Leia esse artigo, logo abaixo, e descubra o que os nóias populistas do
governo estão prestes a fazer com o Brasil. Pois os nóias da Venezuela,
Argentina e Bolívia já conseguiram. Anon.SSXXI
As quatro etapas do
populismo econômico
Por Nicolás Cachanosky
O populismo econômico —
ou a política econômica populista — pode ser caracterizado como sendo um
programa de governo que recorre a uma maciça intervenção do estado em vários
setores da economia, incentiva o consumismo (ao mesmo tempo em que desestimula
os investimentos de longo prazo), e incorre em déficits no orçamento do
governo.
Além de se tratar de um
modelo insustentável no longo prazo, o populismo econômico possui vários estágios
entre sua adoção e seu inevitável fracasso. A última década de extremo
populismo na Argentina e na Venezuela [Nota do editor: e, em menor grau, no
Brasil, como será demonstrado mais abaixo] pode ser descrita como tendo seguido
exatamente este padrão.
Após
observarem a experiência populista em vários países da América Latina, os
economistas Rudiger Dornbusch e Sebastián Edwards identificaram em seu artigo "Macroeconomic Populism"
(1990) quatro estágios universais inerentes ao populismo. Ainda que o
populismo possa apresentar uma grande variedade de políticas, certas
características parecem estar presentes na maioria dos casos.
O populismo
normalmente estimula uma mobilização social em prol do governo, faz uso maciço
da propaganda glorificando determinados políticos, utiliza símbolos e práticas
de marketing para incitar os sentimentos dos eleitores, e recorre
frequentemente a uma retórica que apela à luta de classes. O populismo é
especialmente voltado para aqueles que têm uma renda baixa, ao passo que,
paradoxalmente, as elites que controlam o partido dominante não explicam a
fonte da milionária renda do seu líder. Governantes populistas têm
facilidade em utilizar bodes expiatórios e em recorrer a teorias conspiratórias
para explicar por que o país está passando por dificuldades, ao mesmo tempo em
que se apresentam à população como os salvadores da nação. Para alguns, o
populismo está associado à esquerda e a movimentos socialistas; para outros, à
direita e a políticas fascistas.
Os quatro
estágios do populismo, identificados por Dornbusch e Edwards, são:
Estágio I
O
populista é eleito e faz um diagnóstico sobre tudo o que está ruim na
economia. Ato contínuo, ele implanta políticas voltadas para atacar os
sintomas e não para curar a doença. Há aumento dos gastos, há inchaço da
máquina pública e há incentivos ao consumismo (mas não ao investimento de longo
prazo). Nos primeiros anos de governo, as políticas aparentemente
funcionam. A política macroeconômica mostra bons resultados, como um PIB
crescente, uma redução no desemprego, um aumento real nos salários etc.
Como a
economia está partindo de uma base baixa, há o chamado "hiato do
produto", que é a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial.
Isso permite que estímulos econômicos artificiais gerem um crescimento
econômico grande no curto prazo e sem pressões inflacionárias.
Adicionalmente, o governo paga pelas importações utilizando as reservas do
banco central (artifício esse favorito de Venezuela e Argentina) e impõe
regulamentações para controlar alguns preços (uma política de congelamento de
preços é aplicada em simultâneo a uma política de subsídios para grandes empresas).
Tudo isso
faz com que a inflação de preços fique relativamente sob controle.
Estágio II
Alguns
gargalos começam a aparecer, pois as políticas populistas enfatizaram o
consumismo e se esqueceram do investimento (mesmo porque os populistas tendem a
demonizar empresários capitalistas).
Como
consequência, o estoque de capital do país está sendo consumido mas não está
sendo reposto. A produtividade cai.
Adicionalmente,
as reservas internacionais utilizadas para pagar pela importação de produtos
básicos também começam a cair.
Um
aumento nos preços de vários bens — até então controlados — se torna
imperativo, pois os produtos estavam se tornando escassos. Esse aumento
geral de preços, o que equivale a uma redução no poder de compra da moeda e a
um aumento do custo de vida, frequentemente leva a uma desvalorização na taxa
de câmbio. Os preços dos serviços de utilidades públicas (eletricidade,
tarifas de ônibus etc.) e da gasolina, controlados pelo governo, também começam
a subir, pois o governo necessita de mais receitas.
Tal
cenário leva a uma fuga de capitais, a qual é momentaneamente estancada pela
imposição de controle de capitais. Investidores estrangeiros fogem do
país, o que reduz ainda mais os investimentos produtivos.
O governo
tenta controlar seu orçamento e seus déficits, mas fracassa. Dado que o
custo dos prometidos subsídios à eletricidade, à gasolina e a algumas grandes
empresas (as favoritas do governo) aumenta continuamente apenas para compensar
o aumento do custo de vida, os déficits do governo aumentam. Novos
impostos são criados e alíquotas são majoradas. A economia informal
começa a crescer.
Nesse
ponto, reformas fiscais se tornam necessárias, mas são evitadas pelo governo
populista, pois elas vão contra toda a retórica do governo e toda a sua base de
apoio.
Estágio III
Desabastecimentos
e vários problemas relacionados à escassez se tornam significativos. Dado
que a taxa nominal de câmbio não foi desvalorizada no mesmo ritmo da inflação
de preços, há uma saída contínua de capitais (as reservas internacionais caem
ainda mais). No extremo, a alta inflação de preços empurra a economia
para uma desmonetização. A moeda local é utilizada apenas para transações
domésticas. Os cidadãos passam a poupar em dólares americanos.
A queda
na atividade econômica afeta as receitas tributárias do governo, piorando ainda
mais os déficits orçamentários. O governo tem de cortar subsídios.
Para
estancar a perda de reservas internacionais, uma nova desvalorização da taxa de
câmbio é feita. O custo de vida dispara, a renda real dos cidadãos
despenca, e sinais de instabilidade política e social surgem diariamente.
[Nota do editor: neste
ponto, saques a comércios e residências se tornam comuns, como na Argentina. Na Venezuela, a
distribuição de alimentos foi colocada sobsupervisão militar.]
O
fracasso do projeto populista se torna evidente.
Estágio IV
Um novo
governo é eleito (ou o próprio governo é reeleito) e é obrigado a fazer ajustes
"ortodoxos", possivelmente sob a supervisão do FMI ou de organizações
internacionais que forneçam os fundos necessários para fazer as reformas
econômicas (isso ocorre majoritariamente quando o país precisa de recompor suas
reservas internacionais).
Como o estoquede capital do país foi consumido e destruído, sem ser reposto,
os salários reais caem para níveis abaixo daqueles que vigoravam antes do
início das políticas populistas. O novo governo "ortodoxo" tem
então de recolher os farrapos que restaram e tentar cobrir os custos das
políticas fracassadas feitas pelo regime anterior. Isso normalmente
implica políticas de austeridade, altamente impopulares.
Os
populistas se foram, mas os estragos de suas políticas continuam totalmente
presentes.
O populismo econômico segue firme e
forte
Embora
Dornbusch e Edwards tenham escrito seu artigo em 1990, as similaridades com o
que ocorre hoje em países como Venezuela, Argentina e Bolívia [Nota do editor:
e, em menor escala, no Brasil] são notáveis.
Nos
últimos anos, para manter as ideias populistas firmes na mente dos eleitores, a
Venezuela criou o Ministério da Suprema Felicidade Social e
a Argentina criou uma Secretária do Pensamento Nacional.
Esses
quatro estágios são, na realidade, cíclicos. O movimento populista
utiliza o quarto estágio para criticar as políticas "ortodoxas"
adotadas pelo novo governo (que pode apenas ser o mesmo governo reeleito, mas
com novos ministros), e argumenta que, durante o reinado dos populistas, as
coisas estavam melhores.
Dado que
as políticas ortodoxas quase sempre se baseiam exclusivamente no aumento de
impostos, as coisas dificilmente melhoram. A renda real segue em queda e
a economia segue em contração. Consequentemente, a opinião pública,
descontente com as medidas adotadas no estágio IV, concede ao movimento
populista uma vitória nas próximas eleições. Os populistas recebem uma
economia em recessão e o ciclo recomeça do estágio I.
Não é de
se surpreender que governos populistas normalmente surjam após tempos difíceis
causados por crises econômicas. Um governo populista mais ousado pode
conseguir evitar o estágio IV descobrindo novas maneiras de permanecer no
governo, como, por exemplo, proibindo eleições ou criando resultados eleitorais
falsos.
Nesse
ponto, o governo populista consegue transformar o país em uma nação totalmente
autoritária.
Nicolás Cachanosky é
professor assistente de Economia na Metropolitan State University, em Denver.
Fonte: MisesBrasil
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