Por Thomas
Sowell
Por Thomas
Sowell
O fato de que muitos políticos de carreira são
mentirosos descarados e compulsivos não é apenas uma característica inerente à
classe política; é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o
impossível, somente os mentirosos demagogos podem satisfazê-las.
Porém, quando a realidade se impõe e os efeitos
econômicos de medidas populistas começam a cobrar seu preço, os eleitores
finalmente percebem que foram enganados. E então começam a reclamar que
os demagogos os enganaram e venderam ilusões.
Essas pessoas são as mesmas que, no passado, não
apenas acreditaram piamente nas promessas dos demagogos, como também ignoraram
rispidamente todos os alertas, feitos pelos mais sensatos, de que determinadas
políticas populistas eram insustentáveis e cobrariam um preço caro no futuro.
Pessoas que se recusam a aceitar verdades
desagradáveis quando estas são ditas em épocas de bonança não têm direito de,
no futuro, reclamar que os políticos mentiram e que elas foram enganadas.
Afinal, com essa mentalidade, que outro tipo de candidato essas pessoas
elegeriam?
Uma das principais mentiras do estado
assistencialista é a noção de que o governo pode dar às pessoas coisas que
elas desejam, mas que não podem bancar. Dado que o governo não produz
riqueza, não tem renda própria e se mantém por meio do confisco de recursos das
pessoas, então, por uma questão de lógica, se as pessoas como um todo não podem
bancar algo, tampouco pode o governo.
Se você vota em políticos que prometeram dar a você
benesses pagas com o dinheiro confiscado de terceiros, então você não tem
nenhum direito de reclamar quando esses mesmos políticos resolverem tomar o seu
dinheiro para repassá-lo para terceiros, inclusive para eles próprios.
[N. do E.: e isso é
exatamente o que está acontecendo hoje no Brasil: além de reduzir alguns
benefícios trabalhistas, o governo está aumentando impostos sobre a folha de
pagamento e revertendo isenções fiscais ao mesmo tempo em que se recusa a
cortar a mordomia dos políticos, o número de ministérios, de secretarias e de
cargos comissionados].
Existe, é claro, a imortal falácia de que o governo
pode simplesmente aumentos os impostos sobre "os ricos" e utilizar
tal receita adicional para pagar por coisas que a maioria das pessoas não
consegue comprar. O que é incrível nesse raciocínio é a sua implícita suposição
de que "os ricos" são todos tão idiotas, que não farão nada para
evitar que seu dinheiro seja tributado.
[N. do E.: O recente
caso francês é ilustrativo. Após implantar um imposto de 75% para todos aqueles que têm renda superior a um milhão
de euros, tal política se revelou um fiasco. Além de
gerar um enorme êxodo fiscal (o ator Gerard Depardieu foi o exemplo mais famoso), tal
tributação em praticamente nada elevou a arrecadação do governo.
A alíquota afetava apenas mil pessoas e
proporcionou somente 250 milhões de euros a mais de arrecadação, ao
passo que apenas o déficit orçamentário do governo francês foi de 773 bilhões de euros em 2014. Ou seja, o adicional arrecadado equivalia a
0,03% do déficit. O tarifaço foi abolido.
Em nenhum país ocidental os ricos arcam
exclusivamente com os impostos; quem realmente fica com o grande fardo é a classe média. Não há, em nenhuma sociedade, um número
grande o bastante de ricos que possam custear sozinhos os gigantescos gastos
efetuados pelos estados assistencialistas ocidentais.
Para entender em mais detalhes por que aumentar a
tributação sobre os ricos gera um efeito contrário ao pretendido, veja este artigo.]
Na economia globalizada atual, os ricos podem
simplesmente investir seu dinheiro em países onde as alíquotas de impostos são
menores. Basta um toque no computador, e as fortunas vão embora para
outros países.
Então, se você não pode confiar que "os
ricos" irão pagar a conta, em que você pode confiar? Nas mentiras.
Nada é mais fácil para um político do que prometer
benefícios governamentais que não poderão ser cumpridos.
A Previdência Social é perfeita para essa função. As promessas são
feitas com base em um dinheiro que só será pago daqui a várias décadas — sendo
que, até lá, outra pessoa estará no poder com a tarefa de descobrir o que dizer
e fazer quando descobrir que nunca existiu tal dinheiro e a convulsão social
começar.
Haverá o calote, sim, mas existem, no entanto,
várias formas de postergar o dia do acerto final. O governo pode, por exemplo,
começar a restringir vários benefícios previdenciários daqueles grupos que são
menos influentes politicamente. Ele irá começar dando pequenos calotes
naqueles grupos que têm menos poder político e pouco poder eleitoral. E daí vai
começar a aprofundar.
Nos EUA, o governo vai começar a cortar o Medicare (programa de responsabilidade da
Previdência Social americana que reembolsa hospitais e médicos por tratamentos
fornecidos a indivíduos acima de 65 anos de idade) e o Medicaid (programa financiado conjuntamente
por estados e pelo governo federal, que reembolsa hospitais e médicos que fornecem
tratamento a pessoas que não podem financiar suas próprias despesas médicas)
[N. do E.: aqui no
Brasil, as vítimas serão alguns pensionistas, que irão se aposentar recebendo
proporcionalmente menos do que contribuíram. Depois, os cortes provavelmente
irão para alguns setores da saúde pública. A faca começará sempre sobre
os menos influentes. Haverá gritaria, mas será feito.]
É apenas uma questão de tempo. O fato é que todos
esses problemas de longo prazo irão, eventualmente, desafiar as belas e sonoras
mentiras que são a força vital das políticas de bem-estar social. Mas ainda
irão ocorrer muitas eleições entre hoje e o dia do acerto final — e aqueles que
são profissionais na arte da mentira ainda irão vencer muitas dessas eleições.
E, enquanto o dia do ajuste de contas não chega, há
diversas maneiras de aparentemente superar esses problemas. Se a
arrecadação do governo não estiver conseguindo acompanhar o ritmo do seu
aumento de gastos — como é o caso —, ele pode imprimir mais dinheiro.
Isso não torna nenhum país mais rico, mas insidiosamente transfere parte do
poder de compra da população — bem como a poupança e a renda das pessoas — para
o governo e seus protegidos, gerando uma redistribuição de renda às avessas.
Imprimir mais dinheiro significa inflação — e a inflação é uma mentira discreta, por meio da
qual o governo pode manter suas promessas no papel, mas com um dinheiro cujo
poder de compra é muito menor do que aquele que vigorava quando as promessas
foram feitas.
Será que é realmente tão surpreendente que
eleitores com expectativas fantasiosas e irreais elejam políticos que mentem
descaradamente sobre serem capazes de cumprir tais fantasias?
Promessas sublimes sobre "justiça social"
e "igualdade" não passam de estratagemas feitos para aumentar o poder
de políticos, uma vez que tais belas palavras não possuem nenhuma definição
concreta. Elas nada mais são do que um cheque em branco para criar uma
gigantesca disparidade de poder que, em comparação, ofusca completamente as
disparidades de renda — e é muito mais perigosa.
Quem não entende o completo cinismo que existe na
política não entende nada de política.
Thomas
Sowell , um dos mais influentes
economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution da Universidade
de Stanford. Seu website: www.tsowell.com.
Fonte: Mises Brasil
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