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segunda-feira, 3 de abril de 2017

O antissemitismo e a flotilha

Por Luis Milman


Felix Nussbaum, 'O Refugiado' (1939
O fascínio exercido pelo antissemitismo na mentalidade esquerdista é tamanho que dele decorrem a grotesca subversão fática e a construção de narrativas aterrorizantes sobre Israel e os judeus. Qualquer pessoa com a mente não contaminada pelo marxismo manco ou anarquismo de almanaque – que hoje operam como esteios ideológicos para o antissionismo - é capaz de perceber, na grande imprensa, as formas intencionalmente mentirosas, por meio das quais são oferecidas ao público as notícias sobre as ações políticas e militares israelenses. E para os que não se dão conta da flagrante campanha de deslegitimização do Estado de Israel, que a mídia promove sistematicamente, basta constatar trivialidades que passam despercebidas quando enunciadas por apresentadores, repórteres, comentaristas e colunistas de uma Rede Globo, de uma Folha de São Paulo ou de uma Zero Hora, para ficarmos apenas com alguns casos domésticos.

Somente um estado controlado por trogloditas sanguinários, a cujo serviço estão soldados desprovidos sequer de piedade animal, lançaria sobre a Faixa de Gaza uma operação militar da qual resultaria deliberado massacre de civis, como afirmou a presidente Dilma Roussef. É desta maneira que a ação israelense é apresentada e comentada e dela se infere que Israel não pode ser menos que um estado terrorista. Deste enquadramento também se conclui que os árabes de Gaza e da Cisjordânia são vítimas da brutal e contínua opressão israelense, contra a qual o mundo civilizado deve se insurgir.

A editorialização antissemita do noticiário em geral sobre a operação israelense evidencia, no Ocidente, não apenas uma tendência localizada em setores ideológicos assumidamente esquerdistas e anti-israelenses, mas a gradual e intensa preocupação com a formação de um consenso no que concerne à demonização do Estado Judeu. O bordão segundo o qual Israel age com relação aos palestinos da mesma forma como os nazistas agiram com relação aos judeus, negando-lhes mesmo o direito à subsistência, transitou, desde a década de 80, da esquerda militante para os campi universitários e é apregoada por estrelas pop e operadores da mídia. Ainda que nada sequer remotamente plausível suporte a acusação, Israel tem sido sistematicamente apresentado como um estado militarizado, que promove a segregação de palestinos e que é governado por lideranças cruéis. Exercícios desta retórica degradante são constantes e deixam as comunidades judaicas aparvalhadas.


Bedrich Fritta, 
'Entrada pelos Fundos' (1941-1944)
É sugestivo constatar, neste ponto, que a campanha para transformar Israel em um estado pária e iníquo é de tal forma condicionada pelo antissemitismo, no caso, de esquerda, que nela são facilmente encontráveis paralelos com modalidades de perversão aplicadas à caracterização dos judeus no medievo e na modernidade. Se não se lança mais mão da aberração acusatória popular da cristandade medieval, segundo a qual judeus matavam crianças cristãs para delas extraírem o sangue para misturar ao pão ázimo consumido na Páscoa judaica, ainda assim é com naturalidade que se atribui ao Estado judeu a brutalidade de avançar seu poderio militar contra crianças. Não é suficiente o esforço de distorcer, ou ocultar, a história do conflito árabe-israelense, desde a criação do Estado Judeu em 1948. São raras as referências às três guerras declaradamente de extermínio (1948, 1967, 1973) que o mundo árabe deflagrou contra Israel. Em 1948, depois de declarada pela ONU a partilha da Palestina sob mandato britânico, o mundo árabe, por meio de suas lideranças, anunciava, como hoje fazem o Hamas e o Irã,s sua intenção de varrer os judeus daquele território, à moda dos hunos. Em 1967, a então maior liderança árabe, Gamal A. Nasser, apregoava que lançaria, numa guerra jihadistica, todos os judeus ao mar. Os árabes têm sido derrotados em suas tentativas e, se não o fossem, o mundo teria observado, talvez lamentado, com sua distância cínica e fria, mais matanças de judeus.

A esquerda pós-soviética, depois da ruína de sua utopia, aquela que libertaria o mundo de suas aflições e que, ao fim e ao cabo, consumiu-se na autodegradação moral, política e econômica, passou a investir agressivamente contra os israelenses, atribuindo-lhes transgressões e violações constantes de direitos humanos e práticas genocidas, Tudo isto  ocorre hoje, É irrelevante que Israel tenha atacado a Faixa de Gaza para destruir o aparato militar do Hamas, uma entidade islâmico-facínora, que enviava, em 2000, homens e mulheres-bomba para se explodirem em ônibus e restaurantes de Tel Aviv e Haifa e que, no atual confrontou, lançou mais de três mil mísseis contra civis israelenses.


Karl Bodek e Kurt Conrad Löw, 
'Uma Primavera' (1941)
As distorções produzidas pela propaganda antissionista, constituem as bases do noticiário ideológico, apresentado como se fosse meramente descritivo de ações condenáveis de Israel. A cobertura das ações israelenses feita pelas agências de notícia globais e pelos correspondentes internacionais, em sua maioria, é condicionada, não apenas pela militância marxista e odienta de um Clóvis Rossi ou dos pelegos do Foro de São Paulo, mas pela idiotia do pacifismo e da noção difundida em escolas de jornalismo, na qual se exalta um esquerdismo que apresenta como bom o judeu assimilado, desprovido de identidade ou consumido em sofrimento. É deste fundamento doutrinário, que nega aos judeus a condição de autodeterminar-se como povo, condição, aliás, que a nenhum outro povo é subtraída, que parte o trololó aparentemente gentil do pacifismo e do humanitarismo; é a partir dele que são desfraldadas as bandeiras sanguinárias carregadas pelos defensores ocidentais do Hamas e do Hezbollah e é com ele que se formula uma equivalência moral entre o Hamas e Israel.

Não adianta: se Israel não deixar de se defender, se não se deixar riscar como nação, se não concordar com a própria extinção como estado, ou seja, se os judeus não abrirem mão de serem um povo com direito à autodeterminação política, se não forem inteiramente assimilados e, assim destruídos, a propaganda antissionista, anti-israelense e antissemita, sendo todos estes termos intersubstituíveis, fabricada pela esquerda em nome, hoje, da solidariedade com os palestinos, continuará a amplificar deformações cotidianas que vilanizam a condição nacional judaica. Obviamente que, para os judeus e Israel não se aplicam os mesmos padrões que se aplicam aos demais povos do mundo, dos brasileiros aos palestinos, para todos sendo naturais suas demandas de independência nacional.
O nível de decomposição mental que decorre do antissemitismo de aparência benigna, deste que rapidamente descrevi acima e que é praticado religiosamente pela esquerda, pode ser constatado tanto na prática diplomática calculada de um país como na mais inocente entrevista de uma intelectual a um jornal. O pais a que me refiro é o Brasil, cuja política externa é conduzida por comunistas empedernidos. Contra todos os interesses brasileiros no campo das relações internacionais e em nome da afirmação de um conceito de incidência multilateral de poder, que, em verdade não passa de um eufemismo para a ideia de lutar contra os EUA, o governo Lula, não satisfeito com seu alinhamento com Cuba, Venezuela, Bolívia e Sudão, ainda declarou sua aliança com o Irã. Como todos estão cansados de saber que tipo de regime governa os iranianos, passo diretamente ao meu ponto: a tentativa do Foro de São Paulo, conduzida por Lula, de evitar com que sanções econômicas e militares fossem efetivadas contra o Irã pelo Conselho de Segurança da ONU, devido ao seu programa de enriquecimento de urânio. O resultado, conhecemos: aquele papel ridículo assinado por Lula, Ahmadinejad e o primeiro-ministro turco, que visava apenas permitir que Teerã continuasse com seu programa nuclear e chegasse ao ponto de produzir sua bomba atômica. Lula não é um imbecil pacifista, que foi enrolado pelo presidente iraniano. Ele queria mesmo que o Irã desenvolvesse a capacidade de enriquecer urânio a 90 por cento. Uma vez atingido este ponto, estaria comprometido o equilíbrio de forças em termos globais. EUA, Europa e Israel - que dentre todos os países do mundo, passa a ter sua existência imediatamente ameaçada se os iranianos fabricarem apenas um artefato nuclear - para não falar dos países árabes e muçulmanos que possuem fronteira com o Irã, todos ficariam expostos à ameaça atômica direta ou ao terrorismo nuclear. A análise é elementar na sua precisão e é dela que partiu a iniciativa de Lula para tentar anular a imposição de sanções contra Teerã. Imediatamente denunciada, a posição do governo brasileiro tornou-se insustentável e o Conselho de Segurança da ONU, contra o voto do Brasil e da Turquia somente, aprovou as sanções. Nada de tão pernicioso jamais ocorreu na história da política externa brasileira. As conseqüências da visão comunista e criminosa de mundo do governo Lula, seu descarado alinhamento com um regime que declara a todo instante que quer varrer Israel do mapa, colocaram o Brasil no isolado clube de países mais obscurantistas do planeta.


Leo Haas, 'Chegada do Transporte' (1942)
No plano da propaganda publicística do antissemitismo de face benigna e na linha da destruição da identidade sionista, que se nutre da ideia de que os judeus deixarão de ser vítimas do antissemitismo quando estiverem inteiramente assimilados, isto é, quando deixarem de ser judeus, nada melhor do que mostrar como um judeu não-judeu analisa o que desde a primeira metade do século XIX, na Europa, tem sido chamado de “a questão judaica”, por pensadores iluministas, marxistas (Marx inclusive), e nazistas. Exceção feita aos nazistas, que pensaram a questão em termos de genocídio, as demais linhas de pensamento desaguam todas no assimilacionismo. Muitos judeus europeus, desde o Esclarecimento, aderiram a ela, alguns caracterizando o Judaísmo como apenas mais uma religião que poderia ser praticada por qualquer nacional de qualquer país; outros aderiram à crítica do judaísmo, nele identificando a essência do capitalismo, como Marx (o Deus do judeu é o regateio, dizia ele), ou Abraham Leon, que pensava o mundo em termos da existência de duas grandes classes e caracterizava os judeus como uma espécie de estamento disfuncional que subsistia já sem propósito depois da Revolução Industrial e cujo destino era o desaparecimento. Tudo isto era fetichismo materialista pretensioso. Restou provado, ao longo de mais de 3 mil anos, que os judeus constituem uma civilização, como demonstrou, de acordo com parâmetros históricos inegáveis, Fernand Braudel, em sua obra clássica, O Mediterrâneo e o Mundo mediterrâneo na Era de Felipe II, gostem, ou não assimilacionistas ou comunistas.

Bem, é aqui que entra Elizabeth Roudinesco, historiadora francesa, especializada em psicanálise e diretora de pesquisa em história na Universidade de Paris 7. Elizabeth está no Brasil para lançar seu novo livro, Retorno à Questão Judaica, e foi entrevistada pelo Caderno de Cultura de Zero Hora, de 12 de junho último. Não li o livro, mas comento as ideias centrais do argumento que a historiadora pretende construir, de acordo com sua entrevista.

Para começar, ela relaciona o problema do antissemitismo moderno, iluminista como ela diz, com dois pontos: (a) o surgimento da judeidade (pensadores nanicos adoram neologismos ocos), que é a ideia, segundo ela, do nascimento do judeu sem Deus, ou seja, digo eu aqui, do judeu ateu e (b) do surgimento do sionismo. Ambos foram respostas, frise-se, ao antissemitismo, não mais o medieval, da Igreja, mas, se entendi bem, da nova modalidade de ódio aos judeus, que se configurou em meio à rejeição racionalista da identidade judaica. Na entrevista, Elizabeth não detalha como ou de onde surgiu este racionalismo hostil aos judeus judeidados da Europa desenvolvida. Ou melhor, ela apresenta um indício: o discurso antissemita, para Elizabeth, é inconsciente. O que isso quer dizer, pela entrevista, não dá para saber. Mas se é inconsciente e é discurso, em termos psicanalíticos, ele no mínimo está localizado na narrativa original da psique, seria um relato que configura o ente em sua fase inicial de ser. Isto tudo pode ser cansativo de se ler, mas é estranho conceber que uma hostilidade, por todos os títulos, consciente, construída a partir de descrições tipológicas deformadas dos judeus, seja no medievo, seja na modernidade, possa se instalar no plano do inconsciente. Decorre da caracterização da historiadora que o antissemitismo de Hitler não era consciente, que ele se inscrevia na própria configuração primeva de sua persona. Estamos, neste ponto, no plano da bazófia. Mas Elizabeth prossegue e exemplifica como a coisa funciona, ao relatar que, quando dava aulas para crianças, em 1967, na Argélia, deparou-se, depois da Guerra dos Seis Dias, com a inscrição de uma suástica na parede da classe. Isto a despertou para o problema do antissemitismo, porque ali estavam crianças que nada sabiam de Israel ou dos judeus. Ela parou para refletir e descobriu que as crianças eram inconscientemente antissemitas. Depois disso, após um trabalho educativo, ela viu que a suástica havia sido removida da sala de aula.


Moritz Müller, 'Telhados no Inverno' (1944)
O relato da experiência, no entanto, não prova nada acerca da tal origem insconsciente do antissemitismo. Ao contrário, apenas reforça a certeza de que ele é consciente, porque aquelas crianças eram árabes, com pais e educação árabes, os árabes estavam tentando destruir Israel e perderam a guerra. Assim, as crianças apenas expressaram seus sentimentos com relação a Israel por meio de uma suástica. É necessário chafurdar nas profundezas do inconsciente para entender isso? Tenho, para mim, que a historiadora, especialista em psicanálise que é, transfere qualquer compreensão de um pensamento, mesmo a mais cristalina, para a zona obscura da inconsciência freudiana e dela extrai uma explanação edípica. O problema é: o que o antissemitismo tem a ver com o Complexo de Édipo ou com o medo da castração?

O antissemitismo iluminista, que é, para ela, inconsciente – seja lá o que isto signifique- tem, segundo Elizabeth, “uma relação particular com os acontecimentos de Israel hoje”. Que acontecimentos? Ora, a interceptação da flotilha dos "pacifistas". “Condeno radicalmente essa intervenção contra um barco humanitário. Essa política é catastrófica para o Estado de Israel”. É sério! A senhora Roudinesco, filha de um judeu com uma judia por parte de mãe, diz que nunca teve educação religiosa judaica em sua casa e foi batizada na Igreja Católica. “Em família, não tínhamos religião. Não tive educação religiosa judaica, e sim republicana. Como resultado, não tenho uma identidade específica. Não me sinto particularmente ligada a uma herança judaica, mas sim a uma herança iluminista”.

Então a historiadora não é judia pelos seus próprios padrões. A teórica da judaidade, ou seja do judeu sem Deus, é adepta do iluminismo, é judia sem ser judia, não tem identidade específica, mas é orgulhosa de sua fraceisidade – “Eu sou francesa e devo combater o antissemitismo em meu país”. Mesmo assim, não tem meias palavras no concerne à condenação de Israel que, segundo ela, é fruto do sionismo do final do século 19, que criou uma ruptura entre os judeus.


Nelly Toll, 'Garotas no Campo' (1943)
Mas que ruptura? Seria plausível esperar que todos os judeus se tornassem sionistas simplesmente porque este movimento de emancipação nacional foi criado? Judeus marxistas permaneceram marxistas, assimilados permaneceram assimilados, ateus permaneceram ateus. É absurdo encontrar aqui qualquer ruptura entre os judeus, como se estes formassem um grupo uniforme em suas ideias. O sionismo movimentou massas judaicas do Ocidente e do mundo árabe – de onde foram expulsas, depois da criação de Israel- para sua terra ancestral, sem que os demais judeus do mundo livre devessem se sentir forçados a deixar suas casas. Partir para Israel é uma opção que os judeus têm. E defender o sionismo, ou seja, a legitimidade da autodeterminação judaica em sua terra histórica, não coage judeu algum a deixar o lugar onde vive como cidadão, em qualquer lugar do mundo. Afirmar tais obviedades torna-se imperativo quando nos deparamos com avaliações destrambelhadas de uma atéia assimilada militante como Elizabeth Roudinesco, cuja referência ôntica é o elan fundante, produto do acaso, da libido. A empulhação que esta senhora produz escancara a psicologia de pessoas envergonhadas de si, inteiramente assimiladas, para as quais o judaísmo é não-identitário e, por isso, sem sentido. Daí só podem nascer teorias sobre um antissemitismo que se desloca para o inconsciente e se retira da prática histórica odiosa dos homens. É de tais pessoas, para os quais o judaísmo é acima de tudo um fardo, que partem condenações “à direita nacionalista israelense”, (como se o correto fosse pertencer à uma esquerda não-nacionalista, um setor imginário da mítica marxista, que certamente não existe nem no pais onde a respeitável historiadora vive) e à abordagem à “flotilha humanitária”. As mesmas acusações que os propagandistas do Hamas fazem contra Israel e que ecoam pela mídia mundial, como se estivesse lastreadas em fatos. E tudo estampado em um caderno cultural de Zero Hora, um jornal brasileiro importante, sem a menor preocupação, por parte dos jornalistas que publicaram a entrevista e ainda elogiaram a historiadora - portadora, segundo eles, de “um pensamento rigoroso e límpido”- de buscarem uma resenha crítica do livro que ela está lançando ou um contraponto às suas afirmativas, ao melhor, flagrantemente tolas.

Israel não atacou militarmente uma flotilha humanitária. Israel abordou, com sua marinha, cinco navios ( mais tarde viria um sexto) que tentaram romper o bloqueio naval à Faixa de Gaza. O bloqueio existe porque aquele território, controlado pelo Hamas, é hostil a Israel e recebe contrabando de armas e mísseis que são lançados contra território israelense. Toda a ajuda humanitária, a saber, toneladas de medicamentos, alimentos e material de construção, é inspecionada pelas autoridades israelenses no porto de Ashdod e, dali, segue seu rumo, se não houver armamento contrabandeado, por terra, até chegar em Gaza. Este é um procedimento rotineiro.

Da flotilha que tentou romper o bloqueio, apenas o navio Marmara, de bandeira turca, desafiou a ordem de rumar para Ashdod. Os demais obedeceram o comando. Israel, como qualquer país do mundo faria, nestas circunstâncias, interceptou o navio provocador. E o fez por uma abordagem aérea, na estimativa de evitar a morte de pessoas. Tivesse optado por um disparo de uma nave militar para deter o Marmora, os danos seriam muito maiores. No convés, entretanto, os soldados israelenses que desceram do helicóptero para tomar o controle do Marmora e conduzi-lo à Ashdod, foram recebidos por dezenas de homens mascarados, armados de facões, punhais, bastões de pau e barras de ferro. O primeiro soldado a descer no convés quase foi massacrado. Diante da violência, seus companheiros do helicóptero reagiram, com suas armas, para salvar o soldado. No final, nove ativistas turcos pró- Hamas foram mortos, outros tantos feridos e o navio conduzido à Ashdod.


Pavel Fantl - A música acabou
O fato do Marmara ainda estar em águas internacionais quando da abordagem em nada deslegitima a ação israelense. Uma breve leitura do San Remo Manual on International Law Applicable to Armed Conflicts at Sea ( Manual Internacional de San Remo Aplicável a Conflitos Armados no Mar, de Junho de 1994), tira qualquer dúvida sobre a a legalidade da interceptação israelense. Vejamos: "It is permissible under rule 67(a) to attack neutral vessels on the high seas when the vessels are believed on reasonable grounds to be carrying contraband or breaching a blockade, and after prior warning they intentionally and clearly refuse to stop, or intentionally and clearly resist visit, search or capture'. ( É permissível sobre a regra 67 (do manual) (a) atacar embarcações neutras em alto mar quando as embarcações, considerando-se uma suspeita com base razoável, carregam contrabando ou rompem um bloqueio, e depois de uma aviso preliminar, elas (as embarcações) intencional e claramente recusam-se a parar, ou intencional e claramente resistem à inspeção, busca ou captura).
Ora, para desmoralização da senhora Roudinesco, dos jornalistas que a entrevistaram, do jornal que publicou sua entrevista, da mídia internacional e seja lá de quem mais for, os israelenses agiram estritamente de acordo com a Lei Internacional ( O manual é a Lei Internacional nesses casos). Não houve qualquer precipitação por parte das autoridades que determinaram a interceptação. O governo israelense não é constituído por tolos ou brutamontes. Não houve nada de ilegal ou ilegítimo na ação, muito menos prática indisciplinada ou contrária aos valores humanos. E note-se: o texto da regra 67 prevê claramente o “ataque a embarcações neutras”. Ora, se Israel está defendendo sua integridade por meio de um bloqueio militar a um território hostil, como condenar a abordagem feita ao Marmara, que desafiou o bloqueio? Somente a desmedida campanha de criminalização de Israel que, como tentei demonstrar, decorre de uma visão antissemita do mundo, pode explicar a forma como a mídia tratou do tema, ignorando fatos inegáveis, todos documentados, e a Lei internacional.

Para terminar: retornei de Israel há poucos dias. Todos que me acompanham sabem que sou judeu, sionista e temo a Deus. Quem entende um pouco de judaísmo entende o que significa o temor a Deus. Quem não sabe, pode recorrer ao ensaio Temor e Tremor, de Kierkegaard, que não era judeu, para informar-se sobre o assunto. Digo isto porque observei, na fronteira com o Líbano e a Síria, intensa movimentação de tropas israelenses e conversei com soldados e parentes de soldados que estão empenhados em exercícios de guerra. Minha conclusão: Israel está se preparando para um confronto, a prazo curto, contra o Hezbollah e a Síria, que hoje têm capacidade de lançar mísseis russos, chineses e iranianos em todo território israelense. Será uma guerra violenta, dura, porque o Hezbollah, apoiado por sírios e iranianos, está preparado para o confronto, E o que mais lembro dos dias em que caminhei pelas ruas de Jerusalém, são as referências que alguns amigos israelenses fizeram ao diálogo que David manteve com Saul antes de enfrentar Golias: "ele (Golias) é como o leão e o urso que enfrentei e venci com minhas próprias mãos, não por minha força, mas porque temo apenas ao Eterno".

Fonte: Postado há 13th June 2010 por Luis Milman

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