Por Paul
Rosenberg
Deste quando viver na miséria e dependente de um
governo corrupto poder ser considerado uma vitória! Anon, SSXXI |
Eu realmente não gosto de reclamar do
governo. Acho perda de tempo fazê-lo. E também considero uma estratégia
ruim. Estou convencido de que é muito mais proveitoso ignorar toda a bagunça e
imoralidade e se concentrar em coisas melhores e mais produtivas.
No entanto, e infelizmente, grande
parte da humanidade ainda se encontra emocionalmente acorrentada ao governo, e
— a menos que você trabalhe para o governo e tenha um alto salário, ou seja um
grande empresário que obtenha subsídios e privilégios protecionistas do governo
(em ambos os casos, você se deu bem) — creio ser válido demonstrar o quão danoso
é esse relacionamento com o estado.
Sendo assim, falarei sobre algo que
não recordo ter visto em nenhum outro lugar. Começarei pelo "o quê" e
avançarei para o "por quê".
Observações
Ao longo de
muitos anos, observei um certo fenômeno e de variadas formas distintas.
Eis o fenômeno:
Quanto mais o
governo está envolvido na vida das pessoas, piores essas pessoas se tornam.
O exemplo mais
premente certamente é o da 'classe' (ou, talvez, deveria dizer 'classes')
dependente do assistencialismo estatal — pessoas cujas vidas dependem quase que
inteiramente do dinheiro repassado pelo governo. Em praticamente todas as
cidades, os piores bairros são aqueles que têm a maior porcentagem de pessoas
dependentes do governo. Sim, alguns ideólogos linha-dura certamente irão
protestar dizendo que primeiro veio a pobreza e depois, só depois, veio a ajuda
do governo. Só que isso nem sempre é verdade, de modo que tal afirmação
serve apenas para ofuscar uma verdade muito mais importante: tornar adultos
dependentes do governo é algo que, inevitavelmente, degrada a moral, a ética
e a autoestima dessas pessoas.
Já que estou
falando de minhas observações, acrescento que, sim, já estive em contato
próximo com muitos guetos e com pessoas permanentemente dependentes
do governo durante a minha vida. E já tive amigos que fugiram de atrozes
projetos habitacionais implantados pelo governo. Portanto, não estou apenas
repetindo e reciclando as opiniões de terceiros.
Viver de
repasses do governo não é apenas degradante; quem tenta escapar desse
ciclo vicioso é duramente punido. Se você é dependente do assistencialismo e
então começa a trabalhar um pouco, seus repasses poderão ser cortados drasticamente.
Sendo assim, a não ser que você tenha um emprego realmente bom à vista (e
quantas pessoas realmente tem?), esqueça a possibilidade de abandonar o
sistema.
Esse tipo de
vida receosa destrói a dignidade, a autoestima, a capacidade de ter opinião
própria, os bons modos e muito mais. Se você quisesse arruinar um grupo de
pessoas, você as tornaria dependentes do assistencialismo, com aumentos
contínuos, porém módicos, no valor das bolsas e os as aglomeraria em locais de
alta densidade — exatamente o que foi feito em minha cidade na década de 1960,
por supostos benfeitores progressistas que amavam os pobres.
Mas não é
somente com os pobres que isso ocorre. Há pessoas de classe média que
estão agora vivendo de assistencialismo ou encostadas no seguro-desemprego.
Estas também estão sendo degradadas. E isso ocorre em todos os
continentes.
Poucos anos
atrás, vivi em uma grande cidade europeia, e era traumatizante ver quantas
pessoas totalmente capacitadas não queriam nem saber de trabalhar, pois já
usufruíam benefícios assistencialistas suficientes para sobreviver. No bairro
em que morei, a maioria dos comerciantes era formada de imigrantes, já que
as antigas famílias de comerciantes nativos haviam fechado suas lojas há um bom
tempo.
E viver do
assistencialismo realmente degradou os bons modos. Você dificilmente
acreditaria na quantidade de fezes caninas que emporcalhavam as calçadas. Era
difícil caminhar sem ter seu sapato premiado. As pessoas simplesmente não se
importavam em recolhê-las. Adicionalmente, assaltos e roubos de bicicletas eram
coisas endêmicas. E tudo isso em um "bairro decente", em uma
cidade "de primeiro mundo".
Causas
Viver do
assistencialismo estatal abole o senso de cooperação em nossas
vidas. Em qualquer tipo de empreendimento, temos de interagir e cooperar
com dezenas de pessoas. Temos de obter informações, adquirir suprimentos delas,
fornecer bens a elas, trabalhar e produzir para satisfazê-las etc. Elas
têm de confiar em nós, e nós temos de confiar nelas. A confiança tem de ser
mútua. Tudo isso ajuda a fortalecer os bons modos, a responsabilidade própria,
a pontualidade, a integridade e a dignidade. Também ajuda a melhorar as
habilidades importantes, como a comunicação e até mesmo a dicção.
Já as pessoas
que se refugiam no assistencialismo ficam de fora dessa integração. Ao
contrário, ficam assistindo a reality shows na televisão.
Outro fator
relevante é que as pessoas dependentes do governo não fazem escolhas; as suas
vidas são ditadas pelo governo. Esse não é um comportamento natural do ser
humano. Seres humanos não foram desenhados para funcionar desta maneira. Seres
humanos têm de saber escolher e, principalmente, saber arcar com as
consequências de suas escolhas. Daí vem o sentido de responsabilidade própria.
Ser dependente do estado elimina essa possibilidade. Você vira um autômato. Sua
vida perde o sentido. E os humanos simplesmente não podem prosperar dessa
forma.
Fomos criados
para realizar e prosperar. Ter as coisas perpetuamente dadas a nós, sem que
tenhamos de nos esforçar para obtê-las, é algo que nos degrada, e muito. Quando
vivemos uma vida de dependência, jamais aprendemos a superar as nossas
limitações, a sermos melhores. Com efeito, nas culturas que prezam a
dependência, tentativas de auto-aperfeiçoamento são vistas com rancor, causam
inveja e são punidas — e, muitas vezes, de forma violenta.
O próprio envolvimento
do governo na "educação" é degradante. Esse é um de meus
principais argumentos contra as escolas: as crianças são forçadas a
relacionamentos inescapáveis. E isso degrada as crianças. Pergunte aos pais que
optaram pelo regime de homeschooling; eles
dirão que a maioria dos maus hábitos que seus filhos adotaram são consequência
do período que permaneceram em contato com outras crianças em escolas públicas.
Um arranjo de integração forçada é simplesmente um péssimo plano para quem
deseja saúde e o progresso humano.
No final
Minha conclusão
ao longo desses vários anos de observação é que, quanto mais o governo se
envolve na vida das pessoas, pior é a conduta que elas adotam e passam a
demonstrar abertamente. A situação é continuamente degradante. As
pessoas perdem a ambição, perdem a vontade própria, perdem o desejo de se
aprimorarem e perdem os bons modos. (E sei que não estou sozinho nesta
opinião).
Existem
exceções? Claro, e provavelmente há milhares. Que bom. Mas, no final, a
seguinte afirmação continua sendo verdadeira:
O
assistencialismo do governo é uma maldição para aqueles que dele dependem. O
assistencialismo degrada as pessoas e as tornam piores, e não melhores.
Paul Rosenberg é o presidente da Cryptohippie USA, uma empresa pioneira em fornecer tecnologias que protegem a privacidade na internet. Ele é o editor FreemansPerspective.com, um site dedicado à liberdade econômica, à independência pessoal e à privacidade individual.
Fonte: Mises Brasil.
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