Autor: Carl Teichrib,
Desde janeiro de 2008, o mundo voltou sua atenção para o novo
presidente americano, Barack Obama. Isto é compreensível, pois o carisma de
Obama e seu slogan de campanha, "Mudança", despertaram a imaginação
das pessoas nos EUA e em todo o mundo. A "mudança" está acontecendo;
em vez de grande governo, existe agora o governo gigante e, em vez de níveis
incontroláveis de dívida pública, o que existem agora são níveis inimagináveis
de dívida pública. Nas questões mundiais, o presidente Obama assumiu uma
posição decisivamente pró-internacional. Mas, Obama é agora um novo ator na
política internacional e seu apoio público à governança global — conquanto real
e documentável [2] — é relativamente brando em comparação ao seu colega no
outro lado do Atlântico. Pelo menos por enquanto...
Se alguém tem sido um pregador da mudança global, este é o
primeiro-ministro britânico Gordon Brown. Desde que assumiu o cargo em 2007,
Brown tem apelado incessantemente a um novo internacionalismo. Quando ouvimos
seus discursos, parece até que ele está mais interessado em defender uma ONU
investida com maiores poderes e um superestado europeu, do que defender uma
Grã-Bretanha independente, livre e próspera.
Mas isto tem alguma relevância para aqueles que estão fora do
Reino Unido?
Para aqueles que moram na Inglaterra e em outros países europeus
– e de certa forma nos países da Comunidade Britânica de Nações — a posição de
Brown é entendida: é o desejo de dar à luz uma "internacional
socialista" bem-sucedida. Porém, para aqueles que moram em outros lugares,
o nome de Gordon Brown pouco importa. Afinal, por que alguém que reside em
Cleveland (EUA) se preocuparia com o que o primeiro-ministro britânico diz ou
apoia?
Por que a Grã-Bretanha é uma líder global, que exerce enorme
influência em seus papéis nas Nações Unidas e na OTAN, e sua contínua liderança
na Comunidade Britânica de Nações (um grupo formado por 53 países). Além disso,
a Grã-Bretanha é uma das principais detentoras de títulos da dívida do Tesouro
dos EUA. Na verdade, o Reino Unido é atualmente o sétimo maior detentor de
títulos americanos (os dez maiores, em ordem decrescente, são China, Japão,
Centros Bancários do Caribe, países exportadores de petróleo — OPEP, Brasil,
Rússia, Reino Unido, Luxemburgo, Hong Kong e Taiwan). [3]. E isso não é nada
comparado com o papel que a Grã-Bretanha desempenhou como um agente histórico
durante os últimos cem anos ou mais; poucos países moldaram o cenário global
como a Grã-Bretanha fez. [4].
agora o líder britânico está tentando criar uma rota para
atravessar a tempestade econômica global. Neste sentido, o país teve a
presidência do G20 em 2009. O G20 é um grupo formado pelos Ministros da Fazenda
e presidentes de Bancos Centrais dos vinte países mais industrializados e
desenvolvidos; ele é o principal veículo que está sendo usado para nos guiar
durante o furacão financeiro; como o mundo funcionará no outro lado será
reflexo da visão do G20.
Então a Grã-Bretanha é importante para os moradores de Cleveland
ou de qualquer outro lugar fora do Reino Unido? Ela foi importante no passado,
é importante hoje e será ainda mais no futuro. Soluções globais são
necessárias, ou é isto que nos dizem, para corrigir os problemas globais. O
homem que reside no número 10 de Downing Street (NT: A residência oficial do
chefe do governo britânico), o primeiro-ministro Gordon Brown acredita piamente
nisso. Aliás, ele vê a crise atual como uma oportunidade para introduzir
mudança global.
Hoje, a voz dele pode ser ouvida desde o salão do Parlamento
Europeu, onde ele propôs recentemente a criação de uma "sociedade
realmente global", [5] até o salão do Congresso dos EUA, onde ele
proclamou que "devemos aproveitar o momento, porque nunca antes vimos um
mundo com tanta vontade de se unir." Como um disco riscado, que repete
sempre as mesmas palavras, ele lembrou o Congresso que "a nova verdade
comum é que problemas globais requerem soluções globais." [6].
No mundo perfeito de Gordon Brown, como seria isto? Uma pista
foi dada no Fórum Econômico Mundial de 2009, em Davos, Suíça (no dia 30 de
janeiro, durante a sessão "Renovando o Crescimento Econômico").
Durante a discussão, o moderador dirigiu a Brown uma pergunta ligeiramente
capciosa focando na necessidade de um governo mundial. O primeiro-ministro
respondeu com uma promoção velada de um governo mundial:
Moderador: "Primeiro-ministro Brown, o Sr. fala muito sobre
a necessidade de uma melhor governança global, mas o problema geralmente é que
os países não querem abrir mão de sua soberania... Como podermos ter uma
governança global sem órgãos globais, supranacionais, que não são bem vistos
pelas pessoas no seu país e no meu, os Estados Unidos? Há uma grande
desconfiança com relação a essas organizações, como a Organização Mundial do
Comércio ou a União Europeia. Seria a solução aqui criar mais organizações
desse tipo?
Gordon Brown: "... existem mercados de capital global,
existem fluxos financeiros globais, mas só existem supervisores nacionais. E
não dá certo quando existem atividades transnacionais e ninguém praticamente
sabe o que está acontecendo. E então se descobre durante uma crise, que existem
bancos ou instituições financeiras que sempre foram internacionais, mas que
agora se encontram em dificuldades e a única forma de socorro existente é
nacional e não internacional. Portanto, acredito que as pessoas estão
percebendo que a cooperação internacional de que estamos falando é essencial.
Estamos em um sistema econômico mundial, como se poderia sequer pensar que é
possível resolver crises financeiras globais sem existir um nível de cooperação
mundial? Isso me parece absolutamente óbvio."
"O problema é que nossas instituições foram criadas nos
anos 1940s e para economias protecionistas, para concorrência limitada, para
fluxos de capitais nacionais e não globais. Portanto, temos de remodelar essas
instituições…"
"Este é o problema. Ainda não temos instituições
internacionais que funcionem bem o suficiente, embora façamos parte de uma
economia global, que todos sabem ser global e que não deixará de ser global no
futuro. Se não agirmos, as tendências protecionistas se tornarão maiores e
falharemos logo no primeiro passo para construir uma nova era global, onde
espero que uma economia global levará a uma verdadeira sociedade global."
Grandes Planos para uma Sociedade Global
As ideias de Gordon Brown não são só dele. A Grã-Bretanha, assim
como os EUA, possui uma longa história de aspirações a um governo mundial.
Clarence Streit, um pioneiro na defesa de uma Federação Atlântica e,
posteriormente, um lobista pró-reforma da OTAN, testificou esse fato em seu
livro Union Now With Britain, publicado em 1941:
"Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha têm sido,
individualmente, grandes defensores de um governo tanto local como geral.
Nenhum outro povo provou ter uma mentalidade tão provinciana como esses dois.
Ninguém tem feito tanto para estabelecer um governo mundial como nós,
americanos e britânicos." [7].
Ao longo das décadas, a liderança global americana incluiu
homens como o presidente Woodrow Wilson (criador da Liga das Nações), Samuel
Gompers (Organização Internacional do Trabalho), Elihu Root (Corte
Internacional), Owen Young (Banco Mundial) e os presidentes Roosevelt e Truman
(Organização das Nações Unidas). Comentando sobre essas primeiras instituições,
Clarence Streit observou o papel essencial da Grã-Bretanha:
"Para sermos justos, precisamos também admitir que foi
principalmente o apoio britânico que permitiu que cada uma dessas quatro
experiências inestimáveis em matéria de governo mundial — Liga das Nações,
Corte Internacional, OIT e Banco Mundial — se materializassem e não ficassem
apenas no papel." [8].
É impossível documentar o alcance das ações globalistas
britânicas em apenas um único artigo, mas um exame de alguns indivíduos
essenciais será suficiente para demonstrar a dimensão histórica do
"pensamento internacional" no Reino Unido.
Por que isto é importante? Porque compreender os alicerces nos
dará uma importante plataforma para a observação da visão de "sociedade
global" de Gordon Brown, que é hoje o maior defensor de um governo global
— mais do que o presidente Obama, mais do que a chanceler alemã Angela Merkel e
talvez mais até que o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon. Nos grandes planos
de Brown todos nós viveremos sob um sistema socialista de governo mundial.
Vejamos rapidamente três figuras históricas da Grã-Bretanha e a
busca delas por uma nova sociedade global.
H. G. Wells
O autor de clássicos como A Máquina do Tempo (1895), A Ilha do
Dr. Moreau (1895), O Homem Invisível (1897), e A Guerra dos Mundos (1898) —
Wells se interessava profundamente pelo "destino da sociedade humana"
e acreditava que a gestão dos seres humanos deveria ser abordada com um pouco
de "ciência".
Em 1925, Wells publicou uma série de artigos em um volume
intitulado A Year of Prophesying (Um Ano de Profetização), em que propôs uma
economia e um sistema político únicos para todo o mundo: "Apoio o controle
mundial da produção, do comércio e do transporte, uma moeda mundial e a
confederação da humanidade. Sou a favor de um superestado..." [9].
Tenha em mente que isto foi durante a época da Liga das Nações,
a primeira grande experiência de cooperação transnacional. Mas, H. G. Well não
ficou satisfeito com a Liga. Em sua visão, o objetivo final da Liga não estava
sendo aproveitado:
"Sou hostil à presente Liga das Nações, porque desejo a
Confederação da Humanidade."
"Não acho que as possibilidades obstrutivas da existente
Liga das Nações sejam suficientemente compreendidas pelas pessoas de mente
progressista de todo o mundo. Não acho que elas percebem o quão eficazmente a Liga
pode ser usada como uma forma de consumir e dispersar a energia criativa que,
de outro modo, nos levaria adiante rumo à Confederação do Mundo."
"A Liga das Nações que vimos em nossas visões naqueles anos
turbulentos, mas criativos de 1917 e 1918, deveria ter sido um verdadeiro passo
adiante nas questões humanas..."
"A Liga que queríamos era para ter sido a primeira
conferência ampla que nos levaria a um governo federal para todo o mundo."
[10].
A abordagem de Wells à existente soberania dos estados-nações
também era antagônica:
"O mundo é um remendo de campos de prisioneiros de tamanhos
variados chamados de Estados Soberanos Independentes... Mas, virá o dia...
quando os únicos passaportes no mundo estarão ao lado de ídolos astecas, dos
instrumentos de tortura e de outras relíquias de superstição em nossos museus
de história." [11]
Wells acreditava e trabalhava em prol de uma "conspiração
aberta" para uma revolução mundial. Em 1928, ele publicou um livro
intitulado Open Conspiracy: Blueprints for a World Revolution (Conspiração
Aberta: Modelos Para uma Revolução Mundial), no qual afirmava que uma revolução
mundial levaria a um supergoverno global. Para ele, essa era "a verdade e
o caminho de salvação". [12].
Considere o seguinte excerto de "Conspiração Aberta" e
veja se há alguma semelhança com o que vemos hoje:
"O caráter da conspiração aberta agora será claramente
demonstrado. Ela se tornará um grande movimento mundial, tão disseminado e
evidente quanto o socialismo e o comunismo. Ela tomará o lugar desses
movimentos quase que completamente. Ela será algo mais, será uma religião
mundial. Essa grande e ampla massa assimilatória de grupos e sociedades estará
definitiva e obviamente tentando engolir toda a população do mundo e se tornará
a nova comunidade humana." [13].
Outros livros, como o seu monumental Outline of History (Um
Estudo em Tópicos da História), apontavam para a vindoura esperança de um
supergoverno mundial. Entretanto, perto do fim de sua vida, Wells perdeu muito
do otimismo de sua "Conspiração Aberta". Após ter vivido e visto a
devastação de Londres durante os ataques aéreos na Segunda Guerra, ele percebeu
que o poder do homem em realizar a guerra era grande demais para ser superado.
A conclusão foi tão problemática para Wells que em edições modernas desse
livro, seus pensamentos sobre a sociedade mundial prevista foram removidos.
[14].
Apesar de sua posição alterada no fim da vida, as primeiras
obras literárias de Wells tiveram uma grande influência na formulação de uma
ideologia globalista.
Winston Churchill
O primeiro-ministro Churchill foi, e ainda é, o símbolo mais
visível da Inglaterra como uma nação soberana no ardor da crise. Por causa de
sua determinação de buldogue, os cidadãos de seu país foram capazes de se unir
contra o ataque nazista na Segunda Guerra Mundial. Hoje, Churchill é o
principal ícone do Partido da Independência do Reino Unido, um corpo político
pró-nacional e contrário à União Europeia. Embora essa imagem de independência
seja legítima no contexto da Segunda Guerra, havia muito mais para o Sr.
Churchill. [15].
É interessante observar que, apesar de o "buldogue"
não concordar com uma organização política conhecida como Sociedade Fabiana,
que defendia uma ordem mundial socialista, [16] ele abraçava claramente a visão
de um governo mundial. Durante um discurso em setembro de 1943 sobre a
"União Anglo-Americana" na Universidade de Harvard, Churchill
declarou o seguinte:
"Estou aqui para lhes dizer que não importa a forma que seu
sistema de segurança mundial possa ter, por mais que as nações estejam
agrupadas e alinhadas, por mais que se fale contra a soberania nacional e a
favor de uma síntese maior, nada funcionará solidamente, ou por muito tempo,
sem o esforço conjunto dos povos britânico e americano." [17].
Esse "sistema de segurança mundial" se tornou a ONU,
na qual Churchill teve um papel fundamental, junto com Stalin, Roosevelt e
Truman. No entanto, a posição de Churchill a respeito de um governo mundial
veio para o primeiro plano de fato após a criação da ONU. Indo além, o buldogue
ligou diretamente um governo mundial à criação de um novo superestado europeu.
"A criação de uma ordem mundial investida de autoridade e
de plenos poderes é o objetivo máximo pelo qual devemos lutar. A não ser que um
supergoverno mundial eficaz seja estabelecido e colocado em ação rapidamente,
as perspectivas de paz e de progresso humano são obscuras e duvidosas."
"Mas, que não haja erro quanto à questão principal. Sem uma
Europa unida não existe perspectiva segura de governo mundial. Este é o passo
urgente e indispensável para a realização desse ideal." [18].
Ele também fez comentários similares ao público na Universidade
de Westminster, em Fulton, Missouri, e na Universidade de Zurique, na Suíça.
[19]
O envolvimento direto de Churchill na criação da ONU e seu apoio
declarado a um "supergoverno mundial eficaz" fez com que a Associação
da Federação Mundial o listasse como um dos líderes históricos que abriram o
caminho para um movimento globalista moderno. [20].
Com certeza, há mais na história de Churchill do que apenas
determinação e capacidade de unir seu país diante da adversidade. Como Wells,
Churchill estava comprometido com uma mudança global em uma escala muito maior.
Bertrand Russell
ido por muitos como o pensador progressista mais importante do
século passado, Bertrand Russell foi reconhecido mundialmente por suas
contribuições à filosofia, à política e na defesa da paz. [21]. Ele escreveu
mais de trinta livros, fez inúmeras palestras e buscou abertamente o objetivo
de uma autoridade mundial centralizada.
Membro de uma longa linhagem de políticos progressistas
britânicos, [22] o jovem Russell também adotou uma visão
progressista/esquerdista do mundo — indo tão longe que abraçava filosoficamente
o comunismo, ao mesmo tempo que considerava detestáveis as práticas do governo
soviético. [23]. Após visitar a União Soviética com uma delegação especialmente
organizada do Partido Trabalhista, Russell escreveu: "As ideias
fundamentais do comunismo não são de forma alguma impraticáveis, e
contribuiriam muito, se realizadas, para o bem-estar da humanidade." [24].
Isso não é surpreendente, já que Russell reconhecia que "O verdadeiro
comunista é profundamente internacional." [25].
Bertrand Russell também associava "controle
populacional" com mudança mundial radical. Suas ideias de redução
populacional tinham um toque distintamente apocalíptico. Considere um trecho de
uma palestra feita na Sociedade Real de Medicina, em Londres, Inglaterra:
"Não quero dizer que o controle de natalidade seja a única
maneira pela qual a população pode ser contida. Existem outras, as quais,
devemos supor, os oponentes do controle de natalidade prefeririam. A guerra,
como disse há pouco, tem até agora sido decepcionante nesta questão, mas talvez
a guerra bacteriológica possa provar ser mais eficaz. Se uma peste negra
pudesse se espalhar pelo mundo uma vez a cada geração, então os sobreviventes
poderiam procriar livremente sem encher demais o mundo. Não há nada nisto que
ofenda as consciências dos devotos ou que restrinja as ambições dos
nacionalistas. O estado de coisas pode ser um pouco desagradável, mas e daí? As
pessoas de mente elevada são indiferentes à felicidade, especialmente à
felicidade dos outros." [26].
Russell prosseguiu oferecendo uma solução global para o problema
global:
"... a não ser que exista um governo mundial que garanta
controle de natalidade universal, é necessário haver de tempos em tempos
grandes guerras, nas quais a pena pela derrota seja a morte pela fome... As
duas grandes guerras que vivenciamos reduziram o nível de civilização em muitas
partes do mundo, e a próxima com certeza realizará mais nesse sentido. A não
ser que em algum ponto, uma potência, ou grupo de potências, surja vitoriosa e
comece a estabelecer um governo mundial único com o controle total das forças
armadas, é claro que o nível da civilização continuará a declinar..."
"A necessidade de um governo mundial, se quisermos resolver
o problema da população de uma forma humana, é completamente evidente com base
nos princípios darwinistas." [27].
Os pensamentos de Russell com relação à tirania eram igualmente
perturbadores:
"Dada uma organização mundial econômica e politicamente
estável, mesmo se, a princípio, ela repousar sobre nada a não ser força bruta,
os males que agora ameaçam a civilização diminuiriam gradualmente e uma
democracia mais ampla que a existente poderá se tornar possível. Acredito que,
devido à insensatez humana, um governo mundial será estabelecido apenas pela
força e será, portanto, cruel e despótico no início. Mas, acredito que isso
seja necessário para a preservação de uma civilização científica e que, se
realizado, gradualmente dará lugar a outras condições toleráveis de existência.
[28].
"Tolerável" a quem? Àqueles que detêm a autoridade
máxima sobre a vida e a morte em um regime global? Lembre-se, este homem é
considerado como um dos maiores pensadores do século XX. É interessante que
Bertrand Russell também via a arena educacional como parte da estrutura de
controle autoritária global:
"...a fisiologia [a ciência que estuda as funções dos
organismos vivos] descobrirá, com o tempo, maneiras de controlar as emoções, o
que é difícil de duvidar. Quando esse dia chegar, teremos as emoções desejadas
por nossos líderes e o principal objetivo da educação fundamental será produzir
a disposição desejada... O homem que administrar esse sistema terá um poder
muito além dos sonhos dos jesuítas..." [29].
O Socialista Fabiano Gordon Brown
A mensagem do primeiro-ministro Gordon Brown de uma
"sociedade global" está enraizada em um movimento que se estende por
mais de cem anos, desde H. G. Wells, Churchill e Bertrand Russell. Mas, existe
outra ligação que vai além de aspirações visionárias — uma que une o ideal
intelectual de uma comunidade mundial com o poder político de fato.
Há mais de um século que a Sociedade Fabiana — mencionada
anteriormente neste artigo — tem feito avançar o socialismo nos níveis nacional
(na Grã-Bretanha) e internacional. O emblema da sociedade é a tartaruga, uma
proclamação de que "devagar, mas com constância" se ganha a corrida.
Mas, qual é a linha de chegada?
Uma das exposições mais notáveis feitas sobre a Sociedade
Fabiana foi o livro Fabian Freeway, de Rose L. Martin, publicado em 1968. [30].
Rose documenta claramente que o objetivo dos fabianos é o socialismo
internacional e liga o grupo a uma miríade de organizações interconectadas e
movimentos que trabalham com objetivos parecidos. Portanto, não é surpreendente
descobrir que H. G. Wells foi um membro da Sociedade — apesar de ter deixado o
grupo, frustrado com sua metodologia — e que Bertrand Russell participou da
Sociedade Fabiana durante certo tempo.
Desde sua origem em meados de 1880, a Sociedade Fabiana tem sido
a força motriz do movimento político e intelectual inglês para o socialismo
internacional. A sociedade fundou a Escola de Economia de Londres (LSE, de
London School of Economics), uma universidade reconhecida mundialmente e que se
concentra em questões econômicas, políticas e sociais. Na verdade, no dia 20 de
abril de 2006, o primeiro-ministro Tony Blair apresentou "o vitral fabiano
perdido" durante uma cerimônia na LSE. Esse vitral apresenta os líderes
fabianos usando martelos para esmiuçar um globo colocado sobre uma bigorna: é a
recriação do mundo. [31]. Junto ao topo da janela está escrito:
"Remodele-o conforme o desejo do coração." H. G. Wells é visto de um
dos lados da gravura e um grupo de membros está rezando diante de uma pilha de
textos teóricos de sociologia. O que é realmente significativo é o brasão acima
do globo que está sendo remodelado: Um lobo em pele de cordeiro.
O vitral foi apresentado pela primeira vez pelo
primeiro-ministro Clement Attlee, do Partido Trabalhista, que esteve no cargo de
1945 a 1951, e depois foi reapresentado em 2006 por outro líder trabalhista,
Tony Blair. [32]. Isso não deveria surpreender; afinal, a Sociedade Fabiana foi
a principal planejadora do Partido Trabalhista. Como o fundador da Sociedade
Fabiana, Sidney Webb, explicou com relação à ligação entre a Sociedade e o
Partido: "A Sociedade Fabiana participou desde a primeira reunião [do
partido] e tem desde então formado uma parte constituinte de sua
organização." [33]. Portanto, desde a criação do partido, todos os
primeiros-ministros trabalhistas foram membros da Sociedade Fabiana. [34].
Essa ligação íntima entre os fabianos e os trabalhistas explica
porque o Manifesto Eleitoral do Partido Trabalhista de 1964 é tão... descarado.
"... o Partido sempre... permaneceu fiel à sua crença de
longa data no estabelecimento de cooperação Leste-Oeste [Nota: Isto se refere à
Rússia e ao Ocidente] como base para uma ONU fortalecida se desenvolvendo em
direção a um governo mundial..."
"Para nós, o governo mundial é o objetivo final – e as
Nações Unidas são o instrumento escolhido pelo qual o mundo pode se afastar da
anarquia do poder político rumo à criação de uma comunidade genuinamente global
e ao império da lei." [35].
Outros Manifestos Eleitorais do Partido Trabalhista Britânico
falam em formar uma comunidade mundial, fortalecendo as Nações Unidas, e
defendendo um sistema de leis internacionais relacionadas: isto é governança
global — a peça central do gerenciamento mundial.
Não é de se admirar que o primeiro-ministro Brown tenha feito
tantos discursos nos últimos dois anos defendendo uma sociedade global — isto
está na essência de seu partido e é o ideal fabiano. Como Brown explicou em sua
palestra de 2008 no Memorial Kennedy, em Boston:
"Pela primeira vez na história temos a oportunidade de nos
unirmos em torno de um pacto global, para reestruturarmos a arquitetura
internacional e construirmos uma sociedade realmente global." [36].
Se ainda estivessem vivos, H. G. Wells, Winston Churchill,
Bertrand Russell e os fundadores da Sociedade Fabiana ficariam orgulhosos.
Brown e seus camaradas estão falando àqueles que têm ouvidos para ouvir: A
"sociedade global" sonhada há tanto tempo está bem próxima.
Todos aqueles que prezam a liberdade precisam acordar, pois a
"mudança" está vindo.
Notas Finais
1. Clarence K. Streit, Union Now With
Britain (Nova York: Harper and Brothers Publishers, 1941) pág. 124. A
ideia de Clarence Streit de combinar os EUA com a Comunidade Britânica de
Nações para criar um governo mundial regional chamou muita atenção e ganhou
enorme apoio dos governos americano e britânico da época. A OTAN de hoje foi
parcialmente fundada com base no conceito da união proposta por Streit.
2. Um exemplo é sua promoção da Lei de Pobreza Global, enquanto
ainda era um senador. Para ver mais sobre este assunto, veja o artigo de Tom
DeWeese, "Barak Obama & the UN’s Drive for Global Governance", em
http://www.newswithviews.com/DeWeese/tom114.htm.
3. Para uma lista atual dos portadores de títulos do Tesouro dos
EUA, veja a publicação mais recente de dados do Departamento do Tesouro
Americano em http://www.treas.gov/tic/mfh.txt.
4. Para informações sobre o papel da Grã-Bretanha em moldar
assuntos internacionais, veja os dois livros de Carroll Quigley, Tragedy and
Hope: A History of the World in Our Time (1966) e The Anglo-American
Establishment (1981). O envolvimento do Reino Unido na mudança colonial também
não pode ser ignorado. Do Oriente Médio até o Pacífico e a África, a
Grã-Bretanha deixou suas impressões digitais bem marcadas nas páginas da
história moderna.
5. Primeiro-ministro Gordon Brown, Discurso Diante do Parlamento
Europeu, 24 de março de 2009, http://www.number10.gov.uk/Page18718.
6. Discurso do primeiro-ministro britânico Gordon Brown na
sessão conjunta do Congresso dos EUA, 4 de março de 2009,
http://www.number10.gov.uk/Page18506.
7. Clarence K. Streit, Union Now With
Britain (Nova York: Harper and Brothers Publishers, 1941), pág. 124.
8. Idem, pág. 123.
9. H. G. Wells, A Year of Prophesying
(Toronto: Ryerson Press, 1925), pág. 86.
10. Idem, págs. 9-10.
11. Idem, pág. 86.
12. H. G. Wells, The Open Conspiracy:
Blue Prints for a World Revolution (Garden City, 1928) pág. ix.
13. Idem, pág. 163.
14. Veja a nota final nas novas edições revisadas de The Outline
of History. Compare com a nova versão com a edição de três volumes de
1940-1941.
15. Veja Leftism: From De Sade and Marx to Hitler and Marcuse,
de Erik Von Kuehnelt-Leddihn para um exame de como Winston Churchill jogava nos
dois lados, conservador/progressista.
16. Veja Fabian Freeway: High Road to Socialism in the USA, de
Rose L. Martin, para mais informações sobre o papel e a influência dos fabianos
nas questões políticas europeias e americanas. Leftism, de Von
Kuehnelt-Leddihn, também contém algumas informações importantes sobre a
Sociedade Fabiana e seu papel internacional na agenda socialista global.
17. Churchill Speaks, 1897-1963:
Collected Speeches in Peace and War (Nova York: Barnes and Noble, 1980) pág.
817.
18. Idem, pág. 913. Discurso intitulado "Europa
Unida," 14 de maio de 1947, Albert Hall, Londres, Reino Unido.
19. Idem, pág. 878/893, "Os Tendões da Paz", 5 de
março de 1946, Fulton, Missouri, "A Tragédia da Europa," 19 de
setembro de 1946, Universidade de Zurique, Suíça.
20. Guia de Ativistas da Associação da Federação Mundial, Seção
1, pág. 15.
21. Bertrand Russell foi um gigante no campo da filosofia e
política. Por causa das complexidades de sua vida e crenças, é completamente
impossível justificar o assunto em um artigo limitado em espaço como este.
Sugiro a leitura dos próprios escritos de Russell para ter uma noção do escopo
de sua vida, e ler as várias biografias e comentários. Alguns de seus trabalhos
mais obscuros estão entre os mais reveladores, como The Impact of Science on
Society (1953).
22. O avô dele foi primeiro-ministro e seu pai foi um membro do
Parlamento por pouco tempo (ele morreu prematuramente). Outros em sua família
estiveram envolvidos na política britânica e na alta sociedade inglesa. Para
uma breve introdução das raízes políticas da família de Russell, veja Alan
Ryan, Bertrand Russell: A Political Life (Oxford University Press, 1988).
23. Veja Bertrand Russell, The Practice
and Theory of Bolshevism; Sidney Hook, Political Power and Personal Freedom (B.
R. tem algumas correspondências interessantes publicadas aqui); Alan Ryan,
Bertrand Russell: A Political Life.
24. The Practice and Theory of
Bolshevism, págs. 23-24, 117.
25. Idem., pág. 30.
26. Bertrand Russell, The Impact of
Science on Society (Nova York: Simon and Schuster, 1953), págs. 103-104.
27. Idem, pág. 105.
28. Bertrand Russell, The Future of
Science (Nova York: Wisdom Library, 1959), págs. 33-34.
29. Idem, pág. 46.
30. Rose L. Martin, Fabian Freeway: High
Road to Socialism in the USA (Fidelis Publishers, 1968). Para mais informações
sobre a Sociedade Fabiana, veja o livro The Story of the Fabian Socialism, de
Margaret Cole (Stanford University Press, 1961) e Fabian Essays in Socialism
(Sociedade Fabiana, 1908).
31. Escola de Economia de Londres, "A Piece of Fabian History
Unveiled at LSE", 20 de abril de 2006. Comunicado à imprensa.
32. Idem.
33. Fabian Essays in Socialism, edição de 1920, pág. xv.
Introdução de novembro de 1919 à coleção de ensaios.
34. Sobre a Sociedade Fabiana, (http://www.fabians.org.uk/about-the-fabian-society).
35. Manifesto Eleitoral de 1964 do Partido Trabalhista: "A
Nova Grã-Bretanha." (O texto na íntegra pode ser encontrado em
http://www.labour-party.org.uk/manifestos/1964/1964-labour-manifesto.shtml).
36. Você pode ler trechos selecionados desse discurso em
Developments, Edição 42, pág. 4. Developments é a revista oficial do
Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido.
Fonte: Espada
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