Seja bem vindo, amigo!

Seja bem-vindo, amigo! Seja você também mais um subversivo! Não se entregue e nem se integre às mentiras do governo e nem da mídia! Seja livre, siga o seu instinto de liberdade! Laissez faire! Amém!

Translate

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Simone de Beauvoir: Nazista, pedófila, misógina… feminista.

Por Lucian Vâlsan


Conforme os setores não feministas da sociedade vão se tornando cada vez mais expressivos e claros, os setores ainda não conscientes da natureza venenosa dessa ideologia reagem com um conjunto de argumentos que apenas revelam que a realidade fatual não é ainda inteiramente conhecida pelo público.

Algum tempo atrás, um grupo de feministas de cafeteria tentava me convencer que o feminismo não é tão mau quanto eu digo que é e que se eu apenas lesse mais sobre feminismo, eu eventualmente entenderia. Como um exemplo para apoiar essa tese, as citadas feministas me recomendaram que lesse os escritos de Simone de Beauvoir, a Marxista-feminista conhecida por seu livro O Segundo Sexo. Naturalmente aquelas feministas foram incapazes de conceber que alguém tivesse levado sua ideologia a sério o suficiente para ler sua literatura e então, racionalmente, acabar por rejeitá-la. Como para qualquer outro culto, tal coisa é inconcebível para os verdadeiros crentes da seita.

No cabeçalho desta postagem, uma série de alegações foi feita sobre a eminente feminista e é justo que se apresentem provas – o que é exatamente o que será feito nas linhas a seguir.

Entre 1943 e 1944, quando a França estava sob ocupação nazista, Simone de Beauvoir trabalhou como diretora de sonografia para a Rádio Vichy.1  Radio Vichy era a estação de rádio estatal na assim chamadazone libre (zona livre) da França, após a capitulação da República Francesa diante da Alemanha nazista em 1940. Dizemos “assim chamada” porque o regime de Vichy, embora teoricamente neutro do ponto de vista militar, era de fato um colaborador ativo do regime nazista2 e hoje é fato reconhecido por todos os lados envolvidos que a Rádio Vichy era porta-voz de fato da propaganda nazista nas ondas de rádio francesas.

Defensores de Beauvoir podem dizer que ela foi obrigada pelas circunstâncias a trabalhar lá, assim como muitos indivíduos agora alegam ter sido forçados a colaborar com a “Securitate” durante o regime comunista. Mas os manuscritos de Beauvoir durante o período, revelados posteriormente, contam uma história diferente.

Mesmo autores feministas, como a Dra. Ingrid Galster, que dedicou anos de sua vida a estudar Simone de Beauvoir, têm que admitir, mesmo a contragosto, que a atitude manifesta por Beauvoir como diretora de sonografia na máquina de propaganda nazista era, no mínimo, de colaboracionismo sutil3 e a forma pela qual ela chegou àquele trabalho não foi via coerção – mas sim por uma escolha perfeitamente consciente. Beauvoir já era membro do sindicato de funcionários públicos e poderia ter optado por trabalhar numa prefeitura, por exemplo. Mas ela tinha que escolher trabalhar em algo que não fosse ensinar, pois sua carreira como professora estava encerrada – apesar de já ter as qualificações e o prestígio necessário para ensinar, dado que ela tinha tido o segundo melhor desempenho como estudante de doutorado em sua geração, ficando apenas atrás de seu amante de toda a vida, Jean-Paul Sartre.4

A razão pela qual ela não podia mais lecionar está relacionada exatamente à pedofilia e a Sartre. Em 1943, Simone de Beauvoir foi demitida por comportamento que levara a corrupção de menor.5

Novamente, os apologistas de Beauvoir poderão apressar-se em dizer que o momento em 1943 foi um incidente singular ou, como já me disseram, um incidente simplesmente inventado pelos nazistas que não podiam suportá-la após entenderam que ela uma mulher marxista independente e empoderada. Mas isso está longe da verdade.

O interesse sexual de Beauvoir por crianças é um tema recorrente em toda sua vida. Ela estava entre os primeiros filósofos que tentaram unificar o gênero literário que se iniciou nos anos 1930 (e durou até os anos 1980 na Europa Ocidental) chamado pedofilia pedagógica feminina.6 Ela tentou essa unificação com seu ensaio “Brigitte Bardot e a Síndrome de Lolita”, publicada pela primeira vez na revista Esquire em 1959 e republicada várias vezes até meados dos anos 1970. Nesse ensaio, Beauvoir glorifica Brigitte Bardot por seu aspecto físico infantil, que retém a perfeita inocência inerente no mito da infância e então a apresenta como uma Houdini para meninas, que as liberaria e empoderaria para além das correntes que as subjugavam.7, 8

O ensaio de 1959 foi só o começo. Em 1977, Beauvoir, juntamente com a maior parte intelligentsia marxista francesa, assinou uma petição exigindo nada mais, nada menos que a legalização da pedofilia e a libertação imediata de três indivíduos condenados a cumprir longas sentenças de prisão por explorar sexualmente vários meninos e meninas com idades entre 11 e 14 anos. A petição assinada por Beauvoir e Sartre, entre outros, foi publicada no Le Monde e dizia, entre outras coisas:9

“Um tempo tão longo de prisão para investigar um simples caso “vicioso” em que as crianças não foram vítimas de qualquer violência, mas ao contrário, testemunharam perante os magistrados que consentiram – embora a lei atualmente negue-lhes o direito de consentir – um tempo tão longo na prisão nós consideramos escandaloso em si. Hoje eles estão em risco de ser sentenciados a uma longa pena de prisão, por terem tido relações sexuais com menores, tanto meninos quanto meninas, ou por terem encorajado e tirado fotografias de suas brincadeiras sexuais. Nós acreditamos que há uma incongruência entre a designação como “crime”, que serve para legitimar tal severidade, e os fatos próprios; mais ainda entre a lei antiquada e a realidade cotidiana em uma sociedade que tende a conhecer sobre a sexualidade de crianças e adolescentes […].”

Assim, na opinião de Beauvoir, crianças de 11 anos na França do final dos anos 1970 tendiam a ser seres sexuais. Desde que a puberdade não acontecia e até hoje ainda não ocorre naquela idade para a grande maioria das crianças, é condizente nomear a defesa feita por Beauvoir como nada além de uma advocacia da pedofilia, a despeito da definição escolhida para a palavra.

A petição de 1977 deflagrou toda uma discussão em nível da sociedade na França sobre as leis relativas à idade do consentimento, uma discussão em que os abolicionistas (entre os quais Beauvoir e seu amante) se uniram no Front de libération des Pédophiles (FLIP – a Frente de Liberação dos Pedófilos) e as intenções dos membros da FLIP eram explicadas claramente por eles próprios na discussão transmitida em abril de 1978 pela Radio France Culture.10 A FLIP seria lembrada como uma pioneira no movimento dos pedófilos franceses, embora a organização em si não tenha durado muito devido a suas discordâncias internas.11

Tudo isso torna Beauvoir não apenas uma apologia da pedofilia, mas uma apoiadora atuante. Porém, o que faz dela uma abusadora é sua atividade de recrutar alunas, abusando-as e passando-as para Jean-Paul Sartre, às vezes separadamente, às vezes em ménage à trois integrado. O Telegraph escreve, numa crítica do livro de Carole Seymour-Jones, Simone de Beauvoir? Meet Jean-Paul Sartre (“Simone de Beauvoir? Conheça Jean-Paul Sartre”), um livro dedicado a analisar o relacionamento de Beauvoir com Sartre, o seguinte:13

“Por longos períodos, o casal se tornou um “trio”, embora os arranjos raramente funcionassem bem para a terceira parte envolvida: ao menos duas das ex-alunas de Beauvoir se viram a tornar-se primeiro suas amantes, então de Sartre, apenas para o casal fechar-lhes as portas, quando a diversão perdia a graça.[…]

Para Seymour-Jones, os casos de Beauvoir com suas estudantes não eram lésbicos, mas pedófilos em origem: ela as estava “preparando” para Sartre, na forma de “abuso infantil”.

Para Beauvoir (assim como para Sartre), a idade não importava, contanto que as parceiras fossem mais jovens do que ela e Sartre.14 A possibilidade de que as outras pudessem se ferir ou ser exploradas não passava nem remotamente pelo radar da eminente feminista, que pensava que “preparar” garotas para Sartre lhes tirar a virgindade (palavras de Sartre, não minhas) era em si e por si um ato de empoderamento sexual para aquelas meninas.

Mas se as escapadas com sabor de nazismo e pedofilia não convencem você do caráter questionável de Beauvoir, vamos dar uma olhada em seus escritos feministas, que estão tão repletos de misoginia que é difícil encontrar equivalente em outros setores da sociedade. Este aspecto por si não é surpreendente, visto que feminismo é em si uma ideologia misógina. Mas, não vamos tergiversar.

O livro de cabeceira de Beauvoir, O Segundo Sexo, considerado por feministas contemporâneas “notavelmente atual” – tinha o seguinte a dizer sobre mulheres casadas:15

“A esposa se alimenta dele como um parasita; mas um parasita não é um mestre triunfante.”

Mais de um quarto de século depois, em 1975, em um diálogo com outra feminista, Betty Friedan, Beauvoir esclareceria sua posição além de qualquer dúvida razoável. Em uma discussão sobre a forma de compensar as mães que ficam em casa e cuidam de crianças, Beauvoir respondeu de forma inequívoca:16

“Não, nós não cremos que qualquer mulher deva ter essa escolha. Nenhuma mulher deveria ser autorizada a ficar em casa para criar crianças. A Sociedade deveria ser totalmente diferente. As mulheres não deveriam ter essa escolha, exatamente porque se houver tal opção, mulheres demais irão fazê-la. É uma forma de forçar as mulheres em uma certa direção.”

Está claro? Na visão da eminente feminista, as mulheres são um monte de criaturas inertes, incapazes de escolher o que é bom para elas como adultos responsáveis. De fato, ninguém além de Simone de Beauvoir e sua ideologia marxista-feminista sabem o que é melhor para as mulheres. Portanto, nenhuma mulher deveria ser autorizada a escolher qualquer coisa que contrarie Beauvoir.

No mesmo diálogo, ela é ainda mais clara:17

“Em minha opinião, enquanto a família e o mito da família e o mito da maternidade e o instinto maternal não forem destruídos, as mulheres continuarão a ser oprimidas.”

Realmente o ódio de Beauvoir em relação à maternidade e às mães em geral é muito óbvio ao longo de todo o seu livro. Vejamos alguns exemplos:

“A maternidade relega a mulher a uma existência sedentária; é natural para ela ficar em casa enquanto os homens caçam, pescam e vão à guerra.18

[A mãe] é planta e animal, uma coleção de coloides, uma incubadora, um ovo; ela assusta as crianças que estão envolvidas com seus próprios corpos e provoca risos disfarçados de homens jovens, porque ela é um ser humano, consciência e liberdade, que se tornou um instrumento passivo da vida".”19

E quando essa importante feminista começou a atacar os corpos das mulheres, ninguém a pôde parar:

“A atitude física evocada pela servidão menstrual constitui um pesado aleijamento.

[…] o corpo de uma mulher – e especificamente uma menina – é um corpo “histérico” no sentido de que não há, por assim dizer, distância alguma entre a vida física e sua realização fisiológica. O turbilhão trazido pela descoberta, pela menina, dos problemas da puberdade, as exacerba. Porque seu corpo é suspeito para ela, ela o escrutina com ansiedade e o vê como doente: ele é doente.20

As glândulas mamárias que se desenvolvem na puberdade não têm papel na economia individual da mulher: elas podem ser removidas a qualquer momento em sua vida.”21

Beauvoir então passa a explicar em seu livro como é maligna e opressiva a família para o desenvolvimento de uma menina. Se o pai tem a audácia de ter orgulho e reconhecimento pelos sucessos de sua filha, isso é outra evidência da opressão e imposição de vassalagem para a filha em relação ao pai.22 Mas se os pais são relativamente poupados, as mães que ousam disciplinar suas filhas têm uma reprovação pior ainda da renomada feminista:

As mães – veremos – são cegamente hostis ao liberar suas filhas e, mais ou menos deliberadamente, atuam em persegui-las ainda mais; para o menino adolescente, o esforço para se tornar um homem é respeitado e ele já recebe grande liberdade. A menina é obrigada a ficar em casa; suas atividades externas são monitoradas.23

Então, está claro? O fato de que alguns pais e mães não deixavam suas filhas saírem após certos horários na França ocupada por nazistas no meio da Segunda Guerra Mundial constitui opressão. E tenha em mente que Beauvoir minimiza este aspecto – sobre o qual ficam sérias dúvidas de que era generalizado – enquanto meninos de 13 e 14 anos estavam lutando na guerra,24 inclusive para mantê-la a salvo para poder escrever sua infame “filosofia” e produzir propaganda para o regime nazista – um regime que também mantinha meninos de 14 e 15 anos de idade em suas tropas.25 Fico quase tentado a dizer que ela deveria ter reconhecido seus privilégios. Mas não vou dizer.

A hipocrisia dessa mulher é fascinante em termos de estudo e revoltante ao mesmo tempo. Simone de Beauvoir, venerada até hoje como um grande ícone do “bom” feminismo dos anos 1960 e estudada nos “diálogos feministas” da Escola Nacional de Ciência Política e Administração Pública de Bucareste, defendeu com grande fervor o regime revolucionário de Ioseb Dzhugashvili (também chamado de Iosif Vissarionovich Stalin) até muito tempo após os horrores do Stalinismo terem se tornado conhecidos na Europa Ocidental.

Em outras palavras, enquanto tantos romenos deixados na URSS estavam sendo deportados para osGulags, enquanto a elite intelectual do meu país estava sendo dizimada em campos de concentração como Râmnicu Sărat, Pitești ou Aiud e enquanto até mesmo meninos de 12 anos eram torturados em prisões comunistas por conspiração contra a ordem socialista,26 Simone de Beauvoir publicava O Segundo Sexo em que ela explicava como a liberação das mulheres estava intimamente relacionada ao destino do socialismo27 – ao mesmo tempo negando veementemente, juntamente com seu parceiro, as atrocidades stalinistas que ocorriam naquele mesmo momento. E nós, pagadores de impostos romenos, agora pagamos para estudantes irem àquela Escola de Ciência Política e Administração Pública e estudar essa pessoa desprezível, como se ela fosse alguém a se admirar. Bom, esse é um exemplo real de misoginia patrocinada pelo Estado! Mas eu tenho a impressão de que a elite feminista sente-se muito confortável com isso.

Prezadas feministas de cafeteria, se vocês nos recomendam ler Simone de Beauvoir como um exemplo de feminista “do bem”, então vocês ou não a leram e a estão mencionando apenas para parecer cultas, ou, ao contrário, vocês a leram e concordam com o que ela defendeu e nesse caso, qualquer ser humano normal e não feminista teria que ser, no mínimo do mínimo, insano, para acreditar que vocês têm as melhores intenções em mente.

A ousadia com que Beauvoir propõe nada menos que a proibição sumária de certas escolhas para mulheres por essas escolhas não caberem em sua linha ideológica é o exemplo absoluto de utopia doentia para quem água quente é um conceito novo e para quem o planeta gira em torno dela. E se não girar assim, então há um problema com o planeta e ele deve ser proibido. A verdade deve ser proibida se ela for “incorreta”.

Se essas feministas fossem realmente sinceras quando dizem que querem combater a misoginia e ampliar o espectro de escolhas para as mulheres, então começariam por jogar na lata de lixo da História todo o arsenal ideológico vindo de Simone de Beauvoir. Mas, não fazem isso e nunca farão, porque feminismo é hipócrita em seus melhores dias e totalitário por natureza e prática em seus dias comuns. E nos seus piores dias, o feminismo exige o extermínio dos homens.

Prezadas feministas, sua declaração pública de admiração por Simone de Beauvoir diz muito mais sobre vocês mesmas do que qualquer coisa que qualquer um pudesse jamais dizer. Vocês mais uma vez provam que os melhores argumentos antifeministas vêm diretamente das próprias feministas. E por isso, nós lhes estendemos nossos agradecimentos!

Referencias:
Agradecimento especial a Atodiresei pelo auxílio com a documentação.


Fonte da imagem: Wikimedia Commons

1 http://my.telegraph.co.uk/expat/stephenclarke/10151800/10151800/ – Stephen Clarke – The women that France needs to remember – or forget; The Telegraph, published at September 5, 2013

2 https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Holocaust/VichyRegime.html – The Holocaust: The French Vichy Regime

3 http://www.lexpress.fr/culture/livre/ce-qu-on-n-ose-pas-voir-sur-beauvoir_822547.html – Dupuis Jérôme – Ce qu’on n’ose pas voir sur Beauvoir; L’Express, published at January 3, 2008

4 http://www.telegraph.co.uk/culture/books/non_fictionreviews/3672534/Simone-de-Beauvoir-Meet-Jean-Paul-Sartre.html – Tim Martin – Simone de Beauvoir? Meet Jean-Paul Sartre; The Telegraph, published at April 12, 2008

5 http://opinionator.blogs.nytimes.com/2013/05/19/savile-beauvoir-and-the-charms-of-the-nymph/ – Andy Martin – The Persistence of the ‘Lolita Syndrome’; The New York Times, published at May 19, 2013

6 ibidem

7 ibidem

8 Simone de Beauvoir – Brigitte Bardot and the Lolita Syndrome (with many half-tone illustrations) p.10; 14 – First Four Square Edition – The New English Library LTD., 1962

9 We received the following communication: Le Monde, January 26, 1977 – https://www.ipce.info/ipceweb/Library/00aug29b1_from_1977.htm

10 Sexual Morality and the Law, Chapter 16 of Politics, Philosophy, Culture –Interviews and Other Writings 1977-1984, p.275

11 Le Mouvement Pédophile en France – http://archive.wikiwix.com/cache/?url=http://bibliobleue.fpc.li/Revues/Gredin/N0/MvtFrance.htm

12 http://www.theguardian.com/world/2001/feb/24/jonhenley – Jon Henley – Calls for legal child sex rebound on luminaries of May 68; The Guardian, published at February 24, 2001

13 Ibidem 4

14 http://www.biographile.com/6-degrees-of-infatuation-an-ode-to-frisky-french-writers/28496/ – Kelsey Osgood – 6 Degrees of Infatuation: An Ode to Frisky French Writers; Biographile, published at February 11, 2014

15 Simone de Beauvoir – The Second Sex, p. 378 – Translated by Constance Borde and Sheila Malovany-Chevallier; Vintage Books – Random House Inc., New York, 2009

16 Sex, Society and the Female Dilemma – A Dialogue between Simone de Beauvoir and Betty Friedan; Saturday Review, publicat la 14 Iunie 1975 – p. 18 

17 Female Dilemma, op. cit. p.20

18 Second Sex, op. cit. p.70

19 Ibidem p.392-393

20 Ibidem p.257-258

21 Ibidem p.43

22 Ibidem p.255

23 Ibidem p. 258-259

24 World War II: Conscription and the Age of Soldiers – http://histclo.com/essay/war/ww2/age/ww2-age.html

25 Hitler’s Boy Soldiers – http://www.historyplace.com/worldwar2/hitleryouth/hj-boy-soldiers.htm

26 Târgșor, communist prison for children – National Romanian Television report (English subtitles included) – http://vimeo.com/73694592

27 Second Sex, op. cit. p.60

Artigo primeiramente publicado no AVFM Romania.
Tradução: Aldir Gracindo


FONTE: BLOG DO AZRAEL

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Idiotocracia - O poder dos idiotas

Por Anon,

Caras, eu descobri uma coisa razoavelmente inteligente. Descobri que somos muito idiotas. Imaginem milhões de brasileiros dando o seu dinheiro, através de impostos, taxas e multas, para um bando de malandros, delinquentes e psicopatas que gastam o nosso dinheiro com baboseiras mais estapafúrdias e ainda possuem o poder de falsificar mais dinheiro para se locupletarem do modo mais conveniente possível, dentro e acima da lei.

Ao longo das gerações, graças aos filosofalsos  estatistas do tipo: rousseauniano, marxista, gramscista e economistas keynesianos, temos o que se poderia chamar de democracia perfeita, isso sob o ponto de vista da elite, mas sob a ótica do povo isso não passa de uma bela Idiotocracia. Nunca em toda história a elite conseguiu se dar tão bem, pois ela possui o poder absoluto e com o aval, quer queira quer não, de milhões de idiotas.

Se há um contrato social arquitetado por Jean-Jacques Rousseau ou uma constituição brasileira elaborada por comunistas, a pergunta é: quem assinou embaixo consentindo-a? Parabéns, elite! Você se superou! Conseguiu que todos se curvassem aos seus interesses usando apenas um calhamaço de leis ridículas e uma caneta sádica. É surpreendente o fato de como as pessoas são, meramente, tão susceptíveis à falsa moralidade do Estado. O grau de idiotice e a pronta servidão dos novos vassalos democráticos trariam uma desolação insofismável na mente de incontáveis filósofos liberais e conservadores do passado, principalmente aqueles que viam o futuro como o grande divisor de águas entre a liberdade do indivíduo e a servidão coletivista dos dias atuais. Como já dizia Henry David Thoreau “Qualquer idiota pode fazer uma regra e qualquer idiota a seguirá”. Porém o que vemos hoje é um bando de bovinos que além de seguir incontestavelmente todas as leis, ainda pede mais e mais leis para o estado estábulo quase onipresente, pois se delegou o poder de invadir nas esferas que eram, pelo direito natural, intrínsecas, cabíveis, somente aos indivíduos. É o estado sem ética e sem moral ditando e criando regras incompatíveis aos verdadeiros anseios do povo. É o verdadeiro totalitarismo amoral, inapropriado até mesmo para seres inferiores, mas que já está impregnado nas mentes acomodadas e moldadas por doutrinas coletivistas seculares.

Os cínicos estão no poder: estão no planalto, nos congressos e no supremo, e nada mais poderá detê-los. Não há mais oposição, não há mais contrapeso; o pêndulo socialista começa a oprimir o povo e sem nenhuma cerimônia. É o monopólio do poder acima de tudo, acima até mesmo da economia, cuja missão mais importante dos progressistas é destruí-la para deixar os súditos cada vez mais pusilânimes e dependentes. A elite já possui os seus fiscais, os seus janízaros, suas mídias alucinógenas, e a ordem é para que eles sejam absolutamente implacáveis, dentro da “lei”: extorquir, prender e ludibriar como se nada de anormal estivesse ocorrendo.

E os cínicos não se cansam de gozar na cara do povo, fazendo CPIs teatrais cômicas, tapinhas nas costas, piadinhas de mau gosto... Com sórdidos exemplos: e sua mãe está boa? Manda aquele abraço para... Está tudo em casa, temos o poder e milhões de idiotas em nossas mãos, pensam todos os eleitos. Isto é o máximo da Idiotocracia. Os idiotas votam nas maquininhas Smartmatic, colocam os mesmos psicopatas, que nunca deixaram de estar no poder, e tudo bem!

Um país não é rico por aquilo que ele possui no subsolo; aliás: país, estado, nação e democracia são apenas ideias coletivas e abstratas que foram induzidas nas mentes humanas por uma elite dominante. A riqueza está no poder de criação de cada indivíduo, a riqueza está na liberdade de escolher o que é bom para si, e é daí que surge o valor das coisas.  Só assim poderemos contornar melhor os problemas advindos da escassez. Não vivemos num paraíso, não existe solução estatal mágica, qualquer problema pode ser mais facilmente resolvido pelo livre mercado ou por trocas voluntarias entre os indivíduos, toda solução tem seu preço, mas não é roubando, em nome do socialismo, os bens que pertencem aos outros que encontraremos a solução, pois um socialista não passa de um ladrão, e quem concorda com este tipo de sistema não passa de um cúmplice.

Quem precisa desses cínicos, desses déspotas, desses vampiros do fruto do suor alheio?  São esses sujeitos ávidos pelo poder os causadores do desemprego, da pobreza e da opressão. São suas leis relativistas e pré-crime que inibem e, até mesmo destroem a livre iniciativa. São os excessos de leis trabalhistas as causadoras dos milhares de desempregos que temos hoje, fora do mercado, o individuo fica incapacitado, desprovido, e inerte em frente às tantas regulamentações. E assim, o estado, com sua gana e como péssimo atravessador, contribui mais e mais para aproximar a nossa dura realidade o mais perto possível do inferno, a verdadeira fábrica de excluídos.

Idiocracia é delegar aos cínicos o poder que será usado contra os próprios provedores de seus poderes. É fazer um simples vereador virar rei, é colocar um desconhecido deputado no papel de anjo, é fazer de um presidente um Deus. É como se o universo não funcionasse sem essas execráveis figuras. É incrível como esses caras se acham! É incrível como eles se colocam a cima das leis e da justiça.  O Estado sou eu! E foi para cercear futuros absolutistas do tipo de Luís XIV, que se criou um sofisticado mecanismo de pesos e contrapesos, e a divisão do poder em três: executivo, legislativo e judiciário. Mas o problema de ideias “inocentes” é que a conta, na prática dos homens e na realidade do mundo real, são os vassalos os eternos pagadores. Será que os filósofos se esqueceram do tal Espírito de Corpo?

Mas a simples verdade é que: Onde a justiça não impera, impera a desconfiança. E onde não há confiança, não há progresso. Anon, SSXXI

terça-feira, 25 de agosto de 2015

De Russo para Russo: Vladimir Zhirinovisky faz um discurso no Parlamento da Federação Russa e fala dos 100 milhões de pessoas que Lênin, Stalin e outros assassinaram em nome do comunismo.

LÊNIN SÓ SABIA UM VERBO: MATAR! - ESSE É O RESPEITO COMUNISTA PELO SER HUMANO


Frase Libertária: Jacob Burckhardt

“O poder é mau em si, não importa quem o exerça. Tende a corromper a quem o controle e conduz ao abuso. Não são apenas os soberanos e os aristocratas, mas também as massas, em cujas mãos a democracia confia o supremo poder do governo, que se inclinam com facilidade aos excessos.” Frase de Jacob Burckhardt citado por Ludwig von Mises (Liberalismo Segundo a Tradição Clássica)

Anterior < Frase > Posterior

A CULTURA DO RENASCIMENTO NA ITÁLIA - JACOB BURCKHARDT


Jacob Burckhardt: Profeta da Nossa Época

Por Otto Maria Carpeaux

A Glória, já se disse, é o conjunto dos mal-entendidos que se criam em torno de um nome. Muitas vezes esses mal-entendidos formam um denso nevoeiro, donde surge um busto de gesso, o ídolo das Obras Completas, cobertas de poeira: é o caso dos "clássicos". Às vezes esses nevoeiros desaparecem, de súbito, para permitir uma ressurreição surpreendente: é o caso dos "poetas malditos". É muito raro que o véu se levante pouco a pouco, oferecendo o espetáculo de uma renovação incessante, toda a história de uma glória: é o caso de Jacob Burckhardt.

Os seus contemporâneos conheciam-no pouco. A posteridade imediata reconheceu o grande historiador da civilização, para depois enganar-se profundamente sobre as suas teorias. Para nós, no momento que atravessamos, tornou-se o conselheiro íntimo da nossa angústia. Amanhã será um profeta, o último dos profetas talvez, já que o tempo não terá mais futuro. Eis quatro etapas da história de uma glória. O caminho para a compreensão está traçado.

A sua biografia é muito simples. Filho de uma velha família patrícia de Basiléia, nascido em 1818, consagra-se aos estudos mais diversos. Uma incursão no jornalismo político fracassa. De 1844 a 1893, ensina história das belas-artes na velha Universidade da sua cidade natal, pouco conhecido do público, mas muito estimado dos seus colegas. Burckhardt ama a sua cidade, as estreitas ruas medievais, os telhados e torres, observatório do grande mundo batalhador fuori le mura, a cidade íntima, pátria; só a abandona para viagens à Itália, país da sua nostalgia, nunca atenuada. Recusa cargos honrosos nas grandes universidades alemãs, traço de profunda significação que compreenderemos depois. Enfim, velho e fatigado, retira-se da atividade para morrer docemente num dia de agosto de 1897. Uma vida fora vivida.

Como explicar essa mistura dum patrício reservado e dum pequeno-burguês afável, dum professor pedante e dum poeta fracassado? Essa decifração revelará algumas surpresas. Os seus alunos também se surpreenderam, quando da primeira visita protocolar de um estudante: o sábio inabordável falava na intimidade o dialeto rude, quase humorístico, dos suíços, regalava o seu convidado com bons vinhos, explicava as suas coleções artísticas, tocava ao piano o seu querido Mozart, para enfim queixar-se dos seus criados. Oh! que velho epicurista, esse professor de história, esse historiador de segunda ordem! Até faz rir: ele teria, no seu auditório, chorado lágrimas de crocodilo, ao recordar as obras perdidas da Antiguidade, destruídas pelos bárbaros; não será isso um anacronismo, no nosso século iluminado? Um dia o bom velho foi encontrado morto, bem morto. Mas atentai: ele voltará.

Alguns anos depois da sua morte voltava, por uma segunda edição surpreendente, o grande historiador da Civilização da Renascença na Itália. O livro, quase despercebido quando seu autor estava vivo, esse livro imenso, reconstrução integral de um século, de uma civilização desaparecida, esse livro é uma primeira revelação e cria o primeiro desses mal-entendidos que fazem uma glória. O livro provoca uma moda européia, o culto do Renascimento, a adoração dos grandes animais ferozes de gênio artístico. O burguês de dinheiro, ansioso por uma árvore genealógica, acredita reconhecer-se nesses homens geniais que devem tudo a si mesmos. Hoje, nos palácios e nas casas burguesas da Europa os móveis à Renascença, tipo 1890, são obstáculos à circulação, colecionadores de poeira. Mas os filhos desses burgueses ainda não se despiram do costume renascentista dos seus pais: misturando o fraco poema de Gobineau e as visões de Spengler, esses "señoritos", para empregar a expressão de Ortega y Gasset, fazem-se confirmar pelo professor de seus pais, confirmam os seus próprios princípios maquiavélicos e desumanos, para se tornar, cada um deles, o seu próprio condottiere. Seria necessário fechar este livro, grande e perigoso, e escrever na sua capa: É proibido citá-lo!

Não se queria do Burckhardt morto senão Renascimento. Mas alguns discípulos fiéis não paravam de pesquisar nos seus manuscritos. Apareceu enfim a História da civilização grega. Mais uma vez, uma revelação. Está definitivamente destruído o idílio dos anacreônticos, o mundo ideal da alegria olímpica; e acha-se descoberto o bas-fond da alma helênica, o pessimismo de um Sófocles, o desespero de um Tucídides, a angústia de um Platão. A arte grega não é senão um grito de dor transfigurado em mármore.

É certo que esse mundo helênico, visto através de um temperamento schopenhaueriano, está impregnado da consciência cívica de Burckhardt, cidadão-patrício de uma pequena república medieval, agora radicalmente democratizada. O mistério do pessimismo antigo, de acordo com Burckhardt, é o martírio da polis, da cidade, desaristocratizada, despida dos seus fundamentos religiosos, apóstata, vítima da tirania demagógica. Se bem que não chegando à compreensão dum Fustel de Coulanges, Burckhardt fornece o primeiro exemplo de sociologia religiosa, logo mal compreendido como programa de renovação política e cultural, sobre as bases de uma nova religião. O autor deste mal-entendido não é outro senão Nietzsche, jovem colega de Burckhardt na Universidade de Basiléia. Durante toda a sua vida Nietzsche tentou basear as suas doutrinas nas idéias de Burckhardt: durante toda a sua vida Nietzsche tentou conseguir a amizade do velho professor. Tudo em vão. A última carta do filósofo, já louco, é dirigida a Burckhardt: "Agora, você é, tu és o mestre!" Esse "tu" nunca foi retribuído. Mas a falsa interpretação ficou.

Por fim a herança de manuscritos inéditos devolve o tesouro mais precioso: as Considerações sobre a História Universal. É o manuscrito de um curso universitário feito sob a impressão da guerra de 1870, sob a impressão da queda da civilização francesa e do advento do império militar dos alemães. Contam que, ouvindo durante a aula o falso boato de que o Louvre havia sido incendiado com todos os seus tesouros artísticos, Burckhardt chorou diante dos seus alunos indolentes. Não seriam coisas impossíveis na nossa época ilustrada? Esperem! Daqui a alguns anos aparecerá um livro sobre a guerra, sobre as grandes crises, sobre a felicidade e sobre a desgraça na história, sobre a verdadeira e a falsa grandeza humana, um livro que será o breviário e o consolo de uma geração sem esperança: a nossa geração.

Sobretudo, algumas passagens quase proféticas fizeram deste livro o último apoio espiritual de milhares de intelectuais da Europa Central.

Burckhardt não queria profetizar. Procurou somente as reações invariáveis dos homens diante dos seus destinos históricos. Fixados os traços, acontece que reaparecerão num mundo que Burckhardt, para sua felicidade, não chegou a ver.
Quando nos consola dizendo que os males da história são sempre maiores que os nossos, ao mesmo tempo desfaz beneficamente as nossas ilusões de progresso. Acha a guerra inevitável; mas "o que não é certo é que a uma guerra ou a qualquer invasão suceda necessariamente uma renovação, uma ressurreição. O nosso planeta é talvez bem velho; não se prevê como grandes povos, petrificados nas suas civilizações, recomeçariam as suas vidas; assim povos desapareceram e outros desaparecerão... Muitas vezes, a defesa mais justa torna-se inútil, e já é muito se Roma concorre para celebrar a glória de Numância e se o vencedor se ressente da grandeza do vencido" (p. 164). Sente-se Marco Aurélio nestas palavras.

A guerra é o auge dessas convulsões que sacodem periodicamente a humanidade: as crises. Burckhardt é sobretudo o criador da noção moderna de crise, à qual se subordinarão todas as teorias posteriores.

A crise é a passagem das massas por um período de soberania; massas incapazes de compreender e de conservar o que foi, incapazes de conceber e de construir o que será. A crise é uma fase intermediária entre a democracia nascente e a democracia abolida, única época da democracia realizada; segue-se-lhe o despotismo, que restabelece a ordem, a ordem dos cemitérios, cemitério daquilo que não voltará nunca. Foi Burckhardt quem primeiro descreveu a hora decisiva, quando a crise explode: "Subitamente o processo subterrâneo evolve com terrível rapidez; evoluções que levariam, em outro caso, séculos a se realizarem, cumprem-se num mês, numa semana, como fantasmas. Soa a hora, e a infecção se espalha num instante, sobre centenas de milhas e sobre as populações mais diversas, que não se conhecem umas às outras... Aos protestos acumulados contra o passado juntam-se terrores imaginários, e à vontade de tudo mudar se junta a vontade de vingar-se dos vivos, em lugar dos mortos, os únicos inacessíveis" (pp. 168-171). Evitando os psicologismos fáceis, Burckhardt não se presta às generalizações de um Le Bon, como também a sua superior erudição histórica evita as teorias cíclicas de um Sorel. Burckhardt nem louva nem censura: comprova; mas notar-se-á nas suas palavras sobre os mortos, inacessíveis aos terrores do futuro, um suspiro de alívio.

Burckhardt conhece, pois, o terrível caráter das crises, incompreensíveis no "século estúpido" do "progresso irresistível". "Existe ainda uma oposição conservadora: todas as instituições estabelecidas tornadas direitos, tornadas o próprio direito, indissoluvelmente ligadas a tudo o que era, até então, moral e civilização; e depois todos os indivíduos que as representam, a elas ligados pelos deveres e pelas vantagens. Daí é que vem a gravidade dessas lutas, o desprendimento do pathos, de um lado e de outro. Cada partido defende o seu ‘mais sagrado’, aqui um dever e uma religião, ali uma nova teoria do mundo. Daí é que vem a indiferença pelos meios, a mudança até das armas e das atitudes, de modo que o reacionário faz o papel de democrata e o demagogo representa o ditador" (p. 177).

O que se eleva sobre essas terríveis baixezas é a meditação acerca do grande homem; ele não é, absolutamente, o exemplo, o modelo: é a exceção, a ultima ratio da história. "Ninguém é insubstituível" — diz o provérbio. — "Mas aqueles que ninguém pode substituir, esses são grandes." Burckhardt não cai no hero-worship de um Carlyle. Poderia subscrever a frase de Luís XVIII: "Quand le grand homme apparaît, sauve qui peut!"1 — "Pois raríssima é a grandeza d’alma pronta a renunciar às vaidades criminosas, à grande tentação dos poderosos: o poder pelo poder. É por esta razão que o poder não melhora os homens." Surge a velha desconfiança do calvinista contra o poder temporal: não existe poder temporal de direito divino; mais depressa2 será de direito satânico. "O mal, como mal, domina freqüentemente sobre a terra, e por muito tempo, e a doutrina verdadeiramente cristã chama Lúcifer de príncipe deste mundo." Sobretudo "todo poder é mau". "Todo poder é mau." Aqui está o centro da doutrina burckhardtiana, muito impregnada de Schopenhauer e do seu pessimismo anti-histórico, muito impregnada do fatalismo dos estóicos; herança, afinal, dos antepassados, calvinistas e cidadãos livres da república medieval de Basiléia, e da sua desconfiança dos poderes temporais. As obras da civilização necessitam de ordem, é verdade. Mas o estado florescente da arte, sob a ordem dos déspotas, não passa de uma razão atenuante, boa para fazer reaparecer os tempos longínquos, sob a luz de uma falsa transfiguração. "Uma ilusão de óptica nos engana sobre a felicidade em certas épocas, em relação a certos povos. Mas essas épocas eram também, para outros, épocas de destruição e de escravatura; tais épocas são consideradas felizes, porque não se leva em conta, et pour cause, a euforia dos vencedores." A felicidade não é senão uma ilusão de óptica dos historiadores.

Nas suas Considerações sobre a História Universal, Burckhardt não disse tudo. O comentário indispensável é a sua correspondência. Aqui o aristocrata reservado, o sábio tímido, abre-se em confidências aos seus raros amigos e lhes comunica os seus receios apocalípticos. Adverte e adverte: "Um terrível despertar está reservado aos homens de bem que, em vista dos grandes inconvenientes reais, participaram do jogo da oposição; eles verão, horrorizados, surgir aqueles de quem eram cúmplices" (26 de janeiro de 1846.) Cedo ele desanima: "Nada espero do futuro. É possível que alguns lustros passavelmente suportáveis nos estejam ainda reservados, à maneira dos imperadores adotivos de Roma: porém nada mais" (14 de setembro de 1849). "De há muito sei que o mundo está sendo levado para a alternativa entre a democracia perfeita e o despotismo perfeito; mas este não mais será exercido pelas dinastias, demasiado fracas, mas por destacamentos militares soi-disant republicanos" (13 de abril de 1882). "Um pressentimento, hoje considerado louco, diz-me: o Estado militar será um grande industrial; as massas, nas cidades e nas usinas, não serão mais deixadas na miséria e livres nos seus desejos; um certo grau de miséria, fixado e controlado pela autoridade, iniciado e encerrado cada dia com o rufar dos tambores: é o que deverá advir de acordo com a lógica" (26 de abril de 1872). E se nos quiséssemos opor a esta lógica cruel? Uma anotação, inédita durante muito tempo, responde: "Os povos transformaram-se em um velho muro, onde não se pode mais fixar um prego, pois não fica seguro. É esta a razão por que, no agradável século XX, a Autoridade reerguerá a cabeça, e será uma cabeça terrível."

Terminou a profecia.

É privilégio dos profetas serem mal compreendidos. Burckhardt, depois de ter sido confundido com Gobineau, com Nietzsche, com Le Bon, foi confundido com Spengler. Julga-se ter sido Burckhardt o profeta da Decadência do Ocidente; fazem-no confessor dos intelectuais desesperados, que desesperam do mundo e de si próprios. Mas a verdade é outra, a doutrina é muito mais profunda.

Burckhardt é formado na civilização da velha Europa luxemburgo-borgonhesa entre a Itália e a Bélgica, os países de sua predileção; vemo-lo hoje à luz dos seus "irmãos no espírito", Jan Huizinga e Benedetto Croce. Como eles, é patrício e burguês ao mesmo tempo, é conservador e humanista ao mesmo tempo; o intelectual que fez "parte per se stesso". Burckhardt era um protótipo do intelectual, e ele o sabia: "Pereceremos todos; mas queria ao menos fazer a minha escolha, escolher a coisa pela qual perecerei: a civilização da velha Europa" (5 de março de 1846). Diz, porém, essa verdade pessoal quase a sorrir. Não desespera, opõe-se: "Espero crises terríveis; mas nenhuma revolução anulará a minha sinceridade, a minha verdade interior. Antes de tudo, será preciso ser sincero, sempre sincero" (13 de junho de 1842). Ele era um homem. Era um homem, no sentido dos estóicos.

"Si fractus illabatur orbis,
Impavidum ferient ruinae."
3

Eis por que todas as suas simpatias eram para os vencidos:

"Victrix causa Diis placuit, sed victa Catoni."4

É a frase-epígrafe invisível de toda a sua obra.

Esse estoicismo sofreu a ação de vinte séculos de cristianismo. O resultado foi essa atitude, que, reconhecendo embora a pequenez do homem, o colocava no centro do Universo. Burckhardt, no seu auditório, em meio à luta encarniçada dos imperialismos e das classes, falava, pela última vez, não de política, não de economia, mas sim do homem. Sobre o fundo trêmulo de um mundo revolvido, ele permanecia o que seus pais basileenses haviam sido: um humanista.

Burckhardt é o último dos humanistas. O que significa: formara-se, apoliticamente, no mundo do cristianismo secularizado, mundo da adoração da civilização e da arte, da cultura intelectual e artística, mundo acima da política, formado pela Itália da Renascença, pela França de Luís XIV, pela Inglaterra das universidades aristocráticas e pela Alemanha de Weimar. Esse caráter apolítico da sua cultura o preservava da "trahison des clercs"; e é o fundamento de toda a sua obra, que gira, inteiramente, em torno da política. Amando ao mesmo tempo o seu Olimpo, reconheceu, com um olho inexorável, a fragilidade do seu mundo ilusório, neste mundo material e materialista, a fragilidade do homem num mundo sem Deus. Por isso, mesmo sendo um humanista não deixou de ser um cristão. Sendo um intelectual não deixou de ser um patrício.

O velho professor fez uma estranha figura no traje burguês do século XIX; muitos, desde Nietzsche, imaginavam outra coisa atrás da modesta casaca: talvez os instintos selvagens das "bestas geniais" da Renascença. Mas Burckhardt era bem burguês; burguês, porém, no sentido de cidadão das pequenas repúblicas livres da Idade Média, herdeiro altivo da liberdade feudal. Burckhardt era burguês como os burgueses de Antuérpia, de Florença e de Basiléia; não era burguês como os burgueses da burguesia. A sua substância, em nada burguesa, tornava-o capaz de revelar o mundo da Renascença florentina. A sua substância, em nada burguesa, tornava-o capaz de desvendar o enigma da Cidade Antiga.

Ele próprio era um "cidadão". Filho e cidadão de Basiléia, velha cidade humanista; cidade do Concílio que se revoltou contra o papa; cidade de Erasmo, que defendeu o livre-arbítrio católico, contra Lutero; cidade de Holbein, que gravou na sua madeira a dança macabra da Idade Média e de todos os tempos. Essa cidade, último reduto do humanismo, conservava a sua liberdade patrícia, contra bispos e heresiarcas, contra imperadores e tribunos. Ali ainda se podia estar bem, enquanto fora, "fuori le mura", nas estradas de Paris, de Milão, de Antuérpia e de Colônia, as grandes potências deste mundo se debatiam no campo de batalha. Era-se fraco demais para se tomar partido nisso; mas cada um tinha as suas simpatias. Tremia-se, com viva emoção, sobre os telhados e sobre as torres, observando as grandes batalhas. Era este observatório que Burckhardt não queria abandonar jamais, se bem que as agitações demagógicas lhe tivessem feito perder o gosto da vida. Nessas agitações reconheceu os furores da Cidade Antiga que perdera o seu deus. Burckhardt era, pois, conservador. "Eu tinha a coragem de ser conservador e de não ceder" — disse orgulhosamente. Era um homem.

Conservador, acreditava, como Maquiavel, na constância da substância humana, em todos os tempos e em todos os povos. Isso o tornava pessimista, e todo pessimista tem em si a matéria de um profeta.

Humanista, acreditava na superioridade do espírito em relação a todas as agitações da matéria. Isto o fazia incorruptível, inflexível, modelo supremo do intelectual. Intelectual, enfim, tocou no problema talvez mais grave dos nossos tempos: a natureza dos deveres do espírito. Karl Marx, que não queria interpretar o mundo, e sim transformá-lo, é o inspirador de toda "crítica de ação", tanto da esquerda como da direita. Hinc nostrae lacrimae.5 No paraíso das suas ilusões os intelectuais reencontraram, de repente, a besta apocalíptica. Decepção que os fez compreender, no dizer de Ortega y Gasset, "su esplendor y su miseria, su virtud y su limitación". Os intelectuais não têm a obrigação de transformar o mundo; o seu dever é transfigurá-lo pela criação, a criação artística. Ninguém poderia dizê-lo melhor do que Burckhardt nas últimas palavras das suas Considerações:

"Seria um espetáculo maravilhoso seguir o espírito da humanidade, quando ele se constrói um novo edifício, ligado a todos esses fenômenos exteriores e portanto a eles infinitamente superior. Quem disso tivesse uma idéia, fosse ela como uma sombra, esqueceria toda felicidade e desgraça, para viver somente cheio do desejo desse conhecimento."

E assim foi: "Minha vida foi um outono. Mas o outono também tem o seu encanto — uma luz muito nobre."