O
cálculo econômico sob o socialismo
Introdução de Ludwig von Mises
Existem muitos socialistas que jamais
estudaram, de uma forma ou de outra, os problemas da ciência econômica, e que
jamais fizeram qualquer tentativa de formar claramente algum conceito sobre as
condições que determinam a natureza da sociedade humana. E existem outros
que examinaram profundamente a história econômica do passado e do presente, e
se esforçaram — baseando-se em seus achados — para construir uma teoria sobre a
economia da sociedade "burguesa". Eles criticaram livremente a
estrutura econômica da sociedade "livre", mas consistentemente se
omitiram de aplicar à economia do controverso estado socialista o mesmo
discernimento cáustico que já exibiram em outras análises, nem sempre com
sucesso.
A economia, em sua forma real, figura
de maneira muito esparsa no cenário glamouroso pintado pelos utopistas.
Na quimera de suas fantasias, eles invariavelmente discorrem sobre como pombos
assados irão de alguma forma voar diretamente para dentro das bocas dos
camaradas, mas se furtam de mostrar como esse milagre virá a ocorrer.
Quando eles começam de fato a ser mais explícitos no âmbito econômico,
rapidamente se descobrem completamente perdidos — basta lembrarmo-nos, por
exemplo, dos devaneios fantásticos de Proudhon, que queria criar um banco para empréstimos
sem juros —, de modo que não é difícil apontar suas falácias lógicas.
Quando o marxismo proíbe solenemente
que seus partidários se preocupem com problemas econômicos que vão além da
expropriação, ele não está adotando nenhum princípio novo, uma vez que todos os
utopistas, em todos os seus devaneios, também negligenciam quaisquer
considerações econômicas mais profundas, concentrando-se exclusivamente em
pintar cenários lúgubres para as atuais condições, e cenários fulgurantes para
a era de ouro que virá como consequência natural dessa Nova Revelação.
Quer se considere a chegada do
socialismo como sendo um resultado inevitável da evolução humana, ou que a
socialização dos meios de produção é a maior das bênçãos ou o pior dos
desastres que pode acometer a humanidade, ao menos se deve consentir que uma
investigação acerca das condições de uma sociedade organizada sobre os
princípios socialistas é algo que vai um pouco além de ser apenas "um bom
exercício mental, e um meio de se promover a clareza política e a consistência
do pensamento".[4]
Em uma época em que estamos nos aproximando cada vez mais do socialismo, e que
até mesmo estamos, em um certo sentido, dominados por ele, uma investigação
detalhada acerca dos problemas inerentes ao estado socialista adquire uma
significância suplementar para a explicação do que está acontecendo ao nosso
redor.
As análises anteriormente feitas para
a economia de trocas voluntárias não mais são suficientes para um entendimento
adequado dos fenômenos sociais ocorrendo na Alemanha e em seus países vizinhos
ao leste. Nossa tarefa nesse contexto é compreender, de modo amplo, os
elementos da sociedade socialista. As tentativas de se obter clareza nesse
assunto não precisam de justificativas adicionais.
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