade, as
crianças, os idosos e os pobres sofreriam abusos, negligências, discriminação e
privações. Já a direita diz que as pessoas cairiam no abismo da
imoralidade, permitindo que movimentos revolucionários dominassem a
sociedade. Economistas dizem que o colapso financeiro seria inevitável
(mas não explicam por que ele de fato foi inevitável sob a tutela do estado,
como está ocorrendo atualmente); ambientalistas afirmam que haveria uma nova
era de insuportáveis mudanças climáticas, ao passo que especialistas em
políticas públicas de todos os tipos evocam falhas de mercado de todos os
tipos, tamanhos e formas.
Sim,
várias pessoas continuam utilizando a retórica da liberdade. Políticos e
legisladores aplaudem o termo e juram fidelidade à ideia. Porém, quantos
hoje de fato acreditam nesse essencial postulado da antiga revolução liberal,
de que a sociedade pode se gerenciar a si própria, sem um planejamento central,
com seus éditos e regulações? Muito poucos. Em vez da liberdade, as
pessoas acreditam em burocracia, bancos centrais, sanções, guerras, regulamentações,
ditames, limitações, ordens, contenção de crise, "medidas
macroprudenciais" e, principalmente, no financiamento de tudo isso por
meio de impostos, endividamento e criação de dinheiro.
O
governo sempre cresce
Ludwig
von Mises já havia observado:
Há uma tendência inerente a todo poder
governamental em não reconhecer empecilhos às suas operações e em ampliar a
esfera de seu domínio o máximo possível. Controlar tudo, não deixar
espaço para que nada aconteça espontaneamente fora do âmbito de interferência
das autoridades — essa é a meta perseguida incansavelmente por todos os
governantes.
O
problema que ele identificou era como limitar o estado uma vez que ele
começasse a se envolver com algo. Assim que você permite que o estado comece a
gerenciar um aspecto da economia e da sociedade, você cria as condições que
irão, no fim, fazer com que ele controle todo aquele setor. Dado que a
tendência do governo é se expandir, é melhor nunca permitir que ele adquira uma
participação majoritária na vida econômica e cultural da sociedade.
Uma
objeção a essa tese é a de que medidas que impõem uma forma de liberdade pelo
menos nos levam à direção correta. É verdade que mesmo um sistema
parcialmente livre é melhor do que um completamente socialista.
Entretanto, o problema é que vitórias parciais sempre são instáveis. Elas
facilmente, e quase sempre, retrocedem ao completo estatismo, como comprovam
todos os setores da economia que foram 'privatizados' e passaram a ser
controlados por agências reguladoras.
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