Por Rafael Falcón
As coisas terríveis às quais aludirei neste texto estão documentadas no
livro Maquiavel Pedagogo, de Pascal Bernardin (publicado em português pela VIDE
Editorial): são ideias sistematicamente defendidas e propagadas, em documentos
oficiais, por cientistas e pedagogos da Unesco. Se não refiro cada uma delas a
seu específico lugar é por falta de tempo, e por saber que esse grosso trabalho
já está feito e publicado. Por outro lado, mesmo que não houvesse provas
textuais, há uma coisa que deveria trazer-me o benefício da dúvida: muito do
que vou dizer aqui pode provocar no leitor, como provocou em mim, lembranças de
uma idade mais inocente, em que um pervertido obteve permissão de meus pais
para estuprar minha consciência, assim aviltando o nome e a glória da profissão
de professor.
Não tratarei aqui dos fins das ações da Unesco. Ela possui um ideário
que é, de resto, o mesmo da ONU, e que não deixa de ter muito em comum com a
mentalidade jornalística brasileira (ou, o que dá no mesmo, com os liberais
americanos). Tudo o que se diz nos documentos da organização é sempre
justificado pela necessidade de acabar com o preconceito, a discriminação, o
atraso cultural da sociedade, etc. Não preciso dizer que, múltiplas vezes,
vemos essas lindas palavras ligadas à célula familiar (transmissora de
preconceitos), às religiões e às culturas nacionais e tradicionais
("preconceito étnico"). Numa palavra, a Unesco sonha com uma
"ética universal" (sic) fundamentada nos chamados direitos humanos -
explicitamente, no internacionalismo, no materialismo,cientificismo, pacifismo
radical ("não-violência") e ecologismo. Esse, porém, não é o meu
objeto, porque já vem sendo discutido com seriedade por autores como o Mons.
Juan Claudio Sanahuja.
Para eliminar os preconceitos e demais mazelas das nações, os pedagogos
da Unesco vêm estudando, há décadas, uma disciplina chamada Psicologia Social
(muitas vezes aludida com o nome genérico de "Ciências Sociais", mas
facilmente interpretada no contexto como significando especificamente a
Psicologia). Meu objetivo aqui é explicitar o significado concreto da
terminologia (vaga e de difícil interpretação, aos olhos de um leigo) que vendo
sendo utilizada nos documentos da Unesco e, consequentemente, no ensino
universitário de Pedagogia.
O conceito-chave é, evidentemente, educação. A palavra tem um sentido
muito específico, que é delineado pelas exigências que dela se fazem. Os
maníacos da Unesco admitem que todo projeto educacional é determinado pelo seu
objetivo, pelo seu fim; e neste caso, dizem eles, o fim não pode ser um
"intelectualismo elitista", que privilegie o "acadêmico". A
educação visa, ao contrário, ao desenvolvimento social. "Desenvolvimento
social" quer dizer a construção de um certo tipo de sociedade, em que as
pessoas se comportam assim-assado - e isso remete, evidentemente, à "ética
universal" de que falei acima. A ideia é, numa primeira fase, desenvolver
uma educação multicultural, isto é, uma educação que facilite a convivência de
diversas "culturas" (no sentido de "sociedades distintas").
Em seguida, passar-se-á a uma educação intercultural, que deveria ser chamada
"unicultural", pois visa à ética supracitada. A oposição
multicultural x intercultural é importantíssima, pois diz respeito a uma fase
de transição e ao objetivo propriamente dito.
Ora, uma "educação" que pretende produzir um conjunto de
atitudes, visando ao "desenvolvimento social", não pode prescindir de
um método adequado - o qual, como vimos, não pode ser o método tradicional,
cuja fundamentação "acadêmica" é pouco eficaz na criação de culturas
(os cientistas enfatizam bastante a ineficácia "prática" do método
tradicional, "intelectualista" e "elitista"). Aqui entram
as "Ciências Sociais", e por isso é que será feito um estudo
intitulado A Mudança de Atitudes ("atitude" significa o comportamento,
a conduta, behavior). A educação tem de tornar-se não-cognitiva ou, como os
pedagogos preferem, ativa, multidimensional, experimental. Isso se deve a
psicólogos comportamentais (behaviorists) terem demonstrado experimentalmente a
eficácia de ações na mudança de comportamento.
Descobriu-se, por exemplo, um fenômeno chamado dissonância cognitiva.
Suponha que uma pessoa faz, um pouco por acidente, algo incompatível com alguma
de suas crenças. Não encontrando razão plenamente confessável para o ato, a
mente tenderá a justificá-lo a posteriori (o que se chama normalmente de
racionalização). Isso é particularmente comum em confissões escritas. Um
prisioneiro americano que odiava a China comunista foi induzido a escrever um
elogio do país, como uma espécie de jogo. Seu texto foi publicado na prisão e
muito elogiado. Em alguns dias, o americano passou a defender convictamente o
regime*. A dissonância cognitiva mostra que existe um modo praticamente seguro
de mudar rapidamente o comportamento das pessoas. E esse não é o único método.
A título de exemplo, há um outro chamado norma de grupo, que significa
basicamente que se um grupo de pessoas começa a discutir um fenômeno elas
tenderão a adotar um consenso. O que interessa aos "pedagogos" é que
esse consenso não precisa ser verdadeiro. Ele pode ser influenciado de diversos
modos. O mais simples é a inserção de uma figura de autoridade no grupo: as
pesquisas mostram que em praticamente todos os casos a figura de autoridade
determina o resultado da "discussão", e ainda assim permanece o
efeito de "consenso".
Esses dois conceitos são especialmente relevantes porque o primeiro é a
origem do uso pedagógico do psicodrama, enquanto o segundo resultou em diversas
práticas de grupo. Toda vez que temos encenações em sala de aula, apresentações
teatrais ou simulações as mais variadas, é o psicodrama que está em jogo. Os
cientistas da Unesco comemoram que o psicodrama tem imenso sucesso na
"modificação de atitudes". A criança que joga lixo no chão, depois de
fazer o papel de um herói ecológico que passa sermão na plateia inteira, tende
a tornar-se uma ecochata fanática (para a Unesco, um exemplo de santidade).
Isso se dá porque o psicodrama é uma eficaz técnica hipnótica, usada por
terapeutas para transformar crenças e hábitos. As práticas de grupo se
manifestam nos supostos "debates" (que, como sabemos, são filtrados e
controlados pelo professor para chegar à conclusão esperada). Também se
estimula todo tipo de atividade que atribua mais autoridade ao grupo do que aos
pais ou à tradição (ambas fontes de "preconceitos"). Segundo os
psicólogos, é muito fácil influenciar a opinião dos grupos de jovens, o que os
torna autoridades desejáveis (especialmente em comparação com outras como pais
e sacerdotes).
Quando se fala de educação multidimensional, também surge a ideia de que
a educação não deve "apenas" transmitir "informações", mas
atingir a totalidade da personalidade. Fala-se que toda educação pressupõe a
dimensão dos valores, e que deve assumi-los e trabalhar por eles. O significado
concreto disso é que a educação devemoldar o comportamento dos estudantes, e
essa formatação deve ser completa: emoções, convicções, hobbies, sonhos, tudo
deve ser influenciado o quanto possível dentro do quadro dos
"valores" da Unesco. Ensinar uma doutrina não é o bastante, nem é
desejável, porque uma doutrina precisa persuadir a inteligência. O melhor é
"modificar atitudes", isto é, condutas, de preferência sem que o
sujeito perceba que está sendo induzido. Ele deve sentir que está fazendo tudo
porque quer. A mudança é sub-reptícia.Repito que tudo isso está dito nos
documentos da Unesco.
Quando escolas promovem atividades práticas (um outro jeito de dizer
ativas ouexperimentais), que colocam os estudantes numa posição ideologicamente
comprometida, isso não deve ser encarado como acidental. Os pedagogos que citei
preconizam explicitamente atividades extracurriculares que ajudem a
internalizar as "atitudes" apropriadas. Quando se fazem discussões em
grupo sobre temas "atuais", com intromissões sutis do professor, não
se trata de coincidência. A Unesco vem promovendo artigos, manuais pedagógicos
e cursos de atualização que ensinam os professores a fazer exatamente isso. E o
poder dessa coisa sobre a mente de crianças e adultos está documentado. É a
mais extensa lavagem cerebral já feita na História, com um grau elevadíssimo de
sucesso. A primeira coisa que pretendo com este texto é divulgar a terminologia
pseudopedagógica que vem sendo utilizada para esconder essas técnicas de
manipulação mental.
Em segundo lugar, eu gostaria também que os leitores pensassem sobre os
efeitos que essa pedagogia teve em seus próprios casos. Quaisquer pessoas que
estiveram na escola nas últimas duas décadas devem ter sido submetidas a
técnicas como as que descrevi. Quanto mais jovem a pessoa, pior, pois os
métodos se desenvolveram e se disseminaram. Lembrem-se de que essa educação
visa simplesmente a desenvolver reflexos condicionados, e despreza totalmente o
desenvolvimento intelectual. Lembrem-se também de que, com o tempo, tendemos a
nos dessensibilizar e achar natural que sempre reajamos a tudo de modo
automático e semi-consciente. Achamos normal nunca termos lido os Lusíadas, não
sabermos diferenciar uma oração subordinada de uma coordenada, não conseguirmos
escrever um texto sem erros grotescos, demorarmos para fazer uma conta simples,
não sabermos as diferenças situacionais entre um debate e um discurso, nunca
termos lido uma fonte primária de algum evento histórico etc.
Isso significa que há grandes chances das minhas e das tuas capacidades
linguísticas, matemáticas, etc. estarem numa situação tenebrosa. É urgente que
desenvolvamos uma grande desconfiança de nossas próprias inteligências, e que
corramos contra o tempo para corrigir esse processo. É igualmente urgente que aqueles
que possuem filhos passem, além de conscientizar as crianças a respeito dessas
técnicas, a vigiar cada passo de seus professores e cobrar as escolas fazendo
quanto escândalo possível. Quando falarem de "multidimensionalidade",
digam que é bestialidade. Quando falarem de "habilidades sociais"
digam que é engenharia social, estupro intelectual e abuso de menores. Quando
falarem de "valores", digam que quem ensina valores a seus filhos são
vocês, e que não vão aceitar que pressionem e induzam as crianças contra a
família. Seu filho é um ser humano. Não deixe a escola adestrá-lo como um
animal.
* A mesma técnica é aplicada diariamente na escola, quando se pede que
alunos escrevam redações sobre temas que desconhecem totalmente. É claro que,
antes da redação, eles têm uma "aula" em que o professor lhes diz
exatamente tudo o que devem pensar a respeito. Depois de escrever o texto, as
crianças adotam aquelas opiniões como se as tivessem formado sozinhas, com
grande convicção.
Fonte: Ad Hominem
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