Por
Carlos Henrique Abrão
O Brasil é um País inédito.
Temos o maior numero de faculdades de direito do planeta, de bacharéis e
comparativamente com outras Nações, a exemplo da França. O que se forma por ano
é o total de advogados que lá militam, o que dá bem uma noção do sistema
mercantilista e sem freios que tomou conta e se prolifera para ações na justiça
desritmadas e desconexas com o tempo da realidade e formação da jurisprudência.
O Presidente do STF reconhece
que a população procura insistentemente pela justiça e isso não seria um bom
sinal, na medida em que as desigualdades sociais não se modulam no seio do
judiciário, raramente tal acontece. O que precisamos é estabelecer o caminho do
diálogo e criar uma verdadeira sociedade e não castas ou blocos que se isolam
mantidos pelo poder econômico.
Vivemos numa economia surreal
que agora se aproxima da realidade, com a secura do dinheiro público e privado
e o apelo para o capital estrangeiro. Os preços são caros e artificiais para
uma população sem poder econômico, corroído pela inflação e mais grade ainda
sem poupança interna. Os milhões de feitos que estão na justiça, boa parte se
refere à execução fiscal, e se começa a pensar como uma Nação que arrecada um
trilhão de reais ano, ou seja, um terço do seu produto interno
bruto poderia ter entrado em colapso,para um inadiável ajuste fiscal.
A primeira vista parece
complexa a resposta, mas é simples: gastos exagerados, ajudas para os países
vizinhos, descontrole, descalabro e corrupção, ingredientes os quais funcionam
como uma bomba relógio.
No exterior as ações contra as
empresas estatais caminham e elas prestam informações que aqui no mercado
brasileiro não dispomos. Os titulares de ADRs estão perseguindo seus prejuízos
e notadamente haverá mais cedo ou mais tarde um acordo para pagamento.
No triste Brasil tudo caminha a
passo de cágado sem rumo ou norte, e as autoridades de mercado somente cogitam
mudanças, mas depois da casa arrombada nada que possa nos convencer de
melhorias a curto prazo. A justiça então,pela ineficiência do setor
administrativo, e pela falta de um contencioso, sofre dos revezes de uma guerra
silenciosa entre aqueles que sonegam os direitos e outros que os reivindicam
ainda que depois de uma década para obter.
E quanto maior for o poder
econômico mais difícil será alcançar o êxito em curto espaço de tempo, em razão
das infindáveis vias recursais sempre procuradas pelos interessados em retardar
o cumprimento da ordem judicial.
O mercantilismo das empresas
jurídicas deve ser filtrado e pulverizado para que o mercado tenha futuro, pois
que não conseguirá mais absorver a grande quantidade de formados, inclusive em
cursos não presenciais. Apenas para que se tenha uma idéia em São Paulo nos
aproximamos de quase 400 mil advogados inscritos, e isso afoga qualquer
administração da justiça. Preparar profissionais técnicos em mediação e
conciliação seria uma saída apenas para evitar a litigiosidade excessiva.
Em síntese uma carga tributária
anômala, excesso de advogados no mercado e ausência de infra estrutura tornam a
justiça brasileira lenta e custosa, mas sem uma revisão do modelo em
profundidade continuaremos a remar contra a maré em alta pela grave crise
social que nos fragiliza e suscita conflitos na justiça.
Carlos Henrique Abrão, Doutor em
Direito pela USP com especialização em Paris, é Desembargador no Tribunal de
Justiça de São Paulo.
Fonte:
Alerta total
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