Por Ernesto
Caruso
Não poderíamos
deixar de fazer um resumo de quem foi o responsável por deflagrar a Guerra da
Tríplice Aliança como um contraponto aos detratores dos heróis nacionais e
historicidas.
Sem entrar no
mérito da invasão dos territórios da Argentina e do Brasil pelas tropas do
Marechal Francisco Solano Lopez que por si só justificaram a guerra, vamos
considerar nestas observações a impar figura do Duque de Caxias que tem sido
atacado como cruel comandante e absolvendo o ditador paraguaio, por
desconhecimento do terror que submeteu o seu povo para satisfazer a sua ambição
expansionista.
O Duque de
Caxias comandou, combateu e defendeu o Brasil com ardor patriótico
incomparável. Na passagem de Itororó, em dezembro de 1868, o Duque de Caxias,
com 65 anos, não da terceira idade de comodistas, da fala mansa, pausada, plena
de autoridade, com caneta na mão, mas enfrentando o inimigo, lanças, fogos,
metralha e doenças, dando exemplo e motivando, “Sigam-me os que forem
brasileiros”.
Como descreve
Dionísio Cerqueira, também combatente dos bons: “Passou pela nossa frente
animado, ereto no cavalo, o boné de capa branca com tapa-nuca, de pala
levantada e presa ao queixo pelo jugular, a espada curva desembainhada com
vigor e presa pelo fiador de ouro, o velho general em chefe, que parecia ter
recuperado a energia e o fogo dos vinte anos. Estava realmente belo.
Perfilamo-nos como se um centelha elétrica tivesse passado por todos nós. …”
O passado
triste de quem foi Solano Lopes foi escrito por seus contemporâneos e
compatriotas. Fez muita maldade e levou o seu povo à ruína.
As crueldades
ficaram descritas não somente na História dos vencedores mas na dos
conterrâneos do caudilho. As famílias consideradas traídoras foram internadas
no ínterior do país logo após a evacuação de Assunção em fevereiro de 1868. As
mulheres constituiram o grupo das destinadas (Tasso Fragoso) que muito sofreram
nas marchas que fizeram para as regiões fronteiriças, açoitadas e flageladas ao
longo de caminhos nas matas e florestas. O escritor paraguaio Hector Francisco
Decoud relata o veio do sofrimento. Uma primera concentração foi em Yhú, em
31/05/1869, 2.021 pessoas. Cruzes dos parentes mortos pontilhavam as trilhas
por onde passavam. Tinham que construir os seus ranchos e plantar a
sobrevivência. Em 19/09/1869 novo destino, Curuguati, com mais gente, 2.500
pessoas. “A partir do segundo dia, a multidão viu-se obrigada a acelerar a
marcha, caminhando todo o dia e a primeira metade da noite, incitada para isso
pelos golpes e isultos… O espírito sente-se oprimido contemplando quadros tão
desgraçados!…” Ao fim de 14 dias e 6 meias noites, mortes, adultos e crianças
desaparecidas. De um ponto ao outro ponto, segundo aquele autor, morretam umas
300 pesoas. Um outro destino seria Panadero, uma petição para que não ocorresse
e a autora da ousadia foi atada a um tronco na margem do Itanará-mí, nua,
exposta ao sol, executada. As outras mandadas lancear pelo pelo sanguinário
Lopez. A 23/10, 2.014 senhoras foram mandadas para o alto da serra de Maracaju
e da lá até o rio Iguatemi. Em 7 dias, 65 quilômetros.
Nada comparável
se idêntica situação não fosse vivida pela infortunada mãe do algoz, Senhora
Juana Carrillo. “Noutra carreta estavam a mãe e irmãs de Lopez, estas de joelhos,
agradecendo a Deus o aniquilamento do tirano. A pobre velha Carrillo fora
condenada à morte, e o tenente Muñoz, que a guardava, tinha ordem de lanceá-la,
caso aparecessem os inimigos.” Mãe e filhas eram surradas, irmãs do infausto. O
amor de mãe tenta abafar o sofrimento no momento do sepultamento, ao que sua
filha, suplica: “Não chore, senhora, esse monstro, que não foi filho, nem
irmão!” Dona Rafaella lembrara o assassinato de seus irmãos e de seu marido.
Que não
assoprem a poeira que encobre esse lado triste do inimigo de outrora, não o
povo paraguaio, que merece todo o respeito, mas a vertente da tirania; muito
menos de denegrir a vida de tantos brasileiros que deram as suas vidas em
combate e enfrentando a cólera como nossos retirantes da Laguna, do escritor
épico Alfredo D’Escragnolle Taunay.
Por outro lado,
a tirania de Lopez era manter seus homens preparados psicologicamente e
coagidos para lutar até a morte. Enquanto existia comando e controle muito
centralizados e próximo teve sucesso. Vitória ou morte era a regra. Uma
hierarquia de responsabilidade podia levar um comandante a ser açoitado ou
fuzilado se os seus subordinados desertassem. Cada combatente era responsável
por outros dois.
A rendição e a
deserção poderiam trazer conseqüências para as famílias dos que falhavam. Mesmo
nas derradeiras operações de recuo, o requinte era destinado a si próprio e à
madame Lynch. A escassez de víveres que atingia o restante incluía a própria
mãe e irmãs.
Já era tão
odiado que os paraguaios quando souberam que estava morto, festejaram e o seu
corpo não foi despedaçado porque foram impedidos.
Transcreve-se a
seguir o decreto de 17 de agosto de 1869 do Governo Provisório daquele País:
“Considerando:
– Que a presença de Francisco Solano Lopez no solo paraguaio é um sangrento
sarcasmo à civilização e patriotismo dos paraguaios. Que este monstro de
impiedade perturbou a ordem e aniquilou a nossa Pátria com os crimes que tem
perpetrado, inundando-o de sangue e atentando contra as leis divinas e humanas,
com espanto e horror. Excedendo aos maiores tiranos e bárbaros de que fazem
menção as histórias de todos os tempos e idades; Resolveu e decreta: Art. 1º O
desnaturado paraguaio traidor Francisco Solano Lopez fica fora da lei e para
sempre banido do solo paraguaio como assassino de sua pátria e inimigo do
gênero humano. Art. 2º Publique-se por bando e insira-se no registro nacional,
aos 17 dias do mês de agosto de 1869, ano 1º da liberdade da República do
Paraguai. Cirilo A. Rivarola, Carlos Loizaga e José Dias de Bedoya.
Por Ernesto
Caruso é Cel Rfm do Exército Brasileiro
Fonte: Brasil acima
de tudo
Nós não fazemos a guerra; a guerra é
feita por quem nos ataca. Anon, SSXXI
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