por Lew Rockwell
Apesar de toda a retórica adotada unanimemente por políticos de
que "irão trabalhar para um estado mais eficiente" e reduzir o fardo
estatal de sobre nossas carteiras, o leviatã a cada dia vai se tornando
incontrolavelmente mais opressivo e mais dispendioso. E essa é uma tendência mundial.
Independentemente de qual seja o partido no poder, em qualquer
país, parece não haver limites para a tributação, para a gastança, para o
endividamento, para a inflação monetária e para toda a intrusão estatal em
nossas vidas. Nada disso é algo
predestinado, inevitável, como todos os políticos querem nos fazer pensar; ao
contrário, é algo completamente reversível, desde que suas causas sejam
compreendidas. Somente se entendermos as
razões para o crescimento governamental é que teremos alguma chance de
revertê-lo.
1. Grupos de interesse
Há duas maneiras de uma pessoa ganhar a vida:
voluntariamente por meio do processo de mercado ou coercivamente por meio do
processo político. Os grupos de interesse são organizações — empresariais
e sindicais — que optam por este último método, fazendo lobby junto ao governo
com o intuito de aprovar leis e regulamentações que os favoreçam, seja na forma
de maiores tarifas de importação ou na forma de uma carga tributária e de uma
burocracia mais complexa, que dificultem a entrada no mercado de novos
concorrentes.
Tais grupos aglomeram-se em torno do governo como
moscas ao redor de uma lata de lixo. Estes trombadinhas com ternos Armani
assaltam o Tesouro e manipulam o aparato regulatório governamental em benefício
próprio. E os políticos, quase sem exceção, se mostram excepcionalmente
contentes em ser parceiros dessa gente, porque assim garantem reeleições, mais
dinheiro e mais poder.
Os grupos de interesse de maior êxito (1) têm um
propósito bem definido e uma estratégia coerente; (2) têm uma disposição para
direcionar muito dinheiro para seus esforços; (3) dependem fortemente da
intervenção governamental, pois uma ligeira mudança nas regulamentações pode
significar a diferença entre o sucesso e bancarrota total; (4) recebem polpudos
e óbvios benefícios do governo, ao passo que o custo fica escondido e disperso
por toda a economia; (5) possuem a suprema capacidade de revestir suas
depredações em um manto de preocupação pelo bem-estar geral.
2. Assistencialismo eleitoreiro
Quanto mais os políticos abrem os cofres para
beneficiar determinado grupo de pessoas — seja ele formado por pobres e
desempregados, ou por funcionários públicos ou empresários politicamente bem
conectados —, maiores são as suas chances eleitorais. O assistencialismo
é um exemplo característico.
Os gastos assistencialistas só vêm crescendo desde
a década de 1980, e tudo em nome da ajuda aos pobres. Mas o dinheiro, em
grande parte, não vai para os pobres, que ficam com as migalhas, mas sim para
aqueles grupos de interesse poderosos o suficiente para subornar e fazer lobby
a favor da redistribuição. O dinheiro real vai é para os
"pobristas" — os reais defensores da pobreza —, para os consultores,
para as empreiteiras que constroem as moradias populares, para os funcionários
de hospitais públicos, e principalmente para os próprios membros da burocracia
que coordena todo o esquema.
Os pobres são maldosa e intencionalmente
transformados em uma subclasse perpétua, dependente do governo, para que alguns
parasitas possam viver confortavelmente bem à custa de todo o resto da
sociedade. Graças ao estado assistencialista, praticamente não há mais
uma genuína mobilidade social. Os degraus mais baixos da escada foram
retirados em nome da compaixão.
3. Permanência nos cargos
Os liberais clássicos defendiam que todo o aparato
do governo fosse demitido de seus cargos após cada eleição, para impedir que
alguns indivíduos se entrincheirassem perpetuamente na máquina. Contudo —
e apesar de a democracia ter a idéia da renovação —, a maioria dos funcionários
estatais se torna permanente, assim como os próprios políticos, constantemente
reeleitos. Os auxiliares dos deputados também se tornaram perenes, sendo
que as contratações não param de subir. Os trabalhadores do setor privado precisam
trabalhar cada vez mais para sustentar toda essa mamata. Como os liberais
clássicos temiam, criou-se uma classe que melhora de vida à medida que rouba a
todos nós.
Foi Jeffrey Tucker quem melhor resumiu a situação:
Não é a classe política quem comanda as
coisas. Como já escrevi inúmeras vezes, políticos vêm e vão. A
classe política é apenas o verniz do estado; é apenas a sua face pública.
Ela não é o estado propriamente dito. Quem de fato comanda o estado, quem
estipula as leis e as impinge, é a permanente estrutura burocrática que comanda
o estado, estrutura esta formada por pessoas imunes a eleições. São
estes, os burocratas e os reguladores, que compõem o verdadeiro aparato controlador
do governo.
4. Burocracia
A burocracia é necessariamente ineficiente porque
não opera dentro do sistema de lucros e prejuízos do mercado. Sem a
pressão para economizar recursos, até mesmo os burocratas bem intencionados
acabam gastando em demasia. E, é óbvio, a maioria dos burocratas não é
bem intencionada. A sua única motivação é aumentar o próprio poder, a
própria renda e os próprios benefícios, os quais eles adquirem ao aumentar o
número de burocratas sob seu comando no organograma estatal e ao gastarem cada
centavo que lhes é alocado.
Se os burocratas de uma agência estatal gastarem
menos do que lhes foi alocado, sua fatia no orçamento do ano seguinte pode ser
cortada. Sendo assim, eles gastam seus recursos freneticamente até o fim
do ano fiscal. E, como consequência, essa agência — com a ajuda dos
grupos de interesse afiliados a essa agência, com quem o dinheiro é gasto — vai
correndo ao Congresso e ao Executivo pedir mais dinheiro. E estes,
eleitos com a ajuda financeira desses grupos de interesses, autorizam um
aumento orçamentário para esse importantíssimo serviço público que, coitado,
estava sofrendo de insuficiência de fundos.
E aqui cabe um parêntese: sempre me regozijei com
essa idéia de "servidor público". Pode observar: "servidor
público", curiosamente, é aquele sujeito que só anda de carro chique,
trabalha em ambiente com ar condicionado e sequer tem qualquer contato com o
"povo", embora seja o "povo" quem forçosamente lhe
sustenta. Quando algo é classificado como "serviço público", esteja
certo de que estão enfiando a mão no seu bolso para benefício próprio.
Serviço público genuíno só pode ser encontrado na iniciativa privada.
O verdadeiro servidor público é aquele sujeito que mantém sua loja de
conveniências aberta 24 horas para que você possa fazer um lanche às 3 da
manhã. É aquele sujeito que abre sua padaria às 5 da manhã para que você
possa comer algo ainda quente antes de ir trabalhar. É a rede de fast
food a quem você recorre quando seu estômago está vazio e as opções se
esgotaram. Isso é serviço público.
5. Crises
O governo sempre cresce mais rapidamente durante
crises, as quais são criadas por ele próprio. Uma crise é a desculpa
perfeita para dar ao governo mais poder e dinheiro para "resolver" o
problema, ao mesmo tempo em que o partido da situação paralisa a oposição.
"Jamais deixe uma crise passar em branco"
é o lema de qualquer governo. É durante crises — sejam elas meras
recessões ou grandes colapsos financeiros — que o governo adquire o apoio
necessário para se apropriar de uma fatia ainda maior da economia, aumentando
seus gastos, incrementando seu poder regulatório, repassando mais dinheiro para
seus grupos de interesse favoritos, escolhendo empresas vencedoras (aquelas a
quem ele vai ajudar com subsídios e protecionismo) e jogando a conta sobre as
perdedoras (aquelas sem conexões políticas).
O professor Robert Higgs, em seu grande livro Crisis and
Leviathan, mostra que o público sempre perde ao final de uma crise,
pois é ele quem fica sobrecarregado com um governo ainda maior depois que a
emergência acaba.
6. A mídia
Sempre nos dizem que a grande mídia é oposição ao
governo, qualquer que seja ele — um mito muito útil para ambos. Na
realidade, governo e mídia são aliados em todos os assuntos fundamentais.
Tomando-se o exemplo para apenas uma área, a mídia sempre estimula a
expansão estatal ao papaguear as declarações econômicas do governo: seja a
última enganação declarada pelo Banco Central, ou algumas alegações
presidenciais sobre cortar gastos, toda a mídia nada mais é do que uma câmara
de ressonância.
O governo, sendo a instituição dominante em nossa
sociedade, utiliza a mídia como o fiel da balança que vai determinar quais são
os limites aceitáveis para o debate, fora dos quais qualquer indivíduo será
rotulado de extremista. E o governo faz isso por meio dos interesses
especiais que controlam grande parte da publicidade veiculada na mídia. Por
exemplo, nada seria melhor para o país, e pior para a burocracia, do que a
abolição do imposto de renda físico e jurídico, bem como a abolição do Banco
Central. Mas tais idéias são logo rotuladas de extremistas e indignas de
consideração, graças ao conluio entre governo, mídia e grupos de interesse.
7. Intervencionismo
A economia de livre mercado é uma intrincada e
cuidadosamente equilibrada rede de preços e trocas. Quando o governo intervém
nesse conjunto com a desculpa de corrigir algum suposto problema, ele perturba
esse equilíbrio, causando ainda mais problemas, o que consequentemente gera uma
desculpa para novas e ainda maiores intervenções. Ludwig von Mises
rotulou este fenômeno de "a lógica do intervencionismo",
e é exatamente por isso que uma economia mista é inerentemente instável.
Um sistema intervencionista estará sempre se movendo em direção a mais
intervencionismo — socialismo/fascismo.
8. Idéias
Uma última razão por que o estado cresce ilimitadamente
é a ausência de entendimento sobre o que é o livre mercado. As escolas e
as universidades são dominadas por esquerdistas e intervencionistas de todos os
tipos. Todos os livros-textos seguem pregando que o intervencionismo é
necessário. E assim todo o público permanece ignorante dos males causados
pelo estado.
Essas são apenas algumas das razões por que o
estado continua crescendo. E como podemos nos opor a isso?
Primeiro, devemos expor todos os crimes do governo,
rasgando o manto de mentiras sob o qual se escondem as reais intenções dos
grupos de interesse. Da próxima vez que você ouvir alguém clamando por
mais gastos assistencialistas, mostre como o assistencialismo destrói os pobres ao
mesmo tempo em que enriquece os verdadeiros recebedores do assistencialismo —
os grupos de interesse — à nossa custa e com o auxílio da coerção estatal.
A verdadeira caridade só pode ser privada e voluntária, como bem sabe
qualquer um que já lidou com o trabalho de igrejas e já comparou esse serviço
com aquele realizado por assistentes sociais governamentais.
Segundo, devemos trabalhar em prol de mudanças
radicais — como abolir programas e burocracias ao invés de simplesmente
melhorá-los ou torná-los mais eficientes (embora de início possamos aceitar
isso). Se o nosso lado começar condescendente, se já entrarmos no debate
concedendo de antemão várias vantagens ao adversário, teremos ainda menos
chance de obter melhoras marginais e estaremos tacitamente concordando com todo
o sistema e sua base imoral de roubo e fraude.
Terceiro, devemos não só nos recusar a acreditar
nas propagandas pró-governo, como também devemos solapá-las, refutá-las e
arruiná-las ao máximo perante terceiros, apoiando fontes alternativas de
notícias e informações.
Quarto, devemos nos esforçar para colocar
professores e alunos pró-livre mercado e pró-liberdade nas instituições de
estudo superior, e tentar mobilizar as pessoas por meio de apelos de justiça e
de eficiência econômica. Não há nada mais eficiente para incitar a ação
do que atinar para o fato de que você está sendo roubado.
Para nós libertários, que compartilhamos da mesma
crença de Lord Acton, a maior virtude política é a liberdade. A nossa visão é a
de que a sociedade voluntária, em termos práticos e morais, é a melhor forma de
sociedade possível, ao passo que o estado não passa de uma gangue de ladrões em
larga escala. O estado pode fazer as mesmas coisas que, se feitas por
indivíduos, seriam corretamente consideradas ilegais e criminosas. Só ele é
capaz de fazê-las de forma a aparentar que é pelo bem comum e pelo interesse
nacional — você sabe, todas aquelas expressões que as escolas públicas e a
mídia nos ensinaram.
Em uma definição resumida, para nós libertários o
estado não está acima das leis morais. O que é errado para um indivíduo
em sua vida privada também é errado para o estado em toda a sua esfera. É
errado roubar, mas o estado faz isso e chama de 'inflação' ou de 'tributação';
é errado escravizar, mas o estado faz isso e chama de 'serviço militar
obrigatório'; é errado matar, mas o estado faz isso e chama de 'erro policial'
ou de 'serviço de saúde inadequado' — ou, em caso de homicídio em massa, de
'guerra'.
O roubo, a escravidão e o homicídio são coisas
imorais, sejam eles privados ou públicos. Difundir as idéias da
liberdade, do livre mercado e de uma moeda forte, e denunciar, agitar e
trabalhar contra os criminosos, é a nossa única chance de ter êxito. Os
obstáculos são, obviamente, imensos. Mas temos um mundo a ganhar.
Lew Rockwell
é o presidente do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do
website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the
Right, and the State.
Tradução de Leandro Roque
Fonte: Mises Brasil
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