Por Luis Milman
Felix Nussbaum, 'O
Refugiado' (1939
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Somente um estado controlado por
trogloditas sanguinários, a cujo serviço estão soldados desprovidos sequer de
piedade animal, lançaria sobre a Faixa de Gaza uma operação militar da qual
resultaria deliberado massacre de civis, como afirmou a presidente Dilma
Roussef. É desta maneira que a ação israelense é apresentada e comentada e dela
se infere que Israel não pode ser menos que um estado terrorista. Deste
enquadramento também se conclui que os árabes de Gaza e da Cisjordânia são
vítimas da brutal e contínua opressão israelense, contra a qual o mundo
civilizado deve se insurgir.
A editorialização antissemita do
noticiário em geral sobre a operação israelense evidencia, no Ocidente, não
apenas uma tendência localizada em setores ideológicos assumidamente
esquerdistas e anti-israelenses, mas a gradual e intensa preocupação com a
formação de um consenso no que concerne à demonização do Estado Judeu. O bordão
segundo o qual Israel age com relação aos palestinos da mesma forma como os
nazistas agiram com relação aos judeus, negando-lhes mesmo o direito à
subsistência, transitou, desde a década de 80, da esquerda militante para os
campi universitários e é apregoada por estrelas pop e operadores da mídia.
Ainda que nada sequer remotamente plausível suporte a acusação, Israel tem sido
sistematicamente apresentado como um estado militarizado, que promove a
segregação de palestinos e que é governado por lideranças cruéis. Exercícios
desta retórica degradante são constantes e deixam as comunidades judaicas
aparvalhadas.
Bedrich Fritta,
'Entrada
pelos Fundos' (1941-1944)
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A esquerda pós-soviética, depois da
ruína de sua utopia, aquela que libertaria o mundo de suas aflições e que, ao
fim e ao cabo, consumiu-se na autodegradação moral, política e econômica,
passou a investir agressivamente contra os israelenses, atribuindo-lhes
transgressões e violações constantes de direitos humanos e práticas genocidas,
Tudo isto ocorre hoje, É irrelevante que Israel tenha atacado a Faixa de
Gaza para destruir o aparato militar do Hamas, uma entidade islâmico-facínora,
que enviava, em 2000, homens e mulheres-bomba para se explodirem em ônibus e
restaurantes de Tel Aviv e Haifa e que, no atual confrontou, lançou mais de
três mil mísseis contra civis israelenses.
Karl Bodek e Kurt Conrad
Löw,
'Uma Primavera' (1941)
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Não adianta: se Israel não deixar de
se defender, se não se deixar riscar como nação, se não concordar com a própria
extinção como estado, ou seja, se os judeus não abrirem mão de serem um povo
com direito à autodeterminação política, se não forem inteiramente assimilados
e, assim destruídos, a propaganda antissionista, anti-israelense e antissemita,
sendo todos estes termos intersubstituíveis, fabricada pela esquerda em nome,
hoje, da solidariedade com os palestinos, continuará a amplificar deformações
cotidianas que vilanizam a condição nacional judaica. Obviamente que, para os
judeus e Israel não se aplicam os mesmos padrões que se aplicam aos demais
povos do mundo, dos brasileiros aos palestinos, para todos sendo naturais suas
demandas de independência nacional.
O nível de decomposição mental que
decorre do antissemitismo de aparência benigna, deste que rapidamente descrevi
acima e que é praticado religiosamente pela esquerda, pode ser constatado tanto
na prática diplomática calculada de um país como na mais inocente entrevista de
uma intelectual a um jornal. O pais a que me refiro é o Brasil, cuja política
externa é conduzida por comunistas empedernidos. Contra todos os interesses
brasileiros no campo das relações internacionais e em nome da afirmação de um
conceito de incidência multilateral de poder, que, em verdade não passa de um
eufemismo para a ideia de lutar contra os EUA, o governo Lula, não satisfeito
com seu alinhamento com Cuba, Venezuela, Bolívia e Sudão, ainda declarou sua
aliança com o Irã. Como todos estão cansados de saber que tipo de regime
governa os iranianos, passo diretamente ao meu ponto: a tentativa do Foro de
São Paulo, conduzida por Lula, de evitar com que sanções econômicas e militares
fossem efetivadas contra o Irã pelo Conselho de Segurança da ONU, devido ao seu
programa de enriquecimento de urânio. O resultado, conhecemos: aquele papel
ridículo assinado por Lula, Ahmadinejad e o primeiro-ministro turco, que visava
apenas permitir que Teerã continuasse com seu programa nuclear e chegasse ao
ponto de produzir sua bomba atômica. Lula não é um imbecil pacifista, que foi
enrolado pelo presidente iraniano. Ele queria mesmo que o Irã desenvolvesse a
capacidade de enriquecer urânio a 90 por cento. Uma vez atingido este ponto,
estaria comprometido o equilíbrio de forças em termos globais. EUA, Europa e
Israel - que dentre todos os países do mundo, passa a ter sua existência
imediatamente ameaçada se os iranianos fabricarem apenas um artefato nuclear -
para não falar dos países árabes e muçulmanos que possuem fronteira com o Irã,
todos ficariam expostos à ameaça atômica direta ou ao terrorismo nuclear. A
análise é elementar na sua precisão e é dela que partiu a iniciativa de Lula
para tentar anular a imposição de sanções contra Teerã. Imediatamente
denunciada, a posição do governo brasileiro tornou-se insustentável e o
Conselho de Segurança da ONU, contra o voto do Brasil e da Turquia somente,
aprovou as sanções. Nada de tão pernicioso jamais ocorreu na história da
política externa brasileira. As conseqüências da visão comunista e criminosa de
mundo do governo Lula, seu descarado alinhamento com um regime que declara a
todo instante que quer varrer Israel do mapa, colocaram o Brasil no isolado
clube de países mais obscurantistas do planeta.
Leo Haas, 'Chegada do
Transporte' (1942)
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Bem, é aqui que entra Elizabeth
Roudinesco, historiadora francesa, especializada em psicanálise e diretora de
pesquisa em história na Universidade de Paris 7. Elizabeth está no Brasil para
lançar seu novo livro, Retorno à Questão Judaica, e foi entrevistada pelo
Caderno de Cultura de Zero Hora, de 12 de junho último. Não li o livro, mas
comento as ideias centrais do argumento que a historiadora pretende construir,
de acordo com sua entrevista.
Para começar, ela relaciona o
problema do antissemitismo moderno, iluminista como ela diz, com dois pontos:
(a) o surgimento da judeidade (pensadores nanicos adoram neologismos ocos), que
é a ideia, segundo ela, do nascimento do judeu sem Deus, ou seja, digo eu aqui,
do judeu ateu e (b) do surgimento do sionismo. Ambos foram respostas, frise-se,
ao antissemitismo, não mais o medieval, da Igreja, mas, se entendi bem, da nova
modalidade de ódio aos judeus, que se configurou em meio à rejeição
racionalista da identidade judaica. Na entrevista, Elizabeth não detalha como
ou de onde surgiu este racionalismo hostil aos judeus judeidados da Europa
desenvolvida. Ou melhor, ela apresenta um indício: o discurso antissemita, para
Elizabeth, é inconsciente. O que isso quer dizer, pela entrevista, não dá para
saber. Mas se é inconsciente e é discurso, em termos psicanalíticos, ele no
mínimo está localizado na narrativa original da psique, seria um relato que
configura o ente em sua fase inicial de ser. Isto tudo pode ser cansativo de se
ler, mas é estranho conceber que uma hostilidade, por todos os títulos,
consciente, construída a partir de descrições tipológicas deformadas dos
judeus, seja no medievo, seja na modernidade, possa se instalar no plano do
inconsciente. Decorre da caracterização da historiadora que o antissemitismo de
Hitler não era consciente, que ele se inscrevia na própria configuração primeva
de sua persona. Estamos, neste ponto, no plano da bazófia. Mas Elizabeth
prossegue e exemplifica como a coisa funciona, ao relatar que, quando dava
aulas para crianças, em 1967, na Argélia, deparou-se, depois da Guerra dos Seis
Dias, com a inscrição de uma suástica na parede da classe. Isto a despertou
para o problema do antissemitismo, porque ali estavam crianças que nada sabiam
de Israel ou dos judeus. Ela parou para refletir e descobriu que as crianças
eram inconscientemente antissemitas. Depois disso, após um trabalho educativo,
ela viu que a suástica havia sido removida da sala de aula.
Moritz Müller, 'Telhados
no Inverno' (1944)
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O antissemitismo iluminista, que é,
para ela, inconsciente – seja lá o que isto signifique- tem, segundo Elizabeth,
“uma relação particular com os acontecimentos de Israel hoje”. Que
acontecimentos? Ora, a interceptação da flotilha dos "pacifistas".
“Condeno radicalmente essa intervenção contra um barco humanitário. Essa
política é catastrófica para o Estado de Israel”. É sério! A senhora
Roudinesco, filha de um judeu com uma judia por parte de mãe, diz que nunca
teve educação religiosa judaica em sua casa e foi batizada na Igreja Católica.
“Em família, não tínhamos religião. Não tive educação religiosa judaica, e sim
republicana. Como resultado, não tenho uma identidade específica. Não me sinto
particularmente ligada a uma herança judaica, mas sim a uma herança
iluminista”.
Então a historiadora não é judia
pelos seus próprios padrões. A teórica da judaidade, ou seja do judeu sem Deus,
é adepta do iluminismo, é judia sem ser judia, não tem identidade específica,
mas é orgulhosa de sua fraceisidade – “Eu sou francesa e devo combater o
antissemitismo em meu país”. Mesmo assim, não tem meias palavras no concerne à
condenação de Israel que, segundo ela, é fruto do sionismo do final do século
19, que criou uma ruptura entre os judeus.
Nelly Toll, 'Garotas no
Campo' (1943)
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Israel não atacou militarmente uma
flotilha humanitária. Israel abordou, com sua marinha, cinco navios ( mais
tarde viria um sexto) que tentaram romper o bloqueio naval à Faixa de Gaza. O
bloqueio existe porque aquele território, controlado pelo Hamas, é hostil a
Israel e recebe contrabando de armas e mísseis que são lançados contra
território israelense. Toda a ajuda humanitária, a saber, toneladas de
medicamentos, alimentos e material de construção, é inspecionada pelas
autoridades israelenses no porto de Ashdod e, dali, segue seu rumo, se não
houver armamento contrabandeado, por terra, até chegar em Gaza. Este é um
procedimento rotineiro.
Da flotilha que tentou romper o
bloqueio, apenas o navio Marmara, de bandeira turca, desafiou a ordem de rumar
para Ashdod. Os demais obedeceram o comando. Israel, como qualquer país do
mundo faria, nestas circunstâncias, interceptou o navio provocador. E o fez por
uma abordagem aérea, na estimativa de evitar a morte de pessoas. Tivesse optado
por um disparo de uma nave militar para deter o Marmora, os danos seriam muito
maiores. No convés, entretanto, os soldados israelenses que desceram do
helicóptero para tomar o controle do Marmora e conduzi-lo à Ashdod, foram
recebidos por dezenas de homens mascarados, armados de facões, punhais, bastões
de pau e barras de ferro. O primeiro soldado a descer no convés quase foi
massacrado. Diante da violência, seus companheiros do helicóptero reagiram, com
suas armas, para salvar o soldado. No final, nove ativistas turcos pró- Hamas
foram mortos, outros tantos feridos e o navio conduzido à Ashdod.
Pavel Fantl - A música
acabou
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Ora, para desmoralização da senhora
Roudinesco, dos jornalistas que a entrevistaram, do jornal que publicou sua
entrevista, da mídia internacional e seja lá de quem mais for, os israelenses
agiram estritamente de acordo com a Lei Internacional ( O manual é a Lei
Internacional nesses casos). Não houve qualquer precipitação por parte das
autoridades que determinaram a interceptação. O governo israelense não é
constituído por tolos ou brutamontes. Não houve nada de ilegal ou ilegítimo na
ação, muito menos prática indisciplinada ou contrária aos valores humanos. E
note-se: o texto da regra 67 prevê claramente o “ataque a embarcações neutras”.
Ora, se Israel está defendendo sua integridade por meio de um bloqueio militar
a um território hostil, como condenar a abordagem feita ao Marmara, que
desafiou o bloqueio? Somente a desmedida campanha de criminalização de Israel
que, como tentei demonstrar, decorre de uma visão antissemita do mundo, pode
explicar a forma como a mídia tratou do tema, ignorando fatos inegáveis, todos
documentados, e a Lei internacional.
Para terminar: retornei de Israel há
poucos dias. Todos que me acompanham sabem que sou judeu, sionista e temo a
Deus. Quem entende um pouco de judaísmo entende o que significa o temor a Deus.
Quem não sabe, pode recorrer ao ensaio Temor e Tremor, de Kierkegaard, que não
era judeu, para informar-se sobre o assunto. Digo isto porque observei, na
fronteira com o Líbano e a Síria, intensa movimentação de tropas israelenses e
conversei com soldados e parentes de soldados que estão empenhados em
exercícios de guerra. Minha conclusão: Israel está se preparando para um
confronto, a prazo curto, contra o Hezbollah e a Síria, que hoje têm capacidade
de lançar mísseis russos, chineses e iranianos em todo território israelense.
Será uma guerra violenta, dura, porque o Hezbollah, apoiado por sírios e iranianos,
está preparado para o confronto, E o que mais lembro dos dias em que caminhei
pelas ruas de Jerusalém, são as referências que alguns amigos israelenses
fizeram ao diálogo que David manteve com Saul antes de enfrentar Golias:
"ele (Golias) é como o leão e o urso que enfrentei e venci com minhas
próprias mãos, não por minha força, mas porque temo apenas ao Eterno".
Fonte: Postado há 13th June 2010 por Luis Milman
Outro artigo sobre este mesmo assunto, aqui
Obras de artes dos judeus criadas em guetos e nos campos de concentração
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