Seja bem vindo, amigo!

Seja bem-vindo, amigo! Seja você também mais um subversivo! Não se entregue e nem se integre às mentiras do governo e nem da mídia! Seja livre, siga o seu instinto de liberdade! Laissez faire! Amém!

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domingo, 31 de maio de 2015

Frase libertária: Ludwig von Mises (21)

“Contra o que seja estúpido, absurdo, errôneo e mau, o liberalismo luta com as armas do pensamento, não com a força bruta e a repressão.” Ludwig von Mises (Liberalismo Segundo a Tradição Clássica)

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sábado, 30 de maio de 2015

Liberais: defensores da liberdade, não fascistas ou reacionários!

Por Rafael Hollanda
É comum que, no ambiente acadêmico nacional dos tempos atuais, tão dilacerado e deformado por teorias obsoletas e pela ocupação de espaços pelos comunistas, ouçamos, da boca de estudantes, professores e até mesmo de indivíduos cujos nomes servem como referência intelectual para determinado assunto, jargões incongruentes que, com um toque de habilidade retórica, são disfarçados de opiniões convictas acerca das ideias capazes de promover uma sociedade próspera e livre.

Como todo debatedor honesto sabe, uma crítica política deve ser composta de três lastros fundamentais: teórico, histórico e linguístico. Nenhum destes lastros, que tem como objetivo conferir veracidade aos argumentos, pode deixar de aparecer na argumentação de um debatedor que deseje que suas ideias expostas tenham respaldo e sejam tidas como honestas e verdadeiras pelo público. Isto serve não somente para um debate comum, mas sim para o meio acadêmico como um todo.

O lastro teórico diz respeito ao conhecimento que se deve ter de uma ideia ao critica-la. Para criticar uma teoria deve-se primeiramente conhecer a causa da sua existência, como ela foi criada e para que se destina.

O lastro histórico concerne ao conhecimento necessário da experiência     histórica da aplicação da teoria a ser criticada. Uma crítica é lastreada pela história quando seu argumentador aponta o sucesso ou o fracasso da aplicação da matéria criticada em cima de fatos comprovados, nos apresentando por meio destes fatos os prós e contras do objeto criticado e justificando sua opinião sobre o assunto com base neste conhecimento.

Por fim, o lastro linguístico consiste na apresentação da ideia como um todo e na expressão da crítica de maneira escrita ou oral. É o mais importante dos três porque sem o uso dos termos adequados e uma boa argumentação escrita ou dialética, a ideia ficará confusa, inverossímil e até mesmo, dependendo do que se critica, desonesta. Sem o lastro linguístico, os outros dois tornam-se imperceptíveis ao interlocutor.

É importante ressaltar que se alguma crítica não apresenta nenhum destes três lastros, ela simplesmente está desprovida de qualquer fundamento argumentativo que deva ser levado a sério.

Quando me deparo com um professor ou com um estudante que tem seu repertório teórico-ideológico moldado pelos ideais comunistas, já me preparo para me dar conta da ausência de um dos três lastros fundamentais, ou até mesmo de todos os três, em seu discurso argumentativo, visto que os mesmos montam seus discursos apenas em cima da dialética, isto é, da arte do bem falar e do convencimento do interlocutor através da fala.

Não importa o quão absurdo seja o seu ataque ao liberalismo, ao conservadorismo ou ao libertarianismo, não importam as expressões sem nexo e incongruentes que o crítico usa. O que interessa, nesse caso, é apenas ser “do contra” e utilizar jargões que promovam o efeito mental que se deseja no público e, na maior parte das vezes, os jargões são profundamente desonestos, mostrando mais ignorância e desespero do que real conhecimento sobre o assunto por parte dos comunistas. A profundidade e o conhecimento são pouco encontrados nas suas argumentações.

Um típico exemplo é o uso desenfreado dos termos “fascista” e “reacionário” para criticar e rotular liberais. Qual liberal e qual conservador nunca foi chamado de fascista e de reacionário no Brasil?

Primeiramente, trata-se de uma crítica sordidamente desonesta. Quem chama um liberal de fascista sabe que ele não o é, mas faz isso por puro automatismo cerebral oriundo da convivência diária com deformações ideológicas ou, sendo generoso, por pura ignorância.

Como um indivíduo deseja tecer uma crítica ao pensamento liberal se já o rotula linguisticamente de fascista?  A ausência de lastro linguístico, histórico e teórico é gritante, visto que não há na teoria liberal nenhuma citação que endosse uma tese fascista, a história de aplicação do liberalismo não tem absolutamente nada de fascista e o uso de um termo que denomina uma ideologia coletivista, autoritária e estatista para denominar outro que significa justamente o contrário é mais que delirante.

O mesmo ocorre com o termo “reacionário”. De acordo com João Pereira Coutinho, o reacionário é o “revolucionário do avesso”, ou seja, um sujeito que rejeita o presente e crê que a salvação está em um passado utópico e romantizado que só existe na sua cabeça.

O liberalismo e o conservadorismo da linha britânica defendem que a sociedade seja pautada por aquilo que se mostrou mais benéfico para o mundo através da experiência. Nesse caso, podemos afirmar seguramente que o livre mercado, a propriedade privada, as liberdades individuais e a moral judaico-cristã, tópicos estes defendidos com veemência tanto pelo liberalismo, quanto pelo conservadorismo, foram os que passaram no teste da experiência e se mostraram os mais benéficos para o desenvolvimento e para o bem-estar dos indivíduos.

Portanto, o uso do termo reacionário para denominar liberais e conservadores também é desonesto e sem sentido. O que ambos os pensamentos são é prudentes, algo bem diferente de imaginar um passado utópico e tê-lo como modelo. O comunismo e as demais ideologias revolucionárias têm um infantilismo tosco de pensar que só porque algo é novo é bom, só porque algo é “revolucionário” é melhor. A novíssima Revolução Russa matou em seus primeiros meses mais do que a Igreja Católica durante toda a inquisição. O comunismo em cem anos matou mais de cem milhões de pessoas que eram seus próprios governados e em tempos de paz. Apenas uma veemente defesa dos velhos valores liberais fez com que o campo comunista desaparecesse da Europa e que milhares de cidadãos europeus conhecessem a liberdade.

É lamentável que no ambiente acadêmico do Brasil tais críticas infundamentadas e que refletem uma ideologia atrasada e assassina sejam proeminentes e tenham destaque. Isto é a prova de que a desonestidade intelectual sem limites da esquerda tem respaldo e é aplaudida por aqueles que se dizem intelectuais, mas em cujas teses e críticas não se encontra nenhum dos três lastros fundamentais necessários para que elas sejam honestas e verossímeis. São intelectuais orgânicos no sentido mais Gramscista e rasteiro do termo.

Defender as ideias que representam a liberdade, a democracia e o progresso não é fascismo e não é reacionarismo. É apenas estar do lado certo da historia; do lado onde os indivíduos são um fim em si mesmos e não membros de uma massa coletiva; onde as pessoas são livres para empreender e realizar seus sonhos e têm, como bem diz a declaração de independência Americana, certos direitos inalienáveis, como a liberdade, a vida e a busca pela felicidade.

Rafael Hollanda é estudante de direito do Ibmec-RJ, membro fundador do Movimento Universidade Livre e fundador da ONG Ideal Livre.

Fonte: LIBERTATUM

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Frase libertária: Ludwig von Mises (20)

“Serão necessários muitos anos de autoeducação até que o súdito possa transformar-se em cidadão. Um homem livre deve ser capaz de suportar que seu concidadão aja e viva de modo diferente de sua própria concepção de vida. Precisa livrar-se do hábito de chamar a polícia, quando algo não lhe agrada.” Ludwig von Mises (Liberalismo Segundo a Tradição Clássica)

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Os 5 seriados que todo libertário deveria ver

Johnny Depp pode ser preso por viajar com seus cães


NOM, ONU, ONG e Partidos Ambientalistas – Mentiras Climáticas

Os subversivos também amam! - You've Lost That Lovin' Feelin

Johnny Rivers - tradução
The Righteous Brothers - Bill Medley e Bobby Hatfield (Primeira gravação 1964 – Autores: Phil Spector , Barry Mann e Cynthia Weil)
Muitos preferem ouvi-la com Elvis Presley
Esta canção está classificada na trigésima quarta posição na lista das 500 melhores músicas de todos os tempos pela revista Rolling Stone, aqui

quarta-feira, 27 de maio de 2015

A ESTRATÉGIA ZAPATISTA NA DOMINAÇÃO CONTINENTAL (O Comunismo na América Latina)

RADIOVOX_ORG

Frase libertária: Ludwig von Mises (19)

“Mas, quando a memória ainda fresca dos crimes dos bolcheviques estiver empalidecida, o programa dos socialistas, de novo, exercerá poder de atração sobre as massas, porque os fascistas nada fazem para combatê-los, a não ser suprimir as ideias socialistas e perseguir quem as divulgue. Se, de fato, quisessem combater o socialismo, deveriam opor-lhe suas ideias. No entanto, há apenas uma ideia que pode, efetivamente, opor-se ao socialismo, isto é, o liberalismo.” Ludwig vonMises (Liberalismo Segundo a Tradição Clássica)

A Revolução de Veludo: Como a cultura acabou com o comunismo


Tudo sobre homeschooling no Brasil

Direito da posse de arma reduz criminalidade, afirma Harvard

Por Diversos autores

Os recentes acontecimentos em Ottawa, Canadá, comprovam, pela enésima vez, que controle de armas serve apenas para deixar uma população pacífica ainda mais vulnerável.O desarmamento não apenas deixa uma população menos livre, como também a deixa menos segura.  E não existe liberdade individual se o indivíduo está proibido de se proteger contra eventuais ataques físicos.  Liberdade e autodefesa são conceitos totalmente indivisíveis.  Sem o segundo não há o primeiro.

Respeitar o direito de cada indivíduo poder ter armas de fogo ainda é a melhor política de segurança, como os fatos listados abaixo mostrarão.  Já restringir, ou até mesmo proibir, o direito de um indivíduo ter uma arma de fogo o deixa sem nenhuma defesa efetiva contra criminosos violentos ou contra um governo tirânico.

A Universidade de Harvard, que não tem nada de conservadora, divulgou recentemente um estudo que comprova que, quanto mais armas os indivíduos de uma nação têm, menor é a criminalidade.  Em outras palavras, há uma robusta correlação positiva entre mais armas e menos crimes.  Isso é exatamente o oposto do que a mídia quer nos fazer acreditar.

Mas o fato é que tal correlação faz sentido, e o motivo é bem intuitivo: nenhum criminoso gostaria de levar um tiro.

Se o governo de um país aprova um estatuto do desarmamento, o que ele realmente está fazendo é diminuindo o medo de criminosos levarem um tiro de cidadãos honestos e trabalhadores, e aumentando a confiança desses criminosos em saber que suas eventuais vítimas — que obedecem a lei — estão desarmadas.

A seguir, 20 fatos pouco conhecidos que comprovam que, ao redor do mundo, mais armas deixam uma população mais segura.

01) Um estudo publicado pela Universidade de Harvard — Harvard Journal of Law & Public Policy — relata que países que têm mais armas tendem a ter menos crimes

02) Ao longo dos últimos 20 anos, as vendas de armas dispararam nos EUA, mas os homicídios relacionados a armas de fogo caíram 39 por cento durante esse mesmo período.  Mais ainda: “outros crimes relacionados a armas de fogo” despencaram 69%.

03) Ainda segundo o estudo da Harvard, os nove países europeus que apresentam a menor taxa de posse de armas apresentam taxas de homicídios que, em conjunto, são três vezes maiores do que as dos outro nove países europeus que apresentam a maior taxa de posse de armas.

04) Quase todas as chacinas cometidas por indivíduos desajustados nos Estados Unidos desde 1950 ocorreram em estados que possuem rígidas leis de controle de armas.

Com uma única exceção, todos os assassinatos em massa cometidos nos EUA desde 1950 ocorreram em locais em que os cidadãos são proibidos de portarem armas.  Já a Europa, não obstante sua rígida política de controle de armas, apresentou três dos seis piores episódios de chacinas em escolas.

05) Os EUA são o país número 1 do mundo em termos de posse de armas per capita, mas estão apenas na 28ª posição mundial em termos de homicídios cometidos por armas de fogo para cada 100.000 pessoas.

06) A taxa de crimes violentos nos EUA era de 757,7 por 100.000 pessoas em 1992.  Já em 2011, ela despencou para 386,3 por 100.000 pessoas.  Durante esse mesmo período, a taxa de homicídios caiu de 9,3 por 100.000 para 4,7 por 100.000.  E, também durante esse período, como já dito acima, as vendas de armas dispararam.

07) A cada ano, aproximadamente 200.000 mulheres nos EUA utilizam armas de fogo para se proteger de crimes sexuais.

08) Em termos gerais, as armas de fogo são utilizadas com uma frequência 80 vezes maior para impedir crimes do que para tirar vidas.

09) O número de fatalidades involuntárias causadas por armas de fogo caiu 58% entre 1991 e 2011.

10) Apesar da extremamente rígida lei desarmamentista em vigor no Reino Unido, sua taxa de crimes violentos é aproximadamente 4 vezes superior à dos EUA.  Em 2009, houve 2.034 crimes violentos para cada 100.000 habitantes do Reino Unido.  Naquele mesmo ano, houve apenas 466 crimes violentos para cada 100.000 habitantes nos EUA.

11) O Reino Unido apresenta aproximadamente 125% mais vítimas de estupro por 100.000 pessoas a cada ano do que os EUA.

12) Anualmente, o Reino Unido tem 133% mais vítimas de assaltos e de outras agressõesfísicas por 100.000 habitantes do que os EUA.

13) O Reino Unido apresenta a quarta maior taxa de arrombamentos e invasões deresidências de toda a União Europeia.

14) O Reino Unido apresenta a segunda maior taxa de criminalidade de toda a União Europeia.

15) Na Austrália, os homicídios cometidos por armas de fogo aumentaram 19% e os assaltos a mão armada aumentaram 69% após o governo instituir o desarmamento da população.

16) A cidade de Chicago havia aprovado uma das mais rígidas leis de controle de armas dos EUA.  O que houve com a criminalidade?  A taxa de homicídios foi 17% maior em 2012 em relação a 2011, e Chicago passou a ser considerada a “mais mortífera dentre as cidades globais“.  Inacreditavelmente, no ano de 2012, a quantidade de homicídios em Chicago foi aproximadamente igual à quantidade de homicídios ocorrida em todo o Japão.

17) Após essa catástrofe, a cidade de Chicago recuou e, no início de 2014, voltou a permitir que seus cidadãos andassem armados.  Eis as consequências:  o número de roubos caiu 20%; o número de arrombamentos caiu também 20%; o de furto de veículos caiu 26%; e, já no primeiro semestre, a taxa de homicídios da cidade recuou para o menor nível dos últimos 56 anos.

18) Após a cidade de Kennesaw, no estado americano da Geórgia, ter aprovado uma lei que obrigava cada casa a ter uma arma, a taxa de criminalidade caiu mais de 50% ao longo dos 23 anos seguintes.  A taxa de arrombamentos e invasões de domicílios despencou incríveis 89%.

19) Os governos ao redor do mundo chacinaram mais de 170 milhões de seus próprios cidadãos durante o século XX (Stalin, Hitler, Mao Tsé-Tung, Pol Pot etc.).  A esmagadora maioria desses cidadãos havia sido desarmada por esses mesmos governos antes de serem assassinados.
20) No Brasil, 10 anos após a aprovação do estatuto do desarmamento — considerado um dos mais rígidos do mundo —, o comércio legal de armas de fogo caiu 90%.  Mas as mortes por armas de fogo aumentaram 346% ao longo dos últimos 30 anos.  Com quase 60 mil homicídios por ano, o Brasil já é, em números absolutos, o país em que mais se mata.

Quantas dessas notícias você já viu na mídia convencional, que dá voz apenas a desarmamentistas?

Armas são objetos inanimados, tão inanimados quanto facas, tesouras e pedras.  Costumes, tradições, valores morais e regras de etiqueta — e não leis e regulações estatais — são o que fazem uma sociedade ser civilizada.  Restrições sobre a posse de objetos inanimados não irão gerar civilização.

Essas normas comportamentais — as quais são transmitidas pelo exemplo familiar, por palavras e também por ensinamentos religiosos — representam todo um conjunto de sabedoria refinado por anos de experiência, por processos de tentativa e erro, e pela busca daquilo que funciona.  O benefício de se ter costumes, tradições e valores morais regulando o comportamento — em vez de atribuir essa função ao governo — é que as pessoas passam a se comportar eticamente mesmo quando não há ninguém vigiando.  Em outras palavras, é a moralidade a primeira linha de defesa de uma sociedade contra comportamentos bárbaros.

No entanto, em vez de se concentrar naquilo que funciona, os progressistas desarmamentistas querem substituir moral e ética por palavras bonitas e por leis de fácil apelo.

Por último, vale um raciocínio lógico: quem é a favor do desarmamento não é contra armas, pois as armas serão necessárias para se desarmar os cidadãos.  Logo, um desarmamentista nunca será contra armas — afinal, ele quer que a polícia utilize armas para confiscar as armas dos cidadãos.

Consequentemente, um desarmamentista é necessariamente a favor de armas.  Mas ele quer que apenas o governo (que, obviamente, é composto por pessoas honestas, confiáveis, morais e virtuosas) tenha armas.

Conclusão: nunca existiu e nem nunca existirá um genuíno ‘desarmamento’.  Existe apenas armamento centralizado nas mãos de uma pequena elite política e dos burocratas fardados que protegem os interesses dessa elite.

Participaram desse artigo:

Walter Williams, professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros.  Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.

Ron Paul, médico e ex-congressista republicano do Texas. Foi candidato a presidente dos Estados Unidos em 1988 pelo Partido Libertário e candidato à nomeação para as eleições presidenciais de 2008 e 2012 pelo partido republicano.

É autor de diversos livros sobre a Escola Austríaca de economia e a filosofia política libertária como Misese a Escola Austríaca: uma visão pessoal, Definindo a liberdade, OFim do Fed – por que acabar com o Banco Central (2009), The Case for Gold (1982), The Revolution: A Manifesto (2008), Pillars of Prosperity (2008) e A Foreign Policy of Freedom (2007).

O doutor Paul foi um dos fundadores do Ludwig von Mises Institute, em 1982, e no ano de 2013 fundou o Ron PaulInstitute for Peace and Prosperity e o The Ron PaulChannel.

Stefan Molyneux, ex-empresário do ramo de software, hoje se dedica inteiramente à filosofia. Já escreveu sete livros, todos disponíveis em seu website.

Michael Snyder, colunista do blog EconomicCollapse.

Fonte: Epoch times (Artigo publicado em 04-04-2015)

Foto: Duas garotas da Suíça passeando de bicicletas com as suas armas. 

Pare de acreditar no governo - Bruno Garschagen (Resenha)

O Brasil tem um grande paradoxo a ser explicado: nosso povo desconfia dos políticos, classe que goza de baixíssima credibilidade, mas ao mesmo tempo ama o Estado, visto como abstração. Todas as soluções propostas para as mazelas criadas pelo intervencionismo estatal acabam envolvendo ainda mais Estado. É como se ele fosse formado por anjos celestiais, nunca pelos próprios políticos de carne e osso, tão rejeitados pela população.

A fim de tentar explicar esse enigma, Bruno Garschagen lança pela Record o livro “Pare de acreditar no governo”, cuja orelha tive a honra de escrever. O autor vai buscar na formação de nossa nação as origens do problema, em uma abordagem que dá grande peso ao aspecto cultural da coisa. Com um estilo próprio e repleto de ironia fina, Garschagen analisa essa insistente adoração do Estado pelo povo brasileiro em diferentes épocas, uma adoração inabalável, apesar de revoltas crescentes com os políticos que controlam o aparato estatal.

“O livro começa com D. Manuel I e termina com Dilma Rousseff, comprovando que nada é tão ruim que não possa piorar”, fulmina o autor. E claro, lá está a marca registrada de nossa mentalidade já na primeira carta enviada após nosso descobrimento: “O pedido de Caminha, o verdadeiro motivo para a elaboração da carta na qual a narrativa do descobrimento foi um mero pretexto, inaugurou a nossa excêntrica característica cultural de pedir favores ao governo para conseguir cargos e privilégios, especialmente em se tratando de parentes”.

Desde Caminha, a proximidade com o poder sempre foi um atalho para o sucesso por aqui, independentemente do mérito ou do valor

Desde então, a proximidade com o poder sempre foi um atalho para o sucesso por aqui, independentemente do mérito ou do valor. Nosso “capitalismo de Estado”, ou de compadrio, tem seu DNA já na economia das mercês, um modelo no qual o Estado “distribuía privilégios e concessões a partir de acordos pactuados entre o rei, o poder local e os seus súditos”. O BNDES de Luciano Coutinho é apenas o coroamento desta velha tradição, tirando dos pobres para dar aos ricos, tudo isso num governo de esquerda.

Outro responsável pelas raízes dessa mentalidade intervencionista foi Pombal. Nele temos o ápice da arrogância iluminista que julgava ser possível construir uma sociedade próspera de cima para baixo: “O pombalismo foi o casamento do iluminismo francês com o mercantilismo e o patrimonialismo, que passaram a coabitar e a se retroalimentar em benefício das elites políticas e empresariais ligadas ao governo”.

O tom altamente crítico à nossa República também é visível ao longo da obra: “A República nasceu maculada. Fruto de um golpe de Estado, jamais conseguiu superar as virtudes construídas pela Monarquia. Com a República, o que era ruim não era novo, e o que era novo era péssimo”.

Outras influências nefastas nessa mentalidade estatizante foram Comte e seu positivismo, e Vargas e seu castilhismo. Essa visão curiosamente não dependia do viés ideológico e unia figuras bastante diferentes em torno de um denominador comum: “É curioso observar, em retrospecto, que dois grandes adversários ideológicos e políticos, o ditador Vargas e o comunista Luís Carlos Prestes, compartilhavam uma concepção política bastante similar. Ambos olhavam para as parcelas mais pobres da população e para os trabalhadores de cima para baixo, de maneira mais ou menos paternalista, e viam no Estado o grande instrumento de ação social fundamentado numa base autoritária”.

JK com seu arrogante Plano de Metas, o regime militar com seu dirigismo estatal na economia, até mesmo FH, “acusado” de ser um neoliberal pela esquerda, todos beberam da fonte centralizadora, com diferentes gradações. FH, justiça seja feita, privatizou importantes estatais, quebrou o monopólio de setores estratégicos, abriu o país para o capital financeiro, aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal e modernizou as agências reguladoras. Mas mesmo assim lá estava o mesmo DNA que deposita no Estado o papel de locomotiva, se não da economia, ao menos da “justiça social”.

O que veio em seguida, desnecessário dizer, foi o auge desse câncer que nos assola há séculos: “Lula e o PT conseguiram algo que parecia impossível: desmoralizaram não apenas a corrupção, mas a política brasileira, incorporando e exercitando vários elementos de caráter centralizador, do patrimonialismo ao positivismo castilhista, do coronelismo ao varguismo, do autoritarismo militar ao fisiologismo das oligarquias regionais. O lulopetismo é, no fundo, a experiência bem-sucedida (no mau sentido) da tradição autoritária e patrimonialista da política brasileira”.

Postado por: Rodrigo Constantino

Fonte: O Globo, 26/5/2015

terça-feira, 26 de maio de 2015

Frase libertária: Ludwig von Mises (18)

“A história fornece inúmeros e bons exemplos de que, a longo prazo, mesmo a mais impiedosa política de repressão não é capaz de manter um governo no poder.” Ludwig vonMises (Liberalismo Segundo a Tradição Clássica)

As guerras norte-americanas: Por trás do pacifismo dos democratas (socialistas ou progressistas) há um verdadeiro banho de sangue.

Por Anon,
Os socialistas adoram impingir com suas falácias que foram os governos republicanos os causadores das maiores guerras nas quais os Estados Unidos estiveram envolvidos. Bem, eu não estou, aqui, defendendo as guerras e nem os motivos que desencadearam esses conflitos, e nem quem apertou primeiro o gatilho. Roll The Bones! Apenas colhi alguns dados históricos e estou jogando todos eles, um a um, no ventilador da história! Anon, SSXXI

Guerra de Secessão (Guerra Civil Americana) (1861-1865)

Abraham Lincoln (1861 – 1865)               Partido União Nacional.

Primeira guerra mundial (1914 a 1918)

Thomas Woodrow Wilson (1913 – 1921) Partido Democrata

Segunda guerra mundial (1939 a 1945)

Franklin D. Roosevelt (1933 – 1945)        Partido Democrata
Harry S. Truman* (1945 – 1953)               Partido Democrata

Guerra do Vietnã (1959-1975)

John Fitzgerald Kennedy (1961...)            Partido Democrata
Lindon B. Johnson (1963 – 1969)             Partido Democrata
Richard Nixon (1969 – 1974)                    Partido Republicano

Segunda Guerra do Afeganistão (2001–2014)

George W. Bush (2001- 2009)                          Partido Republicano
Obama                ( 2009 - até hoje)                   Partido Democrata

Guerra do Iraque (2003 – 2011)

George W. Bush (2001- 2009)                          Partido Republicano
Obama                ( 2009...)                                Partido Democrata



*Foi um governo democrata que utilizou, pela primeira  e segunda vez, duas bombas atômicas sobre as duas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Por isso não se esqueça de que por trás do pacifismo dos democratas (socialistas ou progressistas) sempre houve um verdadeiro banho de sangue.


 

A Nomenklatura - como vivem as classes privilegiadas na União Soviética - Michael S. Voslensky


Qualquer semelhança do que está escrito neste texto com o que está acontecendo no Brasil e na maioria dos países da América Latina não é mera coincidência. Anon, SSXXI

Resumo do livro A Nomenklatura de Michael S. Voslensky:

Qual o interesse em saber como vivia a classe privilegiada na União Soviética se ela implodiu e a velha Rússia emergiu em seu lugar com novas características? Creio que a resposta é simples: o modelo soviético não se diferencia muito dos demais regimes políticos baseados no estatismo, incluindo o Brasil. É claro que não pretendo comparar o fascismo benevolente brasileiro com a brutalidade do regime soviético, mas demonstrar como todo socialismo revolucionário, ao assumir o poder pela violência, se organiza eliminando fisicamente a elite anterior e criando sua própria elite com tantos ou mais privilégios que seus antecessores. E países como China, Cuba e Coréia do Norte estão aí para mostrar como a classe dirigente, chamada por Voslensky de Nomenclatura, se consolida e age no poder. Falar das possibilidades de mudanças desses regimes implica em conhecer melhor o alicerce de todos eles e, também, nos conhecermos melhor pelo parentesco com a nova elite bolivariana na AL. O leitor talvez não saiba, mas estão em curso diversas propostas de cubanização do Brasil, como a reforma do sistema político, a implantação dos médicos pé no chão, etc. Ou seja, nesta fase em que vivemos, o comunismo como modo de organização é explicitado por uma elite cujo poder confunde-se com a administração, dissemina-se gradualmente e permite-se identificar por suas pegadas nas questões que propõe.

A princípio, pode-se creditar o trabalho de Voslensky como fundamental pela sua abordagem aos numerosos casos documentados dos modos de agir, pensar e se comportar da Nomenclatura, de que foi membro. Voslensky atuou nas rebarbas do regime e terminou se ‘exilando’ na Alemanha a partir de um convite para integrar o corpo docente de uma Universidade. Em 1974, amaldiçoado pelos russos, Voslensky perdeu sua cidadania, reconquistando-a em 1991 sob Gorbachev. Seu trabalho pode ser considerado essencial para se conhecer, por dentro, a funcionalidade do sistema russo.

Por desconhecer internamente um sistema, seus analistas são levados a trabalhar sobre sua visibilidade externa e suas tragédias. Percebe-se isso muito bem no Brasil. Nossa imprensa, que se diz livre, apenas replica o que dizem os burocratas – não sabe o que acontece dentro do Estado. Voslensky trata de ambas as coisas com naturalidade, sem afetação nem panfletismo, e, com eficácia, consegue abordar todas as arestas da Nomenclatura e demonstrar como uma nova classe se forma e se enraíza na sociedade. A princípio, nos apresenta a nova classe como uma classe escondida, que se nega a si mesma na hipocrisia de representar outra classe. Com dados reveladores, discorre sobre o embrião dessa nova classe e sua consolidação como uma aristocracia travestida de vanguarda proletária. Depois, analisando detalhes da nova ‘administração’ – desde sua carreira até sua hereditariedade, Voslensky está pronto para mostrar que essa classe serão os novos exploradores do povo soviético, que, em nome de um novo sistema, irá expropriá-lo de seus bens.

A relação do novo sistema com a propriedade privada não é hereditária nem escritural, mas de apropriação, concessão e uso, tornando-a um bem da Nomenclatura, que não pode ser extorquida – a menos que o proprietário caia em desgraça. Mas o aspecto mais singular é que o novo proprietário não sustenta a propriedade ocupada, mas utiliza o Estado como fornecedor de mão de obra e de recursos para sua manutenção e provimento.

Trata-se, portanto, de um sistema mais próximo ao feudalismo do que ao capitalismo, como já notamos em governos demagogos latino-americanos.

Voslensky estruturou sua análise nos seguintes tópicos:

I – A classe escondida
II – O nascimento da nova classe dominante
III – A classe dirigente da sociedade
IV – A classe dos exploradores da sociedade
V - A classe dos privilegiados
VI - A ditadura da nomenclatura
VII – A classe que aspira a hegemonia mundial
VIII – Uma classe parasitária

Com farta documentação de apoio às suas teses, Voslensky discorre em 443 páginas todos os processos que tornaram o regime comunista soviético um dos mais abomináveis da face da terra, sem jamais perder a fleuma do diplomata que foi e do professor universitário que encerrou sua carreira na Alemanha, onde morreu em 1997, aos 77 anos de idade, provavelmente lúcido o bastante para perceber que seu trabalho não tinha sido em vão. O mundo que descrevera no final dos anos 70, prevendo o fim do comunismo pelo empobrecimento progressivo da sociedade, realmente terminou ocorrendo. Os avatares caricaturescos da velha URSS, ainda existentes, são menos importantes do que a possibilidade de se reviver os mesmos padrões de dominação social com um novo estatismo se formando no quintal bolivariano da AL. No Brasil, são esses modelos que se tentam introduzir no processo eleitoral e na organização social com nomes dissimulados de ‘controles, democratização, etc’.

A CLASSE ESCONDIDA

Citando numerosas fontes, desde os primórdios da revolução de 1917 até os anos de 1970, Voslensky nos fala que os escritores da época, especialmente os russos emigrados dos anos 20, diziam que a nova classe dirigente russa era a classe burocrática que detinha o real poder de mando. Entre eles, o livro de Milovan Djilas mostrou-se fundamental para o entendimento dos mecanismos do poder de uma ‘nova classe’ que se desenhava nos países socialistas. “Os dirigentes constituem um grupo humano numeroso, que se distingue dos outros grupos da sociedade soviética por seu lugar (preponderante) no sistema de produção social; por sua relação com os meios de produção (o direito de dispor deles); por seu papel (diretor) na organização social do trabalho e pela parte (importante) da riqueza social de que se apropria” (p. 35). Esta é uma citação das ideias de Lênin com as observações do autor entre parênteses. Esse grupo dirigente constituía uma classe, uma classe que se escondia com o nome de outra — o proletariado. Mas o próprio proletariado, por ser mais abrangente e disseminado na sociedade, não tinha relação com a classe no poder. Poderia se argumentar que a classe no poder seria a ‘representante’ do proletariado, seu partido político. Voslensky demonstra que a falsidade da doutrina consiste exatamente nisso, e, usando a terminologia marxista, compara as ideias de Marx e Engels com as de Lênin para demonstrar que sendo o proletariado quase inexistente na União Soviética, não poderia jamais representar a sociedade, cuja maioria era camponesa. Portanto, a revolução não poderia ser a superação de um capitalismo que era secundário e incipiente. Em outras palavras, a ‘hegemonia do proletariado’ alcunhada por Lênin não passava de uma confusão indescritível (p. 55).

Com isso, Voslensky demonstra que o poder revolucionário nada tendo de evolutivo, no sentido de respeitar as liberdades e a democracia, porém tratou de consolidar uma burocracia tentacular de dominação da sociedade, para viver às suas expensas e ampliar seu poder através da violência progressiva. Com o nome de ditadura do proletariado, o novo regime confiscava todos os recursos da sociedade para si, representando a si próprio com o nome de outra classe. Ao se inscreverem no partido, os candidatos se declaravam de origem operária, fato que Voslensky ironiza dizendo que bastava olhar suas mãos para perceber que se tratava de um engodo. Portanto, o que seria o novo governo? A resposta é simples: uma ‘ditadura sobre o proletariado’, se evidentemente a classe fosse preponderante. Não o sendo, era uma ‘ditadura sobre o povo’. A argumentação de Voslensky baseia-se nos fatos históricos da constituição de Stalin de 1936, quando a terminologia ‘ditadura do proletariado’ foi substituída por ‘governo do povo’. Como pode uma ditadura acabar sem comemoração e sem data definida? Analisando as incoerências, o autor consegue desmistificar todos os fatos utilizando a própria linguagem e documentação do PCUS (Partido Comunista da União Soviética).

Esse é o lado surpreendente de ‘A Nomenklatura’. O próprio marxismo desmente os fatos ocorridos na URSS. Mas não se pode dizer que isso tenha sido uma deformação do marxismo. Aqui, teríamos que entrar com extensa argumentação para provar que o desenvolvimento do capitalismo não geraria uma classe operária revolucionária, mas seria seu próprio fim, como conhecemos nos dias atuais. Portanto, o historicismo de Marx estava errado: a sequência pós-capitalista é a sociedade tecnológica que conhecemos no Primeiro Mundo, e que está em franca expansão na Ásia — o chamado capitalismo avançado, ou sociedade do conhecimento.

Assim, na URSS, os revolucionários profissionais criaram a nomenclatura para preencher a enorme quantidade de cargos do governo russo, usando o critério de fidelidade, e não o de competência, como no Brasil. Embora o regime também escolhesse pessoas competentes para cargos técnicos elevados, o padrão administrativo se baseava no nosso conhecidíssimo nepotismo. “Durante os numerosos anos em que vivi na URSS, raramente encontrei pessoas verdadeiramente talhadas para o posto que ocupavam. E era precisamente com as pessoas competentes que se causavam mais dificuldades: como não correspondiam ao critério habitual de seleção de quadros, pareciam ocupar os postos que jamais deveriam ocupar...” (p. 71-72). Era o que ele chamava de perfil político na preferência da seleção, uma prática que conhecemos de cátedra no Brasil, comprovando que mais além da ideologia existe uma plataforma comum: o estatismo.

Voslensky mostra como Stalin desenvolveu sua liderança nesse tipo de seleção. Ao contrário de seus pares revolucionários, que se ocupavam com as diretrizes gerais da revolução e das transformações necessárias, Stalin cultivava a ordenação de fichas de pessoas em seus arquivos. Humoristas dos anos 20 chamavam Stalin de camarada fichário (p. 72). Mas foi com essa diligência sobre pessoas e cargos que ele criou uma enorme estrutura de apoio pessoal, chamada Uchraspred, que significava ‘recenseamento e distribuição de cargos’, uma vez que qualquer promoção passava pelo seu crivo. Bastante complexas, tais estruturas continham diversas comissões ligadas ao Comitê Central. Só em 1922, foram distribuídos 10 mil postos na administração soviética (p. 73), para cargos de secretários de comitês regionais e distritais, e membros correspondentes.

Percebendo a crescente ‘burocratização do partido’, Trotsky alertou seus camaradas revolucionários. Mas, após a morte de Lênin, com o carreirismo já estabelecido, 240 mil novos membros foram admitidos no partido. Com isso, o efetivo do partido que vinha inchando escandalosamente passou de 386 mil para 736 mil. A metade era de novos membros estranhos à velha guarda bolchevista, que mais tarde permitiriam a Stalin eliminar os antigos revolucionários e ser o verdadeiro dono da revolução.

Nos anos 30, os expurgos marcaram outra mudança radical renovando a elite dirigente. Voslensky, então um adolescente, testemunhou essa fase sangrenta. Era a nova aristocracia contra a velha aristocracia dos revolucionários. Foi o período em que famílias inteiras caíram em desgraça, e os campos de trabalhos forçados da Sibéria se viram povoados por milhares de pessoas chegando em trens apinhados correndo pela estepe siberiana, depois de dias de viagem trancados nos vagões.

Os detalhes dos expurgos têm um toque especial. Todos os analistas dessa fase negra da Rússia contam a mesma história com seus próprios detalhes sobre os personagens que conheceram ou pesquisaram. Voslensky não foi diferente. Mostra como foram moídos todos os grandes revolucionários do passado, e como na era Kruvchev era praticamente impossível se obter qualquer documento a partir do assassinato de Kirov (1934), o então poderoso secretario do PC de Leningrado, exatamente porque durante os expurgos nascera a nova classe dirigente que 20 anos depois comandaria todo o país e que ocuparia o lugar dos condenados.

O autor resume então assim: “o processo de nascimento da nova classe dominante soviética realizou-se em três etapas. Na primeira etapa, foi criada a organização dos revolucionários profissionais, embrião da nova classe. A segunda começou pela tomada do poder por essa organização em novembro de 1917: formou-se uma direção em dois níveis, o nível superior da velha guarda leninista e o nível inferior da Nomenclatura stalinista. A terceira etapa foi a liquidação da velha guarda leninista pela Nomenclatura” (p. 86).

O desejo do poder pelo poder é uma lição para os nossos dias na realidade brasileira. Quando o poeta Evtuchenko exprimiu este estado de espírito: “pouco importa que o poder seja dos sovietes, o importante é o poder”, estava nos dando uma lição sobre o que aconteceu com o lulismo pós 2003.

A CLASSE DIRIGENTE DA SOCIEDADE SOVIÉTICA

Neste capítulo, Voslensky faz um retrato literário de um nomenclaturista hipotético, Ivanov, e de sua luta cotidiana para ascender na organização. Mostra os subterfúgios, as lealdades, as trocas de favores, a criação das redes de contatos e de subordinados, o servilismo a que estão sujeitos os membros para desfrutarem dos privilégios do Estado. Mostra como um candidato a um cargo superior é escrutinado pelo comitê correspondente, a quantidade de assinaturas, e o vai-e-vem de certidões que conferem sua aceitação. Essa papelada recebia assinatura dos grandes figurões da KGB. O autor mostra em detalhes o funcionamento do apparatchick burocrático, e repete o caráter escondido, furtivo dos dirigentes, sua necessidade de esconder-se para não revelar sua natureza aristocrática ao resto da população. Mas um funcionário que se eleva ao primeiro escalão e que vai gozar dos privilégios para toda a vida, não significa que não possa ser degolado. Sua estabilidade depende de seguir as regras, de não atrair a desconfiança nem a ira dos superiores. E traça a crônica dos destinos de algumas personagens importantes da era pós-Stalin, que ele mesmo conheceu, por seus afazeres desconformes com as expectativas do Comitê Central.

Mostrando que “a vanguarda da classe operária” (Lênin), “a mais alta forma de organização da classe operária” (Stalin) eram um mito, pois a nova classe não tinha origem operária coisa nenhuma, o autor prova que esse mito era semelhante ao da origem ariana apregoada pelos nazistas, que na verdade era também fajuta. Mesmo quando um nomenclaturista provava sua origem no campesinato ou no proletariado, ele não tinha vínculo algum com essas classes, e a maioria deles desprezava sua origem operária e camponesa.

Voslensky cita o que o escritor Konstantin Paustovski escreveu sobre uma turnê de turistas soviéticos pela Europa de trem: “Os operários, os engenheiros, os artistas viajavam de segunda e terceira classes; a Nomenclatura viajava de primeira. Não é preciso dizer-lhes que a Nomenclatura não tinha nenhum contato com a segunda e terceira classes, pois, além do mais, não poderia tê-lo; estavam prevenidos contra tudo, exceto contra os de sua própria situação. Eram espantosos pela incultura. Tinham uma concepção toda particular daquele que fizera a honra e a glória de nosso país. Diante de uma pintura do Juízo Final, um nomenclaturista perguntou: ‘É o julgamento de Mussolini?’ e, olhando a Acrópole, um outro indagou: ‘Como o proletariado pode permitir que se construísse coisa semelhante?’ Um terceiro, que ouviu alguém admirar o azul do Mediterrâneo, perguntou brutalmente: ‘será que nosso mar é menos belo?’ Essas bestas ferozes, esses exploradores, esse cínicos obscurantistas, diziam palavras ostensivamente anti-semitas que não seriam renegadas por verdadeiros nazistas. Aprenderam a ver no povo apenas o adubo que fertiliza suas próprias carreiras: intriga, calúnia, assassínio — eis suas armas... Os nomenclaturistas se escondem atrás de slogans, discursos blasfematórios em que afirmam agir pelo bem do povo” (p. 115-116). É o que ele chama de a classe dos desclassificados, dos que galgam os mais altos níveis da sociedade sem nenhum mérito, nenhum preparo, nenhuma condição intelectual.

Nos 3 escalões de comando, havia 3 milhões de privilegiados. Mas o partido comunista tinha 17 milhões de indivíduos. O que mostra que nem todos do partido estavam desfrutando dos privilégios. Voslensky apresenta os números dessa aritmética em diversos períodos históricos, conforme sua coleta de dados. Depois, mostra como funciona o nepotismo com nomes conhecidos do regime. Mas como se tratava de viver sob a doutrina de uma sociedade sem classes, o autor nos oferece o quadro real do que vem a ser essa sociedade.

A CLASSE DOS EXPLORADORES DA SOCIEDADE SOVIÉTICA

Neste capítulo, Voslensky analisa como funciona o sistema de propriedade no regime socialista. Fazendo uma revisão do assunto na obra de Marx, ele demonstra que mais uma vez os escritos de Marx foram modificados na URSS. O artigo 10 da Constituição soviética dizia: “o sistema econômico da URSS se funda na propriedade socialista dos meios de produção sob a forma da propriedade do Estado (de todo o povo) e da propriedade colcoziana e cooperativa. Os bens dos sindicatos e das outras organizações sociais, necessários à realização de suas tarefas estatutárias, são também propriedade socialista”.

Depois de examinar o conceito de propriedade privada, chega à questão da propriedade estatal. Se o Estado é um aparelho da classe dominante, ele passa a ser a propriedade da nomenclatura de fato, mas não de direito. No caso, o direito à propriedade individual foi abolido, mas se a propriedade continua existindo, ela então passa a ser ‘social’ no nome e ‘particular’ nos benefícios. Assim, os chefes de fábricas são a classe dirigente que recebe salários executivos e dispõe do resto do aparelho do Estado para si na condição de vitaliciedade na nomenclatura. A propriedade é, portanto, condicionada à posição do membro na estrutura.

Como a doutrina marxista dizia “o estado é o aparelho de dominação da classe dominante”, no regime socialista esta dominação pertence aos seus dirigentes, sendo a nova classe que se esconde em nome de todo o povo, mas que utiliza esse subterfúgio para impor uma exploração cruel ao resto da população. Isso pode ser comprovado nas diferenças de salários, e no estilo de vida de governantes e governados. O autor discute minuciosamente cada tipo de propriedade, seus estatutos, e depois conclui que nada do que está escrito implica em conformidade com a disposição estatutária. Por exemplo, um sindicato pode ter uma propriedade, mas os membros filiados não podem vendê-la, repassar ou extinguir. Somente a hierarquia dos dirigentes do partido tem esse poder.

“A ‘lei econômica fundamental do socialismo’ formulada por Stalin pode ser considerada a afirmação mais fantasiosa da ‘economia política do socialismo oficial’. Esta lei garante ‘a satisfação máxima das necessidades materiais e culturais, sempre crescentes, de toda a população pelo crescimento e aperfeiçoamento constantes da produção socialista baseada na técnica mais evoluída’ “ (p. 152).

Triunfado o socialismo, a satisfação das necessidades da sociedade começa a cair. A produção diminui, a escassez aumenta. Comparem, por exemplo, o carro-chefe da produção cubana, a cana de açúcar, cuja produção em 1970 era de 8 milhões de ton/ano mas em 2010 de apenas 2 milhões de ton/ano. Na União Soviética ocorreu a mesma coisa. Portanto, a única certeza que se tem é que a satisfação das necessidades da sociedade não é o fundamento da lei econômica do ‘socialismo real’.

“No processo de produção, que fim persegue a população ativa? Procura perpetuar o poder da classe dominante? Não, sua finalidade é muito simples e compreensível: produzir para o consumo, não para o da Nomenclatura, mas para o da população trabalhadora. Os homens desejam uma oferta de produtos que não satisfaça somente os privilegiados nas suas lojas especiais: querem um habitat em lugar de casernas e datchas do Estado; automóveis para o comum dos mortais em lugar dos carros de combate e das limusines governamentais; querem manteiga em lugar de canhões. Querem que o processo de produção sirva à satisfação de suas necessidades” (p. 154).

Então, como explicar que um país autossuficiente em alimentos possa produzir somente 20% dos alimentos que consome depois de 50 anos de socialismo, como é o caso de Cuba? A única explicação possível é que o socialismo é um sistema voltado para a classe que assumiu o poder, em oposição ao resto da sociedade. Sua função é explorar ao máximo a sociedade, confiscando para si todos os recursos disponíveis em nome da governabilidade.

Mas a propaganda oficial diz exatamente o contrário. Do ponto de vista da explicação da economia capitalista, os teóricos do socialismo afirmam todos sem distinção que a economia capitalista funciona da seguinte forma: um capitalista decide produzir um bem. Todo o capital é investido na produção desse bem. Os demais capitalistas, pressentindo o negócio, investem também na produção do mesmo bem. Logo, o mercado se satura, os depósitos se enchem de mercadorias que ninguém compra, a produção entra em crise, os bancos quebram, e os empregados vão para a rua. No socialismo real, isso não acontece porque a economia é planificada. Nada é desperdiçado na superprodução, porque esta não foi planejada para o lucro. Este argumento domina a maior parte dos debates entre a juventude socialista, que vê com horror a abundância por tratar-se de um consumismo que esgota os recursos naturais do planeta. O resultado é a crença em uma ideologia que vai deixar os recursos naturais onde se encontram e produzir a privação, a escassez e o tormento da população desassistida de todos os benefícios da tecnologia e do progresso material do homem.

De fato, assistimos hoje em dia a uma retomada dos princípios fundamentais da economia socialista através da ecologia. Não haveria um renascimento tão forte do socialismo planificado se não se vendesse com sucesso a ideia do esgotamento dos recursos naturais do planeta. Quando eu era jovem, na primeira crise do petróleo de 1973, dizia-se que o petróleo iria acabar no máximo em 30 anos. A cada crise, o argumento retorna com uma força avassaladora. E, no entanto, as reservas conhecidas aumentam cada vez mais, e apesar do planeta já estar consumindo pouco menos de 100 milhões de barris diários, os primeiros protótipos de carros híbridos começaram a aparecer com capacidade de percorrer 100 quilômetros com um litro de gasolina, muito antes de o petróleo acabar.

Ora, a força do capitalismo está em sua anarquia, no fato de sua economia não dispor de uma autoridade diretora. A economia capitalista funciona como uma centopeia que move suas patas em harmonia sem que o cérebro tenha que comandar uma a uma. Mas, se uma delas ‘emperra’, o cérebro logo toma conhecimento e age correspondentemente. Portanto, não existe uma planificação, ou seja, uma análise refletida sobre cada um dos mecanismos de ação dos mercados, e se tal ocorresse, ele entraria em colapso, pois qualquer órgão planejador é menos eficaz do que a interconexão dos elos de cada um dos produtores em ação. E quando o mercado enfrenta problemas, ele é mais ágil e eficaz para se redesenhar do que qualquer burocracia, por melhor que seja, tanto mais se escolhida por critérios políticos.

Quando Lênin discorreu sobre o Imperialismo em sua obra clássica, ele afirmava que o colapso do capitalismo viria da monopolização da economia, que criando oligopólios cada vez maiores, “engendra inelutavelmente uma tendência à estagnação e à putrefação. Na medida em que se estabelecem preços de monopólio, isto faz desaparecer os estimulantes do progresso técnico, e, em seguida, qualquer outro progresso; e torna-se, então, possível, no plano econômico, frear artificialmente o progresso técnico” (p. 159). Voslensky cita Lênin para concluir que é exatamente o que ocorre no socialismo. Basta, portanto, ler a obra de Lênin e colocar a palavra socialismo no lugar de capitalismo que as peças se encaixam. Pois o socialismo é a realização final dos monopólios estatais e da estagnação e putrefação da economia.

A tônica de analisar os clássicos do marxismo e depois mostrar que a crítica ao capitalismo feita por marxistas é, em última análise, uma crítica ao próprio socialismo real, confere a originalidade da obra de Voslensky. Mas isso não nos deveria surpreender. A essência da mentalidade marxista consiste em atribuir os maiores defeitos aos outros e depois praticá-los insensivelmente, não por sadismo, nem por arrogância, mas por negarem a lei mais básica da natureza humana: o direito à propriedade individual e de todas as formas de empreendimento e sobrevivência sem a tutela do Estado. A mentalidade marxista difere da mentalidade liberal comum por entender que os fatores da produção possam ser intelectualizados e controlados por um órgão neutro e eficaz. Para que isso ocorra, é preciso que a mente esteja carregada de altruísmo e de vontade de ação para o bem comum. Aceita a premissa, a razão humana tropeça na natureza e o resultado é o artificialismo da sociedade na disjunção de todas as suas partes. O planejamento dos bens de consumo torna-se a prisão do homem na escassez.

E o que fazer quando o fracasso é inelutável na produção? A nomenclatura recorre então a diversas técnicas de dissimulação que o autor chama de pripiski, a palavra russa para embuste. “Inclui-se, conscientemente, nas contas das cifras inexatas o correspondente aos produtos que não foram fabricados. Esta técnica se baseia na acepção clara e límpida do caráter inteiramente teórico e burocrático da planificação e da contabilidade: os gabinetes do Gosplan e dos ministérios prevêem disposições teóricas sem conhecer a realidade; o resultado, da mesma maneira, não tem nenhuma relação com a produção real” (p. 166).

Mas a crônica dos embustes vai longe. O autor comenta anúncios solenes de primeiros-secretários falando sobre o aumento de 280% na produção de carne, ou a maior colheita vindoura de algodão, que depois se revelaram “pripiski”. A farsa de Alexey Stakhanov (que teria extraído 102 toneladas de carvão sozinho em 5:45 hs em 1935, 14 vezes sua cota) com sua vertiginosa produtividade era “pripiski”. Na Geórgia de Stalin, que desfrutava de privilégios inalcançáveis para as demais repúblicas, onde os cidadãos se vestiam muito melhor do que no resto do país, e gastavam muito acima das possibilidades de um trabalhador soviético, havia “uma corrupção tão grande que tudo podia ser comprado ali: um diploma ou um lugar na universidade, até mesmo um certificado do título de ‘herói da União Soviética’. Isto continuou após a morte de Stalin, cujo culto foi oficialmente mantido na Geórgia. Tanto os georgianos consideravam sua república como uma região à parte, que os recém-chegados, que se espantavam com os costumes incomuns da província recebiam de volta a pergunta: ‘A Geórgia não lhe agrada? Então, volte para a União Soviética’ “ (p. 167).

Naturalmente, os relatórios sobre a produção que satisfaziam e até mesmo ultrapassavam os planos quinquenais eram todos falsos. Um pesquisador ucraniano chamado Naum Jasny analisou dados estatísticos publicados na URSS e revelou numerosas falsificações. Quando se anunciava um aumento de salário no ano, Naum descobria que na verdade havia uma redução. Isto em 1948. O próprio Kruvchev denunciou a falsificação de dados da era Stalin, mas não adiantou: era uma atividade inerente à Nomenclatura e continuou em seu tempo.

Para Voslensky, a necessidade de manter o poder implica em uma sociedade na qual a precedência seja dada à indústria pesada, e não à de bens de consumo. De fato, a indústria bélica soviética sempre esteve sob intenso incentivo do governo russo. Era a fonte de seu poder e de sua permanência. Mesmo assim, a falsificação de dados e relatórios, a queixa de engenheiros testemunhada pelo autor atesta que também ali a situação era aflitiva. Isso não impedia que a indústria pesada desfrutasse de uma enorme propaganda, especialmente notável na construção de foguetes durante a corrida espacial. O livro ‘Escolhi a Liberdade’ de Kravchenko, um engenheiro chefe de fábrica e dissidente, atesta este argumento.

Porém, o fator mais humilhante de todo o sistema diz respeito aos salários dos trabalhadores. A nova sociedade, onde todos estariam livres da exploração capitalista, terminou se revelando uma tirania da nomenclatura. Em 1980 atingiu, sem os descontos de impostos, 167 rublos por mês. Uma quantia capaz de manter apenas um homem por mês, e ainda assim dificilmente. Mas esse era o salário médio dos trabalhadores. Na prática, o salário verdadeiro do trabalhador mais simples, como pedreiro, faxineira, etc, era apenas de 100 rublos/mês. Mas a propaganda dizia que primeiro era preciso produzir mais para depois distribuir o bolo. E como poderiam fazer para produzir mais se o próprio sistema não permitia a produção de excedentes?

Comparando com os salários de outros trabalhadores, os 170 rublos/mês era 1/3 do salário médio de um operário francês. Esta era a situação em 1980, 60 anos depois da implantação do socialismo na Rússia. Ora, na Rússia mulheres também trabalham e até as crianças eventualmente. Isso era comemorado como emancipação feminina, mas o autor descobriu que no seu tempo, Marx chamava isso de exploração suplementar.

O trabalho infantil merece um comentário. Os marxistas sempre condenaram o trabalho infantil nos regimes capitalistas. Mas na Rússia, desde os anos 20, foram abertas escolas de aprendizes. “Numerosas crianças, órfãos ou desabrigados (pela prisão e envio dos pais aos campos de concentração), foram assim utilizadas como força de trabalho barata, sob o pretexto de que recebiam, destarte, uma educação de acordo como os princípios do pedagogo e tchekista Anton Makarenko. Sob Stalin, criaram-se escolas de trabalho manual, onde reinava uma disciplina militar, e as crianças tinham de usar um uniforme negro. Ali, eram matriculadas à força crianças em atraso na escolaridade, ou indisciplinadas” (p. 184-185).

Quanto ao nível de vida comparativo, Voslensky afirma que a Nomenclatura simplesmente desistiu de comparar o nível de vida médio da população das duas Alemanhas, das duas Coréias, etc. Porém, um conjunto de medidas foram tomadas para compensar a baixa produtividade de uma população assalariada explorada como baixar os custos de alguns itens: alugueis, pães e massas, e transportes urbanos. Mas os ocidentais que viajavam a Moscou sempre reclamaram dos custos elevados de mercadorias quando comparados com o Ocidente, especialmente os bens de consumo duráveis utilizados pela nomenclatura. Mas por que seriam altos os custos dos alugueis se na União Soviética era autorizada apenas uma área de 9 m2 por pessoa? Um casal com um filho tinha direito a um apartamento de 27 m2, embora tivesse direito a requisitar área maior. Mas seria atendido em uma sociedade do tipo QI (quem indica)?

“É certo que na URSS o pão, as massas e batatas, o leite, os legumes, o milho, e outros produtos básicos são baratos. Por outro lado, a carne, o peixe, as aves, as frutas, o chocolate, o café, os condimentos são caros e raros. Como não se pode comer pão, tendo por sobremesa massas e batatas, 80% do orçamento de uma família soviética média são para a alimentação.

É certo que a medicina é gratuita. As policlínicas e os hospitais postos à disposição da população nunca estão vazios: é preciso ficar na fila durante horas para ser atendido por um médico. Os médicos das policlínicas devem observar uma norma: 15 minutos por paciente, e a metade do tempo é dedicada a encher e assinar a carteira de saúde. Também se tornou habitual granjear a atenção do médico e da enfermeira com presentes e mesmo pagar-lhes; a gratuidade do atendimento não é de fato, assegurada. Não seria melhor retirar dos salários a contribuição necessária para o seguro-doença, o que permitiria a cada um escolher seu médico?” (p. 188).

Eis aí como o regime da Nomenclatura se assemelha lá e cá. Eis como todos os regimes estatais têm os mesmos traços. Mas, por outro lado, quem pertence à classe nomenclaturista tem uma situação totalmente diferente.

A CLASSE DOS PRIVILEGIADOS

Quando se analisam os salários e o padrão de vida da nomenclatura notamos uma diferença abismal em estilo de vida e comportamento, se comparados com o resto da população. E essa diferença é que serve de parâmetro para a afirmação de que os regimes comunistas são baseados em uma classe dirigente do aparelho estatal, que se confunde com o partido, embora o partido comunista seja sempre maior do que o Estado, e que vive às expensas da sociedade, isto é, contra ela e de seu saque permanente. Tratava-se de um novo modelo de elite com as mesmas características em todos os países comunistas.

Lênin deixou claro em seu testamento que os quadros dirigentes não deveriam ter uma remuneração superior à dos operários qualificados. Somente os “técnicos burgueses” poderiam receber salários mais elevados “devido à sua natureza venal e durante o tempo em que fossem úteis” (p. 212). Naturalmente que essas recomendações não foram seguidas. Segundo os estudos do autor, um chefe de setor na burocracia soviética recebia 450 rublos/mês, com direito a 30 dias de férias em local gratuito. O assalariado só tinha direito a 2 semanas por ano. Além disso, o chefe de setor (posição ocupada por Voslensky na burocracia) recebia o 13º salário, a um vale-alimentação para usar na cantina do Kremlin, que era um local onde a elite desaparecia atrás de uma porta envidraçada de aparência comum com uma placa ‘escritório de permissões’, na rua Granovskogo. Ao sair, carregavam embrulhos de papel pardo direto para os carros com os motoristas particulares esperando. Esse local fornecia até mesmo viandas para os nomenclaturistas.

Desnecessário dizer que eram rações tão fartas que serviam para alimentar toda a família. Calculando o valor da bolsa-alimentação e acrescentando ao salário, o autor chegou a 750 rublos por mês, isto é, 5 vezes o salário de um operário (p. 214).

Na burocracia existem adicionais que não são encontrados no trabalho de fábrica. 10% de aumento pelo conhecimento de uma língua estrangeira, por duas línguas: 20%, mesmo que jamais se faça uso delas em serviço. Uma situação semelhante existe no Judiciário brasileiro, uma das nossas nomenclaturas mais privilegiadas do país.

Na nomenclatura, a maior mordomia era que um chefe de setor encontrava todos os produtos de que necessitava em lojas especiais, ao passo que o cidadão comum tinha que procurá-los incansavelmente no comércio oficial, quase sempre desabastecido. Curioso era o imposto de renda, que para qualquer cidadão com rendimentos acima de 200 rublos era de 13%, ou seja, um país socialista que não praticava o imposto de renda progressivo. Como se trata de uma ideologia invertida, esses 13% eram aplicados com o argumento do, pasmem, ‘igualitarismo’. Stalin inventou uma fonte de renda especial para seus apaniguados, chamada ‘o pacote’, que era um envelope com um maço de notas, não muito, mas uma espécie de bolsa-pai dos povos, sem descontos e sem contabilidade. Os subordinados adoravam receber o envelope secretíssimo, pois assim podiam avaliar em que estado se encontravam com o comandante.

Interessante destacar como a sociedade cria a desigualdade social através de subterfúgios com o nome “social”. Por exemplo, na Rússia, existiam “fundos de consumo social” que encobriam “certa quantidade de serviços gratuitos, com a inscrição em uma estação de tratamento ou casa de férias, alojamentos colocados à disposição, inscrição numa creche, num jardim de infância ou num campo de pioneiros, utilização de cantinas, hospitais, ou de clínicas” (p. 216). Esses benefícios eram tratados na burocracia como se pertencessem a todo o povo soviético, mas na verdade eram destinados somente aos membros da nomenclatura. Com tal facilidade, o aparelho do partido falava em termos de “parte invisível do salário”, como se fosse estendida a toda a sociedade.

Outra forma de ganhos adicionais era através dos poucos que tinham autorização para viajar ao estrangeiro, voltar com as malas carregadas de presentes para os parentes, mas que na verdade eram destinados à venda em um mercado interno altamente carente de produtos tecnológicos. Nada demais para os brasileiros da alta nomenclatura que possuem passaporte diferenciado e alfândega livre nos aeroportos. Tal situação levou a Rússia a ser talvez a primeira nação do mundo a criar os ‘free-shops’, naturalmente que com outra denominação. Eram lojas dentro de Moscou que não aceitavam o rublo como moeda de troca. Ou o cliente pagava com moeda estrangeira, acessível somente aos burocratas, ou com certificados que podiam ser convertidos em moeda estrangeira. Tratava-se de moeda estrangeira não utilizada em viagem que eram trocadas por esses papeis nas agências de comércio exterior soviéticas.

E ainda existia o adicional da propina. A corrupção frutifica no adubo da burocracia triunfante. Não se podendo exercer controles ilimitados sobre a burocracia, o propinoduto é azeitado no toma lá dá cá. O paraíso da corrupção era a Geórgia. Mas como esses dados não eram revelados, vindo à tona apenas quando da destituição do secretário do partido local, nunca se soube a real extensão do problema. No Azerbaidjão, se teve notícias de um cargo de procurador de distrito ser vendido por 30 mil rublos. Notícias semelhantes temos no Brasil, onde fiscais de rua do ICMS em São Paulo vendem seus postos antes de se aposentar. Nota-se que um membro do Partido podia comprar o posto e tornar-se o guardião da legalidade socialista na sua província. Mas, para ser o chefe de distrito da milícia, era preciso desembolsar 50 mil rublos. Com esse dinheiro era possível ser presidente de um colcoze (cooperativa de produção agrícola), ainda que fosse um posto eletivo. Como já sabemos do Brasil, os membros do colcoze davam seu sufrágio a pessoas ‘recomendadas’. O posto do diretor do sovcoze (equivalente à confederação de sindicatos ou cooperativas) valia mais: 80 mil rublos. Porém, o primeiro secretário do comitê do distrito do Azerbaijão custava 100 mil rublos e o segundo secretário 20 mil rublos, pois eram a nata da província, e esse dinheiro era distribuído entre os membros do C.C. em Baku. E assim segue o autor, fornecendo os preços dos cargos públicos da sociedade, onde um diretor de teatro conseguia o cargo com uma propina de 10 a 30 mil rublos; um Instituto de Pesquisas poderia ser dirigido por alguém disposto a pagar 40 mil rublos. Um membro da Academia de Ciências do Azerbaidjão poderia ostentar o honorável título por 50 mil rublos. Nas Universidades ‘públicas’, do reitor ao estudante, havia taxas para conseguir uma vaga ou posto. Esses valores não são suposições, mas pertencem a um relatório confidencial apresentado por um membro do C.C. do PC do Azerbaidjão em 1970.

Estabelecido o propinoduto, as iniciativas para acabar com a corrupção apenas atenuavam momentaneamente a voracidade da venda de cargos. Depois de algum tempo, os funcionários nomeados para acabar com a corrupção terminavam imitando os demitidos, o que demonstra que certas práticas são inerentes à burocracia e ao sistema, e jamais acabarão se não se mudar todo o sistema. Pessoas da nomenclatura conseguiam retirar parentes da prisão com correntes de ouro, relógios e coisas do gênero.

Um país, como a URSS, com permanente escassez de alimentos publicou, no pós-guerra, uma obra intitulada Uma Alimentação Sadia e Digestiva que, não obstante, tornou-se a bíblia dos gourmets da nomenclatura. Mas, como se alimentavam os membros da cúpula do partido? “Os restaurantes do PCUS abrem às 11 horas, servindo um almoço leve, com caviar, salmão e esturjão. Bebe-se cumis, uma batida à base de leite de jumento. Um iogurte cremoso e açucarado não poderia faltar. A cantina abre à uma da tarde. Uma orquestra barulhenta recebia fregueses levemente embriagados arrastando os pés. Funcionários da KGB controlavam a entrada, e garçonetes especialmente escolhidas iam e vinham com os pedidos dos nomenclaturistas espalhados pelas salas. Um buffet reservado permite a compra de produtos alimentícios que não se viam mais nas lojas desde 1928. Embora os pratos não fossem excessivos, era possível pedir quatro e até cinco pratos, pagando-se o mesmo preço de uma refeição miserável e indigesta das cantinas comuns, onde, à mesma hora, filas de trabalhadores esperavam para comer durante o descanso do meio-dia. Embora o prédio do C.C. e o restaurante estivessem apenas há 10 minutos a pé, a nomenclatura não dispensava os carros oficiais para não se misturar com o povo que costumava apinhar-se em praças próximas. Para democratizar o ambiente, era permitida a entrada, uma hora antes do fechamento, dos quadros da Escola Superior do Partido e dos colaboradores da Academia de Ciências Sociais” (p. 226).

A refeição é inteiramente gratuita no Hotel do Departamento Internacional do C.C... Os visitantes estrangeiros podem instalar-se no restaurante do Hotel, pedir tudo o que lhe agrade, mandar trazer vinho, conhaque e outras bebidas fortes, tudo de graça. O mesmo sistema se aplica a todas as ‘casas de hóspedes’ do CC nos países socialistas e no interior do país (p. 227). Além disso, existem os banquetes reservados aos dignitários do regime com sua riqueza e abundância de pratos, tudo fornecido gratuitamente com os mais altos cuidados dietéticos. Enquanto isso, os cidadãos soviéticos comuns são obrigados a fazer filar para conseguir, a preço de ouro, produtos alimentícios de qualidade medíocre, no abismo que separa a nomenclatura do resto da população (p. 227).

Outra grande diferença social ocorre na questão da moradia. São conhecidos os problemas graves de moradia, e o empilhamento de famílias nos apartamentos com um único banheiro para dezenas de pessoas. Mesmo com a grande movida no setor de construção nos anos 60 da era Kruvchev, o problema não foi resolvido em 2 décadas. Embora a norma habitacional reserve 9 m2 por pessoa, ela não é seguida. Segundo as estatísticas, a divisão total do número de área residencial construída pelo número de habitantes correspondia a apenas 7 m2/ habitante em 1975. As listas de espera por um apartamento são uma fila sem fim. E em Moscou? Se na capital as estatísticas fornecem uma área de 15 m2/habitante, isso se deve ao fato da grande quantidade de nomenclaturistas habitando ali.

Na nomenclatura, conseguir um apartamento de 100 m2 por um preço ridículo é comum, e além disso uma datcha, comprar um carro sem dificuldade, ou mesmo tê-lo gratuitamente com um motorista de graça, e regalar com isso a família, aproveitar gratuitamente de bons hospitais e repousar, sem despesas, a cada ano, numa casa de repouso. O mais importante na diferença é como são dissimulados os gostos pelo luxo e pela ostentação. Dizendo que precisam receber convidados estrangeiros, os nomenclaturistas dispõem de belas e sólidas construções, com elevadores e largas escadarias, cômodos espaçosos e móveis importados da Finlândia só para eles. Mas quem recebe estrangeiros em casa em um regime ameaçador?

Como se todos esses privilégios não bastassem, um chefe de setor não recebe apenas uma moradia, mas também uma casa de campo para repouso, a famosa datcha. Quem pode ter uma datcha? Pelas leis todo o cidadão pode comprar um pedaço de terra na periferia e construir ali sua casa ou comprar uma casa através de uma cooperativa. Só que um operário precisaria economizar todo o salário durante dez anos. Mas, como era uma sociedade de classes, a distorção é evidente por si mesma. Diz o autor que se tratava de um privilégio reservado inicialmente aos intelectuais que foi depois estendido a toda a burocracia, pois na URSS os burocratas também eram considerados intelectuais, assim como nos EUA todo jornalista é considerado escritor.

Por uma sina do destino, um chefe de setor não precisa pagar pela datcha. Ela não lhe pertence como propriedade pessoal. Ele simplesmente a recebe e passa a ocupá-la vitaliciamente. A vantagem do sistema é que esta condição permite a manutenção e limpeza também fornecidas gratuitamente pela estrutura do Estado. Às vezes, cobrava-se um aluguel simbólico, especialmente nos condomínios de férias à beira de lagos e praias turísticas. Nenhum habitante troca uma lâmpada queimada ou ajusta um parafuso frouxo. Incomoda-se a administração pelos mínimos detalhes. As mulheres não plantam uma flor para embelezar tais ambientes. Tudo tem que ser feito pela administração. “Os nomenclaturistas se estiram em suas redes, passeiam, jogam tênis ou vôlei, comem e bebem na varanda, vão ao cinema” (p. 232). Do outro lado da cerca opaca do condomínio, na casa dos comuns mortais, os habitantes passam seu tempo cavando, pregando, trabalhando da manhã até a noite. Mas considerando que muitos burocratas tinham origem camponesa, muito provavelmente gostavam de jardinagem, mas não o faziam, pois sua posição social não o permitia: noblesse oblige. Entretanto, se um chefe da nomenclatura compra uma casa, ele coloca em nome de seus pais, se compra um carro, coloca em nome dos filhos maiores ou do irmão. Algo que já conhecemos por aqui, sem a necessidade de comentários.

Quem lembrar-se da época da telefonia estatal no Brasil terá suas recordações tumultuadas por pesadelos: era preciso esperar de 2 a 4 anos para conseguir um aparelho na empresa estatal, ou dispor de um bom pistolão. Caso contrário, havia o mercado paralelo que funcionava impulsionado pela corrupção. Ora, um dos símbolos de status na URSS era justamente o(s) telefone(s). Um nomenclaturista não se contentava com uma só linha: uma para a comunicação interna e outra para a externa. E, conforme o degrau na pirâmide, mais aparelhos para funções governamentais importantes. Assim, era comum uma mesinha ao lado da mesa de trabalho cheia de telefones. Esses aparelhos, chamados ‘Vertuchkas’, cresceram com a burocracia a ponto de serem impressos guias telefônicos especiais só para a nomenclatura. A luta por um telefone no automóvel foi encarniçada, especialmente numa época paranóica com a espionagem e com as dificuldades técnicas para atender a todos os requisitantes. Mesmo assim, a nomenclatura venceu as resistências e dispôs dessa facilidade nos carros dos funcionários.

Segundo Voslensky uma das características da postura do nomenclaturista consistia na aparência de estar sempre ocupado e morrendo de tanto trabalhar. Esse tipo de manifestação terminava sendo a psicologia do ambiente para justificar sua vacuidade, semelhante ao ouvido dos membros do nosso judiciário para justificar os 60 dias de férias por ano. Quando alguém falava para o outro sobre a sua boa aparência, a resposta era sempre a mesma: “As aparências enganam” (p. 243).

Como a nomenclatura utilizava os meios de transportes se eles eram comuns a todos? Em primeiro lugar, apesar dos aeroportos e estações ferroviárias cheios, todos os trens e aviões trabalhavam com uma reserva de lugares para os ‘passageiros de última hora’. Enquanto isso, a população fazia fila ante os guichês às vezes por dias seguidos. Como conta o autor:

“Nosso chefe de setor tem sua passagem no bolso (obtida na seção de Transportes do CC só para os membros, funcionando como uma agência de viagem), um Volga negro o leva para a estação ou para o aeroporto. Ele não se dirige para o edifício central, mas para uma sala reservada chamada ‘Sala dos Deputados do Soviete Supremo’. Invenção original que cumula de legítimo orgulho os funcionários encarregados de zelar pelos nomenclaturistas. Isso lhes pode parecer possuir um arzinho democrático, bem no espírito da Constituição: não é uma sala para ‘altas personalidades’, mas uma peça simples, reservada aos representantes do povo, aos quais todos nós damos os nossos votos. Mas quem duvida que, na maior parte do tempo, não são deputados que se vão instalar naquela sala, de móveis requintados, e tapetes macios, à qual se destina um pessoal especial, principalmente os funcionários da Nomenclatura? Além do mais, o número de deputados em viagem não é de tal ordem que justifique a manutenção de uma vasta rede de tais salas. E, depois, era preciso resolver outro problema: como fazer com que estrangeiros, perfeitamente conscientes de não serem deputados no Soviete Supremo, fossem admitidos naqueles locais? Escreveu-se simplesmente, em inglês, ‘VIP Hall’ sobre a placa que assinalava em russo a existência daquela sala. Que, depois, iria ofuscar-se em ser tratado de ‘very important person’?

Guiado por um pessoal amável – bem diferente daquele que, nas outras salas, trata asperamente os usuários –, nosso chefe de setor atinge diretamente o trem ou o avião, alguns minutos antes que os outros viajantes sejam chamados para lá – é preciso evitar que ele encontre o povo nas plataformas ou nos corredores de embarque. No vagão-leito de primeira classe, ou na primeira classe do avião, encontra seus pares. Na aterragem, a escada móvel é colocada, inicialmente, na altura da primeira classe. Ele desce para a pista, inteiramente desembaraçado, e as autoridades locais vêm recebê-lo. Só depois disso deixam-se descer os outros passageiros. No desembarque do trem, ele é, infelizmente, obrigado a se misturar com o povo – mas não é um grande trajeto a fazer na plataforma: basta-lhe atingir a ‘Sala dos Deputados’ da estação de chegada. Na saída reservada, um carro do C.C. do comitê da região ou da cidade do Partido espera para levá-lo a uma residência reservada para ele. Eis um lugar ideal para preparar a locução aos membros do Partido, abordando um tema clássico, como, por exemplo: ‘A União do Partido e do Povo’ “ (p. 245-246).

Uma análise percuciente sobre as diferenças de classe é feita sobre a educação. Lá também os aspirantes à Academia de Ciências Sociais, se menos dotados, não estão com tudo perdido: a seleção por critérios políticos se encarrega de arrumar uma vaga para eles. O mesmo vale para as entradas de teatro, com as reservas sempre atentas à disposição dos funcionários do governo. Enfim, toda a sociedade está organizada para as diferenças de classe. E essas diferenças não são duais. Ao contrário, fazem parte de uma pirâmide que torna uma pessoa tanto mais privilegiada quanto maior sua ascendência na hierarquia funcional do governo-partido. Não vou falar sobre o estilo de vida de Stalin, Beria, Molotov e tantos dirigentes do partido. Segundo Voslensky, eles viviam como os milionários americanos. Desde a primavera de 1922, Lênin tinha 6 carros na garagem. A alienação de Stalin era tal, que sua filha Svetlana (“Vinte Cartas a Um Amigo”) dizia que seu pai quando se referia aos preços das mercadorias falava com os preços de antes da Revolução. A construção de datchas não foi interrompida. A de Pitsunda, na orla do Mar Negro, construída para Kruvchev, possuía um ancoradouro particular onde o líder russo desembarcava para descansar pisando em um tapete vermelho sobre a areia. E as datchas numerosas dos altos figurões eram mantidas por pessoal permanente sob constante aviso da iminência da chegada de seu amo, mesmo que tal ocorresse apenas uma vez ao ano.

Voslensky mostra em um capítulo a vida solitária dos dirigentes e sua total alienação com a vida do povo. O isolamento acabava por embotar a consciência. O paliativo usado por Stalin era a projeção de filmes soviéticos mostrando a vida do povo. Kruvchev zombou de Stalin no famoso XX Congresso após sua morte. Mas Voslensky garante que nem um nem outro conheciam na realidade como vivia o povo. Isso não nos surpreende. Segundo Paul Johnson, Marx que escreveu sobre as condições de vida da classe operária na Inglaterra nunca entrou em uma mina de carvão, apesar de ter sido convidado diversas vezes para isso. Não era preciso: a teoria já explicava tudo. “Pode-se caracterizar de maneira mais marcante uma classe de indivíduos que consegue viver como estranhos no país que governam?” (p. 267). Mas essa constatação não pode ser pública e revelada. Ao contrário, sua realidade está na capacidade de ser invocada para a destruição de um adversário, quando este é acusado de “falta de ligação com as massas”.

A DITADURA DA NOMENCLATURA

Nos altos escalões hierárquicos, a nomenclatura funcionava como se fosse uma teia de clãs ordenada em pirâmide. Os mais poderosos nomeavam seus vassalos, que mantinham fidelidade irrestrita às suas ordens. Como em uma partida de xadrez, a nomeação de um postulante a um cargo mais elevado representava “um lance complexo, uma prova de fôlego prolongada. Não são as qualidades políticas do postulante (menos ainda suas competências funcionais) que são determinantes, mas as manobras políticas” (p. 280). Mas para reduzir o Politburo e o Secretariado do C.C. ao papel de auxiliares do Secretário-Geral só mesmo com a concentração de poderes, momento em que a direção coletiva passa à autocracia aparente dele. Basta analisar o que ocorreu com Stalin, Kruvchev e depois Brejnev. Não era incomum, durante a entrega de medalhas e comendas aos subordinados ouvir dos premiados expressões do tipo: “Queridíssimo camarada... sempre senti muito orgulho, e o sentirei para sempre, de ter passado quase a totalidade de minha vida sob sua direção” (p. 282).

“Com isso, a luta pelo poder não ocorre através dos discursos inflamados das democracias ocidentais. Ao contrário, é uma rede de intrigas sutil em que a retórica só intervém na última fase, quando se trata de apagar, com formalidade política, os erros de que se tornou culpado o adversário já vencido. Enquanto a armadilha não estiver funcionando, não se tornando pública, esforça-se em adormecer a desconfiança do rival através de demonstrações renovadas de amizade” (p. 284).

Voslensky narra em detalhes a luta pelo poder entre Brejnev e Chelepine no golpe de gabinete que destituiu Kruvchev. Como vitorioso, Brejnev destituiu o clã Chelepine com movimentação de cargos, reestruturação de funções, e, naturalmente, com renomeação para postos distantes de Moscou.

Na questão do poder de repressão da KGB, os relatos do autor são particularmente interessantes. Ele não destoa dos demais escritores emigrados, apenas conta detalhes do que conheceu pessoalmente. Podemos assim saber que Beria tinha uma prisão em sua própria residência, com sala de tortura no subsolo para jovens aterrorizadas com suas seções de sadomasoquismo. A crônica dos tchekistas (primeiros membros da polícia política leninista) é sempre demonstrativa do que acontecia nos porões do regime com os dissidentes – um espetáculo de horrores com organização e procedimentos que não se devem subestimar, por ser um legado da polícia czarista aperfeiçoado com requintes que deixariam a SS nazista invejosa de seus resultados. Dentro da Lubianka (a famosa prisão de Moscou para onde eram encaminhados os suspeitos), qualquer policialzinho de quepe se dava ares de Gengis Khan. Pelo resto do país, a crônica do ex-ministro exilado em 1917 Pavel (Paul) Miliukov é digna de registro:

“Cada destacamento da Tcheka tinha sua tortura preferida. Em Kharkov, os tchequistas escalpelavam os prisioneiros, ou descobriam os ossos de suas mãos arrancando-lhes as “luvas”. Em Voronej, colocavam suas vítimas em barricas cheias de pregos no interior, e começavam, então, a fazê-las rolar. Ainda em Voronej, aplicavam um ferro em forma de estrela de cinco pontas, em brasa, na testa do supliciado, e colocavam nas cabeças dos padres coroas feitas de arame farpado. Em Tsarytsin e Kamychin, cortavam os prisioneiros com serra. Em Poltava e Krementchuck, faziam-lhes sofrer o suplício da empalação. Em Lekaterinoslav, crucificavam-nos ou lapidavam-nos. Em Kiev, fechavam suas vítimas em caixões contendo cadáveres em decomposição, enterravam-nos vivos e os desenterravam no fim de meia hora” (p. 306).

Este é o relato dos primeiros anos da guerra civil que consolidaram o poder dos bolcheviques. Com semelhante legado, não se poderia esperar coisas muito edificantes sobre o respeito aos direitos humanos nos anos de consolidação do regime. De fato, a Rússia foi um dos poucos países que se conhece onde o Culto da Delação foi incentivado pelo aparelho de Estado, promovendo a destruição de famílias e a paranóia generalizada.

UMA CLASSE QUE ASPIRA À HEGEMONIA MUNDIAL

Procurando demonstrar que a natureza russa sempre foi a conquista territorial, já analisada por Marx no tempo do Czarismo, e a ocultação de documentos do tempo do Império para não permitir comparações com o presente comunista, Voslensky trata o internacionalismo russo como sendo uma fusão da teoria marxista com o expansionismo russo. Mas a questão da agressividade diz respeito à realpolitik já demais conhecida por nós. Mesmo com a guerra fria, o autor insiste que a Rússia, não obstante sua falta de escrúpulos em mandar para o matadouro milhões de seus concidadãos, não cometeria a insensatez de se envolver em um conflito onde sua ameaça fosse evidente, como no caso de uma guerra atômica. Paradoxalmente, sua natureza de classe exploradora e parasitária é que a protegia do aventureirismo no terreno de uma conflagração mundial. A fórmula é expressa com a seguinte observação: a nomenclatura não quer a guerra, ela quer a vitória. Isto significa uma estratégia de vencer sem combater, ou seja, de subversão e levantes, de golpes e insurreições.

A cronologia desses ataques evidencia a fórmula: 1920, a Polônia; 1939, a Finlândia e de novo a Polônia; 1940: Letônia, Lituânia e Estônia; 1944, a Bulgária; 1945, o Japão; 1956, a Hungria; 1968, Tchecoslováquia; 1979, Afeganistão. Sem falar no caso de Cuba, na Intentona Comunista no Brasil, na China e Coréia, e na guerra civil espanhola.

Essas ações foram conduzidas sob o manto da chamada “coexistência pacífica”, uma abordagem propagandística para o reconhecimento de 2 sistemas mundiais e da necessidade de convivência. Assim, a détente internacional (a distensão) foi uma maneira que descobriram para camuflar um conceito nebuloso para fins de discursos políticos vazios. Voslensky enfatiza a necessidade soviética de garantir a supremacia militar como meta de sobrevivência. Mas termina reprovando a embriaguez chauvinista e hegemônica que só tem feito paralisar a sociedade soviética em função de falsas conquistas e de um messianismo ideológico superado.

A liberdade e as boas condições de vida dos habitantes de um país são mais importantes que o sentimento de grandeza de seus regimes. E pergunta se o Japão militarista dos anos 30 e 40 seria maior do que o atual. Ou se os alemães desejariam trocar seu estilo de vida atual pelo sentimento de
pseudograndeza do Terceiro Reich. Isso lhe permite concluir que a tentativa hegemônica dos nomenclaturistas estava fadada ao fracasso.

UMA CLASSE PARASITÁRIA

A nomenclatura é a classe em que o poder permite a ascensão à riqueza e não a riqueza ao poder como no capitalismo. Eis aí uma explicação para o horror causado pelo capitalismo na esquerda brasileira, e também porque ela está sempre cercando o poder. O horror à privatização vem desse conhecimento, ou dessa subjetividade como eles costumam dizer. Se o parasitismo é intrínseco ao socialismo de Estado, Voslensky termina profetizando que sendo o regime por natureza parasitário, todo o esforço de sobrevivência terminaria em vão, e o Ocidente não só ultrapassaria a capacidade soviética em todos os aspectos pelo seu próprio modelo de avanço tecnológico, como seria capaz de ser um fator determinante na desintegração da URSS em 1992.

Uma classe parasitária leva a sociedade para a desintegração quando ela começa a se tornar mais cara. A parte do produto nacional que ela se outorga começa a aumentar, enquanto, simultaneamente, o nível de contribuição para este produto começa a baixar. No Brasil conhecemos muito bem o que ocorre com as estatais e o próprio governo. Em determinado momento, as receitas de impostos não sustentam mais o funcionalismo, as sinecuras e os privilégios da oligarquia. Começa a inflação, a balança comercial acusa déficits insustentáveis e empréstimos internacionais são necessários para equilibrar os gastos. O resto da história é conhecido dos brasileiros.

Podemos argumentar que um dos senões à sua obra são suas respostas para as causas do parasitismo. Para Voslensky, o parasitismo é a natureza íntima da própria classe. Mas sabemos muito bem que o parasitismo está intimamente relacionado com o mundo feudal, e com o poder aristocrático, oligárquico e tirânico. O parasitismo é um componente do burocratismo estatal que convive tanto mais nocivamente na sociedade quanto maior sua presença na estrutura social. Por isso, o livro ‘A Nomenklatura’ tem importância entre nós. A pergunta se podemos ou não evoluir para o socialismo do tipo soviético pode ser respondida afirmativamente, mas nunca com esse nome porque nem mesmo seus promotores o desejam. Já estamos no meio do caminho e avançando cada vez mais. As propostas sociais de reforma política defendidas pelos grupos socialistas e marxistas no Brasil indicam claramente esta direção. Nossa distância do bolchevismo encurta-se a cada dia à medida que reforçamos a estrutura estatal, os cartórios, monopólios, sindicatos, organizações sociais saqueadoras da riqueza do país, seja na forma assistencial ou na forma de corrupção, e que permitimos um sistema de ensino calamitoso porque ideologicamente dominado por esquerdistas obscuros.

O único distanciamento possível do bolchevismo brasileiro está no caminho da sociedade do conhecimento, tendo como modelo de convergência os países asiáticos que se baseiam em sistemas produtivos, de capitalismo avançado, canalizando as energias humanas para o ativismo, administração, criatividade e invenção.

Sob a imposição do capitalismo, os homens começaram a se mostrar atarefados, enérgicos, vigilantes, ordeiros e cuidadosos com suas coisas. Perderam o lustro intelectual, o brilho erudito, mas ganharam o bem-estar e a tecnologia. E a moderna sociedade capitalista, a sociedade da informação, está novamente colocando os seres humanos em uma nova ordem social, onde a cooperação e a participação têm um alcance muito maior do que tudo o que já foi pensado racionalmente sobre avanços sociais no passado. O brilho voltará com sua diversidade, e o conhecimento será cada vez mais valorizado e determinante na vida social. Só não embarcam nesta viagem os países preparados para frustrá-la.

"Retirado en la paz de estos desiertos, com pocos, pero doctos, libros juntos, vivo en conversación com los difuntos y escucho com mis ojos a los muertos" Quevedo

A NOMENKLATURA – Michael S. Voslensky – Record – 4ª edição, c. 1980. Disponível no site da estante virtual com preço entre R$6 e 12 reais.

Fonte: Blog do Carlos U Pozzobon