Temos que ser sensatos e deixar
de acreditar nas boas intenções daqueles que querem mudar a ordem natural das coisas.
Os únicos beneficiados com a teoria do igualitarismo são os seus próprios
criadores. Logo, eles formarão uma nova classe, uma nova elite que dificilmente
sairá do poder. Anon, SSXXI
A
redistribuição é uma ideia economicamente insensata
Todas
aquelas pessoas que falam com assombrosa desenvoltura sobre redistribuição de
renda normalmente agem como se os indivíduos de uma sociedade fossem meros
objetos inertes, os quais podem ser comandados e controlados como peças em um
tabuleiro de xadrez, com o objetivo de servirem de peões para a realização de
algum projeto grandioso.
Porém, se
considerarmos que os seres humanos são dotados de livre-arbítrio e têm
respostas instintivas e particulares a toda e qualquer política adotada pelo
governo, então simplesmente não faz sentido pressupor que as políticas do
governo terão o efeito pretendido.
A história
do século XX está
repleta de exemplos de países que se propuseram a redistribuir riqueza e
acabaram redistribuindo pobreza. Os países comunistas foram um exemplo
clássico, mas não são de modo algum o único exemplo.
De acordo com a
teoria defendida pelos adeptos da redistribuição de renda, confiscar a
riqueza das pessoas mais bem-sucedidas e redistribuí-la para os mais
pobres fará com que toda a sociedade se torne mais próspera. Entretanto, quando
a União Soviética confiscou a riqueza de fazendeiros bem-sucedidos, os alimentos se tornaram escassos e o
resultado foi a inanição. Sob o regime de Stalin, durante a década de
1930, o número de mortos de fome foi praticamente igual ao número de
mortos no Holocausto de Hitler na
década de 1940.
Por que isso
acontece? Realmente, não é nada complicado. No mundo real, só é
possível confiscar a riqueza que já existe em um dado momento. Não é
possível confiscar a riqueza futura; e é menos provável que essa riqueza futura
seja produzida quando as pessoas se derem conta de que ela também será
confiscada.
Os agricultores da
União Soviética, tão logo perceberam que o governo iria confiscar uma grande
parte da colheita futura, simplesmente reduziram a quantidade de tempo e esforço
investidos no cultivo de suas plantações. Eles passaram a abater e a
comer animais ainda jovens, os quais, em circunstâncias normais, seriam
mantidos e alimentados até se tornarem prontos para a venda.
Na indústria,
no comércio e nos serviços, as pessoas também não são objetos inertes. Os
industriais, por exemplo, e ao contrário dos agricultores, não estão
amarrados ao solo de nenhum país. O russo Igor Sikorsky, pioneiro da
aviação de seu país, pôde levar a sua experiência para os EUA e, com isso, produzir
seus aviões e helicópteros a milhares de quilômetros de distância de sua terra
natal. Os financistas são ainda menos amarrados à sua terra,
especialmente hoje, quando vastas somas de dinheiro podem ser enviadas
eletronicamente, a um simples toque no computador, a qualquer parte do mundo.
No que mais, se as
políticas confiscatórias podem produzir repercussões contraproducentes em
uma ditadura, elas são ainda mais difíceis de lograr algum êxito em
uma democracia.
Uma ditadura pode
repentinamente se apossar do que quiser. Já uma democracia — pelo menos
nas mais avançadas, nas quais as instituições são fortes — exige que primeiro
haja discussões e debates públicos. Aqueles que sabem que serão o alvo
preferencial dos futuros confiscos podem imaginar o que está por vir e,
consequentemente, agir de acordo — normalmente, enviando seu dinheiro para o
exterior ou simplesmente saindo do país.
Entre os ativos
mais valiosos de qualquer país estão o conhecimento, as habilidades práticas e
a experiência produtiva — aquilo que os economistas chamam de "capital
humano". Quando pessoas bem-sucedidas e com um grande capital humano
deixam o país — seja voluntariamente, seja por causa de governos hostis ou por
causa de multidões bárbaras que foram intelectualmente excitadas por demagogos
que exploram a inveja —, haverá um estrago duradouro na economia desse país.
As políticas
confiscatórias de Fidel Castro fizeram com que vários cubanos
bem-sucedidos fugissem para a Flórida, vários deles deixando grande parte
da sua riqueza física para trás. Mesmo refugiados e completamente
destituídos, eles cresceram e voltaram a prosperar na Flórida, tornando-se uma
das comunidades mais ricas daquele estado. Já a riqueza que eles deixaram
para trás em Cuba não impediu que as pessoas de lá se tornassem
indigentes no governo de Fidel. A riqueza duradoura que os
refugiados levaram consigo era o seu capital humano. A riqueza material
que ficou para trás foi consumida e não foi replicada.
Todos nós já
ouvimos o velho ditado que diz que dar a um homem um peixe irá alimentá-lo por
apenas um dia, ao passo que ensiná-lo a pescar irá alimentá-lo por toda a vida.
Os partidários da redistribuição querem dar a cada indivíduo um peixe
para assim deixá-lo dependente do governo, sempre à espera de mais peixes no
futuro.
Se esses
"redistribucionistas" realmente fossem sérios, o que eles iriam
querer distribuir seria a capacidade de pescar, ou a capacidade de ser
produtivo de outras maneiras. O conhecimento é uma das poucas coisas que
podem ser distribuídas para todas as pessoas sem que isso reduza o montante
detido por algumas.
Isso serviria
perfeitamente aos interesses dos pobres. Mas não serviria aos interesses
de políticos que querem exercer o poder, e que recorrem à redistribuição para
obter os votos de pessoas que maliciosamente se tornaram dependentes deles.
Para as várias
pessoas que não querem pensar mais detidamente, a redistribuição é
uma política humana e decente. E gera muitos votos.
Thomas Sowell ,
um dos mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover
Institution da Universidade de Stanford. Seu website: www.tsowell.com.
Fonte:Mises Brasil
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