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sábado, 20 de junho de 2015

O Aproveitador

(Parte do livro: Defendendo o Indefensável)

Por Walter Block

...A expressão “obter lucros” tem sido usada sempre num contexto sujo. “Lucros” mais “Odeio aquele filho da puta”, é igual a “obter lucros”, da mesma forma que “firmeza” mais “acho que ele está errado” é igual a “teimosia” (Bertrand Russel disse, ilustrando essa questão: “Eu sou firme, vocês são teimosos, e ele é um grande filho da puta.”). Não temos uma expressão pejorativa para o assalariado que busca ganhar salários “exorbitantes” ou “inescrupulosos”. Talvez porque a opinião pública (a mídia que comanda as massas) seja a favor de altos salários, mas não de altos lucros.

Semântica à parte, nos pareceria que, se o lucro é um benefício a nossa sociedade, então a atividade de obter lucros é um benefício ainda maior. A possibilidade de lucro, como demonstrado, é um sinal de que algo está errado na economia, indicando que as pessoas não estão fazendo proveito de transações mutuamente benéficas. A concretização de lucros indica que algo está sendo feito com relação a essas oportunidades desperdiçadas (os empresários estão tratando de que “os morangos sejam adequadamente distribuídos”). Mas, se a possibilidade de lucro indica algo que vai mal, então a possibilidade de agir para obter lucro indica falhas ainda maiores na malha econômica. E, se menos lucros indica uma cura em andamento da economia, então a obtenção de lucro é um sinal de que algo de substancial magnitude está operando para corrigir a situação. Ao invés de lucros moderados serem aceitáveis, e lucros em demasia serem “exploratórios”, podemos ver que, quanto maiores os lucros e maior a obtenção de grande lucros, em melhor situação fica a economia. Uma analogia médica nos ocorre: se os curativos são bons, porque o corpo pode ser curado por eles, então uma cirurgia (“obtenção de lucros maiores”) é melhor, porque demonstra que pode curar um paciente muito mais necessitado. A defesa mais importante da obtenção de lucro baseia-se na liberdade política.

Há basicamente duas formas de conduzir uma economia. A primeira, através do voluntarismo, com descentralização e confiança de que o sistema de lucros e perdas proporciona a informação e o incentivo necessários. A segunda, compulsoriamente, com planejamento, ordens e diretrizes econômicos centralizados, confiança na iniciativa dos ditadores econômicos e a obediência de todos os demais. Estes dois sistemas são dois polos extremos. Todos os outros sistemas econômicos são transmutações e combinações destes dois tipos “puros”.

A economia compulsória ou autoritária é, ela própria, o paraíso da simplicidade. Os líderes econômicos simplesmente decidem o que deve ser produzido, quem vai produzir e como, e quem vai colher os benefícios dessa produção. Contrastantemente, a economia voluntária ou de livre mercado é bastante complexa. O indivíduo tem de decidir o quê e como produzir. O incentivo é a satisfação que ele próprio pode ter com o produto, e o que pode obter comercializando-o com outras pessoas. Em vez de ser coordenada por diretrizes econômicas, a economia de livre mercado, como vimos, é dirigida pelo mecanismo de lucros e perdas.

Consideremos, agora, este paradoxo: os que geralmente são os críticos mais doentios dos que “obtêm grandes lucros” e, por extensão, do sistema todo de livre mercado, também são, em geral, veementes paladinos da descentralização e dos direitos do indivíduo em questões de ordem pessoal. Mais ainda: na medida em que atacam o “lucro” e a “obtenção de grandes lucros”, estão atacando, não só o direito dos indivíduos de atuarem livremente no domínio econômico, mas também o próprio fundamento da liberdade em todas as outras áreas da vida humana.

Em suas críticas ao lucro e à obtenção de grandes lucros—e, por extensão, a tudo o que é “lucrativo” —, mostram-se seguidores de déspotas e ditadores. Se pudessem conseguir seu intento, e o lucro fosse severamente restrito ou declarado totalmente ilegal, o coletivismo coercivo ficaria fortalecido a esse ponto. As liberdades pessoais seriam varridas por uma maré de ordens vindas do topo. O indivíduo não poderia ser livre, se sua existência econômica estivesse baseada no decreto de um ditador econômico de cujas ordens não poderia recorrer. Num mercado livre, se você sai de um emprego, um empregado deixa de trabalhar para você, um cliente se recusa a comprar de você ou um fornecedor se recusar a vender-lhe algo, existem outros chefes, empregados, clientes ou fornecedores, reais ou potenciais. Mas, numa economia controlada, não há outras alternativas. Desvios, excentricidades ou tendências não ortodoxas não são tolerados

Os que defendem as liberdades civis, têm uma visão singularmente brilhante e um ditado verdadeiramente humanitário, que assiduamente aplicam na área da moralidade sexual: “Tudo acontece entre adultos que nisso consentem, e (implicitamente) nada acontece, exceto o consentido por adultos.” Mas eles, constantemente, recusam-se a aplicar essa regra a qualquer outra área que não a da moralidade sexual! Especificamente, recusam-se a aplicá-la ao cenário econômico.

Contudo, essa máxima humanitária deveria ser aplicada a todas as áreas da vida humana, inclusive tanto ao aproveitador quanto ao pervertido ou desviado sexual; tanto ao empresário quanto ao fetichista; tanto ao especulador quanto ao sado masoquista.

Argumentar que os pervertidos, desviados e outros do gênero têm sido denegridos injustamente, é um dos objetivos principais deste livro. Não podemos, portanto, ser acusados de ter jogado sujo com a comunidade dos desviados. Mas, da mesma forma, é injusto tratar como párias membros da comunidade obtentora de lucros.

Uma crítica recente à obtenção de lucros e ao livre mercado é a visão de que, no passado distante, quando havia uma economia agrária, e “a vida era mais simples”, talvez fosse viável um sistema de livre iniciativa. Que o que poderia ser adequado para produtores rurais e pequenos comerciantes, simplesmente não é adequado ao mundo de hoje. Que em nossa complexa sociedade industrial, não podemos nos dar ao luxo de deixar as coisas entregues às venetas anacrônicas dos indivíduos. Que precisamos do firme controle central de um conselho de planejamento econômico e da eliminação do lucro e da obtenção de lucro em nossas transações.

Esse ponto de vista é generalizado. Em alguns círculos, é considerado óbvio. Mas a análise do lucro como intimamente vinculado à falta de conhecimento deve levar ao ponto de vista oposto. A instituição do lucro é uma ajuda inestimável na reunião e disseminação de conhecimento e de seus efeitos. Se há algo que pode ser considerado um marco de “uma economia não agrária moderna e altamente complexa”, é essa mesma falta de conhecimento econômico e sua utilização. Portanto, pareceria proceder que o sistema de lucro adquire mais valor à medida em que a economia se torna mais complexa! Pois, numa economia dessas, a informação provida pelo sistema de preço automático e lucros e perdas é essencial. O ditatorialismo econômico, se é que seria viável—o que não é —, só poderia existir numa economia simples, em que as pessoas pudessem ser facilmente manejadas por um grupo de burocratas.

Concluindo, deve-se fazer uma distinção precisa, firme e básica entre os lucros que podem ser obtidos nas atividades de mercado, e os que podem ser “obtidos” por meio de influência ou subsídios do governo; em resumo, através do sistema de capitalismo empresa- estado. Nas atividades de mercado, todas as transferências de fundos têm de ser voluntárias. Portanto, devem ser indicativas de soluções para os desejos da economia e oferecê-las. Assim, a asserção de que a possibilidade de lucro mostra o horizonte de oportunidades de comércio não aproveitadas, e de que a efetiva obtenção de lucros indica que essas lacunas estão sendo preenchidas, aplica-se unicamente á economia de livre mercado.

Essas afirmações não podem ser feitas na ausência do livre mercado. Os lucros na economia “mista” (uma economia que possui tanto elementos do livre mercado como elementos de coerção) bem que poderiam dever-se a nada mais do que a proibição da concorrência. Por exemplo, uma tarifa sobre importações faz com que cresça a demanda pelo produto nacional, e os lucros da indústria nacional aumentam. Mas, disso, dificilmente pode-se concluir que qualquer informação nova tenha sido revelada ou que a satisfação do consumidor tenha, de alguma forma, aumentado. Quando muito, ocorre o oposto. O elo entre o lucro e o bem-estar fica, assim, partido, e não mais podemos inferir o último do primeiro.

Fonte: “Defendendo o Indefensável” de Walter Block
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