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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Quanto mais governo, menos autoestima, menos bons modos

Por Paul Rosenberg
Deste quando viver na miséria e dependente de um governo corrupto poder ser considerado uma vitória! Anon, SSXXI
Eu realmente não gosto de reclamar do governo. Acho perda de tempo fazê-lo.  E também considero uma estratégia ruim. Estou convencido de que é muito mais proveitoso ignorar toda a bagunça e imoralidade e se concentrar em coisas melhores e mais produtivas.

No entanto, e infelizmente, grande parte da humanidade ainda se encontra emocionalmente acorrentada ao governo, e — a menos que você trabalhe para o governo e tenha um alto salário, ou seja um grande empresário que obtenha subsídios e privilégios protecionistas do governo (em ambos os casos, você se deu bem) — creio ser válido demonstrar o quão danoso é esse relacionamento com o estado.

Sendo assim, falarei sobre algo que não recordo ter visto em nenhum outro lugar. Começarei pelo "o quê" e avançarei para o "por quê".

Observações

Ao longo de muitos anos, observei um certo fenômeno e de variadas formas distintas.   Eis o fenômeno:

Quanto mais o governo está envolvido na vida das pessoas, piores essas pessoas se tornam.

O exemplo mais premente certamente é o da 'classe' (ou, talvez, deveria dizer 'classes') dependente do assistencialismo estatal — pessoas cujas vidas dependem quase que inteiramente do dinheiro repassado pelo governo. Em praticamente todas as cidades, os piores bairros são aqueles que têm a maior porcentagem de pessoas dependentes do governo. Sim, alguns ideólogos linha-dura certamente irão protestar dizendo que primeiro veio a pobreza e depois, só depois, veio a ajuda do governo.  Só que isso nem sempre é verdade, de modo que tal afirmação serve apenas para ofuscar uma verdade muito mais importante: tornar adultos dependentes do governo é algo que, inevitavelmente, degrada a moral, a ética e a autoestima dessas pessoas.

Já que estou falando de minhas observações, acrescento que, sim, já estive em contato próximo com muitos guetos e com pessoas permanentemente dependentes do governo durante a minha vida. E já tive amigos que fugiram de atrozes projetos habitacionais implantados pelo governo. Portanto, não estou apenas repetindo e reciclando as opiniões de terceiros.

Viver de repasses do governo não é apenas degradante; quem tenta escapar desse ciclo vicioso é duramente punido. Se você é dependente do assistencialismo e então começa a trabalhar um pouco, seus repasses poderão ser cortados drasticamente. Sendo assim, a não ser que você tenha um emprego realmente bom à vista (e quantas pessoas realmente tem?), esqueça a possibilidade de abandonar o sistema.

Esse tipo de vida receosa destrói a dignidade, a autoestima, a capacidade de ter opinião própria, os bons modos e muito mais. Se você quisesse arruinar um grupo de pessoas, você as tornaria dependentes do assistencialismo, com aumentos contínuos, porém módicos, no valor das bolsas e os as aglomeraria em locais de alta densidade — exatamente o que foi feito em minha cidade na década de 1960, por supostos benfeitores progressistas que amavam os pobres.

Mas não é somente com os pobres que isso ocorre.  Há pessoas de classe média que estão agora vivendo de assistencialismo ou encostadas no seguro-desemprego. Estas também estão sendo degradadas.  E isso ocorre em todos os continentes.

Poucos anos atrás, vivi em uma grande cidade europeia, e era traumatizante ver quantas pessoas totalmente capacitadas não queriam nem saber de trabalhar, pois já usufruíam benefícios assistencialistas suficientes para sobreviver. No bairro em que morei, a maioria dos comerciantes era formada de imigrantes, já que as antigas famílias de comerciantes nativos haviam fechado suas lojas há um bom tempo.

E viver do assistencialismo realmente degradou os bons modos. Você dificilmente acreditaria na quantidade de fezes caninas que emporcalhavam as calçadas. Era difícil caminhar sem ter seu sapato premiado. As pessoas simplesmente não se importavam em recolhê-las. Adicionalmente, assaltos e roubos de bicicletas eram coisas endêmicas.  E tudo isso em um "bairro decente", em uma cidade "de primeiro mundo".

Causas

Viver do assistencialismo estatal abole o senso de cooperação em nossas vidas. Em qualquer tipo de empreendimento, temos de interagir e cooperar com dezenas de pessoas. Temos de obter informações, adquirir suprimentos delas, fornecer bens a elas, trabalhar e produzir para satisfazê-las etc.  Elas têm de confiar em nós, e nós temos de confiar nelas. A confiança tem de ser mútua. Tudo isso ajuda a fortalecer os bons modos, a responsabilidade própria, a pontualidade, a integridade e a dignidade. Também ajuda a melhorar as habilidades importantes, como a comunicação e até mesmo a dicção.

Já as pessoas que se refugiam no assistencialismo ficam de fora dessa integração.  Ao contrário, ficam assistindo a reality shows na televisão.

Outro fator relevante é que as pessoas dependentes do governo não fazem escolhas; as suas vidas são ditadas pelo governo. Esse não é um comportamento natural do ser humano. Seres humanos não foram desenhados para funcionar desta maneira. Seres humanos têm de saber escolher e, principalmente, saber arcar com as consequências de suas escolhas. Daí vem o sentido de responsabilidade própria. Ser dependente do estado elimina essa possibilidade. Você vira um autômato. Sua vida perde o sentido. E os humanos simplesmente não podem prosperar dessa forma.

Fomos criados para realizar e prosperar. Ter as coisas perpetuamente dadas a nós, sem que tenhamos de nos esforçar para obtê-las, é algo que nos degrada, e muito. Quando vivemos uma vida de dependência, jamais aprendemos a superar as nossas limitações, a sermos melhores. Com efeito, nas culturas que prezam a dependência, tentativas de auto-aperfeiçoamento são vistas com rancor, causam inveja e são punidas — e, muitas vezes, de forma violenta.

O próprio envolvimento do governo na "educação" é degradante. Esse é um de meus principais argumentos contra as escolas: as crianças são forçadas a relacionamentos inescapáveis. E isso degrada as crianças. Pergunte aos pais que optaram pelo regime de homeschooling; eles dirão que a maioria dos maus hábitos que seus filhos adotaram são consequência do período que permaneceram em contato com outras crianças em escolas públicas. Um arranjo de integração forçada é simplesmente um péssimo plano para quem deseja saúde e o progresso humano.

No final

Minha conclusão ao longo desses vários anos de observação é que, quanto mais o governo se envolve na vida das pessoas, pior é a conduta que elas adotam e passam a demonstrar abertamente.  A situação é continuamente degradante.  As pessoas perdem a ambição, perdem a vontade própria, perdem o desejo de se aprimorarem e perdem os bons modos. (E sei que não estou sozinho nesta opinião).

Existem exceções? Claro, e provavelmente há milhares. Que bom. Mas, no final, a seguinte afirmação continua sendo verdadeira:

O assistencialismo do governo é uma maldição para aqueles que dele dependem. O assistencialismo degrada as pessoas e as tornam piores, e não melhores.

Paul Rosenberg é o presidente da Cryptohippie USA, uma empresa pioneira em fornecer tecnologias que protegem a privacidade na internet.  Ele é o editor FreemansPerspective.com, um site dedicado à liberdade econômica, à independência pessoal e à privacidade individual.

Fonte: Mises Brasil.

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