Artigo que desmente uma matéria
do Jornal Hoje da Rede globo, 16-05-2015, sobre o lixo no mundo
Por Roy Cordato
A reciclagem adquiriu um status
moral quase que inquestionável, em grande parte porque crianças e adolescentes,
doutrinados pela propaganda ambientalista continuamente regurgitada pelas
escolas e universidades, chegam às suas casas munidos de informações falaciosas
e as utilizam para intimidar seus pais.
Não seria exagero algum dizer que mais de 70% da juventude quer que seus
pais reciclem.
Porém, aqui vai meu humilde
conselho aos pais: não se envergonhem e não se deixem intimidar! Joguem fora
todo e qualquer lixo. Não há nenhuma
virtude em reciclar algo que o mercado não está disposto a lhe pagar. Se reciclagem fosse realmente uma necessidade
premente, tal ato teria um enorme preço de mercado, e as pessoas seriam pagas
para incorrer em tal atividade. O que
nossas crianças e adolescentes estão aprendendo nada mais é do que ideologia
esquerdista, sem nenhum respaldo em fatos ou na ciência.
Um dos argumentos utilizados em
prol da reciclagem é que o mundo está ficando sem aterros sanitários, pois o
espaço para eles estaria acabando. Os
meios de comunicação se esmeram em propagandear, principalmente em canais
voltados para o público infantil, imagens sombrias de cidades soterradas sob
seu próprio lixo. É exatamente isto o
que se passa por educação ambientalista no mundo atual
Porém, a realidade é que não há
e nem nunca houve qualquer escassez de espaço para a construção de
aterros. Se houvesse de fato tal
escassez, o preço de mercado para tal espaço seria tão astronômico, que as
pessoas estariam demolindo suas próprias casas para construir aterros em seus
lugares. Ato contínuo, elas iriam
embolsar o lucro e comprariam mansões. No entanto, a verdade é que se todo o
lixo sólido a ser produzido nos próximos mil anos fosse concentrado em um único
lugar, ele ocuparia apenas 114 quilômetros quadrados — o equivalente a 0,001%
de toda a área dos EUA.
E o que dizer sobre a tão
propalada alegação de que a reciclagem, principalmente a de papel, irá
"salvar a vida" de várias árvores?
Toda criança tem este mantra na ponta da língua. O papel, afinal, é feito da madeira das
árvores. Por que não produzir papel novo
utilizando papel antigo e, assim, evitar que mais árvores sejam
derrubadas? Simplesmente porque não é
assim que funciona a lógica econômica. A
oferta sempre será comandada pela demanda.
Se amanhã repentinamente pararmos de utilizar trigo para fazer pão,
haveria menos trigo no mundo daqui a um ano.
A oferta de trigo cairia drasticamente.
Não mais haveria incentivos de mercado para se cultivar trigos, seus
preços despencariam e o cultivo de trigo seria uma atividade totalmente
deficitária. Da mesma forma, se todo o
mundo parasse de comer frango, a população de frango diminuiria, e não
aumentaria, como supõem quase todos os ambientalistas.
A mesma lógica se aplica à
relação entre papel e árvores. Se
pararmos de utilizar papel, menos árvores seriam plantadas. Não haveria incentivos de mercado para a
conservação de florestas. Na indústria
papeleira, 87% das árvores utilizadas são plantadas para a produção de
papel. Isto significa que, de cada 13
árvores que seriam "salvas" pela reciclagem, 87 jamais seriam
plantadas. É exatamente por causa da
demanda por papel que o número de árvores plantadas no mundo aumentou nos
últimos 60 anos. Eis, portanto, uma
lição incômoda para os ambientalistas: se o seu objetivo é maximizar o número
de árvores, não recicle papel. Outra
lição: se você quer aumentar o número de árvores, defenda o capitalismo e a
propriedade privada. Quando se é dono da
sua própria terra, há vários incentivos econômicos para se cuidar muito bem
desta sua terra. Sua preocupação é com a
produtividade de longo prazo. Assim, o
proprietário de uma floresta, por exemplo, irá permitir que uma madeireira
ceife apenas um número limitado de árvores, pois ele não apenas terá de
replantar todas as que foram ceifadas, como também terá de deixar um número
suficiente para a colheita do próximo ano.
Outras declarações feitas por
defensores da reciclagem são igualmente problemáticas. Reciclar não poupa recursos. Pelo contrário, desperdiça recursos valiosos. Em geral, reciclar é mais caro do que
construir aterros, com a única exceção para esta regra sendo o alumínio. As crianças também são doutrinadas a
acreditar que reciclar irá reduzir a poluição.
Mas a elas não é dito que o processo de reciclagem é, em si, extremamente
poluente. A reciclagem de jornais, por
exemplo, requer que a tinta velha utilizada nos jornais seja retirada das
páginas. Este é um processo quimicamente
intensivo que gera enormes quantidades de lixo tóxico. Muito mais "ambientalmente saudável"
seria simplesmente jogar os jornais fora.
Adicionalmente, um programa de
coleta de recicláveis exige o uso de caminhões diferentes dos caminhões
utilizados para a coleta de lixo comum.
Isto, por sua vez, significa mais caminhões circulando diariamente (ou
semanalmente) nas cidades. E isto, por
sua vez, significa mais poluição do ar.
Em Nova York, por exemplo, após instituir a reciclagem compulsória, a
prefeitura teve de acrescentar duas coletas adicionais por semana. Já em Los Angeles, a prefeitura teve de
duplicar sua frota de caminhões de lixo.
Mas o fato é que os recicladores
têm uma agenda muito mais ambiciosa do que aquela com que doutrinam as crianças
e os adolescentes. No livro Waste
Management: Towards a Sustainable Society, seus autores, O.P. Kharband and E.A.
Stallworthy, chegam a reclamar que as construtoras descartam pregos envergados
e que os hospitais utilizam seringas descartáveis. "O chamado 'padrão de vida'",
concluem os autores, "terá de ser reduzido".
Eis aí o real objetivo da elite
defensora de programas compulsórios de reciclagem. E, tragicamente, esta redução no padrão de
vida já foi alcançada em várias cidades que construíram monstruosas e caras
fábricas de reciclagem, o que levou a desperdícios inacreditáveis, impostos
mais altos, e prefeituras financeiramente estropiadas.
A realidade
econômica do debate ambientalista
Debates sobre questões
ambientais nada mais são do que debates sobre como estamos precificando o
futuro. Em economês, diz-se que estamos
atribuindo ao futuro um valor presente muito descontado. Questões sobre "o mundo que estamos
deixando para nossos filhos" e reclamações sobre a suposta miopia das
gerações atuais são, em última instância, alegações de que estamos precificando
o futuro de maneira incorreta e inapropriada — ou, mais especificamente, que
estamos descontando acentuadamente o valor presente do futuro.
Em seu livro The Armchair
Economist, Steven Landsburg apresentou um excelente ponto sobre a alegação de
que temos de conservar a terra para as gerações futuras. Ele pergunta como podemos saber com total
certeza se nossos filhos e netos irão preferir uma floresta a toda a renda e
riqueza que seriam geradas por, digamos, um estacionamento ou um shopping. E a resposta é que nós simplesmente não
sabemos, pois, novamente recorrendo ao economês, é impossível fazer comparações
interpessoais de utilidade. Mas podemos
utilizar o princípio da preferência temporal para nortear nossas decisões.
Alguns dizem que não podemos
precificar o futuro de maneira tão baixa — ou que, se o fizermos, deveríamos
descontar seu valor presente de uma maneira extremamente ínfima. Tais pessoas argumentam que, ao fazermos
nossos cálculos ambientais de hoje, as gerações futuras deveriam ser incluídas
nele e consideradas como tendo o mesmo peso da geração atual. Certo, mas qual a consequência real e lógica
de tal postura? Ora, se realmente
fizermos isso para todos os assuntos envolvendo o ambiente, então qualquer
questão sobre a proteção do planeta irá se tornar irrelevante por causa de um
fato incômodo e perturbador já apontado pelo economista Walter Block: em algum
momento futuro, o sol irá desaparecer, e o planeta com o qual estamos tão
preocupados hoje irá simplesmente desaparecer.
E isso é um fato para o qual não há alternativas.
Logo, se estamos tão preocupados
com a preservação das espécies, e se já sambemos de antemão que, um dia, o
planeta Terra irá inevitavelmente desaparecer, então temos de buscar um
conjunto de ideias radicalmente distintas e uma abordagem radicalmente
diferente da atual maneira de se pensar o ambiente. Temos de levar em conta que haverá um momento
em que o principal problema ambiental a ser enfrentado pela humanidade não será
como reduzir a poluição da terra, do ar e do mar, mas sim como sair deste
planeta ou como alterar sua posição no sistema solar, duas tarefas que estão
muito além das fronteiras da nossa atual capacidade tecnológica, mas que podem
ser alcançadas, pelo menos em princípio.
Uma solução para este inevitável
problema seria o acúmulo de recursos e capital, algo que requer um nível muito
maior de criatividade e engenho humano, e uma divisão do trabalho muito mais
acentuada que a atual, de modo que as pessoas possam se concentrar nos
problemas e desafios gerados por uma viagem interplanetária. Isto significa que seriam necessárias mais
pessoas habitando o planeta, e elas teriam de ser muito mais ricas do que são
hoje, e teriam de enriquecer de maneira bem mais acelerada, pois isso liberaria
o recursos necessários para solucionar todos estes problemas.
Embora isto — aumento
populacional e enriquecimento acelerado — seja algo que vá exatamente contra as
ideias ambientalistas convencionais, trata-se exatamente da consequência lógica
de se dizer que as gerações futuras devem ser consideradas como tendo o mesmo
valor da nossa geração atual. A tese de
que não devemos dar ao futuro — e às gerações futuras — um valor presente
descontado implica que todos os outros problemas atuais devem ser relegados a
segundo plano, dando-se prioridade ao urgente problema de como impedir a
inevitável extinção humana que irá ocorrer quando o sol morrer.
Conclusão
À primeira vista, o objetivo de
se reciclar mais e de se conservar mais pode parecer muito apropriado, até
mesmo desejável. No entanto, os
defensores de tais práticas não possuem as informações econômicas necessárias
para se tomar as decisões corretas nestas questões, pois não há direitos de
propriedade claramente definidos sobre os recursos naturais escassos. Não há propriedade privada sobre aterros
sanitários e não há livre mercado para a reciclagem de lixo. Adicionalmente, como mostra o exemplo de
Block, se realmente nos importamos com as gerações futuras, se dermos a ela
exatamente a mesma importância que damos a nós mesmos e, consequentemente, se
estamos dispostos a nos sacrificar por ela — pois, afinal, damos a ela o mesmo
valor que damos a nós mesmos —, então o inevitável fato de que o sol irá morrer
um dia significa que, em vez de estarmos hoje preocupados com a reciclagem de
lixo, deveríamos, isto sim, estar preocupados em construir colônias
planetárias, exatamente como no seriado Battlestar Galáctica. Quem for contra isso, ou achar que se trata de
um exagero, então tal pessoa realmente não está preocupada com as gerações
futuras que presumivelmente irão habitar a terra daqui a vários bilhões de anos.
Recicladores e ambientalistas
não são cidadãos melhores ou mais bem intencionados. São apenas mal informados. Quer salvar árvores e diminuir a
poluição? Enfie seus papeis em uma
grande sacola plástica e jogue-a fora.
Colaborou para este artigo Art
Carden.
Roy Cordato é vice-presidente
para pesquisas e acadêmico residente da John Locke Foundation. É também
pesquisador adjunto do Mises Institute.
Tradução de Leandro Roque
Fonte: Mises Brasil
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