por Jorge Ferraz
Todos conhecem os vergonhosos índices que a Educação Brasileira
vem repetindo, ano após ano, com constância e regularidade perturbadoras (o relatório trianual do PISA ainda não
divulgou os dados de 2012, mas nada indica que teremos uma melhora
significativa neste ranking). A percepção generalizada (facilmente alcançável
por meio dos assustadores índices de analfabetismo funcional mesmo dos nossos
estudantes com nível superior, ou das políticas do Governo Federal de reduzir
as taxas de reprovação escolar dos níveis básicos através da simples aprovação
indiscriminada de todos os alunos, entre outros exemplos) de que existe algo de
muito errado com o sistema educacional brasileiro reveste-se de cores muito
vivas para que se possa simplesmente ignorá-la. O que talvez não esteja ainda
muito claro para todos é que estes frutos podres que o Brasil vem amargamente
colhendo nos últimos anos são decorrência direta de uma concepção pedagógica
deturpada e assustadoramente deficiente que, não obstante, tem sido alegre e
hegemonicamente adotada por nossos educadores nas últimas décadas.
O artigo desta quinta-feira do
Carlos Ramalhete fala sobre o nosso Patrono da Educação, Paulo Freire, de quem
ser conterrâneo não me causa orgulho. As contundentes e verdadeiras palavras do
articulista da Gazeta do Povo merecem ser lidas e meditadas: para que nós
comecemos ao menos a reconhecer os erros passados, a fim de iniciarmos com
eficácia o seu (lento e necessário) processo de correção.
Só o que fez este triste patrono foi descobrir que o aluno é um
público cativo para a doutrinação marxista. A educação deixa de ser uma
abertura para o mundo, uma chance de tomar posse de nossa herança cultural, e
passa a ser apenas a isca com a qual se há de fisgar mais um inocente útil para
destruir a herança que não conhece.
As matérias pedagógicas da licenciatura resumem-se hoje à
repetição incessante, em palavras levemente diferentes, das mesmas inanidades
iconoclastas. Os cursos da área de Humanas, com raras exceções, são mais do
mesmo, sem outra preocupação que não acusar aquilo que não se dá ao aluno a
chance de conhecer. O que seria direito dele receber como herança.
Os comentários sobre este assunto, como de costume, podem ser enviados à
Gazeta do Povo. E,
ainda, sob uma ótica mais especificamente católica, vale ler o sempre oportuno Dom Estêvão
falando sobre o método Paulo Freire de alfabetização, de quem destaco:
Não há dúvida de que todo mestre há de ser aberto à aprendizagem
de novas e novas verdades, como também à reformulação de seus conceitos; o
progresso no saber é-lhe muitas vezes ocasionado pelo convívio com os próprios
alunos.
Isto, porém, não quer dizer que o professor se deva julgar tão
educando quanto o próprio discípulo. Um
tal esvaziamento do conceito de mestre vem a ser nocivo aos alunos, pois estes
precisam de sentir firmeza e segurança no seu orientador. A profissão da verdade deve ser efetuada com
desassombro e sem subterfúgio, mas também com humildade. Pelo fato de ter descoberto a verdade sobre
tal ou tal assunto, o mestre é devedor em relação aos seus alunos, e deve
pagar-lhes a dívida, comunicando e demonstrando a verdade; proponha os pontos
certos e indubitáveis como certos, e os pontos ainda discutíveis como
discutíveis. Esta oferta da verdade,
longe de ser desrespeito ao próximo, é precioso serviço prestado ao mesmo.
Por isto também não se pode aceitar a frase: “Ninguém educa
ninguém” (Pedagogia do Oprimido, p. 79).
Na verdade, os homens são dependentes uns dos outros para eduzir
(educere > educar) as virtualidades latentes no seu íntimo. Em geral, são os pais, no lar, e os mestres,
na escola, que educam os mais jovens; afirmar isto não significa “estar a
serviço de algum sistema político opressor”.
O desempenho da autoridade não é algo de vergonhoso que se deva banir,
mas, ao contrário, é um serviço que não se pode extinguir e que faz eco às
palavras de Cristo: “O Filho do Homem veio não para ser servido, mas para
servir” (Mc 10,45).
A semeadura já dura décadas, a colheita já foi realizada por
diversas vezes, e a péssima qualidade destas safras já se nos revela mais do
que evidente. O Brasil merece mais que isso. Já passou da hora de lançarmos
fora estas sementes de joio e passarmos a investir em uma educação
verdadeiramente de qualidade: uma educação que possa promover um
desenvolvimento integral e (este sim!) verdadeiramente libertador do ser
humano, ao invés de transformá-lo em marionete de um processo revolucionário
cuja existência ele não é sequer capaz de perceber.
Fonte: Deus Ló Vult
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